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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Onildo Barbosa de Campos (1924 - 2002)


1
A santa que mais incenso,
minha mãe, já bem velhinha,
sem que eu lhe diga o que penso,
meu pensamento adivinha...
2
A saudade, pensativa,
e alheia ao tempo que avança,
é uma cadeira cativa
onde a velhice descansa...
3
A tristeza aqui não mora!
Meu lar, à luz do Senhor,
feito de pedra – por fora,
por dentro é feito de Amor!
4
A vassoura do bom vento
é aquela que varre, enfim,
das ruas do pensamento,
o pensamento ruim...
5
Castigo é ter, apertado
entre as mãos, na despedida,
um lenço todo molhado
no cais-do-porto da Vida!
6
Cegos de amor, desprezados...
por este mundo de Deus,
meus olhos vivem fechados
depois da fuga dos teus!
7
Correndo, de sorte em sorte,
num desespero crescente,
a gente foge da Morte...
e a Vida foge da gente!...
8
Deus, trovador que se espelha
na inspiração mais ditosa,
compôs a trova vermelha
e deu-lhe o nome de rosa.
9
Dona Saudade, velhinha,
bordadeira paciente,
não tem agulha nem linha,
mas borda os sonhos da gente!
10
É libertando a saudade,
quando me encontro contigo,
que estendo a mão da amizade
para prender um amigo!
11
Fui vaqueiro!... Hoje, sou monge...
Minha saudade, depois,
ficou mugindo, lá longe...
na voz dolente dos bois!...
12
“Jeca Tatu” se consome
na eterna queixa de um ai:
– “Meu Deus, eu morro de fome!”
Responde a Terra: – “Plantai!”
13
Mantendo a alegria acesa,
o teu olhar, tão profundo,
criança, apaga a tristeza
dos olhos tristes do mundo!
14
Na dança e na contra-dança
desta vida, que se evade,
o sol nascente é esperança,
o por-do-sol é saudade!
15
Na fogueira abandonada,
vejo esta imagem, tristonho:
- saudade é a lenha queimada
no fogo azul do meu sonho.
16
Não há mais doce alegria
do que lembrar, ao sol-posto,
de mamãe quando fazia
trovas de beijo em meu rosto.
17
Na vida, que nos consome,
quem tiver coração nobre,
não mata o pobre de fome,
matando a fome do pobre!
18
Numa alcova abandonada,
a saudade, penitente,
a noite inteira acordada,
orvalha os olhos da gente.
19
Nunca se apresse à conquista
de alguém de muita promessa...
que o amor, à primeira vista,
foge da vista, depressa!...
20
O Morro vive cansado!…
Sem pão, sem lar, sem escolas,
é um chapéu velho emborcado,
de tanto pedir esmolas!
21
Para o céu te levaria,
em troca do teu carinho,
se me ensinasses, Maria,
onde começa o caminho...
22
– Por que a Deus, a alma volvida,
agradeço o que me deu?!
– Porque me deu tanta vida,
que a Morte já me esqueceu!
23
- Por que a gente engana o tédio
quando a lembrança é ternura?!...
- Porque a saudade é o remédio
de um mal que não tem mais cura!
24
- Por que dormir docemente,
num travesseiro sem fronha?!
- Porque a humildade da gente,
quanto mais dorme... mais sonha!
25
- Por que matar um Poeta,
se é irmão de Deus, quer viver?!
- Porque a Morte, analfabeta,
seus versos não sabe ler!
26
- Por que não se firma em pé
a alma descrente... abatida?!
- Porque, em se perdendo a Fé,
perde-se a vida da vida!
27
– Por que o Mal não tem segredo
e seu castigo está perto?!
– Porque, mais tarde ou mais cedo,
o Mal sempre é descoberto!
28
Por que o olhar de mãe, se ingrato
é o filho, nunca o magoa?!
- Porque revela o retrato
do coração que perdoa!
29
Por sobre as ondas serenas,
a gaivota, em seu compasso,
é uma tesoura de penas,
cortando o pano do espaço.
30
- Quem é Deus?! Ninguém, no mundo,
ao certo dirá! Por quê?
- Porque é o Mistério profundo
que a gente vê... mas não vê!
