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sábado, 10 de dezembro de 2022

Wadad Naief Kattar (Canteiro de Trovas)


A conquista nesta vida,
não se compra com dinheiro,
mas com fé e de paz provida
eu enfrento o mundo inteiro.
= = = = = = = = = = =

A família é o maior bem
que Deus nos presenteou.
Os anjos disseram Amém!,
quando a minha ele criou.
= = = = = = = = = = =

A mulher, ninguém entende,
porque é sempre misteriosa.
é a imagem que ela vende,
sabendo que é enganosa.
= = = = = = = = = = =

A música é um emblema
importante da cultura,
como se fosse um poema
musicado de ternura.
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Eliminei a saudade
e hoje vivo bem sozinho.
Conheço a tranquilidade
sem pedras no meu caminho.
= = = = = = = = = = =

É meia volta, volver,
se tu cruzas meu caminho.
Se meu destino é sofrer,
prefiro sofrer sozinho.
= = = = = = = = = = =

Englobando a criação
do que Deus aqui deixou,
é a mulher confirmação
de quanto ele caprichou.
= = = = = = = = = = =

Eu nunca temo o perigo,
não me amedronta a batalha.
A paz sempre está comigo
e essa força me agasalha.
= = = = = = = = = = =

Hoje o frio me incomoda
muito mais que antigamente
pois já não mais me acomoda
o seu peito confidente.
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Meu amor eu encontrei
nos braços de uma qualquer.
- É destino, eu pensei,
de quase toda mulher.
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Meus avós são muito amados
minha bisavó também;
são todos abençoados
e como me fazem bem!
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Música, arte, cinema,
sempre envolveram a vida.
Fazem com que não se tema
a tristeza amortecida.
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Na jornada desta vida
já amei, sofri, chorei.
Hoje assopro a ferida,
disso tudo me cansei.
 = = = = = = = = = = =

O mais puro sentimento
à família eu dedico.
Mesmo que seja o momento
complicado, eu simplifico.
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O tempo passou... nem vi
que o destino me traiu.
Só no corpo envelheci,
pois a mente não seguiu!
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Quando a mulher fala e grita
tentando assim convencer,
é uma falha, ela acredita.
Basta chorar pra vencer.
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Quando estou em um dilema
a família é o meu esteio;
enfrento qualquer problema
com coragem e sem receio.
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Quem dera, Deus, eu pudesse
deter a morte bandida
e só elevar uma prece
pela dádiva da vida.
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Sabe o que é felicidade?
É a família em harmonia,
que após animosidade
sempre se reconcilia.
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Saudade do amor perdido,
pois sei que não volta mais.
É meu destino bandido
onde suporto meus ais.
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Se encontrar uma mulher
mostrando-se toda prosa,
vá como quem nada quer
e teste se é  “caridosa”.
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Sempre a saudade adivinha
a ausência de um amor
e tal qual erva daninha,
sufoca causando dor.
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Ser trovador é destino
ou é dom que Deus me deu?
Só sei que é um dever divino,
que ao cumprir, prazer me deu.
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 Só hoje conheço a paz
depois de muito sofrer
e até me sinto capaz
de voltar a me envolver.
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Tenho sempre na lembrança
dos tempos que longe vão,
meus avós  - eu tão criança...
que doce recordação!
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Tudo em você me fascina,
por isso vivo em pecado.
É destino, minha sina,
viver pedinte ao teu lado.
= = = = = = = = = = =

Viva, ame e sobreviva,
mas a aprender a lição:
sempre a conquista afetiva
nos embaralha a razão.
= = = = = = = = = = =
 
Você que gosta de ler,
sempre buscando a cultura,
saiba que este prazer
é um vício que perdura.

