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terça-feira, 12 de março de 2024

Falecimento do trovador Nilton Manoel Teixeira, em Ribeirão Preto/SP, hoje, 12 de março de 2024


Nilton Manoel de Andrade Teixeira, capricorniano de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão Preto-SP, onde veio a falecer hoje, 12 de março de 2024
.
Professor e contabilista.

Começou nos anos sessenta publicando seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo para jornais. Com apoio de Luiz Otávio (fundador da União Brasileira de Trovadores) implantou os Jogos Florais em sua cidade e como presidente da seção ubeteana de Ribeirão Preto, realizou eventos locais e nacionais.

Na área da Literatura, esteve no Conselho Municipal de Cultura, por três gestões.

Livros editados:

Trovas da Juventude; 

Cantigas do meu terreiro; 

Caviar, gororoba e sal de frutas, 

Poesia Mágica (haicais) e 

folhetos de Cordel ao estilo tradicional.

Era membro de:

Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras.
Academia Brasileira de Trova.
Academia de Letras de Uruguaiana,
Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul.
Academia Friburguense de Letras.
Academia Goianiense de Letras.
Academia Internacional de Ciências Humanísticas.
Academia Internacional de Heráldica e Genealogia.
Academia de Letras de Ribeirão Preto.
Academia Petropolitana de Poesia.
Academia Poços-caldense de Letras.
Academia Ribeirãopretana de Poesia.
Academia Santista de Letras.
Academia Virtual Brasileira de Letras.
Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto ( fundador e 1º presidente),
Clube Internacional da Boa Leitura.
Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana.
Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
Ordem dos Velhos Jornalistas.
The International Academy of Letters of England.
União Brasileira de Escritores.
Usina de Letras etc.

Títulos:

Título de Magnífico Trovador pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana;

Medalha de Ouro, no I Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas;

Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004.

No portal www.movimentodasartes.com.br assinava a coluna Trovador

ALGUMAS TROVAS

Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
= = = = = = = = = 

Depois dos cinquenta creio
que tudo é lucro e coerência,
homem que não faz rodeio
sabe o que vale a existência.
= = = = = = = = = 

Do passado não me queixo;
o tempo tudo desfaz...
Cenários velhos não deixo
que voltem a ser cartaz.
= = = = = = = = = 

Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
= = = = = = = = = 

Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de... Jornalda!
= = = = = = = = = 

Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
= = = = = = = = = 

Humildade comedida
finge alguém tê-la somente,
ao precisar de guarida
para um problema pendente...
= = = = = = = = = 

Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
= = = = = = = = =

Lágrima que escorre é gota,
que marca  o que vai à vista:
- dores da vida marota!
ou problema de oculista?
= = = = = = = = = 

Mãe preta, escreves a história,
com fraternidade pura;
pois na tua trajetória
plantaste amor com ternura.
= = = = = = = = = 

Meu lápis beija o papel 
num encontro sedutor; 
e é dessa lua-de-mel 
que nasce a trova de amor.
= = = = = = = = = 

Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha,
quero deixar ao futuro,
as lições de quem trabalha.
= = = = = = = = = 

Nada mais embriagador
no arrepio das ternuras
que escutar juras de amor
mesmo que sejam perjuras.
= = = = = = = = = 

Não dê bola ao rabugento
que desfaz da mocidade,
pois ele vive o tormento
de não aceitar a idade...
= = = = = = = = = 

O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado "caixa postal"!
= = = = = = = = = 

O para sempre felizes
das histórias infantis,
traz à vida bons matizes
dando vida ao que o autor quis.
= = = = = = = = = 

Orgulho é a bola de neve 
que vai, em diário exercício, 
levando o infeliz de leve 
às bordas do precipício.
= = = = = = = = = 

Perdão é a esponja macia
que se passa numa ofensa
por se crer na luz do dia
contra a noite da descrença.
= = = = = = = = = 

Por ter dado uma "banana"
pra tia de um delegado,
o Tiãozinho entrou em cana
e saiu bem "descascado"...
= = = = = = = = = 

Quem caminha destemido
com fé na vida que tem,
não faz, nem teme alarido, 
vive apenas para o Bem!
= = = = = = = = = 

Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
= = = = = = = = = 

Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!
= = = = = = = = = 

Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
= = = = = = = = = 

Saudade é como abacate:
-verde!...  por dentro, o caroço
pesa, na alma  que se abate,
e  o corpo curva  o pescoço.
= = = = = = = = = 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Jeremias Ribeiro dos Santos (Gentio do Ouro/BA, 1926 - 1999, Ipupiara/BA)

 1
Alma e valor não traduz
o nosso Eu exterior,
mas reflete Amor e Luz,
o que somos no interior.
2
A mulher boa e fiel
tudo pelo esposo faz,
faz do seu lar um dossel,
um trono de amor e paz.
3
Brasil: a tua pujança,
teu progresso está seguro
em quem agora é criança
– o Bacharel do futuro.
4
Com o Livro de Deus aberto,
a ler, com meditação,
encontro paz e, por certo,
do meu viver a razão.
5
Ditoso e mui sorridente
vou brandindo a minha lira
e adornando a minha mente
com os versos que Deus me inspira.
6
Em Carlos Ribeiro Rocha
sempre encontro inspiração,
seus versos – são uma tocha
de rara fulguração.
7
Eu não sei filosofar,
isso é coisa de doutor,
mas às Letras sei amar,
e ao Belo sei dar valor.
8
Faço da trova um poema
para louvar mãe Maria,
nome que adoro e é meu tema
quando teço a poesia.
9
Luta, sofre, evita o mal,
da sorte nunca maldiz,
a esposa boa, ideal,
que quer ver seu lar feliz.
10
Nas asas fortes da trova,
mando a cada trovador
um aperto de mão, que prova
a força do nosso amor.
11
Nas letras não sou perfeito,
primária é minha instrução,
em Deus, porém, no infinito,
acho a luz da inspiração.
12
Nesta vida transitória,
nada vejo de valor,
pois, daqui, a falsa glória
murcha e finda como a flor!
13
Num mais notável poema,
é que se traduz a trova…
Ela encerra ilustres temas,
e – ao gênio – inspira e renova…
14
O que dizer eu não sei,
diz por mim a Poesia,
que é da harmonia a lei,
a tradução da alegria.
15
O teu meigo coração
pulsa, mamãe, junto ao meu,
e eu sinto na vibração
desse amor – o amor de Deus!
16
O trinômio que me  induz
a sonhar felicidade,
pensar nos Andes, na Luz,
é – Deus, Poesia, Verdade!
17
Para a festa da Poesia
algumas “faíscas” trago,
que dedico à mãe Maria
e aos amigos do meu pago.
18
Por dar ouvido à Serpente,
perdera seu Paraíso
o casal, que tão contente,
nos lábios tinha um sorriso…
19
Pra Ti, Mestre e Benfeitor
Jesus, quero poetar…
Com desvelo e  vivo ardor,
nos meus versos Te exaltar…
20
Qual soluça a juriti
que um dia perdeu seu ninho,
soluço longe de ti,
vivendo sem teu carinho…
21
Quisera ser trovador,
para com arte e mestria,
brilhantes trovas compor
louvando mamãe Maria.
22
Sejam meus ou sejam teus,
em apenas quatro versos
cabem fulgores dos céus
e a grandeza do Universo…
23
Sob o comando de Deus,
do Universo o Construtor,
breve o mundo de escarcéus,
será um mundo de amor.
24
Trova – criação divina,
apara alegrar os humanos,
– joia em versos, que fascina
os novos e os veteranos.
25
Tu és nobre e tens riqueza…
Eu sou pobre e sou plebeu…
Por tua pompa e grandeza
não troco um só verso meu.
26
Vaguei triste a procurar
remédio pro meu sofrer…
Só na trova pude achar
cônscio, alívio e prazer!

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Carlos Ribeiro Rocha (Ipupiara/BA, 1923 - 2011, Salvador/BA)

A lua é também rendeira,
e o trovador tem razão:
sua luz sobre a mangueira
faz a renda sobre o chão...
- - - - - –

Amigo, seja cordato,
que a vida é sempre esse jogo;
o fogo — incendeia o mato,
a fonte — elimina o fogo.
- - - - - –

A Natureza, exultante,
põe versos, por compaixão,
sobre o papel palpitante
do meu pobre coração.
- - - - - –

Ao pé do morro cravado,
qual o antigo Prometeu,
está o pequeno povoado
onde o poeta nasceu.
- - - - - –

Ao tempo da minha infância
não tive Norte nem Sul,
não sabia que, à distância,
toda serra é sempre azul.
- - - - - –

