segunda-feira, 18 de março de 2024

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)


01.
Destrua a melancolia,
pois a vida se renova!
Contra a tristeza, Maria,
beba chazinho de trova!

02.
O plagiário é caricato
que no mundo se repete;
é escritor co'a mão do gato
e pintor que pinta o sete.

03.
Ninguém é tão educado
como o fino do Joaquim;
nas lojas, mesmo calado,
saúda até manequim.

04.
Só de ver a sucuri,
adoentou-se a saracura;
com licor de licuri*
nada sara, nada cura.
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* licuri = coquinho
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05.
Diz a crença popular:
Não há coisa que enlouqueça
mais que a boca a relinchar
de uma mula-sem-cabeça!

06.
O pobre incauto eleitor
feliz ficou na procura;
diz que o voto é do doutor
que lhe deu uma dentadura.

07.
O símio, bem natural,
exclama ao réptil, de pé:
"Oh, que boquinha sensual
tem o amigo jacaré!"

08.
- Masculino ou feminino?
Perguntou o frei José;
– “Marculino ou Felisbino
não, não! É Zé que o pai qué"!

09.
No velório do riquinho,
há, no íntimo, festança;
"Choro, sim, por meu padrinho,
(mas que venha logo a herança)".

10.
Aquele gato é baiano,
assim nos diz o Lalau;
ouça o miado do bichano:
"Me-au, me-au, me-au, meau"!

11.
É, na Internet, o namoro
paixão que "dá choque"... e muito;
A cada abraço - um suadouro...
e ao beijar - curto-circuito!

12.
Foi assim que aconteceu
entre meu tio e o Mansur;
– Você, meu filho, é ateu?!
- Não, senhor, eu sou Artur!

13.
Era boa caipirinha
de esquentar qualquer "moringa"*.
- O que de bom é que tinha?
- "Açúcar, limão e pinga".
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* Moringa: Orelha, ouvido (regionalismo).
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14..
Depois de muito ovo por,
a angola* aguça a matraca
e, festejando com suor,
canta: "tô fraca, tô fraca"!
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*Angola: Galinha d'angola.
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15.
Quanta gente cuja obra
é cheia de desatino!
- Tem no cérebro, de sobra,
o que é próprio do intestino.

16.
O cravo brigou co'a rosa,
a rosa despetalou-se;
chora a rosa escandalosa;
- Minha corola encravou-se!

17.
Gosta muito de "pregar"
a mulher do seu Mané;
repete "né", sem parar...
e, no fim, diz "né, né, né".

18.
Neste Brasil brasileiro,
lê-se coisas de arrepiar;
num comércio está o letreiro:
"Volto já, fui ao mossar".

19.
Quão exímia pensadora
é a coruja que se cala;
é tão nobre esta doutora,
que besteira nunca fala.

20.
Para o torcedor fanático,
jogador profissional
é um exemplo claro e prático
de mercenário ideal.

21.
O velhote tagarela,
sozinho em sua viuvez,
propaga muita balela
de mil feitos que não fez.

22.
Às vezes, nem tudo passa
como nem tudo se pode;
nos dias de grande arruaça
pode dar cabra ou dar bode.

23.
- Sou honesto no meu bar,
nada de interrogatório!
De vocês, só vou cobrar
a bebida e o "conversório"!

24.
Pergunta-se, volta e meia,
para quem pouco estudou;
- “Quem deixou a Lua cheia?"
- “Foi o Sol que a engravidou!”

25.
Aquele curvo nariz
é coisa descomunal;
escorre qual chafariz
e, ao assoar, é um temporal.

26.
- Minha cara, dá-me a mão!
É por ti que vivo e morro!
Dá-me afeto, sim, do cão,
não, porém, de um cão cachorro.

27.
Tal paixão te custou caro,
com a mais cega insistência;
esta "coisa", não tão raro,
leva otário pra falência.

28.
Se em toda Literatura
a obra fosse de algum crítico,
carecia sepultura
pra enterrar livro raquítico.

Fonte> Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016. Livro enviado pelo autor.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Comemoração do Centenário de Carolina Ramos

 


Prestes a completar 100 anos, no dia 19 de março, a poetisa santista Carolina Ramos foi eternizada com o plantio de uma árvore no jardim da Pinacoteca Benedicto Calixto.