31
Quem vive cego de amor
– frase que trago de cor -
embora de olhos fechados,
enxerga a vida melhor.
32
Sábio é toda criatura
que vive da inteligência,
colhendo a espiga madura
do milho da experiência!
33
Saudade, vida da vida
de um sonho que se desfez.
É uma vontade incontida
de sonhar tudo outra vez!
34
Sem te esperar, desespero
se te procuro esquecer..
Pois quanto menos te quero,
mais te quero, sem querer!
35
Sou trevas!... Mas, se, a contento,
bebo luzes... ao bebê-las,
no luminoso momento,
eu viro noite de estrelas!
36
Teu amor não tem segredo,
criança. Teu coração
até parece um brinquedo
que passa de mão em mão…
37
Teus olhos, cor de esperanças,
fogem... Teimoso, os persigo!...
- Parecem duas crianças
brincando de amor comigo.
38
Três Marias, três amores
passaram pelos meus dias..
Ficou Maria das Dores,
- a dor maior das Marias!
39
Tu vives andando a esmo
por distâncias… e eu, aqui,
quando me abraço a mim mesmo,
é com saudades de ti.
40
Venho de longe… e pressinto
que para longe prossigo…
– Sem dizer tudo o que sinto,
eu sinto tudo o que digo.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Ozório Porto


1
A fonte, assim cristalina,
nascente à margem da estrada,
é obra de mão divina
ao sedento em caminhada.
2
A lua fria, indiscreta,
invadiu meu barracão;
veio confortar o poeta
que curtia a solidão.
3
Creio que a felicidade
não convive em poluição;
por isso deixa a cidade
pra viver lá no sertão.
4
De pintor vou dar-te a prova
– e sem gastar muita tinta -
revelando nesta trova
que tens oculta essa pinta.
5
Deus fez tudo tão correto,
tão medido, tão certinho…
Que é feliz o humilde teto
do mais humilde ranchinho.
6
Dormindo sonho contigo.
Acordado penso em ti.
E por isso eu não consigo
esquecer quem já perdi.
7
Essa quadrinha que eu faço,
tão simples, tão inocente,
leva da alma um pedaço,
leva um pedaço da mente.
8
Esse mal que me tortura,
que me aflige e me consome;
esse mal, assim, sem cura,
só eu sei… Tem o teu nome.
9
Eu andei sempre correndo
por este mundo sem fim;
acabei envelhecendo
sem sequer lembrar de mim.
10
Foi-me dado um dia, em sonho,
minha infância reviver:
Brinquei, corri, fui risonho
e fui feliz a valer.
11
Já vi rio em chama ardente,
já senti calor da lua,
mas não vi, até o presente,
falsidade como a tua.
12
Maior que essa deficiência
que limita o que produz,
é o amor, na sua essência,
que compreende e que conduz
13
Meu coração, esse tolo,
que hoje inda espera por ti,
tem tão só, como consolo,
a esperança que eu perdi.
14
Meu coração silenciou
ao estetoscópio, com medo,
e ao doutor não revelou
um nada do seu segredo.
15
Meu pensamento se expande
e o trovador põe à prova:
Criança... Um tema tão grande
nos quatro versos da trova...
16
Minhas trovas têm um quê
que as outras trovas não têm:
Falam sempre de você,
e falam de mim também.
17
Miscigenação bendita,
és a grande responsável
pela beleza infinita
dessa mulata adorável!…
18
Na exiguidade do espaço
que me resta a percorrer,
cada trova é como um passo
no caminho do viver.
19
Nas entrelinhas da trova,
às vezes, paira um lamento
que facilmente comprova
uma dor, um sofrimento.
20
Nas noites de lua-cheia,
contemplo ao longe a cascata;
parece que ela se enleia
num manto feito de prata.
21
Nos rodopios da valsa,
fazendo juras de amor,
não supus que fosse falsa
quem me causa tanta dor.
22
Numa trova eu digo tudo,
tudo, tudo o que eu quiser;
desde que tudo que eu diga
seja tudo da mulher.
23
Percorri árduos caminhos
pra chegar onde cheguei;
guarda marcas, lembro espinhos
das trilhas por onde errei.