Fonte;
UBT Bragança Paulista

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Wilma Mello Cavalheiro


1
A festa estava prontinha,
mas tudo às vezes malogra;
pra surpresa da noivinha,
o noivo fugiu com a sogra!
2
"A luz purifica o escuro":
revela a casta Tereza;
e quando o "momento" é impuro,
faz tudo de luz acesa.
3
A minha infância distante
se reflete no meu filho,
por isso, no meu semblante,
o entardecer tem mais brilho.
4
A moça chora num brado
e o padre diz, em voz lenta:
- Pra lavar tanto pecado,
só um tanque de água benta!
5
Anoitece... a paz perdura
no aconchego do galpão;
galopa solta a ternura
em volta do chimarrão.
6
Ante a indecisa galinha,
diz o galo, convincente:
- Não troca o velho, joinha,
por um frango incompetente.
7
Brinquedos da minha infância
que foram meu universo,
hoje, rompendo distância,
são saudades do meu verso.
8
- Chega de versos, de prosa,
diz a garota ao noivinho,
pois tem coisa mais gostosa
pra se fazer no escurinho!
9
Chuta, menina, com jeito,
teu jogo é alegre... peralta.
Depois, apara no peito
porque peito não te falta!
10
Depois do vento ferino,
que me arrancou dos teus braços,
o barco do meu destino
navega roto... em pedaços…
11
Do teu palco iluminado,
ris de mim, sem ter ideia,
do quanto eu sofro calado
na penumbra da plateia.
12
Dulcifico meu sorriso,
louca euforia me invade,
quando chegas, sem aviso,
rompendo o nó da saudade.
13
Ela diz em tom brejeiro:
- Cumpro bem o meu papel.
Quero o amor do marinheiro
e o soldo do coronel.
14
Enfrento o vento malvado,
molhado de chuva e frio,
pois para estar ao teu lado
venço qualquer desafio.
15
Entre dúvidas e medos,
que a distância ocasionou,
fechada, dança em meus dedos
a carta que hoje chegou.
16
Esquece esta vida andeja,
vem tomar um chimarrão,
é cedo, a manhã boceja,
na longa esteira do chão!
17
Esqueço lei, preconceito,
e algum tabu superado,
só para ter o direito
de amanhecer ao teu lado.
18
Esqueço os dias tristonhos,
vou à luta, sem tardança;
ao porto azul dos meus sonhos
regressa a nau da esperança.
19
Esta saudade que é tua
dança no meu pensamento,
como a chuva lá na rua
sob a regência do vento.
20
Este sol fraco, inconstante,
trará luzes de outros sóis,
para amanhã, mais radiante,
te acordar nos meus lençóis.
21
Eu acredito e confesso
que a mais cruel das partidas
é a partida sem regresso,
para o rumo de outras vidas.
22
Feito de fugas e medo,
de regressos e partidas,
nosso amor, mesmo em segredo,
dá mais vida às nossas vidas.
23
Foi preciso muito brio,
quase a coragem faltou,
para enfrentar o vazio
que a tua ausência deixou.
24
Há sempre um rastro de luz
protegendo a caminhada
de quem abriga e conduz
a infância desamparada.
25
Hoje, no ocaso da vida,
tem sabor de eternidade
esta ternura incontida
que floriu na mocidade.
26
Meu chimarrão, tu retratas
meu pampa com perfeição:
por dentro, o verde das matas,
por fora, a cor do meu chão.
27
Minha alma se fortalece,
levo melhor minha cruz,
quando através de uma prece
acho o caminho da luz.
28
“Minuano”, teus intentos
comprovam, em forte estampa,
que és o corsário dos ventos
na imensidão do meu pampa.
29
Na bomba, o beijo deixado,
na entrega, o tremor da mão,
e o meu amor, tão guardado
se traiu no chimarrão!
30
Na lareira um fogo brando
e, entre doses de licor,
nossos corpos desenhando
todas as formas de amor.
31
Não há lei irrevogável,
