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terça-feira, 29 de junho de 2021

Edy Soares (Vila Velha/ES)

 Ah, mas que espirro maldito,
que me deixou avexado.
Além de forçar um grito,
ainda veio acompanhado!

A memória enfraquecida,
a fronte calva, a bengala,
mostra no ciclo da vida
o velho que o neto embala.  

A morte, visita chata,
desprezível,  deprimente
vem sorrateira,  arrebata,
levando a vida da gente.

A mulher, pura beleza...
foi feita a partir de um osso,
mas a sogra, com certeza...
da carne de algum pescoço.

Ao deparar com a cena
de uma boa escorregada,
confesso que tenho pena,
mas não seguro a risada.

A trapaça é artifício
do covarde sem pudor,
que sem nenhum sacrifício
quer se fazer vencedor.

Cabisbaixo pelos cantos
me pego pensando em ti.
Pai, o maior dos meus prantos,
é saber que te perdi.

Cada mulher preparando
em seu ventre uma criança,
é o mundo se renovando,
é Deus nos dando esperança.

Com o planeta por um fio,
tanta gente a desmatar.
Queira Deus que algum plantio,
seja feito no lugar.

Da semente, a nova planta;
 da planta, a semente e o pão.
Do pão, a vida que encanta,
 que planta e cultiva o chão. 

Deixemos de lado o orgulho,
pois nobre é o dom do perdão;
rancor guardado é entulho,
que adoece o coração.

- Era profunda a raiz!
Disse o dentista ao cliente,
ao perceber que o nariz
saiu agarrado ao dente.

Esse meu corpo curvado,
feito quem reverencia,
já dá sinais de cansado
e agradece mais um dia!

Este amor que me oferece,
sinto – já não me convence.
Meu coração não merece,
pois a outro já pertence.

É uma agressão desumana,
uma falta de respeito...
Num país com tanta grana,
hospitais faltando leito.

Eu... você... as confidências...
Que pena que o tempo passa!
Hoje vivo de aparências
e a vida já não tem graça...

Há que se enxergar o amor
em cada olhar, cada canto.
E perceber que onde for,
todo olhar tem seu encanto.

Meu Noel é de dar dó...
Nesta crise, veio a pé,
sem renas e sem trenó...
E entalou na chaminé!

Necessita ser “curado”,
todo aquele que imagina,
que quando estiver errado,
compra o certo com propina.

Nunca vi trova sem rima,
macaco enjeitar banana;
nunca vi chover pra cima.
nem político sem grana.

O chato que mais me irrita
e que mais me funde a cuca...
é aquela pessoa aflita,
que enquanto fala, cutuca.

Os olhos as vezes falam
mais que palavras em vão;
silentes as bocas calam
enquanto amando se dão.

Por egoísmo e ganância
a Terra está dividida.
Tanto poder e arrogância,
ante a pobreza sofrida.

Por se valer da trapaça,
ás vezes quem trapaceia,
por mais esforço que faça,
se enreda na própria teia.

Qualquer tipo de trapaça,
será sempre repugnante.
Mesmo que vencedor, faça...
Não fará mais que um farsante!

Quando saio em devaneios,
navegando em pensamentos,
cruzo bravos mares cheios,
velejo em grandes tormentos.

Quer, ricos ou indigentes,
todos são filhos de Deus;
sejam mansos ou valentes,
sejam nobres ou plebeus. 

Refletia a luz da lua,
o orvalho da noite fria;
sobre o menino de rua,
que na calçada dormia.  

Sem o amor do jardineiro,
o que seria da flor?...
Rosas não teriam cheiro,
jardins não teriam cor!...

Sempre achei que o céu é aqui,
à sombra dessa palmeira...
escutando o bem-te-vi,
no meu banco de madeira. 

Se não posso  amar a Bela
ou tê-la aqui junto a mim,
ainda sim, sonho com ela
entre as flores, no jardim.

Sete vidas eu tivesse
ou talvez, setenta mil,
quantas vidas Deus me desse...
Que elas fossem no Brasil...

Supera tristeza e dor,
quem na vida por batalhas,
aprende ser vencedor,
sem contentar com migalhas.

Terra molhada no cio,
pronta, esperando a semente
das mãos que fazem plantio...
Tal qual amada nubente.

Trago essa grande saudade,
longe, no peito que dói,
por amor a essa cidade...
Por amar-te Niterói.  