A pedra da estrada arreda,
e o mal não impera aqui,
quando, pensando na queda,
a gente cai mesmo em si.
- - - - - –

Bebo lições eloquentes
e escuto de Deus um hino,
nas asas verde-fulgentes
de um beija-flor pequenino.
- - - - - –

De ser magro, minha gente,
não tenho — confesso — mágoa,
o rio, em sua nascente,
é também filete d'água.
- - - - - –

Detesto a intriga, o revide,
porque, na vida, o que alcanço
é o dia — para que eu lide,
e a noite — para o descanso.
- - - - - –

Escuta-me, trova amada,
mesmo triste e cismarento:
como o cipó, na galhada,
te envolvo num pensamento.
- - - - - –

Essa cena, vez em quando,
contemplo, manhã bem cedo:
as trepadeiras botando
laçarotes no arvoredo.
- - - - - –

Está sendo bem feliz
e dando felicidade,
quem, injuriado, não diz
aquilo que tem vontade.
- - - - - –

Eu sinto grande euforia
quando a trova vou tecer,
— é meu pão de cada dia,
sem ela não sei viver.
- - - - - –

Lá nas serras passeando,
aprendi um tanto mais:
eu vi as pedras chorando
sem glândulas sensoriais.
- - - - - –

Minhas trovas — Primavera
sobre as durezas da vida,
são aquilo que eu quisera:
— estrada sempre florida.
- - - - - –

Morrer nos causa pavor,
porque não temos lembrado
de que — morrendo de amor,
damos vida ao ser amado.
- - - - - –

O nome do meu Colégio?
Ninguém suas letras soma;
Nunca tive o privilégio
de receber um diploma.
- - - - - –

O sovina e o pistoleiro
fazem coisas parecidas:
Cede a vida — por dinheiro,
por dinheiro — arranca vidas.
- - - - - –

Ouço da saudade o grito
vibrando uma tarde inteira,
naquele canto bonito
da nambu, na capoeira.
- - - - - –

O vento, com pé macio,
passou pelo meu jardim,
e como guri vadio,
nas minhas rosas deu fim.
- - - - - –

Para escrever, inspirado,
no horizonte os olhos fito,
com o coração mergulhado
nas belezas do Infinito,
- - - - - –

Para minha mãe, viúva,
neste maio de esplendor,
quero rogar-te uma chuva
de luz e bênçãos, Senhor.
- - - - - –

Pedi hoje, também ontem,
rogo a Deus o dia inteiro,
para que trovas despontem
fresquinhas, no meu canteiro.
- - - - - –

Pequenez é coisa feia?
Grandeza é documentário?
— Pequeno é o grão de areia,
mas enguiça um maquinário.
- - - - - –

Piedosa, mãe Natureza
vendo a terra assim despida,
teceu um manto (lindeza!)
e a deixou verde e florida.
- - - - - –

Poeta, se queres, venha
escutar a voz da mágoa
pela garganta rouquenha
do boqueirão do Olho d'Agua.
- - - - - –

Quadro que nos enternece,
pintura de que se gosta:
a água evapora — é a prece,
e a chuva cai — a resposta.
- - - - - –

Que quadro lindo, estupendo!
— Por entre as brechas do morro,
raízes longas, descendo,
pedindo à terra socorro...
- - - - - –

Querendo trova perfeita,
rabisco, lápis em punho,
mas depois da trova feita,
volto à busca do rascunho.
- - - - - –

Saiba, amigo, que Deus brilha
na face dessas estrelas;
quem quer ver de Deus a trilha,
procure somente vê-las.
- - - - - –

Sem Colégio, encontro tudo
no livro da Natureza,
e como não tive estudo,
— sou ave no visgo presa.
- - - - - –

Se queres "bandeira branca",
procura assim praticar:
O orgulho — de ti arranca,
' planta amor no seu lugar.
- - - - - –

Se queres viver tranquilo,
ouve em ti mesmo essa voz:
Seremos somente aquilo
que construímos em nós.
- - - - - –

Sou de crer, ninguém resiste
a força desse episódio:
Sai o amor, aflito e triste,
quando no lar entra o ódio.
- - - - - –

Tem mais valor, entre os meus,
muito mais do que um retrato,
meus versos simples, plebeus,
que me retratam, de fato.
- - - - - –