se amparada na razão;
toda sentença é mutável,
se a luz rasga a escuridão.
32
Não precisa o trovador
ir à lua, ver estrelas,
na noite, em rimas de amor,
ele é capaz de entendê-las.
33
Nesta noite rosicler
a lua, tão feminina,
tem o charme da mulher
e a pureza da menina.
34
O barco da minha infância
cruzou mares... velejou...
chorou saudades... distância...
mas nunca mais regressou.
35
O destino arma ciladas
que só coragem e a fé,
conseguirão, se irmanadas,
manter-nos vivos, de pé.
36
Outrora, a paz benfazeja,
noites de amor sob a lua,
hoje, na noite viceja
o crime, solto, na rua.
37
Peço ao sol, em oração,
e à lua, em seu branco véu,
que não falte um chimarrão
na grande estância do céu!
38
Por tantos textos errados,
somos hoje, sem favor,
dois atores fracassados
no grande palco do amor.
39
Quando a paixão se agiganta,
tão feiticeira e felina,
cala-se a voz na garganta
e só o prazer nos domina.
40
Quando em serena cadência,
na dança que o amor requer,
desnudo sem resistência
meus anseios de mulher.
41
Quando minha alma mentiu,
ao jurar que te esqueceu,
o meu orgulho aplaudiu
a grande atriz que fui eu.
42
Quanto tempo posto fora,
numa procura sem jeito,
sem ver as luzes da aurora,
porque era noite em meu peito.
43
- Que fazias no escurinho,
junto àquele rapagão?
- Não penses mal, papaizinho,
fazia meditação!
44
Quero o torpor, a leveza,
que o licor me propicia,
para acalmar a tristeza
da minha vida vazia.
45
Regressa... tudo te espera...
os teus discos, teu licor,
e uma doce primavera
desfeita em beijos de amor.
46
Roda, criança querida,
teu carrinho... teu pião...
Enquanto a roda da vida
não levar tua ilusão…
47
São brinquedos fulgurantes,
que brilham soltos...ao léu...
as estrelas cintilantes
que a lua joga no céu.
48
Se a Lei Divina se encerra
na paz, no amor, no perdão,
por que rolam pela terra
crianças que não têm pão?
49
Se é feitiço ou se é magia,
não sei, nem quero saber,
só sei que virou mania
este amor que é o meu viver.
50
Sem coragem, dividida,
entre a paixão e a razão,
minha alma é folha caída,
num vendaval de emoção.
51
Sem guerrilha... sem debate...
rola o manto da cobiça,
quando a espada do combate
verga-se à Lei da Justiça!
52
Sem temor e sem ressábios
hoje enfrento o mar fremente,
para no cais dos teus lábios
aportar meu beijo ardente.
53
Se queres manter-te em pé,
ter mais luz em tua andança,
acende o incenso da fé
no castiçal da esperança.
54
Se sofro não perco a calma,
a fé meus passos conduz;
a força que guardo na alma
se renova e acende a luz.
55
Se te esqueceste do texto,
se foste péssimo ator,
não busques nenhum pretexto
para os teus erros no amor.
56
Seu chute ninguém olvida,
atleta bom e sarado,
por isso a “gata” o convida
pra jogar no seu gramado…
57
Tem tanta preguiça, tanta,
e modos tão indolentes,
que quando almoça, não janta,
pra não dar trabalho aos dentes.
58
Tentei fugir de mansinho,
devagar romper os laços;
desisti, qualquer caminho
sempre me leva aos teus braços.
59
Teus cílios, negra cortina,
escondem dos olhos meus,
toda a magia divina
que dança nos olhos teus.
60
Tu és, amor, a alegria,
o meu vinho, o meu licor,
ao raiar de um novo dia,
abrindo as portas do amor.
61
Voltei feliz para vê-la.
Frustração. Não me quis mais.
Somente os olhos da estrela
me viram chorar no cais.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Waldir Neves (1924 - 2007)