- “Três dias de penitencia”,
pede o padre ao confessado.
- "Pode dobrar a exigência,
vou repetir o pecado!"

Velhas fotos no monóculo,
na gaveta de uma estante...
É como ver de binóculo,
um tempo já bem distante.

Vi sumir ao longe o trem.
Levou, chorando, Maria.
Na estação fiquei também
chorando porque a perdia.

Fonte:
Revista Florilégio de Trovas n. 30 - 29 de abril de 2019.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Ester Figueiredo


Algemas são os teus braços
que me prendem com ardor...
De alma nova, sem cansaços,
eu vou render-me a este amor!

Amanheci tão contente
por mais um dia de vida,
podendo seguir em frente
com Deus me dando guarida.

A paisagem que desfila
perante este meu viver,
lembra o tempo, lembra a vila,
o amor que me fez sofrer.

As alegres margaridas
enfeitam nosso jardins
jamais ficam às escondidas
parecem até manequins.

A vagar por nossas mentes,
sempre tão belas, tão novas,
as palavras são sementes
que dão vida às minhas trovas.

Dia de verão, tão lindo...
O sol, teu corpo dourando...
Tua, nua, quase dormindo...
E eu, bem perto, apreciando!

É magia, é sedução,
sempre que meu corpo inteiro,
ao toque da tua mão,
se transforma em um “braseiro”.

És o rumo em minha estrada...
És a luz que me ilumina...
És uma noite estrelada...
És o sol que bem me anima...

Estas rugas no seu rosto
que a deixam amargurada
formam marcas de desgosto
por amar sem ser amada.

Esta união que é um exemplo
de amor, de fidelidade,
fez dos corações o templo
que acolhe a felicidade.

Este orgulho que carregas,
insano, dentro do peito,
foge, tão logo te entregas
de corpo e alma em meu leito.

E tu seguiste... sozinho...
Aqui fiquei rejeitada...
Prologarás teu caminho,
eu buscarei nova estrada.

Exalando este perfume,
enlaçando-me em teus braços,
eu me esqueço do ciúme
e entrego uma alma em pedaços.

Exploram o trabalhador,
prostituem a mestiça,
e quase sempre este autor
fica impune, sem justiça.

Inverno de frias noites
e também de solidão,
ausências que são açoites
machucando o coração.

Lembrando as chaves das portas,
que abrias de madrugada:
passos lentos, horas mortas...
marcando tua chegada.

Linda manhã de verão,
o sol surgiu radiante,
à noite estrelas virão
abrilhantar meu semblante.

Mãe!... Exemplo de ternura,
coragem, fé, devoção.
A tua face é moldura
que adorna meu coração.

Minha Barra tão amada,
de palmeiras, tradições...
Tu serás sempre lembrada
num século de orações.

Muito te amei... tanto, tanto,
com grande ardor dos quinze anos...
Hoje, se rola o meu pranto,
a culpa é dos desenganos.

Na carícia do teu beijo
e no calor deste abraço,
te demonstro o meu desejo
e, em prazer, me despedaço.

Na contramão desta vida,
a criança, sem saber,
é pelo povo esquecida,
mas luta para viver.

Na corrente dos teus braços,
adormecida e bem calma,
eu te entrego meus cansaços,
torno cativa a mina alma.

Não sofra, não se atormente,
tenha fé, muita coragem,
pois nesta vida silente
nós estamos de passagem.

Nas noites de serenata,
o poeta sonhador,
canta, na triste sonata,
as suas dores de amor.

Neste instante derradeiro
em que nada mais restou
sou errante marinheiro
que na saudade afundou…

Neste momento, calado,
de gestos e olhar bisonho,
penso em você ao meu lado,
nos “amanhãs” dos meus sonhos!

Num bom livro, sem frescura,
devaneio na emoção,
de tanto amor e candura,
dando-me sustentação.

O teu carinho de amante,
tão ardente e sem pudor,
eu desejo a todo instante
que me dês com muito amor.

Partiste com ar tristonho
e repleto de razão...
Fui ingrata, mas proponho:
- Volta! Dá-me o teu perdão.

Pobre menino de rua,
sem amor e sem carinho,
só a clara luz da lua
ilumina o teu caminho.

