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sábado, 5 de junho de 2021

Manoel Cavalcante (RN)


1
A brisa bateu na porta
naquela noite abatida...
Trouxe uma esperança morta
pra minha face sem vida...
2
A cascata me interpela
questões das mais resolutas.
Por que a água doce e bela
cai beijando as pedras brutas??
3
A noite sai do espetáculo,
inerme, discreta e estranha;
o sol por trás de um pináculo
eriça a luz na montanha… (…)
4
Ao chegar neste recinto
das terras de Caicó,
com todo fervor eu sinto
que aqui não me sinto só.
5
Ao rever a sua imagem 
N’alma abri minhas cortinas 
e retoquei a tatuagem 
feita nas minhas retinas!
6
A trova levou-me aos céus,
pois entre joios e trigos
perdi pequenos troféus
mas ganhei grandes amigos.
7
A velhice, em tom sarcástico,
gosta de mostrar que sou
restos de sonhos de plástico
que o trem do tempo esmagou.
8
Cada gole de aguardente
traz um ardor vitalício,
queimando as queixas da mente
dentro do fogo do vício…!
9
Com desespero e irritado, 
apertou devagarzinho… 
– Quem é você seu safado????? 
– Eu sou Raimundo, o mudiiinho!!!!
10
Covarde, pobre e mesquinho;
quem durante a caminhada
ante às pedras do caminho,
decreta o final da estrada.
11
Disse a velha sem orgulho:
– no quarto, em horas de amor,
o velho que faz barulho
é só meu ventilador…
12
É duro olhar para o lado 
em meio ao redemoinho, 
no vento mais conturbado 
e ver… Eu estou sozinho!
13
É inverno… Choveu na mata…
E a lua, deusa sem fama,
penteia as tranças de prata
pelos espelhos de lama.
14
É queimada a Dona Benta
no bairro de Botafogo,
por já passar dos oitenta
e não ter baixado o fogo…!
15
– Já passaste, Primavera?!
Nenhuma flor me marcou!
Querendo ser quem eu era,
nunca mais fui quem eu sou...
16
Joguei na fonte a moeda…
Por ser a única que eu tinha,
antes que eu ouvisse a queda,
pedi pra você ser minha!
17
Joguei moedas no lago...,
mas meu desejo afundou
com as esmolas de afago
que você me renegou.
18
Junta-se o poeta aos loucos;
um diário vivo em versos,
expressando como poucos
os sentimentos diversos.
19
Na entrevista com rigor
que o tempo insiste em fazer,
se a pergunta é sobre amor,
eu me nego a responder…
20
Na madrugada sem fim,
a saudade, desvairada,
acende um confronto em mim
entre um ninguém e um nada!…
21
Não vens. Sozinho na sala,
na espera à luz do ciúme,
meu coração despetala,
mas não perde teu perfume.
22
Na realidade, o pecado
que me faz vagar a esmo,
foi na vida ter amado
outro alguém mais que a mim mesmo!
23
No lago seco onde o sol,
racha o chão e se esparrama,
o pobre de um rouxinol
bica fiapos de lama…
24
Nosso fim está, talvez
como um segredo escondido,
nas entranhas dos “porquês”
que você deu sem sentido…
25
No trem, a vida é mesquinha.
Pare! Não tema empecilhos.
Não há quem ande na linha
neste planeta sem trilhos.
26
Nunca temerei fracassos,
chegarei mesmo sozinho.
Quem segue do pai os passos
sabe as curvas do caminho…
27
O barco é movido a remos … 
E hoje, pai, longe de ti, 