1
Abandono… O Sol declina…
Vem baixando a cerração…
E solidão com neblina
é muito mais solidão!
2
A cortina da janela…
A cama… Tudo tal qual…
— Só que o cenário, sem ela,
nunca mais vai ser igual…
3
A espontânea palavrada,
que acompanha um tropeção,
faz bem crer que uma topada
seja a mãe do palavrão.
4
A glória dos homens brilha
com fulgor de eternidade,
toda vez que uma Bastilha
tomba aos pés da Liberdade!
5
Ah!, meu peito… Esta saudade…
Quero que a expulses, que grites…
Tu lhe deste intimidade,
e ela passou dos limites!
6
Amanhece… A névoa fina
vai cobrindo a cerração…
E solidão com neblina
é muito mais solidão!
7
Ao sair d’água, a banhista
gritou de vergonha: – “Xiii…”
no maiô, na frente e à vista,
veio agarrado… um siri !
8
A saudade, em horas mortas,
sem ver que o tempo passou,
teima em abrir velhas portas
que há muito a vida fechou…
9
Cai a noite… Seu negrume,
mercê de um mistério estranho,
faz de um ínfimo perfume
um lamento sem tamanho…
10
Circo novo na cidade!
- No poleiro, a dar risada,
olhem lá minha saudade
no meio da garotada!
11
Depois que os céus lhe mandaram
As gotas do seu desejo,
duas outras marejaram
os olhos do sertanejo…
12
Deste-me um beijo – um somente!
E queres que eu me console …
- O desejo é sede ardente,
que não se mata de um gole!…
13
Deus intangível, etéreo,
mas sempre amor e indulgência,
guarda no próprio mistério
sua infinita evidência.
14
Deus que é paz… amor profundo,
em sua excelsa grandeza,
se é mistério para o mundo,
para mim é uma certeza!
15
Doente, a velha cegonha
recusa trabalhos duros,
e pra não passar vergonha
só carrega … prematuros.
16
Enquanto eu durmo, querida,
minh’alma, por compulsão,
se aninha e dorme, encolhida,
aí… no teu coração.
17
Espalhou pedras à estrada
do velho barraco… “Ô xente!
Não dizem que é só topada
que põe o pobre pra frente ?…
18
É uma lágrima sentida
que toda mulher enxuga:
a que lhe rola escondida
por sobre a primeira ruga!
19
Faz teu ciúme um barulho
que me soa encantador.
- Ele acorda o meu orgulho
de dono do teu amor!…
20
Flagrado, na contramão,
no quarto da serviçal,
o vivaldino patrão
fingiu “confusão mental”
21
Folha em branco… A esmo, um nome
rabisco, na tarde calma.
E a angústia… que me consome…
vai rabiscando minh’alma…
22
Fugi do amor com receio
do seu fascínio… e o que fiz
foi só cortar, pelo meio,
meu meio de ser feliz….
23
Homem sem rasgos nem brilho,
a quem a luz não atrai,
vou me orgulhar se meu filho
tiver orgulho do pai.
24
Importuno e impertinente,
o desejo insatisfeito
sempre foi, literalmente,
meu “inimigo do peito”…
25
Irmãos no meu insucesso
o peito implora, a alma pede…
Todos querem teu regresso…
Só meu orgulho não cede!
26
Maduro ao sol outonal,
pela brisa acariciado,
freme, ondulante, o trigal,
num desvario dourado !…
27
Mais vibrantes, mais risonhos
a palpitar de inquietude,
diferem dos outros sonhos
os sonhos da juventude!
28
Meus braços estão vazios,
meus desejos transbordando,
meus pensamentos vadios
no quarto te procurando.
29
Motel chique… Olha o marido!!!
E a confusão foi tão feia,
que blusa virou vestido,
e sutiã virou meia.
30
Muito moço inconseqüente,
despreparado e revel,
ganha têmpera de gente
na bigorna do quartel.
31
Na casa do casal velho,
a confusão é total:
-lê-se o jornal no Evangelho;
e o evangelho, no jornal.
32
Não te esqueças, otimista,
de lembrar, no teu anseio,
que, entre o desejo e a conquista,
há sempre pedras no meio…
33
Neste abandono sofrido,
sou mais um, que, por vaidade,
deixou que o orgulho, ferido,
matasse a felicidade…
34
No abandono, desvairado,
levo noites a fitar
o vestido desbotado
que ela esqueceu de levar…
35
No apogeu do seu ardor,
tão ternamente se exprime,
que chamamos nosso amor
o “desvario sublime”.
36
No rubro céu da alvorada,
um ponto pisca e alumia…
- É uma estrela embriagada
que volta da boemia!
37
Nos abismos do mistério,
onde a razão perde a voz,
talvez o desvão mais sério
se oculte dentro de nós…
38
Nosso amor é, neste ensejo,
brasa oculta em cinza quente.
-Basta um sopro de desejo,
e arde em fogo, novamente…
39
No teu sucesso, milhares
Vêm implorar-te favores.
Uns poucos, se fracassares,