Trovador, que belo enredo
para uma trova louçã:
na pia do sol, bem cedo,
lava seu rosto a manhã.
- - - - - –

Tua casinha, menina,
bem no sopé da ladeira,
é o lírio da colina
que quanto menor, mais cheira!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Antônio Sales (Paracuru/CE, 1868 - 1940, Fortaleza/CE)

- A certa moça, na rua
bradei com sinceridade:
- Vossa Excelência é a Verdade!
- Por quê? - Porque está tão nua!
- - - - - –

- A fealdade é um direito;
por isso ninguém a acusa.
Mas ser feia desse jeito...
Perdão: a senhora abusa!
- - - - - –

A opinião severíssima
te condena sem razão:
tu serias fidelíssima
se fosses... mulher de Adão.
- - - - - –

— As cobras que tem no anel,
certo médico alopata,
são, de certo, cascavel:
onde ele põe a mão, mata!
- - - - - –

(A um juiz) 
- A tua venalidade
não tem, neste mundo, a gêmea,
foi uma felicidade
não teres nascido fêmea...
- - - - - –

- E difícil que aconteça
dor de cabeça ela ter:
pode a dor aparecer,   
mas não encontra cabeça...
- - - - - –

— Em certo escritor satírico,
de uma irreverência atroz,
nós achamos muito espírito...
quando não fala de nós.
- - - - - –

- Em tua genealogia
Fidalgo, vais longe... Até
que hás de chegar, algum dia,
ao Congo, Angola ou Guiné...
- - - - - –

Eu conheço um plumitivo*,
cheio de vaidade imensa,
que anda sempre pensativo
e apenas pensa que pensa.
- - - - - –

- "Não gosto de ouvir tolices!" -
exclamas, estomagado;
Para que não as ouvisses,
devias ficar calado.
- - - - - –

- Para que não te despraza**
ver gente má pela frente,
precisas primeiramente
não ter espelhos em casa...
- - - - - –

— Passa na estrada um camelo
e um corcunda palpitante
de alegria, disse ao vê-lo:
- "Mas que animal elegante!"
- - - - - –

- Vi um médico fardado...
Que perfeito matador:
quem escape do soldado,
não escapa do doutor...

________________________________
Notas:
Despraza – do verbo desprazer.
** Plumitivo – escritor ou jornalista sem méritos.


Fonte:
R. Magalhães Junior. Antologia de humorismo e sátira. RJ: Bloch, 1998.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Alberto Isaías Ramires (Vila Velha/ES, 1924 - 2004, Rio de Janeiro/RJ)


A trova boa e perfeita
tem, na sua formação,
um pouco de pensamento,
um pouco de coração.
- - - - - –

Da vida, pelos caminhos,
uma coisa aprendi bem:
a roseira dá espinhos,
mas nos dá rosas, também…
- - - - - –

Falar mal da vida alheia
é coisa que não convém;
quem tem telhado de vidro
não fustiga o de ninguém…
- - - - - –

Juraste que eternamente
minha, só minha, serias.
Mas o teu "eternamente"
não foi além de dois dias...
- - - - - –

Lá se foi a meninice,
meu barquinho do papel,
minha ingênua peraltice,
meu doce Papai Noel...
- - - - - –

Não entendes meu desgosto,
mas aprende esta lição:
nem sempre pomos no rosto
as mágoas do coração.
- - - - - –

Num mundo triste e sisudo,
cheio de ódio e ambição,
do trabalho fiz escudo
e, da honradez, religião!
- - - - - –

O amor começa, meu bem,
num sorriso ou num olhar;
mas, por capricho, também,
assim pode terminar…
- - - - - –

Passam dias, meses, anos...
Quem na vida, nada alcança
deve sempre aos desenganos
antepor uma esperança.
- - - - - –

Por nascer pobre, o Divino
num gesto compensador,
despertou, em meu destino,
a lira de trovador…
- - - - - –

Quando eu morrer, por favor
coloquem na minha cova
um epitáfio de amor
escrito em forma de trova!
- - - - - –

Saudade - um berço vazio,
uma lágrima, uma dor;
coração sentindo frio
longe da chama do amor…
- - - - - –

Semeia por onde fores,
bondade, amor e carinho;
e transformarás em flores
as pedras do teu caminho.
- - - - - –

Sobre o Amor já se tem dito
muita coisa de valor;
mas bem poucos, acredito,
sabem mesmo o que é o Amor!
- - - - - –

Via-a rezando, contrita,
com os olhos fitos no céu.
Quanto pecado escondido
debaixo de um fino véu!...
- - - - - –

Vitória - Ilha do mel
que nos deslumbra e extasia.
Um pedacinho de céu
que é sonho, amor e poesia...