Com mais de 20 livros publicados e pelo menos 5 mil trovas. Carolina presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, a União Brasileira de Trovadores e marcou a Academia Santista de Letras e outras instituições nas quais atuou.

Carolina diz ter sido surpreendida com a homenagem: "Foi uma coisa muito significativa para mim". A iniciativa partiu da presidente da Associação de Amigos da Pinacoteca, Cristina Guedes, com o apoio do presidente da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto e diretor-presidente da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini.

"Ficamos imaginando o que poderia ser feito até chegarmos nessa proposta de plantar uma pitangueira, que representa a conexão espiritual, a força da natureza, e atrai pássaros. Então, eu acho que o jardim da Pinacoteca vai ser sempre assim, fonte de alimento e de energia para homenagear esse patrimônio da Cidade de Santos e essa pessoa tão gentil e tão delicada que é a Carolina", diz Cristina.

Santini recitou uma trova em homenagem à Carolina: 

"Quem não sabe e quem não sente 
que, às vezes, nos custa caro, 
a saudade de ser gente, 
quando ser gente é raro."

Outra homenagem que a escritora recebeu partiu do presidente da União Brasileira dos Trovadores - Seção de Santos, Antonio Coiavite, que compôs uma trova especialmente para a ocasião:

"Por ser comum, solitária,
franzina igual a menina,
que ela seja centenária
tal qual dona Carolina."

O escritor santista Flávio Viegas Amoreira também esteve na homenagem e contou que Carolina Ramos tem grande importância na literatura nacional. "Carolina é de uma tradição de escritores brasileiros que cantam Santos."

CENTENÁRIO
Carolina Ramos reflete que os 100 anos são acompanhados de cansaço e realizações. "Eu acho que eu cumpri minha vida. Se não foi brilhante, foi uma vida trabalhosa, que teve seus altos e baixos."

Para Carolina, o grande segredo para completar 100 anos é acreditar na vida e vivê-la como deve ser: "Em uma estrada, de mãos dadas com Deus". 

E um centenário é o motivo de comemoração para toda a família. Uma das filhas. Márcia Ramos, de 66 anos, estimulou a arte da mãe, que começou a se dedicar à poesia enquanto cuidava dela. "Eu achei muito simbólico, porque a árvore é uma coisa que eterniza, e a obra da minha mãe também irá ficar", diz. 

A bisneta Ângela Ramos, de 17 anos, cresceu ouvindo poesias e histórias contadas por Carolina Ramos. "Eu acho que as outras gerações devem conhecê-la. Uma pessoa incrível.”
Fonte: Ravena Soares, para o Jornal Santista.

ALGUMAS TROVAS PREMIADAS DE CAROLINA

A brisa... o mar... as cigarras...
as aves... quanta beleza
nas sinfonias bizarras
da orquestra da natureza!
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Ante as portas do sucesso
lembra, se as queres transpor,
quatro chaves dão-te acesso:
- Paz, Trabalho...Ação e Amor!
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A pior crise que existe,
é a injustiça a céu aberto!
- Nem a verdade resiste
quando o errado vira certo!!!
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Como dói, ver tanta gente,
em dias negros, medonhos,
beber o fel do presente,
sem mais direito a ter sonhos!
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Com ternura, quem não sente,
nas horas quietas dos sós,
como o passado é presente,
na lembrança de uma voz?!…
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De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
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De não saber esperar,
que ninguém jamais te culpe,
sê paciente, igual ao mar,
que aos poucos a rocha esculpe.
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Era o mar incalmo e escuro,
quando eu, sem temer fracassos,
ao buscar porto seguro,
fui ancorar nos teus braços!
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Meus netos - lindo jardim
que em primaveras me envolve!
- são pedacinhos de mim
que a natureza devolve!
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Nos dilemas desta vida,
e nos conflitos das almas,
quando a razão é vencida,
o coração bate palmas!
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O porto pulsa, fecundo,
nas chegadas e partidas,
nutrindo artérias do mundo,
dando vida a tantas vidas!
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O vencedor não evita
que atrás da sua vitória,
a inveja, sombra maldita,
se projete à luz da glória!
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Penas?! - quem as quereria?
Quisera eu uma, se fora
a que teve em mãos, um dia,
Isabel, a Redentora!
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Sempre, a cada passo à frente,
cuida bem dos teus intuitos,
que de um passo do presente,
depende o amanhã de muitos!
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Sempre acolho de mãos postas
e humilde tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.
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Se pensas que tens razão,
calça as sandálias do réu
- talvez concedas perdão
a quem negavas o céu!…
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Vai, meu veleiro de sonho...
vai buscar teu porto certo,
que esta vida é um mar tristonho,
mas, o mar é imenso e aberto!…
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Veleiro... em águas incertas,
leve e branco, à luz do luar,
és cisne de asas abertas,
como tentando voar!
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terça-feira, 12 de março de 2024