Por causa dos teus maus-tratos,
indiferença... desdém...
eu rasguei os teus retratos,
mas hoje não sou ninguém!

Por sobre o lençol macio,
desejosos, sem pudor,
brilhos de olhos no cio
clamam momentos de amor.

Quando escrevo minhas trovas,
sem saber como e porque,
sinto que são como provas
do meu amor por você.

Que a minha infância floriu
com os conselhos e cuidados,
saudades de quem partiu
mas deixou muitos legados.

Que me tire todo o breu
e que surja a claridade,
pra que neste mundo meu
reine só felicidade.

São tuas mãos que me afagam
e teus beijos que me aquecem...
E quando as luzes se apagam,
os desejos me enlouquecem...

Segue teu rumo a teu gosto...
E esqueça que eu existi,
pois as rugas do meu rosto
revelam o que já sofri.

Se me olhas, estremeço...
Se me tocas, aí, socorro!
Se me beijas, enlouqueço...
No teus braços, quase morro!

Se o mundo te encheu de dor,
se te feriram a alma,
lembra-te sempre: há o amor...
Espera, conserva a calma!

Sob um velho abacateiro,
revivo os doces amores...
E o violão companheiro
é quem canta as minhas dores.

Somente a fé na justiça
do Supremo Criador
destruirá a cobiça
de quem promove o terror.

Tantas tardes de alegria
e tantas noite de amor!
Hoje, à madrugada fria,
busco, em vão, o teu calor.

Tu finges que não me queres,
percebi tudo, já sei...
Mas nenhuma das mulheres
Vai te amar como eu te amei...

Tu trazes na alma a nobreza
e, por caminhos diversos,
mostra bem toda a beleza
tão presente nos teus versos.

Um mundo melhor seria
se o homem fosse capaz
de, num toque de magia,
converter a guerra em paz.

Um olhar cheio de brilho,
de ternura, de emoção,
é o da mãe ao nascer seu filho,
fruto de amor, de doação.

Vejo um mundo de carinho
neste teu jeito de olhar
como a seta de um caminho
que me conduz a te amar.

Vendo as ondas e os rochedos,
num encontro sedutor,
vi que escondiam segredos
de um belo sonho de amor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Elisa Alderani

As trovas abaixo foram premiadas. O tema da trova está em negrito.