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Aloisio Bezerra (Massapê/CE, 1925 - ????)

1
Acorda, logo, Alencar,
não faças tanto ruído!
Esqueceste de tomar,
pra dormir, teu comprimido!...
2
Ante insucessos de partos,
da mãe preta há gestos nobres
em ceder seus seios fartos
a órfãos que não são pobres!
3
- Ao andar, sinto cansaço.
Que me aconselha, doutor?
- Nenhum remédio lhe passo,
só tome um táxi, senhor!
4
Ao fone da Previdência
responde o "boy', que é modesto:
- Não mais trabalha, Excelência,
aqui, ninguém por Honesto!...
5
A tragédia em profusão,
vai matando em tom profundo:
- É Deus chamando a atenção
dos pecadores do mundo!
6
Cada vez que és malcriada,
fica branco o meu cocó!
- Mãe, como foste danada:
repara as cãs da vovó!...
7
Carro-de-bois, és toada
cadenciada e sem fim;
enquanto gemes na estrada,
mais geme a saudade em mim!
8
Cem anos de lucidez
fez vovô, e sem canseira,
pois o velho, todo mês,
corre atrás da cozinheira!...
9
Com uma frase, somente,
eu tento a fé descrever:
a fé, resumidamente,
é acreditar sem se ver!
10
Contra a constante injustiça,
que a maldade, às claras, solta,
lanço aos donos da cobiça
o meu clamor de revolta.
11
Depois de preso à corrente
dos seus braços, que ironia!
Ela me deu, finalmente,
um alvará de alforria!
12
Depois de tanto fracasso
que nesta vida sofri,
me transformei em palhaço,
um palhaço que não ri!
13
De que vale ter diamantes,
joia aos montões, ser incréu,
se, em libertinos instantes,
chegar a perder o Céu?
14
Diante da mãe barriguda,
o garoto olha assustado:
- É barriga d'água, Arruda.
- E o nenê morre afogado?...
15
Diz-nos, Deus, basta de guerra,
quando, alegrando aos mortais,
descerá, por sobre a terra,
a pomba branca da paz?
16
Em cada dia primeiro,
pese o seu filho, senhor.
Logo retruca o açougueiro:
- Com ou sem ossos, doutor?
17
Essas constantes matanças,
o roubo e a imoralidade
navegam nas águas mansas
e negras da impunidade!
18
Eu vejo um mundo safado,
sem fé, sem paz, em meu pranto,
só rejeitando, aloucado,
o que é de Deus, o que é santo!
19
Feito o mundo, Deus projeta
de logo um duplo desejo:
deu a saudade ao Poeta
e a tristeza ao sertanejo!
20
Felicidade - eu diria,
através da sutileza,
é uma fração de alegria
entre inteiros de tristeza!
21
Inda veremos nas liças,
outros horrores insanos,
por causa das injustiças
e dos delitos humanos!
22
Meu amor é tão perfeito,
que sempre ao ver-te, menina,
escuto, dentro do peito,
um carrilhão em surdina!...
23
Meu troféu é mais que prata,
mais que o mais fino brilhante;
ele, deveras, retrata
minha trova - o meu diamante!
24
- Meu viver é turbulento,
queixando-se, diz Seu Paiva:
- Neste ano não tive aumento,
é "roxo" o meu, mas... de raiva!
25
Minhas rugas, meus cansaços
e esses cabelos tão brancos
vão responder por meus passos,
entre trancos e barrancos!
26
Nada cobiço, querida,
sou venturoso, porque,
se tenho sorte na vida,
a minha sorte é você!...
27
Neste vale de pecado,
o pendor para o perdão
só pode ser conquistado
sob o poder da oração!
28
Nossos momentos, quem vê,
os vê felizes, querida:
eu descobri com você
o doce encanto da vida!
29
O mundo gira, lascivo,
com todos os vícios seus,
violento, injusto, opressivo,
porque distante de Deus!
30
- O que é bígamo, papai?
Me venha então explicar.
- Um imprudente que vai
por duas vezes errar.
31
O saber, o mais profundo,
a fama e a riqueza até,
não os troco neste mundo
pelo dom da minha fé!
32
Para que reine a harmonia
neste mundo de profanos,
urge que vença a alforria
e os tais direitos humanos.
33
Por ser um cara safado,
conquistador de má fama,
veio a morrer o tarado
de um espirro sob a cama!
34
- Que burrada! Que burrada!
- Já sei! Não vá repetindo!
- Não sou eu, meu camarada,
é o eco que está saindo!...
35
- Tal qual meu pai, ao crescer,
bom dinheiro vou ganhar!
- Tal qual mamãe, podes crer,
vou, tão somente, gastar!
36
Tua beleza era tanta,
tua oração tão ardente,
que em vez de fitar a santa,
eu te fitava somente!
37
Uma casinha singela
e um chameguinho, o melhor,
de um casal a viver nela...
- Para que sorte maior?
38
Um leito fofo e adornado
de cetim, brocado e flor,
de carícias abrasado,
foi palco do nosso amor!...