24
Pra manter minha alegria
um quase nada é o bastante;
fazer trovas cada dia
e abraçar-te a cada instante.
25
Quando criança eu queria
ser homem, sábio, talvez…
Hoje bem que gostaria
de ser criança outra vez!…
26
Quando eu era pequenino
contava o tempo a cantar…
Hoje lembro do menino
e conto o tempo a chorar.
27
Quem sofre do mal de amor,
sofre, sofre até morrer!…
Não há remédio ou doutor
que possa o mal desfazer.
28
Se à noite a lua opalina
envolve em luz a palhoça;
transforma em tela divina
um quadro humilde da roça.
29
Sem a fonte luminosa
e a retreta domingueira,
ficou triste e até saudosa
nossa Praça da Bandeira.
30
Se você não vai cumprir
o quanto me prometeu;
proponho lhe devolver
os beijos que já me deu.
31
Sonhei que estavas casando
numa igreja da roça,
que ouvia o padre abençoando
essa união que era nossa.
32
Só transportando criança,
velha KOMBI ao trafegar,
guarda um mundo de esperança,
rotulada de ESCOLAR.
33
Talvez, riacho cantante
que se despenha em cascata,
sejas tu um poeta errante
dizendo trovas à mata.
34
Teu beijo tem a doçura
de um doce favo de mel;
mas esperá-lo é tortura
que amarga mais do que o fel.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Oswaldo Soares da Cunha (1921 - 2013)


1
Abraços, beijos de fogo,
em vez de aplacar o amor
que anseia por desafogo,
mais aumentam seu furor.
2
Abro os meus olhos e vejo
que a manhã radiosa avança,
borrifando a natureza
com o orvalho da esperança!
3
A esperança é uma criança
que ninguém pode com ela:
nem bem saiu pela porta,
torna entrar pela janela.
4
A flor que eu contemplo agora,
em meu ser quer pendurar,
insiste em ficar no foco
do meu deslumbrado olhar.
5
A gente em geral tropeça
naquilo que há de través:
Mas aquele que tem pressa,
tropeça em seus próprios pés.
6
Amigos, são todos eles
como aves de arribação:
- Se faz bom tempo, eles vêm...
- Se faz mau tempo, eles vão...
7
A mulher e sua saia
não conseguem combinar:
A mulher vai se assentando,
a saia quer levantar…
8
Ao homem sempre se fala
que escute a voz da razão;
mas é que a razão se cala,
quando fala o coração.
9
Aquele olhar suplicante
penetra em nossos refolhos:
Sem dar sequer um latido,
o cão implora com os olhos!
10
A raiva maior que tive,
 eu tive porque sonhei
que estava quase a beijar-te
      e de repente acordei!
11
Às vezes, durante a missa,
voando vinha de fora
uma veloz andorinha
visitar Nossa Senhora.
12
Coração não tem memória,     
é um ditado verdadeiro: 
o amor que temos por último,   
parece ser o primeiro.
13
Cresceu demais minha aldeia,
Meu Deus, que desilusão:
Hoje, tão grande e tão cheia,
não cabe em meu coração.
14
Das dores todas da vida,  
não pode haver maior dor
que passar a vida inteira
sem dor nenhuma de amor.
15
De querer-te como quero,
que culpa é que posso ter?     
Bem sabes que sou sincero,
se te quero é sem querer.
16
Ele recusa comida,
ainda que seja pouca,
para não ter o trabalho
de ter que levá-la à boca …
17
Em qualquer lugar que estejas,
entre flores ou abrolhos,
a mesma distância, ó vate,
separa do céu teus olhos!
18
Em travesseiro de nuvens
repouso a minha cabeça:
Na companhia dos anjos,
queira Deus que eu adormeça.
19
Eu amava uma palmeira,
lá longe, no entardecer…
Veio a noite traiçoeira,
não vi mais meu bem-querer!
20
É uma troca de carinho
a amizade: basta ver
um burro coçando o outro,
como tremem de prazer.
21
Eu nunca pedi um beijo,
não gosto de beijo dado:
Pra matar o meu desejo
tem que ser beijo roubado.
22
"Felicidade é quimera!"         
Costuma a gente exclamar.