1
linha do trem recorda
o dia em que tu partiste.
E o meu coração acorda...
Pulsa a dor que produziste!
2
Amo ler, e bem escolho
no livro a mensagem certa.
O conteúdo, recolho
não deixo a mente deserta!
3
Boca de lobo entupida...
Só não jogam quem merece!
Sarjeta não tem saída,
vamos ver o que acontece,..
4
Choveu forte na cidade,
Corre barro na sarjeta...
Sai do banco meu confrade,
cai... Suja toda a jaqueta...
5
Com linha branca costuro
o enxoval do meu menino.
Só Deus sabe seu futuro,
ao seu amor eu me inclino!
6
De mãos dadas caminhava
com ele ao lado direito.
O meu coração sonhava
num casamento perfeito.
7
De sonhar temos direito,
Ninguém nos pode tirar  
o desejo mais perfeito
de escolher a quem amar!
8
Encontro sempre um abrigo
quando existe tempestade.
No livro que é meu amigo...
a chuva de paz me invade!
9
É pássaro em revoada
o voltar dos pensamentos,
no vai e vem da alvorada
e na utopia dos ventos!  
10
Lá do cume da montanha,
vejo a paisagem mais linda,
Deus fez esta obra tamanha
sua perfeição é infinda!
11
Lapidei teu coração
como um brilhante valioso,
e com constante oração
o tornei mais luminoso!
12
Lava os pés, pobre Zezinho...
na sarjeta está sentado,
fala com ele sozinho
está bêbado o coitado!
13
Na linha da nossa vida,
nós temos a curva e a reta;
encontramos a guarida
quando a dor a inveja injeta.
14
página amarelada
de um álbum, quase esquecido,
tem a lembrança velada...
De tanto tempo perdido.
15
Na paisagem do meu sonho,
cada noite te procuro.
Vejo-te belo e risonho
no coração te seguro!
16
Naquela estação tão fria
que não consigo esquecer...
o meu coração sentia
que não ia mais te ver.
17
No caminho desta vida,
vitória conquistada
deixa a pessoa iludida
que não será derrotada...
18
Nosso time brasileiro
bom de bola conhecido.
Com os pés dum artilheiro
tem o título vencido!
19
O centro deste brilhante
esconde doce segredo,
meu coração palpitante
que vai ficar em seu dedo,
20
Quando a insônia me atormenta
na ilusão sinto teus braços.
E o devaneio sustenta
a doçura destes laços.
21
Quando Deus criou o mundo,
deu-nos um mundo perfeito.
Pra que ele seja fecundo
devemos cuidar direito.
22
Quando falo de respeito...
quanto choro derramei
sozinha, triste no leito,
traída, por quem amei!
23
Quando um homem é de respeito,
todos sentem segurança,
ele emana de seu jeito
o perfume da confiança.
24
Quem na testa tem coroa,
sabe reinar com nobreza...
Em praticar obra boa,
ama o povo com certeza!
25
"Ribeirão" muito querida
"das letras " és a cidade,
agora reconhecida
por toda a sociedade!
26
Rola a bola lá no campo
e a conversa no boteco...
São unidas num só grampo
tendo na frente o caneco.
27
Show de bola lá no campo;
corre o juiz! É o escanteio... 
O calção perdeu o grampo,
todo mundo viu o traseiro!
28
Ter dinheiro nesta vida
não significa nobreza,
mas é mesa dividida
com muita delicadeza!
29
Um coração já maduro,  
sabendo a escolha fazer.
não caminha pelo escuro 
sabe o bem reconhecer.
30
Você fez uma promessa
de cuidar sempre de mim.
Foi uma palavra expressa,
pequenina, mas foi "sim"!
_____________________________________________
Elisa Alderani nasceu em 22 de fevereiro de 1938 em Como, Itália. Formada em técnico de Química Industrial, trabalhou no laboratório de uma Fábrica Têxtil até se casar. Mudou-se Ribeirão Preto, em 1978.
Ao se aposentar entrou na escola de terceira idade frequentando as oficinas culturais do SESC.
Membro da Casa do Poeta, cadeira n. 15,e da Galeria das Letras. Membro da União Brasileira de Escritores, participa também da União Brasileira dos Trovadores e as oficinas doa União dos Escritores Independentes.
Tem participação em várias antologias do Brasil e de Ribeirão Preto como Ave Palavra e Frutos da Terra. Foi premiada no concurso da ALUMIG de Belo Horizonte, nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, Jogos Florais de Santos.
Na comunidade da Igreja Santo Antônio de Pádua, frequenta a Associação da Legião de Maria, visitando pessoas doentes e levando a elas conforto da Sagrada Comunhão. 
Em 2008 publicou seu primeiro livro Flores do meu jardim - Fiori del mio Giardino, bilingue, produção independente, com o qual ganhou o premio Ruben Cione de Literatura, na Feira do Livro de 2009.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Edgar Barcellos Cerqueira (1913 - ????)


A amizade só persiste
quando a gente, sem má fé,
não exige que o que existe
seja mais do que ele é.

A criança, num segundo,
domina o que o céu lhe deu:
- Deus lhe faz todo este mundo,
ela sonha... e faz o seu !

A felicidade é feita
do valor que é dado ao bem.
É o muito que se aproveita
do pouco que a gente tem.

A lágrima que caía,
do teu rosto, ante o sacrário,
falava mais a Maria,
que a prece do seu rosário…

Ante o mundo em descalabro,
sustendo a filha querida,
teus braços são candelabro,
erguendo a chama da vida.

A saudade que agasalho
é resto de amor ardente.
Foi-se o fogo do borralho,
mas ficou a cinza quente...

Bordam, soltos, seus cabelos,
caracóis negros na fronha.
E eu, insone, horas a vê-los,
fico a sonhar com quem sonha...

Brinquedo, no chão, quebrado,
tragédia de pouco enredo:
- um martelo malsinado
e esparadrapo, num dedo!

Cada ação tem sua vez;
o que foi não volta atrás.
Orgulho do que se fez
não dá fama ao que se faz…

Cada vez que tento, em fuga,
mascarar o meu desgosto,
descubro mais uma ruga
a desmascarar meu rosto...

Canarinho cantador,
que perdeste a liberdade,
ganhas fama de "cantor",
quando choras de saudade...

