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sábado, 29 de maio de 2021

Delcy Canalles (RS)


1
A bonita escadaria
que parece não ter fim,
é um convite à poesia
que existe dentro de mim!
2
A Copa do Mundo é nossa !
E o menino sonhador
chuta a bola, sem que possa,
num sonho louco de amor!
3
A Estação da Primavera
chega linda, colorida,
com muitas flores! Quem dera
fosse eterna em nossa vida!
4
Ah! Santos ladrões! Eu juro!
Estou-lhes agradecida!
Ao me pegarem no escuro,
deram vida à minha vida!
5
A mensagem foi pequena:
- Não me esperes, por favor!
Não chorei. Não vale a pena
chorar por um falso amor!
6
A pedra bruta esculpida
pelas mãos de um escultor,
se for bom, tem quase vida:
qual Moisés e seu valor!
7
Araras azuis voando,
num bailado tão bonito,
são bailarinas dançando
pelos céus do infinito!
8
A renúncia é uma virtude
que, em verdade, purifica;
tão rara, na Juventude
e, na Velhice, tão rica!
9
A Via – Láctea sorria,
deitando luzes no chão...
Era o parto da poesia
na obra da criação!
10
Busquei a Felicidade
e a encontrei certo dia!
Na minha realidade,
ventura é trova...é poesia!
11
Caminhando pelos trilhos
em noites enluaradas,
as estrelas lançam brilhos,
que salpicam as estradas!
12
Cavalgando o "Minuano"
eu sigo em frente, risonho...
Sou tropeirista aragano
que monta o vento do sonho.
13
Cem vezes tu repetiste
que me amavas loucamente...
Cem vezes tu me mentiste
e cem vezes eu fui crente!
14
Conceituar o que é sabor
a quem não tem paladar,
é como explicar a cor
a quem não pode enxergar!
15
Da vida, a melhor idade
definir, eu jamais pude:
se infância ou maturidade,
se velhice ou juventude!
16
É com as mãos da poesia
e um amor grande e profundo,
que os poetas, hoje, em dia,
embelezam mais o mundo!
17
Em vez do vício, a virtude
e, da revolta, a harmonia...
Quisera que a juventude
se drogasse de poesia!…
18
Eis um convite infinito
do mar e céu se encontrando,
num bailado tão bonito,
para quem vai navegando!
19
Em meio a flores lilases,
segue o trem em disparada!
Ó lembrança, tu me trazes
a minha infância. Mais nada!
20
Em meus sonhos de criança,
desejei pescar a Lua
e pus anzóis de esperança
nas poças d'água da rua!
21
Em vez do vício, a virtude
e... da revolta, a harmonia...
Quisera que a Juventude
se drogasse de poesia!
22
Era tão feia a coitada
que, sendo pega no escuro,
logo seria largada
no claro, eu lhes asseguro!
23
Essa corrente partida,
que a foto mostra, em verdade,
é início de nova vida,
é grito de liberdade!
24
Foi num baile. Aquele olhar,
tão profundo e sedutor,
foi a forma de mostrar
toda a grandeza do amor!
25
Jogo redes de ternura
e, na espera, então me ponho...
Pesco peixes de ventura
no lago verde do sonho!
26
Linda a alegria do esporte
em plena terceira-idade!
A presença do consorte
demonstra maturidade !
27
Meus dias, antes tristonhos,
mudaram, hoje confesso,
pois com pedaços de sonhos,
arquitetei teu regresso.
28
Nada há melhor que a leitura,
que nos leva a viajar,
e propicia a ventura
de ir a qualquer lugar!
29
Na formiguinha valente,
a força é multiplicada!
Ela trabalha e nem sente.
Que eu seja, nela, espelhada!
30
Na Ilha da Fantasia,
joguei meus sonhos diversos
e, em bonita pescaria,
pesquei cardumes de versos!
31
Não me deixem isolado
entre os livros de uma estante,
eu quero ser manuseado,
relido e passado adiante!
32
Nesta penumbra doída,
neste mar de densas águas,
joguei a linha da vida
e pesquei somente mágoas!
33
No imenso mar de ternura
eu fiz pescarias novas:
cheguei a pescar ventura
com meu caniço de trovas.
34
Nos Mares da Fantasia
e, em lagos, os mais diversos,
jogando a luz da poesia
pesquei cardumes de versos!
35
O avião, cortando os ares,
risca o céu de sul ao norte,
e o temor me traz pesares,
e eu sofro o medo da morte!
36
O rio chora sozinho,
pois a seca o dizimou...
Seu leito está tão baixinho,
que ele sente que secou!
37
Ó, velhice, eu que temia
que chegasses, de repente,
vivo em tua companhia,
sem notar que estás presente!
38
Para pescar as estrelas,
no espaço azul do universo,
neste Natal, para tê-las,
eu jogo o anzol do meu verso!
39
Para pescar a ventura,
enfrentei um desafio:
joguei iscas de ternura
nas águas claras do rio!
40
Parece até aquarela,
em pintura verdadeira,
a beleza dessa tela
da nossa amada bandeira!
41
Pelos mares do Infinito,
jogo anzóis e redes novas
e, no meu sonho bonito,
pesco cardumes de trovas!
42
Pesquei cardumes de mágoas
nos mares da nostalgia
e vi que o espelho das águas
minha angústia refletia!
43
Que a nossa luz interior
clareie o chão das estradas
para que a Paz e o Amor
sigam juntos, de mãos dadas!
44
Se nós unirmos os braços,
independente da cor,
estaremos dando abraços
alimentados de amor !
45
Sobre um fio, numa rua,
brincavam gato e criança,
sob a luz do Sol ou Lua,
fantasiados de esperança!
46
Sou a seiva da esperança
no seio branco ou de cor!
Eu alimento a criança,
seja a mãe da cor que for!
47
Tendo o céu e o mar à frente,
imagem que impressionava,
um par de jovens presente,
a paisagem contemplava!
48
Uma estranha pescaria
foi minha maior conquista:
pesquei sonhos e poesia
com meu caniço intimista!
49
Uma família bonita,
nos quadros se distribui!
Em fotos, ela é descrita
e o carinho, dela, flui!
50
Um golezinho somente,
do teu licor de ternura,
para minha alma que sente
tanta sede de ventura!
51
Um gostinho de licor
- num tom da cor das amoras -
tinham seus beijos de amor,
embriagados de auroras!