Porém, lá dentro, baixinho,      
nunca a deixa de esperar.
23
Juntos, ficamos calados.
    Também, para que falar?
Entre dois enamorados,
basta a linguagem do olhar.
24
Na clara manhã de Minas,
a andorinha de asas pretas
é uma criança traquinas
dando no céu piruetas!
25
Não gosto de fazer contas,
a conta sai sempre errada.
Por isto virei poeta,
não faço conta de nada …
26
Não tem idade alguma,
quem tem apenas metade:  
a liberdade, ou é inteira,
ou não é liberdade.
27
Não ter amor e fingir
é difícil a valer;
mas acho que é mais difícil
ter um amor e esconder.
28
Nem mesmo a joia mais cara
prova toda a gratidão:
Tem algo que só se paga
dando o próprio coração.
29
Nenhum valor ia ter,
para nós, a gratidão,
se não se pudesse ser
ingrato sem punição.
30
Nesta casa com janelas
a minh’alma fez morada:
Mas a casa não é dela,
é só uma casa alugada.
31
Ó canarinho de outrora,
meu canarinho querido,
parece que eu te ouço agora
cantando no meu ouvido!
32
O cão, teu fiel amigo,
mostra mais satisfação
ao ver que trazes contigo
um bom pedaço de pão.
33
Ó chá de malva cheirosa,
- folha com nome de flor -
cujo perfume de rosa
se transfigura em sabor.
34
O lampião, noite escura,
lá no fundo do sertão,
filtra uma luz doce e pura
que enternece o coração.
35
Olho o céu, olho as montanhas,
olho uma nuvem passar…
e acabo me convencendo
que a alma é função do olhar.
36
O nosso amor à justiça
vem do medo que se sente
de que algum dia a injustiça
possa sobrar para a gente.
37
O poeta é uma pessoa
que vive sempre ocupada:
Faz versos andando à toa,
mas julgam que não faz nada.
38
Ó sino de alma de bronze,
indiferente da sorte,
tanto celebras a vida
como celebras a morte.
39
Os profetas, com ameaças,
ganham fama onde aparecem,
já que não faltam desgraças,
que todo dia acontecem.
40
Os quadros que foi juntando
ao pintor devem pesar
talvez mais que as obras primas
que ele deixou de pintar …
41
Para os outros, sou feliz.
Deixa que pensem assim:
Seja eu feliz para os outros,
já que o não sou para mim.
42
Pecados de amor, só são
pecados de dar horror,
se forem, na ocasião,
praticados sem amor.
43
Pode fazer-se um favor,
fazer dois e mesmo três,
que apenas será lembrado
aquele que não se fez.
44
Por mais alto que cheguemos,   
sempre a ambição é mais alta:
nunca vemos o que temos,
só vemos o que nos falta.
45
Por que a esperança é verde?
– É verde porque a ventura  
que ela promete na vida  
jamais se encontra madura.
46
Provérbios temos aos centos,
este é dos mais verdadeiros:
– Deus criou os alimentos
e o Diabo, os cozinheiros …
47
Quem perdeu a namorada,
não se queixe nem reclame:
Se não tem mais a que amava,
procure outra a quem ame.
48
Quero dizer-te um segredo
em uma linguagem louca:
não dê boca para ouvido,  
mas de boca para boca....
49
Que teu amigo não entre
do teu lar na intimidade:   
onde começa a mulher,
aí termina a amizade.   
50
Quisera, sem ter morrido,
no éter viver disperso,
Eeser simplesmente o ouvido
que escuta a voz do Universo
51
Saudade, vaga presença,
coisa que bem não se explica:
algo de nós, que alguém leva...
algo de alguém, que nos fica.
52
Se quer cativar alguém,
use palavras de mel.
Que nem as moscas, ninguém
costuma gostar de fel…
53
Se solto alguma tolice,
eu mesmo, depois de tudo,
me envergonho do que disse,
melhor ter nascido mudo.
54
Tão doce é a prisão do amor
que, em vez de sentir saudade,
eu hoje lamento os dias
que passei em liberdade.
55
Tenho um punhado de netos
que acho o maior dos baratos:
São lindos quando estão quietos
e sorrindo nos retratos …
56
Toda a água que existia
sumiu dos sertões distantes,
para brotar, em seguida,
dos olhos dos retirantes!
