Mostrando postagens com marcador Ceará. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ceará. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de junho de 2021

Haroldo Lyra (Fortaleza/CE)

 1
A gaiola me resguarda
da fatal atiradeira:
do chumbo da espingarda,
da pedra da baladeira.
2
A juventude sadia
brincando cria um evento,
com lindo sorriso envia
buquê de flores ao vento.
3
Araras num voo rasante,
recolorindo a paisagem,
reflete um ditoso instante
no esplendor da plumagem.
4
A rede armada na praia,
lazer que embala o casal,
que no Ceará se espraia
ao longo do litoral.
5
A sedução dessa imagem
vem de um pseudo horizonte,
pré-confundindo a paisagem
num reflexo estonteante.
6
A sombra da juventude
na parede projetada,
contrasta com lassitude
da velhice na calçada.
7
Bailar na vida é rotina
de quem sabe ser feliz,
e nunca fecha a cortina
do baile que não tem bis.
8
Cai a chuva sobre a terra
em queda fenomenal;
quanta alegria que encerra
até banhando o casal.
9
Cenas de tempos passados,
que à saudade satisfazem,
evocam sonhos dourados
e muito a tantos aprazem.
10
Confirma-se o sofrimento
do pobre homem, coitado!...
pois desde o seu casamento
que ele vive acorrentado.
11
Comprova a fama que traz,
o casal protagonista
desse filme ora em cartaz,
intitulado turista.
12
Considero a efervescência
dessa densa multidão,
estressante consequência
da tal globalização.
13
Com sua vela enfunada
não lhe intimidam navios
e singra, afoita jangada,
os verdes mares bravios.
14
Cores de outono bizarro
que a paisagem modifica;
E a estrada tosca de barro
juncada de folhas fica.
15
Era um garoto travesso,
Um mestre na peraltice:
virava tudo ao avesso,
era o rei da macaquice.
16
Essa fumaça abismal
configura um retrocesso
atroz e paradoxal,
nas esteiras do progresso.
17
Fora a lida humanitária,
do trabalho grande amiga,
herdara dessa operária
o denodo da formiga.
18
Gosto de me divertir
 nas belas praias do Iguape,
 mas acho melhor curtir
 a serra de Maranguape.
19
Já tenho setenta e três
nessa tal melhor idade,
versando com lucidez
e muita felicidade.
20
No cais, sem vela, ancorado,
o barco sofre a lacuna,
de um capitão reformado
que abandonou velha escuna.
21
No mar da vida sonhei
com a rota certa e fiel.
Sereno, as vagas singrei
num barquinho de papel.
22
Nos acordes, uma festa,
namoro no coração;
são enlevos da seresta
nas cordas de um violão.
23
O arrojo dos alpinistas
arrepia tal qual túmulos,
mormente quando as conquistas
escalam os níveos cúmulos.
24
Oh! vento que vela enfunas.
Oh! buggy aberto ao terral,
cinzelando as alvas dunas
ornam praias de Natal.
25
Olhando a fotografia
me confunde um leve açoite:
no relógio é meio-dia
ou será que é meia-noite?
26
O luar no mar refrata
feixe de raios azuis,
realça a onda e retrata
a praia que nos seduz.
27
Ontem pujante esperança
numas linhas refratárias;
no caderno, hoje, a lembrança
das minhas trovas primárias.
28
Os sentimentos do mar
as ondas cantam na areia,
afagando o firme olhar
da solitária sereia.
29
Para o carinho colher,
 por Maranguape eu passava,
 subia a serra a rever
 a noiva que ali morava.
30
Permita entrar meu amor
pela porta da afeição,
para expulsar o torpor
que anula a sua razão.
31
Pode até conter amor,
mas a emoção será pouca:
beijos por computador!...
prefiro os de boca à boca.
32
Pra viagem convidado,
chegou depois da partida.
Convém tomar mais cuidado:
se não, perde o trem da vida.
33
Quanto mais vai apertando
tanto mais fica gostoso,
com esse aperto estreitando,
doce abraço carinhoso!...
34
Quisera que sempre houvesse
nas mãos que dominam o mundo,
a força que o amor exerce
num viver livre e fecundo.
35
Rio de curvas simétricas
emoldurando a paisagem,
cinzela as veias poéticas
da natureza selvagem
36
Tens a missão importante
num mar sereno ou escuro,
indicando ao navegante
aquele porto seguro.
37
Terra de gente importante
 que em Maranguape nasceu:
 do Chico, comediante;
 d’um Capistrano de Abreu.
38
Um carinho especial
dispensei à margarida;
essa flor que hoje é vital
no jardim da minha vida.
39
Vai disposto e sorridente,
o senil casal surfar.
Quanta alegria evidente
por se divertir no mar.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Nemésio Prata (Fortaleza/CE)