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Divenei Boselli (1938 - 2020)


1
A cascata em que se espelha
resplandecente beleza,
é o rio que se ajoelha
ante o altar da natureza.
2
Ainda que outras despontem
neste teu céu de hoje em dia,
há de lembrar, sempre, que ontem
eu fui tua estrela guia...
3
A mais ostensiva prova
de fé que a morte produz
não é a cruz sobre a cova,
mas a crença nessa cruz.
4
Amanhece… De repente,
tomando o corpo da Terra,
o sol beija ardentemente
o rosto bruto da serra…
5
A vaga está garantida
para mim, porque, sabendo
que exigem folha corrida,
eu trouxe o jornal, correndo! 
6
Chego à porta, enxugo o pranto,
deixo a dor no chão que piso
e, como que por encanto,
mostro o encanto de um sorriso...
7
Chegou cedo o bom marido
e amanheceu sobre a mesa...
- De que teria morrido?
- Ora, “meu”... Foi de surpresa...
8
Choro junto à sepultura
de sonhos mortos repleta,
e a razão, mãos na cintura,
diz: – quem mandou ser Poeta?
9
Coração, pouso de estrada,
repara bem, coração,
que entre os que pedem pousada,
entra o teu próprio ladrão!
10
Da fartura prometida
de carícias e de beijos,
só resta a parca medida
que não mata meus desejos…
11
Descubro ao longo da vida
meus mais íntimos segredos,
quando, qual harpa tangida,
vibro ao toque dos teus dedos...
12
Disfarço a mágoa com jeito
de quem crê no recomeço
e o disfarce é tão perfeito
que nem eu me reconheço…
13
Enquanto eu choro e tu dormes
com teus sonhos traiçoeiros,
cabem distâncias enormes
no vão de dois travesseiros.
14
Essa idade que escondemos,
que, entre risos, desmentimos,
é sempre aquela que temos,
mas, nem sempre, a que sentimos.
15
Eu faço das fronhas, lenços,
nas longas noites sem sono
e os lençóis, braços imensos,
abraçam meu abandono.
16
“Eu tenho a idade mundo!,
grita a Mentira; e a Verdade,
em tom solene e profundo:
“Eu também tenho essa idade!”
17
Fundamentada promessa
de dignidade e descência,
a liberdade começa
no fundo da consciência.
18
Hoje, em que braços deliras,
em que outro ouvido murmuras
as verdadeiras mentiras
que me disseste por juras?...
19
Madame teve um desmaio
no quarto das empregadas,
ouvindo, do papagaio,
tremendas papagaiadas!
20
Meu olhar seco adivinha
e eu evito a despedida
porque as lágrimas que eu tinha
chorei quando eu tinha vida…
21
Meu papagaio sumiu...
E um vizinho, desonesto,
anda dizendo que o viu
no Cartório de Protesto!
22
Meu peito é campo minado
onde o amor, míssil incerto,
procura um tanque blindado
e encontra apenas deserto…
23
Na moldura carcomida
resiste o sorriso antigo,
mas o espelho mostra a vida
e o que a vida fez comigo...
24
Não regressas... Mesmo assim,
a ilusão que eu julguei morta,
morta de pena de mim,
monta guarda à minha porta.
25
No cálice, o teu adeus
transborda o fel pelas beiras
e eu padeço, feito um deus
no Jardim das Oliveiras.
26
No estreito espaço de um quarto,
muitos tiveram guarida,