Com uma roupa, vai-se embora…
vem com outra, no arrebol…
Eu vi, no ocaso e na aurora,
as duas roupas do sol…

Conto a vida a uma criança,
mas não conto o que sofri.
Seu caminho é uma esperança;
o meu, eu já percorri...

Criança, - império inocente,
mas, de poder tão profundo!
Quem manda é um pingo de gente
e obedece todo o mundo!

Da praia, curvos coqueiros,
de palmas esfarrapadas,
acenam aos derradeiros
lenços brancos das jangadas…

Decai tanto a sociedade
que o mal chega a ser bom-tom,
e a gente finge maldade,
com vergonha de ser bom...

Duas vidas separadas,
dois amores... Dois queixumes
Duas saudades... Dois nadas...
Somos nós dois, - dois ciúmes!...

Entre santinhos... a fita...
A foto da irmã noviça...
- O meu cartão de visita,
no teu livrinho de missa!

Esquecido, no meu canto,
abro a carta e encontro, grato,
a mensagem de acalanto,
no sorriso de um retrato…

Eu tenho, no meu pensar,
que vitória deve ser
não tanto o saber ganhar,
mas, sim, o saber perder!

Fui ao circo e, vendo a cena
com o olhar do coração,
acabei sentindo pena
da alegria do truão…

Há de ter no Céu guarida
quem, em vida, vence a treva.
- A gente leva da vida
a vida que a gente leva.

Há gente, cuja bondade
faz, de fato, tanto bem,
que a gente sente vontade
de poder ser bom também.

Joga o teu pião, menino,
aproveita a brincadeira,
que a fieira do destino
vai jogar-te a vida inteira...

Mãe, no Céu, onde estiveres,
Deus, por certo, em Seus arranjos,
fez, de um anjo entre as mulheres,
mais um anjo entre os seus anjos.

Não é só fazer carinho,
nem tampouco dar presente.
- Bondade é dar o caminho
para a criança ser gente.

Não lamento o meu passado,
a estrada que percorri.
Choro o que deixei de lado,
a vida que eu não vivi...

Não pude dar mais carinho,
nem pude ser menos rude…
mas existe o nosso ninho,
que construí como pude…

Não se rompe um laço antigo,
sempre há perdão na amizade.
Quem deixa de ser amigo
nunca o foi na realidade.

Nem sempre os irmãos carnais
são irmãos de coração.
Quanto amigo vale mais!
Quanto amigo é mais irmão!

Nossa rede balançando...
Nossa conversa entretida...
A nossa vida passando...
A gente esquecendo a vida...

Nostalgia, a do imigrante,
que, ao sentir não voltar mais,
fica a olhar a onda distante
vir morrer no velho cais…

Olhos negros!… ora sérios…
ora meigos… ora açoites…
profundos… são dois mistérios…
negrume de duas noites!…

O pessimista, em verdade,
não crendo poder vencer,
põe fora a felicidade
muito antes de a perder.

Os olhos do moribundo
se esforçavam, já sem brilho,
por manter seu fim de mundo
preso ao mundo do seu filho...

Pai, partiste e é na saudade
que sinto outra vez, comigo,
o amor do pai de verdade,
a mão do melhor amigo.

Quando soube do segredo
da mulher, ele tremia!
Não de raiva, mas de medo
de saberem que sabia...

Quanto fere uma verdade
maldosa, de frio tom!
Bem melhor, por caridade,
ser mentiroso... mas bom.

Revivendo a antiguidade,
nas relíquias de um museu,
chega-se a sentir saudade
do que não se conheceu…

Saudade – lembrança triste
de tudo que já não sou...
Passado que tanto insiste
em fingir que não passou...

Segredos de alcova!  Delas
transpiram mil travessuras!
Se alcovas não têm janelas,
tèm buraco as fechaduras...

Semeia, filho, semeia,
porque, onde o mar desmaia,
de pequenos grãos de areia,
aos poucos, se faz a praia.

Ser poeta é ver facetas
onde a vida não seduz...
É passar, feito os cometas,
deixando um rastro de luz.

Se tu te abraças comigo,
depois que te castiguei,
me devolves um castigo
que dói mais que o que eu te dei…

Tenho asas, qual condor…
No meu céu de fantasia,
eu ruflo penas de amor,
nas alturas da poesia…

Uma valsa... um tom de voz...
um perfume no jardim...
uma lua sobre nós...
um sonho dentro de mim...

