Mostrando postagens com marcador Maranhão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Maranhão. Mostrar todas as postagens

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Orlando Brito (Niterói/RJ, 1927 - 2010, São Luís/MA)

1
A botina na janela
não deu sorte ao Manoel.
O chulé que havia nela
espantou Papai Noel...
2
A cidade acorda os ais
quando a chuva enche os caminhos,
chorando pelos beirais
a falta dos passarinhos...
3
A cidade bufa e sua!
Sedento, a pedir socorro,
eu vi um poste na rua
correndo atrás de um cachorro!...
4
A família do Trindade,
que de vinho enchia a tripa,
fez-lhe a última vontade:
enterrou-o numa pipa.
5
Ah, coração, tem piedade...
Batendo tão forte assim,
vais acordar a saudade
que dorme dentro de mim...
6
Amor à primeira vista?
Nosso bolso anda tão raso,
que até mesmo uma conquista
deve ser a longo prazo.
7
Antes que o sol, com seu brilho,
das trevas rompesse o véu,
um galo comeu o milho
que a noite espalhou no céu.
8
Certa vez com Dr. Lopes
caso raro aconteceu:
- receitou alguns xaropes
e o doente não morreu...
9
Com crianças tagarelas
em meu rancho alegre e lindo,
até portas e janelas
vivem cantando e sorrindo!
10
Como é linda, sobre as casas,
a melodia que evola
de um alegre par de asas
que foge de uma gaiola...
11
Contra a fome, contra a guerra,
que geram mortes e escombros,
marchai, soldados da terra,
levando a enxada nos ombros!
12
Corre a seiva em chão bravio
como o sangue em cada artéria.
São as valas do plantio,
trincheiras contra a miséria.
13
Coveiro, choremos juntos
nossos destinos tristonhos.
Pior que enterrar defuntos
é ser coveiro de sonhos…
14
De livros encham-se as casas,
eis um conselho excelente,
pois o livro, aberto em asas,
põe asas na alma da gente.
15
Dentadura, novo preço
e chifre, - diz o Paluma,
sempre doem no começo,
- depois a gente acostuma...
16
Deus marca os sons e o compasso,
não há mais linda canção!
Bater de sinos no espaço,
bater de enxadas no chão...
17
É da luz que o sol envia
que nasce o brilho da lua.
Assim é minha alegria:
depende sempre da tua!
18
Em meus calos ninguém pisa.
Se topo um cabra indigesto,
por bem me tira a camisa,
e por mal me tira o resto...
19
Esses teus olhos, amada,
deve a polícia prendê-los.
São dois ladrões de emboscada,
à sombra dos teus cabelos…
20
Eu, trabalhar desse jeito,
com a força que Deus me deu,
pra sustentar um sujeito
vagabundo que nem eu?
21
Foi num bar de certa esquina,
que, sem beber, quando pus
meus olhos nos teus, menina,
fiquei bêbado de luz.
22
Grita o coveiro, com mágoa,
na sepultura do André:
- Na cova deste pau-d'água
nem a cruz fica de pé !
23
Há nos jardins, entre arranjos
de passarinhos e abelhas,
candelabros onde os anjos
acendem rosas vermelhas...
24
Li teu livro. Um desconsolo!
Em papel fino, agradável,
se ele fosse feito em rolo,
seria um livro passável...
25
Madrugada, tem piedade
deste meu frio abandono,
e acalenta esta saudade
que não quer pegar no sono…
26
Marujo quando namora,
lembra a onda em seu vaivém.
O seu amor não ancora
no coração de ninguém...
27
Meu destino, casa velha,
com o teu é parecido.
Há sempre um furo na telha,
há sempre um cano entupido...
28
Meu livro de cabeceira
é o teu, de efeito excelente.
Logo à página primeira
que sono ele dá na gente...
29
Não pisco os olhos ao vê-la
para não correr o risco
de, por momentos, perdê-la,
a cada instante em que pisco.
30
Nem é mister que decifres
quem da fazenda é o patrono.
- Na porteira um par de chifres
já identifica o seu dono.
31
No norte, onde o sol abrasa,
e o calor queima sem dó,
só defunto sai de casa
de gravata e paletó.
32
No porto dos meus anseios
esperanças são navios,
que de manhã partem cheios
e à tarde voltam vazios...
33
No velório, alguém pergunta:
- Todo mundo já bebeu?
É quando uma voz defunta
diz do caixão: - Falta eu!
34
O doutor não teve escolha
quando o ébrio entrou ali,
e operou com saca-rolha
no lugar do bisturi...
35
O falso amigo, ao mostrar-se,
nas ciladas que prepara,
sempre muda o seu disfarce,
mas conserva a mesma cara.
36
O mapa do marinheiro
difere de outro qualquer:
cada porto, em seu roteiro,
tem um nome de mulher.
37
Para ter paz e harmonia
no lar, é mais importante,
não o pão de cada dia,
mas o amor de cada instante!
38
Passam tropeiros, tristonhos...
Assim vou eu, sem guarida,
tangendo a tropa dos sonhos
pelas encostas da vida.
39
Passou... Bonita de fato!
E o mar, ao vê-la, tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela!
40
Por muito que ela nos fira,
tristeza encanta e consola,
se é tristeza de um caipira,
chorada ao som da viola.
41
Poupou, viveu que nem rato,
e hoje tem a burra cheia.
- Foi andando sem sapato
que ele fez seu pé de meia.
42
Primavera... Vai-se o estio,
chega o outono. Solitário,
assisto ao cair sombrio
das folhas do calendário...
43
Procura estrelas num poço
quem no passado se abisma.
Sonhar é coisa de moço,
pois velho não sonha, cisma...
44
Problemas? Eu cá não acho
problema algum que me oprima.
Se é grande – passo por baixo,
pequeno – pulo por cima.
45
Quando nós formos defuntos,
e Deus nos der alvará,
para o céu só iremos juntos,
pois, separados, nem lá!
46
Quando quer prender a gente,
sem dar laço ou fazer nó,
usa o amor uma corrente
que possui um elo só.
47
Relógio, em seu tique-taque,
ligeira a vida se esvai.
- A cada segundo, o baque
de um sonho que morre e cai…
48
São iguais seus idiomas,
há semelhança em seus dons:
a rosa – sino de aromas,
o sino – rosa de sons.
49
Seguindo a lei do progresso,
depois do fio dental
dois maiôs farão sucesso:
o sem fio e o digital...
50
Sobrevivendo ao calvário
de uma queimada funesta,
um sabiá solitário
chora a morte da floresta…
51
Tento em vão, desde menino,
mudar da vida a estrutura,
mas no Livro do Destino
Deus não permite rasura...
52
Teu livro, que eu li com tédio,
não o pus na minha estante
mas na caixa de remédio,
com o rótulo: purgante!
53
Teu vulto lindo e risonho
surge em meus dias desertos,
como se fosses um sonho
que eu sonho de olhos abertos!
54
Uma atitude maluca
e até mesmo temerária:
- desejar “bom dia” ao Juca,
o dono da funerária…
55
Um médico e dois coveiros
uniram-se, em sociedade.
Em um ano os três parceiros
deram cabo da cidade...
56
Vaso de aromas dispersos,
incenso queimado em brasa,
assim é um livro de versos
aberto dentro de casa...
57
Vê, querida, - entre as cantigas
dos filhos em algazarras,
nós somos duas formigas
numa casa de cigarras...