mas... só contigo eu reparto
o espaço inteiro da vida!...
27
Nos beijos apaixonados
os desejos vão contendo
os versos inacabados
que a Vida vive fazendo.
28
Onde a lei torta vigora
E o povo ao jugo se presta,
O rico só comemora
E o pobre é quem paga a festa.
29
O que aumenta meu tormento
é lembrar que me sorrias
e, ao fazer teu juramento,
mentias bem… Mas, mentias!
30
Partes, levando a metade
da metade que eu já sou,
deixando inteira a saudade
na metade que restou...
31
Partiste e, neste abandono,
na luz que vem da vidraça,
afugentando meu sono,
vem a saudade... e me abraça!
32
Pedi que nenhum de nós 
terminasse só e triste;
eu pus minha alma na voz 
mas, mesmo assim, não me ouviste...
33
Por direito, a safra é minha,
mas, na colheita, um impasse:
por que essa erva daninha
que eu colho sem que a plantasse?
34
Por respeito e amor à Vida,
que todo o Amor se concentre
em toda Vida contida
no estreito espaço de um ventre!
35
Pranto, riacho de dor
que em mim se faz um açude,
lembrando os versos de amor
que eu quis compor, mas não pude…
36
Quero o abraço ardente, aceso
de alguém que derreta, enfim,
a neve que o teu desprezo
derramou dentro de mim...
37
Saudade, eterno martírio
que ocupa, agora, em meu peito,
os espaços que o delírio
ocupava em nosso leito!...
38
Semana santa em meu peito...
Nas trevas, sem compaixão,
as mágoas rondam meu leito
com jeito de procissão...
39
Sem saber, os violeiros,
cantando em dupla ou sozinhos,
cantam a dor dos pinheiros
que deram vida aos seus pinhos. 
40
Sentimos tanta alegria
quando estamos abraçados,
que, para nós, qualquer dia,
é "Dia dos Namorados"!
41
– Seu filho não tem vontade
de trabalhar pra ninguém!
Nega o pai: – Não é verdade.
Tem má vontade... Mas tem!
42
Soubesses medir o peso
que tem a palavra "Não",
saberias que o desprezo
é um convite à traição..
43
Teu corpo, assim, sinuoso,
cheira a convite suspeito;
- o rio mais caudaloso
tem mais mistérios no leito...
44
Teus olhos, luz que ilumina
o tatear dos teus dedos,
são dois faróis de neblina
devassando os meus segredos…
45
Toda a ilusão tem a sorte
da frágil franja alvacenta
da onda que, embora forte,
de espaço a espaço rebenta.
46
Tu, que ao partires, outrora,
não pensavas regressar,
regressas, e é tua, agora,
a hora e vez de chorar...
47
Uma lágrima, sequer,
eu vi no adeus...Nem depois.
Não faz mal...eu sou mulher,
posso chorar por nós dois!
48
Um dia eu parti, pensando
poder, um via, voltar;
sem pensar que 'um dia' é quando
o deus-destino marcar...
49
Vai trabalhar, vagabundo,
grita a mulher, feito gralha;
e ele rosna lá do fundo” :
– “Vagabundo não trabalha!”…
50
Voltas... E eu acho tão triste
a emoção de disfarçar,
que por mim, já que partiste,
nem precisavas voltar...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Dalva de Araújo Sales


Acorrentado e com medo
bem quietinho ao lado dela,
ele aprende desde cedo
que em casa quem manda é ela.