Um coração e dois braços…
No mar da vida só temos,
remando contra os fracassos,
uma vontade e dois remos…

Um retrato amarelado...
uma esperança perdida...
a saudade do passado...
um velho álbum... uma vida!

Vê o povo uma vitória,
às vezes, no que não é.
Colombo ficou na História
sempre pondo um ovo em pé!

Vitória muito estrondosa
provoca as línguas ferinas.
Melhor a vida ditosa,
com vitórias pequeninas.

Vou confessar a verdade:
o meu amor se resume,
de longe, - em sentir saudade...
de perto, - em sentir ciúme!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Elisabeth Souza Cruz

1
A coisa é séria, querido,
tem mulher que é mulher macho…
quando manda no marido
faz dele gato e capacho!
2
A minha ideia não míngua,
e eu lhe mando “plantar fava”,
pois compondo um trava língua,
minha própria língua trava!
3
A minha luz se consagre
nos momentos de tristeza…
Não peço a Deus um milagre…
peço apenas… fortaleza!
4
Bebo lembranças em tragos,
ao ponto da embriaguez,
para curar os estragos
que a tua ausência me fez!
5
Bobeira?!… Maior bobeira
é o salário do operário
que trabalha a vida inteira
e não fica milionário!
6
Brilhantes?!! – Pois sem trabalho,
sem ramo profissional,
a moça arranjou um galho
no “distrito” e… é federal!!
7
Brotinho assanhado inventa
mil jogadas para o amor
e o velhinho até que tenta,
mas sai sempre perdedor!!!
8
Buzinando o caminhão,
surpresa boa é a do otário
que dá tempo ao Ricardão
para se esconder no armário!
9
Cabelo é um negócio louco...
Há divergências fatais:
- Na cabeça, um fio é pouco;
mas... na sopa... ele é demais!!!
10
Com duplo sentido, a “dança”
é palavra que marcou:
– nem sempre quem dança, cansa…
mas quem se cansa… dançou!
11
Declarar-me não me atrevo,
com palavras mais ousadas...
E assim os versos que escrevo
são propostas camufladas!... 
12
Deixo a roça na estação,
trouxe os sonhos na bagagem,
mas a cidade é a impressão
de que eu perdi a viagem!
13
Do nosso amor resta o embate
neste deserto onde eu morro,
pois teu regresso é o resgate 
que não chega em meu socorro!
14
Do teu queijo eu tiro um naco
pois a minha ideia logra…
mudo de pau pra cavaco,
que tal falarmos de… sogra?
15
Em nosso amor conflitante
as dimensões são iguais:
- tanto faz, longe ou distante,
é sempre longe demais!
16
E por falar em cantada
quem canta seu mal espanta?
Eu sou tão desafinada
que nem galo se levanta!!!
17
Essa renúncia inimiga
que diz não, se eu quero sim,
é uma voz fazendo intriga
quando responde por mim!
18
É surpresa repetida,
surpresa mesmo... e bendigo
cada instante em minha vida
me repetindo contigo!
19
É tão forte a intensidade
das loucuras da paixão,
que no amor a insanidade
é o que eu chamo de razão.
20
Eu falo e tenho respaldo,
pois em canja de galinha,
para aumentar mais o caldo,
pegue a sopa da vizinha!.
21
Eu não me prendo à verdade
e à razão sempre me imponho,
porque toda a realidade
antes de tudo foi sonho! 
22
Eu não temo o breu da estrada
se a tristeza não transponho,
porque há sempre uma alvorada
na alegria do meu sonho!
23
Eu sou guerreira e não nego
meu instinto lutador,
mas renuncio e me entrego
se a luta for por amor!
24
Eu também tô quase nessa
e em loja de raridade,
se eu entro, saio depressa
pois pareço antiguidade!
25
É verdade! Uma mamata
morar longe de patrão…
só não se pode é na mata
ficar na moita…. sem cão.
26
Falando em exploração,
nunca vi maior babado…
a mulher do capitão,
como explora o rebolado!!!
27
Falando num bom petisco,
quem não se arrisca, não prova,
como é bom correr o risco
de preparar uma trova!!!
28
Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!
29
Lá na praça do Suspiro,
o vovô, todo em genérico:
-Eu tento, assanho e transpiro,
mas quem sobe é o Teleférico!
30
Minha saudade é um desvio
que a solidão me propõe