 1
A droga foi seu arpéu,
sem destino, destroçado,
vagueia na rua, ao léu,
até quando for "levado"!
2
Antes do quebrar da barra,
ao canto do caboré,
sussurrando, ela me agarra,
dizendo: hora do café!
3
Ao relento, relegado,
negado pelo destino;
hoje vive escravizado,
coitado; que desatino!
4
Ao ver a imagem singela
do barco, tranquilo, ao mar,
lembrei-me: não há procela
que Deus não possa acalmar!
5
Chorando, segue o andarilho
solitário, a sua dor;
de deixar pra trás um filho,
fruto de um fugaz amor!
6
Com talento e sutileza
no salão, "a media luz",
o casal mostra a leveza
do belo tango andaluz!
7
Coração, enquanto bate,
é vida, amor e paixão;
mas depois que ele se abate,
é vela, choro e caixão!
8
Correndo, desesperado,
de mala e chapéu na mão,
o passageiro, coitado,
perdeu o trem... e a razão!
9
Deixe a Natureza em paz,
rapaz, tenha mais juízo; 
pois isso que você faz
demonstra falta de siso!
10
Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
11
Despertando, reparei
a "louça" já preparada
em nossa cama, e tomei
o "Café" da madrugada!
12
De toda trova legenda
que já fiz na minha vida
esta veio de encomenda,
pois não dei nem a partida!
13
De tudo que eu aprendi
pra chegar a ser “doutor”,
se, bem, eu o compreendi:
devo muito ao Professor!
14
Deus me livre, por um dia
me faltar um Livro a mão;
de tristeza eu morreria,
em pungente solidão!
15
Deus, o Poeta dos Poetas,
é TROVADOR; e em poesias
manda-nos netos e netas
para encher-nos de alegrias!
16
Dizem, com propriedade,
que a saudade é inexplicável;
explica-se: na verdade,
o senti-la é indecifrável!
17
Dois minutos, Cinderela;
está chegando o momento!
Não vá cair na esparrela
de esquecer o encantamento!
18
É noite, e a brisa do sono
sopra, mansa e sorrateira;
em seus braços me abandono,
enroscado, a noite inteira!
19
Entre lágrimas e risos,
respostas às emoções,
liberamos sentimentos
represos nos corações!
20
Férias! Ah, sim, bem eu sei,
que és bem merecedora;
mas, cá, não esquecerei
de ti, grande trovadora!
21
Homem, mau, vil e perverso;
toda vez que tu desmatas,
mesmo em nome do progresso,
é a ti mesmo que tu matas!
22
Já não suportamos mais
ver os nossos pequeninos,
nas mãos destes marginais:
traficantes-assassinos!
23
Lancei minha rede ao mar
e pesquei bela sereia
que comigo foi deitar
noutra rede, em plena areia!
24
Maranguape a tua glória
são teus filhos de valor;
foi Capistrano, na História,
e Chico Anísio, no Humor!
25
Na mata o machado bate
forte pra tirar "madeira";
e assim o "homem" abate,
uma a uma, a mata inteira!
26
Na mão o toco de giz,
na outra, o apagador;
na assistência o aprendiz,
no tablado o Professor!
27
Não "curta" a sua velhice
dando voz ao seu lamento;
deixe dessa "caduquice"
seu "velhote" rabugento!
28
Não queiras por teu amigo
quem não pode ser provado
no dar água, pão e abrigo,
para alguém necessitado!
29
Na solidão do meu eu,
fugindo da realidade,
meu pensamento varreu
da mente toda verdade!
30
No céu, as nuvens, e as flores,
no campo; um quadro sem par.
É Deus tingindo de cores
a Primavera a chegar!
31
Nos bailes não dava trela,
e a todos dizia não;
mas no fim foi a donzela
quem "dançou": ficou na mão!
32
Nos braços do seu amor,
loucamente apaixonada,
ela sente o seu calor
mesmo sob a chuvarada!
33
O ato de ler praticado
com prazer, pelo leitor;
no final, seu resultado,
assemelha-se ao do amor!
34
O bailarino, indeciso,
na chuva, dá mil volteios;
e o lampião diz, bem preciso:
homem, deixe de rodeios!
35
O envelhecer é sublime
presente a nós concedido
por Deus; o que bem exprime:
Dele, ninguém é esquecido!
36
Olhando com bem clareza
pras marcas do seu herdeiro,
já não tem tanta certeza
de ser o pai verdadeiro!
37
Olho azul, branco e lourinho
o filho do "Zé Negão"
lembrava mais o vizinho;
coitado, tinha razão!
38
Os dois silentes, colados,
corações a palpitar;
olhares apaixonados...
já pensou no que vai dar?
39
Para cuidar da saúde
com desvelo e competência
busco Médico amiúde,
amigo, de preferência!
40
Passei horas meditando,
pensando no que dizer;
terminei nada compondo,
sem nada para escrever!
41
Perdido na multidão
das ruas, sem ter alguém
que ao menos lhe estenda a mão;
não passa de um "Zé Ninguém"!
42
Pintor, por que teimas ver
o teu sol onde ele não
pode mais aparecer,
vítima da poluição?
43
Por aqui passava um rio
caudaloso e pleno em vida;
hoje mal se vê um fio
d'água suja e poluída!
44
Quando chove no sertão
o sertanejo se apega
ao santo de devoção,
esperando pela sega!
45
Quem ama a literatura,
e a ela se entrega, tem
prazer não só na leitura,
mas, no produzir, também!
46
Quem busca noiva, é preciso
que tome muito cuidado;
procure uma de bom siso,
pra não terminar "ornado"!
47
Quem corta, na natureza,
árvores sem precisão,
destrói-a e deixa-a indefesa;
é um ser sem coração!
48
Selva: bela e exuberante;
cria, de rara beleza,
de Deus que, naquele instante,
nominou-a... Natureza!
49
Sem um "pingo" de pudor
o mar fita a lua, arfante,
clamando: vem meu amor,
quero te ter por amante!
50
Ser Poeta neste mundo
é cultivar nele o Amor;
sentimento mais fecundo
na vida do TROVADOR!
51
Se tu estás velho, também,
mais perto de Deus tu estás;
tem tu, pois, por grande bem
ser velho, e bem viverás!
52
Se você anda amargado,
tristonho, ou com grande dor,
procure ser "medicado"
por um Doutor TROVADOR!
53
Se você sofre de tédio
só tem um jeito: tomar
TROVADOR, santo remédio;
e seu tédio vai passar!
54
- Solta-me! Clama o navio
ao cais que o faz prisioneiro;
- deixa-me sair vadio
pelo mar... que é meu parceiro!
55
Tem coisas que não se explica
na vida de um TROVADOR;
uma: é quanto ele mais fica
só, mais cultiva o Amor!
56
Tem Poeta nesta terra
que seus versos dão prazer
de lê-los, pois ele encerra
numa Trova o seu dizer!
57
Tem quem só quer receber
para si o que é melhor,
porém ao aparecer
chance pra dar: dá o pior!
58
Toda noite o seresteiro
aguardava a madrugada
para declarar, faceiro,
seu amor à sua amada!
59
Todo livro deve que ter
"título" bem eficaz...
pois não é que o meu vai ser:
Leia-me... (se for capaz).
60
Triste sina a da criança
deste meu Brasil gigante;
vive “presa” na esperança
de escapar do traficante!
61
Uma folha de caderno,
um lápis, e a inspiração,
bastam ao trovador terno
pra lhe abrir o coração!
62
Vendo a imensidão do mar
pensei cá, com meus botões:
se esta turbina falhar
tem "janta" pros tubarões!
63
Vindo de tão longe, não
se deu conta que chegara
ao seu velho e antigo chão,
que há muito tempo deixara!
64
Voa, canário indeciso,
o que esperas; afinal
seres liberto é preciso,
mesmo pensando irreal!