A família indiferente
vai diluindo o aconchego
que existia antigamente,
e que hoje tem novo apego.

A fumaça escura e fria
sufocando a humanidade.
Mas a esperança é que um dia
Um Sol trará liberdade.

Água, tesouro da vida,
não nos falte por favor,
pois a terra ressequida
chora a falta deste amor.

A paisagem se desmembra
na visão hospitaleira.
Uma emoção que nos lembra
a bandeira brasileira.

Assim Deus à nossa frente
postou a felicidade,
ensinando a cada mente
que a seta indica bondade.

Deixando o torrão natal,
o coração apertado,
segue o migrante afinal
tecer o que foi sonhado.

Devoção de mãe parece
mesmo, um amor diferente.
Sempre que o filho adoece,
ela fica mais doente.

Em paz no final do dia,
só nós dois a contemplar
a beleza que irradia
o ouro do sol com o mar.

É Natal, e a multidão
enlouquece na gastança,
esquecendo que a intenção
é adorar Jesus criança.

Existe sempre beleza
nos versos do trovador
que disfarçando a tristeza
põe lirismo em sua dor.

Expondo-se o preconceito,
talvez seja a melhor forma
de mostrar não ser defeito
qual a cor que a pele informa.

Feliz o ser que carrega
para o final da existência,
o orgulho de quem entrega
em paz, a sua consciência.

Infância, quanta beleza
nesta imagem estampada,
a calma da natureza
reflete a paz desejada.

Lua de mel em Paris,
formação de um novo lar,
na recordação feliz
o abajur a iluminar.

Meu coração forte pulsa
lembrando o time da escola
que um dia fui quase expulsa
só porque pisei na bola.

Na corda bamba da vida
segue o filho distraído,
a lua dando guarida,
luz maternal é o sentido.

Na imensidão dos espaços
o nosso planeta azul
é amparado pelos braços
dos anjos de norte a sul.

Nesta visão tão solene,
quando a lua beija o mar,
vejo ali bênção perene
de Deus a nos confortar.

Neste lindo quadro eu vejo
num mar de letras imersos
os abraços que desejo
envolvida nos teus versos.

Num lodaçal despontou
um pé de rosa encarnada...
Nem por isso ela deixou
de ser rosa perfumada.

O céu e mar em harmonia
confundem-se em suas cores;
a aeronave em sintonia
como em suaves louvores.

O vento soprando leve,
perfume de flores no ar...
A primavera aparece
nos convidando a sonhar.

Se com armas presenteias
a criança, sem prudência,
estás pondo em suas veias
o vírus da violência

Se te espero e tu demoras,
o relógio no meu braço
vai crescendo com as horas,
tomando-me todo o espaço.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Dimas Lopes de Almeida (1915 - 1994)