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Aloísio Alves da Costa (Umari/CE, 1935 - 2010, Fortaleza/CE)

1
Agora que tu partiste
e a saudade está chegando,
desculpe o meu verso triste,
minha musa está chorando!...
2
Amarela é a cor mais bela
e é fácil de soletrar:
- é bastante unir com "Ela",
as letras do verbo "Amar"!...
3
Ante o medo que angustia,
talvez a grande mensagem,
fosse a que Deus nos diria ...
- Coragem, filho, coragem ...
4
Ao se pesar, a Constança,
que é gorda e não pesa pouco,
comenta, sobre a balança:
- Esse ponteiro está louco!...
5
Aos sonhos nunca se apegue,
que eles se vão de repente...
e sonho que se persegue
é o que mais foge da gente!...
6
As musas, não posso vê-las...
vivem num mundo distante...
mas posso além das estrelas
ouvi-las a todo instante
7
Bonança e paz sobre a terra
é tudo que peço a Deus,
para que as armas de guerra
virem peças de museus.
8
Buscando instantes felizes
pelos caminhos tristonhos,
foram tantos meus deslizes
que tropecei nos meus sonhos!...
9
Castigado desde cedo,
tanto apanhei do destino,
que nunca tendo um brinquedo,
nem lembro que fui menino.
10
Chegada bem mais feliz,
bem mais alegre, suponho,
é a de quem faz o que eu fiz:
- cheguei trazendo o meu sonho!...
11
Creio em Deus, unicamente
não ando rezando à-toa...
- tenho uma alma que sente
e um coração que perdoa!
12
Dando na alma embevecida,
laços de amor e amizade,
fui, na jangada da vida
um pescador de saudade!...
13
Dentro da noite inclemente
De frio intenso e garoa,
o agrado de um beijo quente
garante que a noite é boa!...
14
Dói a saudade em meu peito
e eu canto, não silencio...
Quanto mais pedras no leito
mais alto o canto do rio!
15
Dos ideais o maior
é viver, lutar, e, após,
deixar um mundo melhor
aos que vêm depois de nós.
16
Dos jogos o mais nocivo,
até hoje, em meu caminho,
tem sido o rebolativo
da mulher do meu vizinho!
17
Enquanto o Zé Liberato
sai em busca da gatinha,
pela janela entra um gato
que janta a sua sardinha!
18
Era uma vez uma dona
que andava a pé, sem ninguém;
e tanto pediu carona,
que ganhou carro também! ...
19
Esta saudade infinita
do amor que a gente viveu,
é a mensagem mais bonita
que o meu passado viveu!...
20
Feito de essência divina
e fluidos de eternidade,
um grande amor não termina,
mas se transforma em saudade!
21
Feliz é quem, pela vida,
envelhecendo sem fugas,
alegre e de fronte erguida,
zomba do espelho e das rugas.
22
Já diz o velho ditado,
que lenha verde e viúva,
com paciência e cuidado
pegam fogo até na chuva!...
23
Mensagem que se recebe
e nos enche de quimeras,
é aquela em que se percebe
que as palavras são sinceras
24
Meu sonho em mágoa desfeito,
tão grande fez meu desgosto,
que não cabendo em meu peito
se fez pranto no meu rosto!...
25
Minha irmã conta as topadas,
que já deu pelos caminhos,
pelas pedras arrancadas...
- E eu conto, pelos sobrinhos!...
26
- Na carta que ela me fez,
nas reticências sem fim,
a incerteza de um "talvez"
dá-me esperanças de um "sim"...
27
Na farmácia, ao ver o busto
da balconista, hesitante,
em vez de xarope, o Augusto
pediu mesmo foi calmante!...
28
Na linha desta saudade,
que é tua e também é minha,
nós somos nós de verdade
nas duas pontas da linha!
29
Na luta contra a cobiça,
mantendo na alma a esperança,
meu desejo de justiça
é maior que o de vingança!
30
Não busques falso tesouro
se bens duráveis garimpas...
Nem sempre as mãos que têm ouro