eu só sei dizer: vencemos; 
é injusto eu dizer: venci.
28
Olhos fundos; enfadonhos,
tez crestada, mão ferida…
Só você, pai, por meus sonhos,
foi capaz de dar a vida…!
29
Passastes, trem, mas por que
deixastes ficar assim?!
Vagões cheios em você;
vagões vazios em mim…?!
30
Peço a “Noel”, com leveza,
que ao chegar do polo norte,
bote ao menos pão na mesa
dos que nasceram sem sorte.
31
Pela dor da decepção
eu já me recuperei,
só falta a devolução
de um amor que eu te entreguei!
32
Pode ir embora, querida...
Que eu guardo a dor compulsória
de ter que arrancar da vida
quem tatuei na memória.
33
Por uma acusação falsa 
fui levado pra cadeia. 
Lá ganhei a meia calça 
depois de uma surra e meia…!
34
Puseste-me na clausura!
E hoje, em sonhos sem sentido,
eu me alimento da jura
que murmuras noutro ouvido…
35
Quando a dor de raivas breves,
de ti, musa, não tem fim,
escreves com traços leves
mil versos de amor em mim…
36
Quando a família é rompida
por atos cegos, tiranos,
deixa destroços de vida,
restos de seres humanos...
37
Quando o céu, em nuvens rotas,
derrama a chuva em cascata,
as gotas dedilham notas
nas verdes liras da mata…
38
Sê cidadão! Pois é rara,
a virtude de quem sonha
em primeiro por na cara
os adornos da vergonha.
39
Se foi feitiço ou segredo,
pra mim não adianta, é tarde!
Quando alguém ama com medo,
esculpe um amor covarde!
40
Sempre te amei como um louco
bem mais do que se permite;
para quem é amado, é pouco,
pra quem ama é sem limite!
41
Sem saber o que fazer,
a prostituta, perdida,
vende prazer p’ra viver,
mesmo sem prazer na vida…!
42
Ser literato ele soube,
com "Os Sertões", obra lendária.
Foi tão grande que não coube
numa escola literária.
43
Seu olhar de sinceridade,
crava paz nesse meu peito.
Nosso laço de amizade
tem as fitas do respeito!
44
Sobre a estante, na sala,
teu velho retrato, mudo,
mostra que a saudade fala
num silêncio... que diz tudo!!
45
Sou como as uvas pisadas
pra fazer vinho e licor,
que mesmo sendo esmagadas
dão de presente o sabor.
46
Sua imagem é minha escolha,
dela assumo ser devoto,
pois por mais que eu vire a folha,
eu só vejo a mesma foto!
47
Sua imagem, na lembrança,
em mim se consolidou
num retrato de esperança
que a vida não revelou... 
48
Tantas lágrimas na face
de tantos que a vida ignora.
E cada aurora que nasce,
é apenas mais uma aurora.
49
Toda família suspende
em seu pilar, os fracassos;
quando um filho dela pende,
sempre se ampara em seus braços!
50
Trinam pássaros nos galhos,
a brisa é leve e sombria;
a aurora sobre os orvalhos,
abre as cortinas do dia.
51
Vim do chão de um interior
e hoje tenho visões novas.
Quão feliz é o Trovador
que vai das Trevas às Trovas…
52
Viro a chave...E a nostalgia
da solidão que me corta
é impressa na melodia
do lento ranger da porta…
53
Voando em sonhos dispersos,
sigo em louca diretriz
no céu do rastro dos versos
das trovas que nunca fiz.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Hélio Pedro Souza (RN)