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Tobias de Sousa Pinheiro (Brejo/MA, 1926 - 2019, Engenheiro Coelho/SP)

1
A felicidade, em norma
bem acertada, nos diz:
- se és infeliz, te conforma,
que o conformista é feliz.
2
A lembrança é muito boa,
recordar não nos faz mal,
desde os banhos da lagoa
às goiabas do quintal.
3
Aprendi co’um poeta persa
que o silêncio é grande assunto:
quando não quero conversa
não respondo nem pergunto.
4
As coisas não andam pretas
como dizem por aí:
ainda existem borboletas
na blusa da Sueli.
5
Cantor do Brejo que eu canto,
às canções dás o fulgor
que deita em meus olhos, pranto
e em meu coração, amor.
6
Com qualidade total
o Brejo há de ser, Eugênio,
a cidade vertical,
voz do terceiro milênio.
7
Do pensamento não foge
o Brejo nesta distância:
penso nos jovens de hoje,
e nos problemas da infância.
8
Economizo a saudade
e me chamam de avarento;
guardo minha mocidade
no cofre do pensamento.
9
E no cofre da memória
guardei as suas lições:
a base de minha história
é o livro Recordações.
10
Entre cochilos e arrancos
de sonhos e pesadelos,
deito meus cabelos brancos
na noite dos teus cabelos.
11
É o peso de uma saudade
que trago dentro de mim,
os recantos da cidade
e o Bairro do Bandolim.
12
E, se a previsão não erra,
após tão difíceis dias,
vão dizer que o Brejo é a terra
do Eugênio e do Tobias.
.13
Jornalista, não confundo,
tem destino muito ingrato:
vive a promover o mundo
e morre no anonimato.
14
Lá vejo a célula-mater
de uma vida em linha reta,
na firmeza do caráter
para a vitória completa.
15
Lições de vida e de amor,
lições de fé e esperança,
dadas por meu professor,
quando eu era uma criança.
16
Mato Grosso, escuto o som
de teu batuque febril:
– A terra que deu Rondon
nada mais deve ao Brasil!
17
Meu Caro Eugênio de Freitas
glória a teus “Sonhos em Rimas”,
são eles grandes colheitas
nos campos das obras-primas.
18
Morre um ano, nasce um ano,
e vem à nossa lembrança
a morte de um desengano
e a vida de uma esperança.
19
O país vai prosperando,
crescendo e exibindo provas.
São dez milhões trabalhando
e o resto fazendo trovas.
20
O reflexo dos espelhos,
da orientação e do apoio
resplende como conselhos,
é o trigo isento do joio.
21
Padre José Paulo Salles,
minhas palavras tão rudes
buscam entre acerbos males
os alpes de suas virtudes.
22
Quando penso em meu destino,
sempre recordo um pião
a girar, em desatino,
na palma da tua mão.
23
Recordações! Com que brilho
no meu coração enjaulo
lições do preclaro filho
de São Vicente de Paulo.
24
Sonho em ver labor fecundo,
crença, amor, paz e união:
Brejo - um espelho do mundo
e a glória do Maranhão!
25
Vacilo pisando escolhos,
quis prosseguir, mas em vão:
nunca mais terão meus olhos
o espelho que os teus me dão.
26
Vê que arrasto os passos lentos
por onde estes sonhos vão,
com o Brejo dos documentos,
com a terra em meu coração.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...