57
Todo mundo quer ser nobre,
ter parentesco com os ricos.
Só um era irmão dos pobres:
chamava-se São Francisco.
58
Tu, ó Maria da Glória,
que tanta graça irradias,
mais que Maria da Glória,
és a glória das Marias!
59
Uma árvore longa e seca,
perdida no chapadão,  
foi a  imagem mais perfeita
que já vi da solidão.
60
Vieste, Felicidade;   
mas, ai de mim, só agora
fiquei sabendo quem eras,
depois que te foste embora.
61
Vive o homem mergulhado
no trabalho, em louco afã ,
do céu deixando o cuidado
para o dia de amanhã.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Oefe Souza


1
Agradeço ao Criador
pelos dons que me dotou
um deles, ser o escritor
que um dia, em mim despontou!
2
Amor se paga co' amor
e meu saldo está grandinho…
Vê se acorda esse torpor
me paga um pouco em carinho…
3
As notas da minha lira,
acompanhando teus passos,
se acendem, qual uma pira,
no calor dos teus abraços…
4
A vida só é vivida
com muito amor e paixão
se houver poesia imprimida
nas dobras do coração.
5
Canta sempre, poeta! Canta!
As dores de todo mundo…
Verso que a todos encanta,
com teu estilo profundo!
6
De sua corte, meu bem,
serei bobo com prazer!
Se sou palhaço também,
que mais me resta fazer?
7
De tanto andar procurando
desmanchar, um nó em mim,
em verdade, está virando
emaranhado sem fim!…
8
Do meu tempo de menino
dos folguedos infantis,
lembro do balão junino
e de como era feliz!
9
Este recado à saudade
senhora dos dias meus,
é pra dizer, que é verdade;
Reitero-lhe o meu adeus!
10
Eu me fiz um trovador,
pois dentro de mim, sentia
que a grandeza de um amor
cantar em verso, eu podia…
11
Eu tenho muita saudade
do tempo em que eras só minha.
Mas, é que sofro em verdade,
por te ver, também sozinha…
12
Faça uma trova bonita;
eu sei, você é capaz.
Rogue ao mundo que reflita
sobre a importância da Paz!
13
Foi o meu melhor momento,
de todos os dias meus!
Com você, meu casamento,
foi um presente de Deus!
14
Me enrolei tanto em você
que afinal, viramos nó.
E agora, não sei porquê,
desfazer, nos causa dó…
15
Nem tudo se pode ver
e nem tudo se expressar.
Mas, nem precisa dizer:
Vejo tudo em seu olhar!
16
Nossa Vida é um livro aberto
em cujas linhas contém,
tudo o que se faz de certo;
e todos os erros, também…
17
No tanger da minha lira,
sinto, em minha alma infinita,
o Deus maior que me atira
seus raios de luz bendita!
18
O cura em minha presença:
– Por que tu não vens à missa?
E como chama a doença?
Respondo: – É simples... preguiça!
19
- Peço à nova geração,
olhando um velho retrato:
não deixem meu ribeirão
minguar por falta de trato!
20
Procurei por todo canto
para te ver… te falar…
Na lágrima do meu pranto
eu fui, enfim te encontrar…
21
Quando a saudade chegar
no meu peito, de mansinho;
faço a danada afastar,
pensando no teu carinho!
22
Quando vejo o meu retrato
com seu charme jovial,
eu debito ao tempo ingrato
o estrago no original...
23
Quase perdi os sentidos
quando em seu quarto adentrei
ao ver, nos cantos, perdidos,
cacos, do amor que lhe dei…
24
Que as nações, em toda a Terra,
a busquem de forma audaz,
pois a mão que faz a guerra
é a mesma que faz a Paz!
25
Quem dera que esta Nação,
despertasse do recesso
e elegesse a Educação,
como base do Progresso!
26
São as tuas mãos mimosas
perfumadas, com calor…
são mil pétalas de rosas
trescalando muito amor!
27
São tantos os dissabores
que o dia a dia atanaza.
Mas, quem conserta os humores,
é um anjo que eu tenho em casa…
28
Saudade tem voz de encanto,
nos lembra uma ligação.