Água que chora na fonte,
sentindo ausência de afago,
se encoraja, desce o monte,
busca o carinho do lago.

Ainda lembro a estação,
lindas flores... Primavera...
O trem levando a paixão
e alguém sofrendo na espera.

Alvorada no horizonte,
surge Sol abrasador,
eterna e perene fonte
de vida, luz e calor.

A mãe terra está ferida,
são tantas chagas expostas,
a natureza agredida
se vinga dando respostas.

A nossa cara-metade
em adeus, na despedida,
deixa um rastro de saudade
que dura por toda vida.

Ao invés das discussões
por queixas de nossas lavras,
silêncio... Meditações...
Valem mais que mil palavras.

Aos pedacinhos de afeto
juntei plumas de carinho;
daí nascendo o projeto
eu e você, um só ninho.

A propaganda é no grito:
“Meu produto é de primeira!”
Galinha, porco, cabrito...
de tudo se vê na feira.

Das lembranças do passado,
em velho baú achei
o retrato desbotado
daquela que sempre amei.

Defronte o silente monte,
só se escuta a melodia
do rumorejar da fonte
na mais completa harmonia.

Em tempos tão conturbados
onde o crime faz costume,
valores mais ajustados
somente a família assume.

É perfeita a melodia
que a nada mais se assemelha,
ouvirmos em noite fria
o som da chuva na telha.

É seca e o sol no horizonte
torna a terra ressequida,
mas a pequenina fonte
insiste em manter a vida.

Essas mãos que me afagaram,
dando carinho e guarida,
são as mesmas que acenaram
no instante final da vida.

Família desajustada
aponta o endereço certo:
onde droga faz morada
e o crime ronda por perto.

Há velho que a mocidade
ainda nele perdura,
e jovem que em tenra idade
é velho em sua postura.

Lembro a infância, nos sertões...
Um chão forrado de esteira,
onde ouvi recitações
de cordéis à noite inteira…

Meu pensamento vagueia
e esbarra em enigma inverso:
ser a terra um grão de areia
ante o esplendor do universo.

Na família, os dissabores,
que causam tantos queixumes,
vêm da inversão de valores
e perdas dos bons costumes.

No picadeiro da vida
às vezes somos palhaços:
com atitude fingida
maquiamos os fracassos.

Nos olhos da mãe o brilho,
no rosto um sorriso farto;
como prêmio, vê seu filho,
que chora depois do parto.

Numa singela palhoça,
uma família roceira
senta, reza e até almoça
sobre as palhas de uma esteira.

O pôr-do-sol no horizonte,
com seus raios, me seduz
e eu vejo por trás do monte
uma cascata de luz.

Quando em suas águas me vi,
dei-me conta, estava vivo;
em seu lago descobri
a paz como lenitivo.

Quem no início de carreira
quer resposta imediata;
lembre-se que a corredeira
nem sempre chega à cascata.

Sofre do velho à criança,
morre o gado e a plantação;
só não fenece a esperança,
quando há seca no sertão.

Sua estada foi tão breve,
vendo-a, meu peito doía;
não matando, nem de leve,
a saudade que eu sentia.

Todo amor que a ti proponho,
com ternura e com carinho,
faz parte de um grande sonho,
construção de nosso ninho.

Uma brisa que alivia
suavemente o calor,
é um sopro que Deus envia,
num simples gesto de amor.

Um alçapão que alguém deixa,
ao prender um passarinho,
sequer o dono ouve a queixa
dos órfãos que estão no ninho.

Um triste adeus e a partida...
Teu lenço acenando ao cais
são sombras da despedida
que hoje alimentam meus ais.

Vou vencer a timidez,
amar-te eu irei sem medo;
te conquisto e, desta vez,
desvendarei teu segredo.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Fabiano Wanderley (RN)