Três Trovas sem Pé nem Cabeça
65
Sem barulho, corta o céu
por entre as nuvens, um trem,
levando pro beleléu
a lua, e o sol também!
66
Era noite e a lua cheia,
viu chegar a madrugada,
trazendo o sol, em candeia,
deixando-lhe "encandeada"!
67
Não deixe a coisa ficar
do jeito que já não dê
pra você, um jeito dar,
no sujeito que é você!

Teia de Trovas sobre o Limão
68
No meio do laranjal
que plantei lá no sertão
deu-se um fato especial:
só foi colhido limão!
69
Recebendo este recado
do presidente Alencar
vou tomar maior cuidado
quando limão for provar!
70
Trovando e tirando as provas
deste fato memorável;
provei, brincando com trovas,
de que o limão é saudável!
71
Ao tomar a limonada
vá bebendo devagar
sorvendo cada golada
pro seu gosto apreciar!
72
Pode até não ser remédio
mas não dê cavaco não;
agora, ao chegar o tédio
o remédio é... com limão!
73
Cabe a cada cidadão
interpretar os pontinhos
desde que o "velho" limão
não falte nos pingadinhos!
74
Se você não é chegado
a quaisquer pingas, então:
esqueça logo o pingado
e chupe, puro, o limão!
75
Quem muito chupa limão,
dizem alguns entendidos,
melhora a "disposição":
aceito seus desmentidos!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...