para fugir do vazio
que a tua ausência me impõe!
31
Na angústia que me consome
neste amor de insanidade,
a minha pressa tem nome
e ela se chama…saudade!
32
Não me assusta o breu da estrada
se a tristeza não transponho,
porque há sempre uma alvorada
na alegria do meu sonho.
33
Não quero fama nem glória,
dispenso os bens de valor,
para ter na minha história
o prêmio do teu amor!
34
Não tenho arrependimento
nesta paixão reprimida...
foste a ilusão de um momento
que valeu por toda a vida!
35
Nem mesmo a ilusão remenda,
com seus fios de saudade,
os velhos sonhos de renda
que eu teci na mocidade!
36
Nem o nosso amor desfeito
vai me tirar a alegria...
Tenho as lembranças no peito
e refaço a fantasia!
37
No desfile à fantasia,
de um carnaval de ilusão,
a saudade é a alegoria
que enfeita meu coração!
38
Nosso amor chegou no estágio
de pouca briga e... eu pressinto
que esse marasmo é presságio
de amor... que está quase extinto!
39
Numa troca de “mulé”,
o “mané” ficou na mão,
que a moça que dava “pé”
tinha um baita sapatão!
40
Num recanto bem singelo,
sem luxo ou bens de valor,
meu rancho vira um castelo
quando reina o teu amor!
41
Nunca vi maior tolice
futricar a vida alheia,
pois quem faz disse-me-disse
vai cair na própria teia!
42
O hífen de vice-prefeito,
por certo, não caiu, não,
pois logo depois do pleito
sempre dá separação!
43
O homem de argola, também,
ao machismo não se furta:
– faz da mulher seu refém
e a mantém na rédea curta!
44
O meu vizinho se poupa
já que o cansaço é normal…
Quando fala: “Tira a roupa!”,
tira a roupa do varal!
45
Orgulho bobo... vaidade,
capricho do amor sobejo...
Eu morrendo de saudade,
fingir que não te desejo!
46
O trânsito interrompido,
muitas frutas pelo chão…
E o bebum, ao ser punido:
-“Foi batida de limão!”
47
Panela que não apita
é porque não dá pressão
e mulher quando se agita
tem fogo no caldeirão!
48
Pode quem quiser falar
pois ninguém sabe o que diz,
tendo a mulher para amar
o homem ficou foi… feliz!
49
Por falar em confissão,
confessa a moça (e reclama):
- Tão pesado é o meu patrão
que quebrou a minha cama!
50
Por mais que eu seja refém
da pressa do teu abraço,
meu sonho não vai além
da pequenez do meu passo!
51
Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!
52
Pula o muro o Ricardão,
fura a calça na passagem...
E o furo, na confusão,
foi furo de reportagem!
53
Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!
54
Quando o orgulho é o timoneiro
das viagens da paixão,
qualquer que seja o roteiro,
não encontra a direção!
55
Quando tem panela cheia
no fogão da cozinheira
sempre acaba em briga feia
que o patrão quer dar “rasteira” !!
56
Querido.. eu não faço intriga,
mas veja a situação:
na moita, anda dando briga,
por dinheiro em cuecão!!
57
Recuso o amor, mas por mim,
do fundo do coração,
diria mil vezes sim
sem dar ouvido à razão!
58
Saudade, velho retrós,
guarda os fios, dia a dia…
Quando quer soltar a voz,
desenrola a nostalgia!
59
Sei também de um desespero,
pois o genro, de mutreta,
pôs pimenta no tempero
e a sogra ficou zureta!
60
Se não pode ser de verdade
esse amor mais que tardio,
que seja felicidade
na ilusão de um desvario!
61
Sendo a voz de toda gente,
a Imprensa firme não cala
e quanto mais coerente
bem mais forte é a sua fala! 
62
Se o teu amor foi miragem
no deserto da paixão,
que importa... me deu passagem
para o oásis da ilusão.
63
“Sopre a velinha , sem dó!”
e, na festinha animada,
sopraram tanto a vovó
que ela ficou resfriada!
64
Tu me propões cessar fogo
e eu te proponho atiçar,
porque o nosso amor é um jogo
que é fogo de se apagar!
65
Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
- Meu sonho alcança o infinito,
meus pés... tropeçam no chão!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...