partilham das tuas dores
40
O abismo maior que existe,
o mais fundo que já vi,
é aquele que um homem triste
carrega dentro de si…
41
O desvario arrebata…
E eu fui por falso caminho.
Minha sombra, mais sensata,
deixou-me seguir sozinho…
42
O golpe da despedida
foi tão rápido e tão fundo,
que fracionou minha vida
numa fração de segundo…
43
O ladrão, envergonhado,
diz : – “Doutor, vim me entregar:
o roubo era tão pesado
que eu não pude carregar…”
44
O mendigo da calçada,
a quem a mágoa não poupa,
talvez tenha esfarrapada
bem mais a alma que a roupa.
45
Opondo orgulho e egoísmo
aos meus acenos risonhos,
cavaste o profundo abismo
onde enterrei os meus sonhos.
46
O vento leva a amizade,
leva o amor, o riso e os ais,
só não carrega a saudade,
- acha pesada demais!
47
Para a “sede de saber”
há no mundo água abundante.
Para a “sede do poder”
água nenhuma é bastante…
48
Perante a Divina Luz
a Ciência se ajoelha,
pois, sendo sábia, deduz
quem lhe acendeu a centelha…
49
Perguntou-me, à despedida:
– Quem sabe é melhor assim?…
E uma lágrima incontida
deu-lhe a resposta por mim!…
50
Por topadas em excesso
- um tormento em seu caminho –
o dedão abriu processo
contra os olhos do ceguinho.
51
Posso jurar de mãos postas,
Pesando o que já passei,
Que as mais difíceis respostas
Foi em silêncio que eu dei.
52
Pra fugir do casamento,
o noivo, meio “frufru”,
alegou, como argumento,
“vergonha de ficar nu”
53
Provocador e brigão,
o General de Brigada,
sempre que arma confusão,
ela é… generalizada.
54
Quando a jovem aluada
deu, no amor, um “tropeção”,
foi um caso de “topada
com os pés fora do chão”.
55
Quando a vida, qual verdugo,
me trespassa de agonias,
minhas lágrimas enxugo
num lenço de Ave-Marias…
56
Quando Deus cobrar meu prazo,
hei de sempre aqui voltar,
ou numa sombra de ocaso,
ou num raio de luar !
57
Que momento abençoado
e que gesto redentor,
quando o orgulho, derrotado,
cai, humilde, aos pés do amor !…
58
Quem um filho vê feliz,
seguir por si, resoluto,
vive a glória da raiz
orgulhosa pelo fruto.
59
Que estranho mistério existe
no lamento da viola:
- queixume que me faz triste;
- tristeza que me consola!…
60
Quisera que Deus me desse,
acima de qualquer bem,
um orgulho que pusesse
bem abaixo o teu desdém.
61
Saudade é gota caída,
é pranto que ninguém vê:
-É uma lágrima sentida
que leva sempre a você. …
62
Saudade é uma diligência
que nos leva, docemente,
com repetida freqüência,
ao velho oeste da gente!
63
Saudade!…Foto em pedaços,
que eu colei, com mão tremida,
tentando compor os traços
de quem rasgou minha vida!
64
Saudade!… Raio de lua,
suprindo o Sol que brilhou…
Tábua solta, que flutua,
depois que o amor naufragou!
65
Saudoso dos braços dela,
voltei, contrito e humilhado.
- Quando a saudade martela,
qualquer orgulho é quebrado!…
66
Senhora de cada instante
das minhas horas vazias,
a Saudade é uma constante
na inconstância dos meus dias…
67
Severo no condenar,
o Céu abranda o rigor
quando o pecado a julgar
é um desvario de amor…
68
Sonha sim, pobre, com festa!
Que a fantasia, afinal,
é tudo que ainda te resta
neste mundo desigual!
69
Tal fascínio lhe desperta
o mistério das estrelas,
que, às vezes, de mim liberta,
minh’alma vai percorrê-las.
70
Terminamos… e ela pensa
que será logo esquecida.
O que ganhou foi presença
para sempre, em minha vida!
71
Uma das mágoas, apenas,
que à minh’alma são pesadas…
faria leves as penas
até das almas penadas…
72
“Um prodígio o seu arranco,
a dois metros da chegada!”
E o vencedor, meio manco:
“prodígio foi a topada…”
73
Velho par, na academia,
é ímpar na confusão:
-foi de sunga à confraria
e à praia foi de fardão!
74
Velho cultor de utopias
e de ambições sobranceiras,
sonho ver, ainda em meus dias,
um mundo igual, sem fronteiras!
75
Vergonha, mesmo, passou
dr. Cornélio, homem sério.
Imaginem… Processou
a mulher por adultério.
76
Vista seda ou popeline,
seja Amélia ou seja Inês,
toda mulher se define
no dia em que diz: -“Talvez!…”
77
Zerando ofensas e afrontas,
o beijo é o mago auditor
que faz o ajuste de contas
depois das brigas de amor!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Wanda de Paula Mourthé