Maria Thereza Cavalheiro (Trovas para Refletir) – 1 -


 A cada dia que passa,
a vida é prêmio em disputa.
A roupa é simples couraça
com que se parte pra luta.
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Amor... Paz... Fraternidade:
eis o trinômio perfeito
a fim de que a humanidade
tenha Deus dentro do peito.
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A vida é bem mais bonita
e tudo tem mais valor
quando se encontra a pepita
no próprio veio do amor!
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Cabelos soltos ao vento...
Pés de leve sobre a grama...
A vida toda é um momento
no coração de quem ama!
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Desgraça nem sempre dura,
pode a bonança voltar...
Infeliz da criatura
sem tempo para esperar!
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Deus ao homem, cada dia,
dá a sua preocupação,
mas há quem perca a alegria
por males que nem virão.
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É festa por toda a parte,
e até os dias têm mais cor,
quando a amizade, com arte,
veste a túnica do amor!
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É triste a paz que amortece,
torna os homens infelizes...
Alegre é a paz que floresce,
que tem seiva nas raízes!
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Há muito amor que demora
e é como as ondas do mar:
nem bem chega, vai-se embora;
quando vai, já quer voltar...
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Muito amor se faz fumaça
sem amargura nem queixa;
apenas o que não passa
é o desencanto que deixa.
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No mundo, todos têm medo;
no entanto ninguém o diz...
E há quem sufoque, em segredo,
o anseio de ser feliz!
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No tempo mais se comprova
quando é verdadeiro o amor,
que não quer jura nem prova,
não faz escravo ou senhor.
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O amor é sorriso... ou pranto.
O amor é nuvem... ou sol.
O amor é lágrima... ou canto.
O amor é treva... ou farol.
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Os cílios fazem cortina
para um palco de emoção,
que a luz do amor ilumina
quando canta o coração!
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Pensa que a vida é bonita
e a espera nem sempre é vã
para aquele que acredita
na surpresa do amanhã!
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Prefere ter em teu cofre
somente o que chega ao pão,
às riquezas de quem sofre
sem a paz no coração!
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Quando existe em nós a chama
de uma alegria interior,
é porque alguém que se ama
corresponde ao nosso amor!
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Quando ninguém te elogia,
não há perda nem proveito:
o que fazes dia a dia
somente a Deus diz respeito.
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Quem labuta e não receia
viver por seu ideal,
se da sela não apeia,
um dia chega, afinal.
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Quem não faz, risco não corre.
Erro... engano... quem não falha?
Só pode errar quem socorre,
age, executa, trabalha!
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Quem quiser vencer na vida,
não busque nenhum atalho;
é partir duro pra lida
e se impor pelo trabalho!
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Quem vive só do futuro
e esquece a vida que passa,
descobre claro no escuro
que fez projetos de graça.
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Reticências dizem tanto!
E entendê-las, é preciso:
nos olhos, podem ser pranto;
nos lábios, talvez sorriso...
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Riqueza não vale a pena
se vem e nos leva a paz...
No prado, a bela açucena
com a luz do sol se compraz!
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Se de novo o amor palpita,
o velho se faz criança...
E como a vida é bonita
no retorno da esperança!
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Se o peito de amor transborda
e as mãos não se veem sozinhas,
dentro em nós um deus acorda
ao som de mil campainhas!
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Trabalho não intimida
quem enfrenta os seus rigores.
E é bom que sejas na vida
o melhor no que tu fores!
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Vale a vida ser vivida?
De viver qual a razão?
- Até vale ser sofrida
quando vibra o coração!