e pedras raras, são limpas...
31
Não condeno o revoltado
que defende seu direito...
– revolta de injustiçado,
merece todo respeito!
32
Não preciso, mãe, no templo,
rezar tanto de joelhos...
- Minha luz é o teu exemplo,
minha prece os teus conselhos!...
33
Na tua ausência, ao meu lado
em cima da nossa mesa,
o candelabro apagado
mantém a saudade acesa.
34
Na tumba da falecida,
o esposo ciumento, à porta,
murmura: - Volta, querida.
E ela responde: - Nem morta!
35
Nem ouro, nem pedra rara,
nada que vem do garimpo,
vale um fio de água clara
no leito de um rio limpo...
36
No momento doce e breve
que a inspiração nos invade,
dos versos que a gente escreve,
a musa escreve metade!...
37
Num armário sem conforto,
do qual não guardo saudade,
guardado, me fiz de morto,
pra não morrer de verdade...
38
O meu cansaço é tamanho,
que, na mesma caminhada,
eu quase não acompanho
minha sombra na calçada!
39
Partiste, chorando tanto,
no teu rumo oposto ao meu,
que, solidário ao teu pranto,
o céu fechou-se... e choveu...
40
Partiste, cigana errante,
e de uma noite em teu leito,
restou-me um sonho distante
e esta saudade em meu peito!...
41
Peço a Deus que o tempo corra,
e corra a nosso favor,
para que este amor não morra
antes que eu morra de amor!…
42
- Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas!
43
Pelos motivo da guerra
e pela falta de pão,
não culpo quem fez a terra,
mas quem fez a divisão.
44
Quando a lei se faz omissa
e a impunidade se solta,
do silêncio da justiça
surgem gritos de revolta...
45
Quando a noiva viu a cama
que a esperava pra dormir,
mandou sustar o proclama
e desistiu do faquir!...
46
Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão.
47
Quando a voz de um pai ressoa
e a de um filho abaixa o tom,
conselho é semente boa,
plantada em terreno bom!
48
Quando instantes de carinho,
trazem saudades depois,
lembrança é viver sozinho
de um sonho vivido a dois.
49
Quando não vens, na ansiedade
desses momentos perversos,
vem a musa da saudade
pôr mais saudade em meus versos.
50
- Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança
ou se morre de saudade...
51
Quem não aprende em menino,
tem que aprender na velhice,
que ter pai pobre é destino,
mas sogro pobre é burrice!…
52
Sambando quase pelada,
no 'No bloco do vai sem medo",
Paulete foi mais cantada
que o refrão do samba enredo..
53
Sempre que a vida me nega
segurança nos meus passos,
minha esperança me pega
e me carrega nos braços!
54
Sendo orador de alta escala,
é tão profundo e erudito,
que a gente, quando ele fala,
só entende o... "tenho dito".
55
Se o telefone falasse
o que nele a gente fala,
duvido que alguém deixasse
o telefone na sala!...
56
Somente um bem acontece
quando a gente cai doente:
doente é que se conhece
quem é amigo da gente.
57
Sou de onde o vento trabalha,
lá onde a brisa fagueira
embala de leve a palha,
beijando a carnaubeira! ...
58
Teimei no amor... e errei tanto
na teimosia de amar,
que eu mesmo não sei mais quanto
errei tentando acertar!...
59
Teu olhar... a voz macia...
tuas promessas de amor...
- são notas de fantasia
na pauta da minha dor.
60
Vencendo o tempo e a distância,
mensagens da mocidade,
sempre nos trazem da infância,
saudade ... muita saudade...
61
Volátil, discreta e doce,
no instante certo, presente,
a musa é como se fosse
o anjo-da-guarda da gente…

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...