1
Alegrias coleciono
neste meu tardio amor.
É na colheita do outono
que os frutos têm mais sabor.
2
Ao seu filho, desde cedo,
ministre a boa lição:
em vez de armas de brinquedo,
ponha um livro em sua mão!
3
A realidade transponho
e vivo em mundo ideal...
Quero as mentiras do sonho,
não as da vida real!
4
Arma um barulho no "ninho"
ao ver que a cara-metade
curte um som com o vizinho
em "alta-infidelidade!"
5
– Barata em pinga?! Que horror!
E a garçonete “sensata”:
– Mas não pediu o senhor
a cachaça mais barata?
6
Bebe a sogra mais que Baco
e, tendo um gênio de cão,
consegue armar um barraco
maior que meu barracão!
7
Chega bêbado… sequer
distingue um rosto e malogra:
dá alguns tapas na mulher
e muitos beijos na sogra!
8
De um amor que é só miragem
finjo agora ter o assédio,
para escapar da engrenagem
dessa moenda que é o tédio.
9
Disse pra linda tainha
o peixe, muito gamado:
– Casa comigo, peixinha,
que eu estou “apeixonado!”
10
Envolta em brilhos e cores,
a natureza se esmera
para, em delírio de flores,
eclodir na primavera.
11
Esta angústia indefinida,
que sempre à noite me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarces da saudade?
12
Eu fui náufrago da sorte
em um mar de solidão,
mas teu amor foi suporte
e tábua de salvação!
13
Forçada a escolhas na vida
- teatro que não domino
fui marionete movida
pelos cordéis do destino!
14
Gente que escolhe sem tino
as propostas da existência,
quando erra, culpa o destino
pela própria incompetência.
15
Lembranças de amor desfeito...
silêncio em horas tardias,
pois tua ausência em meu leito
dorme onde outrora dormias.
16
Meu coração se comove
por te sentir ao meu lado,
quando a saudade se move
entre as sombras do passado!...
17
Meu diário! Em tuas folhas
morrem desejos sem fim...
Pago o preço das escolhas
que outros fizeram por mim.
18
Minha insensata paixão
passou – transpondo barreiras –
das fronteiras da ilusão
para a ilusão sem fronteiras...
19
Minha madrasta é um bagulho!
No pomar, se abrir os braços,
mesmo sem fazer barulho,
vai espantar os sanhaços!
20
Minha mulher é nanica,
mas na cama é colossal:
ronca mais do que cuíca
na terça de carnaval!...
21
Na feira de antiguidade,
ao ancião combalido
perguntam, não sem maldade:
-Vem comprar ou ser vendido?
22
Na noite do seu casório,
sendo um noivo muito antigo,
usou até suspensório,
mas não sustentou o artigo...
23
Não importam a censura
e o louvor da sociedade:
procuro viver à altura
da minha própria verdade!
24
Não prometo, em nossa história,
meu amor por toda a vida,
porque a vida é transitória,
e meu amor, sem medida!...
25
No lento passar das horas,
em insônia e devaneio,
contei inúteis auroras,
à espera de quem não veio.
26
O casca-grossa sincero
pede a mão da moça aos pais:
– Da sua filha eu espero
ter a mão e tudo mais…
27
O destino traiçoeiro
separou-nos, sem piedade,
mas o amor fez do carteiro
o porta-voz da saudade.
28
Olho a rua... a noite avança,
tudo adormece ao luar...
Dorme até minha esperança,
pois cansou de te esperar!
29
– O meu marido é carteiro;
porém bem cedo aprendeu
que, no lar, o tempo inteiro,
quem dá as cartas sou eu!
30
Os meus sonhos delirantes,
em sua trilha fugaz,
são feito nuvens distantes
que o vento logo desfaz.
31
O teu silêncio me afronta;
nem breve mensagem veio,
mas meu amor faz de conta
que a culpa é só do correio.
32
Pão-duro, o cara declara:
– Ter cara-metade é asneira.
Se a metade já é cara,
imagina a esposa inteira!
33
Partiste...e meu desencanto,
vendo ruir a ilusão,
escorre em gotas de pranto,
orvalhando a solidão.
34
Partiu... nem disse o motivo,
e eu, da saudade à mercê,
estou vivo, mas não vivo,
pois não vivo sem você.
35
Quando pisam no meu calo,
“calada” não fico não,
pois sempre, em revide, falo
frases de “baixo calão”.
36
Que me importam os cansaços
e o céu distante e encoberto,
se, quando presa em teus braços,
minha vida é um céu aberto?
37
Que sempre em mim se concentre
esta união que bendigo:
filho nascendo do ventre,
coração gerando o amigo!
38
Se a voz do orgulho me impele,
sempre, a esquecê-lo de vez,
a paixão, à flor da pele,
impõe silêncio à altivez.
39
Sem oásis, retirante,
na aridez do teu sertão,
única sombra flagrante
é tua sombra no chão.
40
Tanto amor e afinidade
entre nós dois, já se vê,
que perdi a identidade:
eu sou eu... ou sou você?
41
Tua partida me fala
do teu desprezo... um açoite!
E a saudade não se cala
nem na calada da noite...
42
Uma estrela cintilante,
os Reis, a Belém conduz.
Maria, mais fulgurante,
deu à luz... a própria Luz!
43
Volto à capela em que, um dia
me esperaste ao pé do altar...
E hoje a saudade, em magia,
me espera no teu lugar...

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...