Fonte:
Enviado pela Trovadora.
CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Edição do Autor, 2009.

Falecimento do trovador Nilton Manoel Teixeira, em Ribeirão Preto/SP, hoje, 12 de março de 2024


Nilton Manoel de Andrade Teixeira, capricorniano de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão Preto-SP, onde veio a falecer hoje, 12 de março de 2024
.
Professor e contabilista.

Começou nos anos sessenta publicando seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo para jornais. Com apoio de Luiz Otávio (fundador da União Brasileira de Trovadores) implantou os Jogos Florais em sua cidade e como presidente da seção ubeteana de Ribeirão Preto, realizou eventos locais e nacionais.

Na área da Literatura, esteve no Conselho Municipal de Cultura, por três gestões.

Livros editados:

Trovas da Juventude; 

Cantigas do meu terreiro; 

Caviar, gororoba e sal de frutas, 

Poesia Mágica (haicais) e 

folhetos de Cordel ao estilo tradicional.

Era membro de:

Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras.
Academia Brasileira de Trova.
Academia de Letras de Uruguaiana,
Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul.
Academia Friburguense de Letras.
Academia Goianiense de Letras.
Academia Internacional de Ciências Humanísticas.
Academia Internacional de Heráldica e Genealogia.
Academia de Letras de Ribeirão Preto.
Academia Petropolitana de Poesia.
Academia Poços-caldense de Letras.
Academia Ribeirãopretana de Poesia.
Academia Santista de Letras.
Academia Virtual Brasileira de Letras.
Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto ( fundador e 1º presidente),
Clube Internacional da Boa Leitura.
Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana.
Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
Ordem dos Velhos Jornalistas.
The International Academy of Letters of England.
União Brasileira de Escritores.
Usina de Letras etc.

Títulos:

Título de Magnífico Trovador pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana;

Medalha de Ouro, no I Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas;

Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004.

No portal www.movimentodasartes.com.br assinava a coluna Trovador

ALGUMAS TROVAS

Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
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Depois dos cinquenta creio
que tudo é lucro e coerência,
homem que não faz rodeio
sabe o que vale a existência.
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Do passado não me queixo;
o tempo tudo desfaz...
Cenários velhos não deixo
que voltem a ser cartaz.
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Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
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Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de... Jornalda!
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Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
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Humildade comedida
finge alguém tê-la somente,
ao precisar de guarida
para um problema pendente...
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Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
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Lágrima que escorre é gota,
que marca  o que vai à vista:
- dores da vida marota!
ou problema de oculista?
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Mãe preta, escreves a história,
com fraternidade pura;
pois na tua trajetória
plantaste amor com ternura.
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Meu lápis beija o papel 
num encontro sedutor; 
e é dessa lua-de-mel 
que nasce a trova de amor.
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Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha,
quero deixar ao futuro,
as lições de quem trabalha.
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Nada mais embriagador
no arrepio das ternuras
que escutar juras de amor
mesmo que sejam perjuras.
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Não dê bola ao rabugento
que desfaz da mocidade,
pois ele vive o tormento
de não aceitar a idade...
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O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado "caixa postal"!
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O para sempre felizes
das histórias infantis,
traz à vida bons matizes
dando vida ao que o autor quis.
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Orgulho é a bola de neve 
que vai, em diário exercício, 
levando o infeliz de leve 
às bordas do precipício.
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Perdão é a esponja macia
que se passa numa ofensa
por se crer na luz do dia
contra a noite da descrença.
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Por ter dado uma "banana"
pra tia de um delegado,
o Tiãozinho entrou em cana
e saiu bem "descascado"...
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Quem caminha destemido
com fé na vida que tem,
não faz, nem teme alarido, 
vive apenas para o Bem!
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Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
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Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!
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Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
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Saudade é como abacate:
-verde!...  por dentro, o caroço
pesa, na alma  que se abate,
e  o corpo curva  o pescoço.
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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Licínio Antônio de Andrade (Canteiro de Trovas)