Mas do outro lado, entretanto,
ninguém diz sim, nem diz não...
29
Sonhei co' o circo florido
bandeirola em todo espaço
e em seu palco colorido
alegre, eu era o palhaço!
30
Vão, a infância… a juventude,
os anos sem esperança!…
Eu preferia a inquietude
dos meus tempos de criança…
31
Vivo ansiando e sonhando
num tempo que não tem fim,
ver você, enfim chegando
inteirinha para mim!
32
Você é minha esperança!
O meu sol de cada dia!
Meu carinho de criança…
minha doce melodia!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Olivaldo Júnior


1
A mentira mais sincera
sempre peca pelo excesso:
agradar a quem espera
que essa vida é só sucesso.
2
Ante os "beijos do cinema",
o casal enfim se rende;
todos sabem que esse tema
facilita um "happy end".
3
Ao clarão da tarde quente,
te abandono e tenho medo:
quando chove só na gente,
nasce a lágrima em segredo.
4
Ao tentar ser mais feliz,
disse adeus à solidão;
mas nenhum amigo quis
animar-me um violão...
5
Ao tomar de um violão,
tomo o bonde da esperança;
no abandono da estação,
estaciono em mim criança.
6
As palavras caem frouxas
no terreno dos ouvidos;
as imagens são as trouxas
nestes ombros doloridos.
7
Cada história dessa vida,
no arvoredo de uma voz
que se fez de adormecida,
só renova a Elis em nós.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
8
Cada lágrima guardada
guarda, sim, o coração:
fica sempre represada,
entre a voz e um violão.
9
Calendário da mentira
tem seu próprio movimento,
mas o povo que se vira
vira o jogo e muda o vento.
10
Cansadíssimo de tudo,
dou adeus à Boa Sorte,
calo a boca, fico mudo,
mas te amo até a morte.
11
Canto triste, na ribeira,
denuncia o poetinha
que se dera à cordilheira,
poesia que ele tinha.
12
Carrilhões, barulho santo,
como a música em João
Pernambuco, doce espanto
que nos dói no coração.
13
Castro Alves, bom poeta,
como um grande cantador,
conquistou a nobre meta
de expurgar do negro a dor.
14
Coração de mentiroso
sempre tem um bom motivo 
para achar maravilhoso
ser do próximo o mais "vivo". 
15
Coração de namorado
bate as horas como o sino,
avisando que é chegado
novo amor ao seu destino.
16
Coração que diz “Adeus”
bate fraco e sem barulho;
queira logo, nosso Deus,
eu me livre desse orgulho.
17
“Devagar, se vai ao longe”,
diz o povo em seu adágio;
seu adeus me fez o monge
da “saudade sem pedágio”.
18
Entre campos e cidades,
esta máxima conduz:
as mentiras são verdades
que queriam vir à luz.
19
Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
20
Folhas secas são histórias
de um verão inesquecível;
entretanto, até memórias
têm seu tempo previsível.
21
Fora escrava e alforriada,
"Anastácia" em ré menor,
mas, no céu da batucada, 
mulher negra é sol maior.
(Pelo Dia Latinoamericano da Mulher Negra)
22
Hoje, quando sou sincero
e lhe escrevo minha alma,
muito mais me desespero,
dando adeus a toda calma.
23
Inda espero, distraído,
por teu carro à minha porta:
canto triste, dolorido,
esperando quem me importa.
24
Já perdi seu telefone,
só me vale seu e-mail:
hoje vivo só, “alone”,
sem a hora do recreio.
25
Já são trinta e dois verões
sem Elis cantando ao vivo;
tempo passa sem senões,
pois seu canto é redivivo.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
26
Lá do Sul, do comecinho
do pais que tanto amou,
certa Elis fez seu caminho
no país que a consagrou.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
27
Ladrilhada de brilhante,
ou “sujinha” de poeira,
Poesia é todo instante
que se pega na “peneira”.
28
Meu amigo mais querido,
Baden Powell de ilusão,
fez-se em algo conhecido:
abandono e eterno não.
29
Meu amigo mais querido,
com histórias de aventura,
fez-se logo o preferido
da saudade que perdura.