1
Ao homem, na sua essência,
diante a sua fraqueza,
deu-lhe Deus com sapiência,
por amparo, a fortaleza!
2
Ao ver, a morte estampada,
na face de uma criança,
vê-se, ali, riste, ceifada,
para sempre, uma esperança,
3
Até mesmo o passarinho,
deixa a seca, a região,
para formar novo ninho,
onde houver fartura em grão.
4
Canta, canta, ó menestrel,
ante a lua a te acolher,
mais um tango de Gardel
que nos faz enternecer…
5
Com frases que vêm do peito,
meu coração se declara
ao verso, mais que perfeito:
— A trova, esta joia rara!
6
Como que por acalanto,
descerra a noite, o seu véu.
Cobre a terra com seu manto,
expondo estrelas no céu!
7
Com teu verso, solto ao vento,
levaste, a trova, aos altares,
com poesia e talento,
Ó Sebastião Soares!
8
Confirmando as suas lendas,
por capricho, o velho mar,
cobre as areias de rendas,
quando a praia vem beijar...
9
Desista, irmão, dessa guerra,
abrace a paz benfazeja,
pois a vida, enfim, se encerra,
onde o combate, sobeja.
10
Eis a serra majestosa!
Na natureza, um painel...
— Imponente, imperiosa,
altiva, buscando o céu!
11
Ela vem com seu achaque,
nossa paz, ela degreda,
a sogra é que nem conhaque:
- Aos poucos, ela embebeda!
12
Em noite de lua cheia,
envolto a tanto esplendor,
um poeta galhardeia,
versando trovas de amor.
13
Em uma folha vazia,
ponho em versos, sentimentos:
- Meu prazer, minha alegria,
minhas dores, meus tormentos...
14
Nada detém tanto encanto,
nem tanta essência de amor,
qual o feito sacrossanto,
do desabrochar da flor!
15
Não podia acontecer!
Do verbo, qual seu conceito?
Diz Juquinha, sem temer:
- Preservativo imperfeito!
16
Na roça, o suor do rosto,
mostra todo o ardor da lida,
e nesse cansaço exposto:
- Uma esperança de vida!
17
No grande palco da vida,
desse enredo tão atroz,
em cada cena exibida,
há sempre um pouco de nós.
18
No plenilúnio, na noite,
do aconchego dos seus ninhos,
vem a lua como açoite,
aclarar, os passarinhos!
19
No voo, a linda graúna,
com graça e simplicidade,
entoa, por sobre a duna,
seu canto, de liberdade.
20
O bombeiro, seu Clemente,
no boteco, faz seu jogo,
já se apaga, na aguardente,
combatendo o próprio fogol
21
O jardim perdeu as cores,
todo o belo feneceu;
as rosas, sem seus olores,
tal qual o destino meu…
22
Pelos caminhos da lida,
quantos castelos ergui...
- E esses sonhos, pela vida,
com trabalho, os consegui!
23
Por ser um real tormento,
indefinível ao pintor
e um sublime sentimento:
– A saudade não tem cor!
24
Por volúpia ou por feitiço,
todo amor, se faz mister,
no encantamento e no viço,
dos braços de uma mulher.
25
Quando a lua prateada,
resplandece na amplidão,
faz da trova uma morada,
em forma de inspiração.
26
Quando a queimada ameaça,
a vida, sem complacência,
a mata, pela fumaça,
vai aos céus, pedir clemência.
27
Quando a tarde prenuncia,
revoam os passarinhos
e levam toda a magia,
para o abrigo de seus ninhos.
28
Quando o céu, na lua cheia,
expõe os encantos seus,
a serra se galhardeia,
por estar mais junto a Deus.
29
Quando no espelho me exponho,
a velhice me valida,
com marcas de um lindo sonho
e gratidão pela vida...
30
Saudade é dor que se sente,
por quem, por qual, ou razão.
Um vazio que há na gente:
— Mistério de um coração!...
31
Se, a tua noiva, não bebe,
com ela, nunca te cases,
se não bebe, ela percebe,
o que fazes e não fazes.
32
Se a vida traz cicatrizes
por algo que nos aporte,
pelos meus dias felizes,
agradeço a Deus, a sorte.
33
Se os bons ventos são bem vindos,
por trazer-nos sempre o bem,
que levem, após advindos,
os nossos males, também...
34
Só a idade evidencia,
os rumos da nossa essência,
nos dando a sabedoria,
consolidando a existência.
35
Tendo a trova como canto,
o poeta em oração,
põe, em versos, todo encanto,
da mais sublime expressão!
36
Tens meiguice e sedução,
tens, oh Mãe, tanta bondade,
és de Deus, a criação,
que concebe, a humanidade.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...