 

A água que desce a colina
entre pedras a rolar,
mesmo pura e cristalina,
não mata a sede de amar.
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A brisa que afaga a terra
soprou nos ouvidos meus:
"paz não é a ausência da guerra,
paz é a presença de Deus..."
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A brisa que passa leve
sobre a lagoa a soprar
parece, num sonho breve,
a voz de um anjo a cantar.
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As ondas se desfazendo
na praia, na maré cheia,
parecem sonhos tecendo
toalhas rendadas na areia.
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A vida não tem sentido
se vivida sem amor,
é qual o grão esquecido
na bolsa do lavrador.
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Caravelas aportando
em solo rico e gentil,
estava ali, começando,
toda a história do Brasil.
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Caravelas portuguesas
com o símbolo da cruz,
descobriram as belezas
de um Brasil que nos seduz.
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De suas mãos recebi
carícias nunca sonhadas
e eternas glórias vivi
nas insones madrugadas.
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Disse-me a cigana um dia,
lendo a sorte em minha mão:
– Vejo paz, vejo alegria,
muito amor no coração.
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Entre as Marias que amei
na história dos meus amores,
só uma lembrança guardei:
– A da Maria das Dores.
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Hoje, no outono da vida,
não tenho mais ilusão,
sou qual a folha caída
que o vento arrasta no chão.
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Não desdenhe dos sem nada
se a sorte o favorecer,
quem sobe ao alto da escada,
um dia pode descer.
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Não pise na flor que medra
nem zombe da sua graça,
pois, aquele que hoje é pedra,
pode, amanhã, ser vidraça.
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Na velha igreja da Cruz
onde os sonhos vão rezar,
a Santa esparge mais luz
 que as velas brancas no altar.
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Nem sempre a luz da vitória
é de quem vence a batalha,
Jesus subiu para a glória
tendo uma cruz por mortalha.
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Nos lençóis em desalinho
que marcaram nosso amor,
hoje adormeço sozinho
na angústia da minha dor.
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Nos seus cachinhos, criança,
o sol gosta de brincar
e, com raios de esperança
pôs verde no seu olhar.
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Nosso amor que começou
brisa morna de ternura,
cresceu e se transformou
num vendaval de loucura.
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O volume é tão gritante
na barriga do Menezes,
que até lembra uma gestante
já beirando os nove meses.
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Passa a "Maria Fumaça"
com seu apito pungente,
segue nos trilhos, com graça,
levando os sonhos da gente.
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Pouco importa se as capelas
não tenham luxos reais,
pois o Deus que habita nelas,
é o mesmo das catedrais.
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Quando a princesa assinou
a Lei da Libertação,
o Brasil se emocionou
com o fim da escravidão.
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Quando Deus criou o mundo,
para completar a lida,
no seu gesto mais fecundo
fez o milagre da vida.
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Quanta saudade reporta
um lenço branco a acenar,
é angústia que bate à porta
e a solidão manda entrar.
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Que triste seria o mundo
sem sonhos, sem poesias
e, de um vazio profundo
sem a graça das Marias!
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Se a sorte bater-lhe à porta
mande depressa ela entrar;
depois feche, pouco importa
mas, não a deixe escapar.
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Se a vida parece vã
quando a sorte vai embora,
lembre-se: em cada manhã
resplende uma nova aurora.
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Se é por vontade divina,
a boa semente medra
e, por milagre germina
em qualquer fenda de pedra!
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Segue o barco da ilusão
singrando o mar da bonança,
no leme, meu coração,
e o seu destino: a esperança.
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Sinfonia é o mar quebrando
em rendas brancas na areia,
é o vento que vem cantando
nas ondas da maré cheia.
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Sua boca pequenina
de uma beleza sem par,
é uma fonte cristalina
onde a sede eu vou matar.
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As suas mãos pequeninas,
de uma beleza sem par,
são duas conchas divinas
que um sonho roubou do mar.

Fonte: Messias da Rocha (org.). Múltiplas palavras vol. III. Juiz de Fora/MG: Ed. dos Autores, 2022.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...