1
A alegria desabrocha
no meio da nossa dor,
como na fenda da rocha
nasce, às vezes, uma flor.
2
A morte é paz e sossego,
nela outra vida começa,
mas se ela é doce aconchego
dou a vez quem tem pressa.
3
Aos músicos serve o som,
aos pintores serve a cor,
para servir o homem bom
existe apenas o amor.
4
A vida é página breve
que Deus em branco nos dá.
A gente é que nela escreve
coisa boa ou coisa má.
5
Com nova tinta e vestido,
uma esposa inteligente
dá, cada dia, ao marido,
uma mulher diferente.
6
Das mãos se juntam as palmas,
mas união não se alcança
se não se juntam as almas
numa perfeita aliança.
7
Desenvolver o turismo
é criar costumes sãos,
dar à vida dinamismo,
fazer os homens irmãos.
8
Disfarçando os seus horrores,
a humanidade iludida
espalha bonitas flores
sobre os abismos das vida.
9
Dizes mal do mundo todo,
mas a vida há que entendê-la:
na fonte onde encontras lodo
há quem descubra uma estrela.
10
Diz ser minha eternamente,
mas, na vida transitória,
mesmo a sua permanente
será sempre provisória.
11
Dos plágios não digas mal,
se és artista consagrado:
Quem fez algo original
foi Adão, e era pecado!
12
D. Pedro, um grande dos nossos,
movido pela afeição,
deu ao Brasil os seus ossos
e ao Porto o seu coração.
13
É feliz quem tem o dom
de sonhar a vida inteira.
Se não acha o mundo bom
faz um à sua maneira.
14
Entre esses padrões de glória
que se ergueram mundo além,
julgo que o maior da História
seja a Torre de Belém!!!
15
Éramos tristes e sós.
Hoje, sou teu, tu és minha:
as almas são como as mós
que unidas fazem farinha.
16
Eu não me quis casar cedo,
que ganhei com essa teima?
Quem das fogueiras tem medo,
depois nas cinzas se queima.
17
Felizes são as crianças
porque vivem cada dia
entre sonhos e esperanças,
no reino da fantasia!
18
Há quem passe pela vida
e nunca chegue a viver:
quanta boca ressequida
passa à fonte, sem a ver!
19
Jamais um fraterno laço
devemos romper à toa,
pois cada irmão é um pedaço
da nossa própria pessoa.
20
Julgas-te velha? Tem calma,
e não vivas deprimida.
Juventude é estado da alma,
não é uma quadra da vida.
21
Mandas-me pelo correio,
tantas saudades, em suma,
que eu até tenho receio
que tu fiques sem nenhuma!
22
Meu Deus, quantas vezes cismo
ao ver uma sepultura!
Cabe o mais profundo abismo
em poucos palmos de altura...
23
Nada minha alma conforta
como ouvir a serenata
que os rios, na noite morta,
entoam com voz de prata!
24
Não cuides só da fachada,
que a aparência não é tudo:
um livro não vale nada
se não tem bom conteúdo.
25
Não estranhes que o Mar largo
seja salgado demais:
é devido ao pranto amargo
que se chora em cada cais.
26
Não me importo de ser cego
à beira de moças belas:
- até gosto, não o nego,
de andar às apalpadelas!...
27
Não queiram subir dum salto
a escadaria da Vida,
pois é sempre em lugar alto
que vemos a Cruz erguida.
28
Não tem valor a riqueza
que os grandes do mundo têm,
quando o pão de sua mesa
sabe às lágrimas de alguém.
29
Natal é tempo bizarro
porque nós todos, no fundo,
somos bonecos de barro
neste Presépio do Mundo.
30
O que sinto não tem nome,
no momento de te ver.
Não sei se lhe chame fome,
se vontade de comer...
31
Perdi o melhor que tinha,
agora o mundo me enjeita:
- Ninguém olha para a vinha
depois da vindima feita.
32
Por que é que não te assemelhas,
humanidade cruel,
às pequeninas abelhas que,
unidas, fazem o mel?
33
Que importa que a casa nossa,
amor, tenha pouco espaço?
Numa pequena palhoça
mais estreito é nosso abraço!
34
Relógio, roubas-me a paz
com tuas doces mentiras,
pois as horas que me dás
são aquelas que me tiras.
35
Se esta vida é uma passagem,
riquezas não valem nada:
quanto mais leve a bagagem,
menos custa a caminhada.
36
Sem a força da união
não há vida nem carinho:
grãos unidos fazem pão,
uvas juntas fazem vinho.
37
Sendo o mar quase infinito
cabe num lenço dos meus,
nesse lenço que eu agito
quando te aceno um adeus.
38
Sofrendo seu mal eterno,
há tanta gente oprimida
que não tem medo do Inferno
pois já tem inferno em vida.
39
Sou fiel à companheira
porque a velhice é cruel:
agora, mesmo que eu queira,
não posso ser infiel!…
40
Um beijo causa dispêndio,
tal como a fogueira ao vento,
pois se esta produz incêndio,
ele produz casamento.
41
Um beijo de amor encerra
a ventura que eu bendigo:
se o sal não beijasse a terra
a terra não dava trigo.
42
Um moinho de ilusão
no meu peito se contém,
pois não vivo só de pão,
vivo de sonhos também.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...