30
Meu poeta preferido
não escreve, nem recita,
mas dedilha, comovido,
cada nota que visita.
31
Na historinha familiar,
o João chamou Maria,
e Maria, sem pensar,
fez a ele companhia.
32
Namorado sempre esconde
quando chora de saudade,
pois amor, se perde o bonde,
nunca perde a majestade.
33
Na valsinha da memória,
num coreto enfim desperto,
todo mundo vira história
e anoiteço em um deserto.
34
No cantinho, atrás da porta,
meu amor ficou sozinho;
muitas vezes, quem importa
diz adeus devagarzinho.
35
No desenho de um acorde,
no lirismo de uma rima,
eu só quero que concorde:
seu adeus é nosso clima.
36
No divã da inconsciência,
entre Freud e o próprio eu,
peço a Deus a paciência
que o Abandono já comeu.
37
No lirismo do palhaço,
todo feito em poesia,
fantasio e me desfaço
desta falsa alegoria.
38
No serão da fantasia,
entre quarto e o calendário,
violão faz companhia
para um homem solitário.
39
No sertão de minha vida,
vivo feito o Riobaldo:
só "veredas" dão guarida
para o rio do Olivaldo.
40
No seu dia, Poesia,
todo mundo fica atento:
a metáfora, tardia,
busca o pé até do vento!
41
O barquinho, Poesia,
de mil versos carregado,
desemboca n’alegria
do oceano desdobrado.
42
O ninguém se faz de “flor”,
vale bem o quanto pesa;
quando espeta o seu amor,
despetala quem despreza.
43
O Pinóquio poderia,
se ele fosse brasileiro,
ser o dono d'alegria
desse trem eleitoreiro.
44
O segredo do abandono
se revela ao sol mais pleno:
és verão, e sou outono,
neste inverno nada ameno.
45
O verão que amarelece
cai em folhas, coração;
mas você jamais fenece,
faz do outono floração.
46
Para honrar o meu ofício
e “animar” a biografia,
vou pular no precipício
dos amantes da poesia.
47
Poesia bota em cheque
toda a nossa imensidão:
tempo curto de moleque,
breve tempo de ancião.
48
Poesia, forma vaga,
lua fixa a nós defronte,
cada verso é tua baga
neste cacho de horizonte.
49
Por pensar demais em ti,
vivo o carma desta prova:
incorporo um bem-te-vi,
bem te vejo e faço trova.
50
Pra dizer adeus assim,
não precisa piedade:
basta ser um ser a fim
de matar felicidade.
51
Quando a banda toca Chico,
fico alegre e, de repente,
muito mais tristonho eu fico,
porque tu estás ausente.
52
Quando choro com razão
percebendo o que se deu,
dou-me inteiro ao violão,
que me dá o que era meu.
53
 Quando eu era só abismo
no silêncio de meus ais,
tu me deste o “catecismo”
da amizade, luz no cais.
54
Quando vi a nossa foto,
desgastada, na gaveta,
vi nascer um terremoto
neste inóspito poeta.
55
"Romaria" de canções
arrastando a "Madalena",
travessia e comoções:
era Elis roubando a cena.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
56
Se jurei não mais falar
sobre nada do que disse,
é porque sou de trocar
a promessa por crendice.
57
Sem resposta a meus e-mails,
tua ausência é muito forte;
já tentei “milhões” de meios,
mas “deletas” minha sorte.
58
Se o verão lhe der licença
e o caminho for propício,
chegue e faça a diferença,
doce outono, neste início.
59
Solidão e violão
são irmãos e não se largam:
uma amarga o coração,
outro adoça os que se amargam.
60
Todo adeus tem duas beiras,
duas margens de amizade;
numa beira, estão trincheiras,
noutra beira, só saudade.
61
Todo outono faz de mim
o jardim que fora eterno;
mas o "eterno" do jardim
ressuscita findo o inverno.
62
Trabalhando desde cedo,
aprendendo a conquistar,
todo jovem perde o medo
de esboçar o céu no mar.
63
Uma casa de escritores
junto ao "rio guaçuano"
foi a causa dos amores
que cobri de desengano.
64
Um adeus só quer dizer
o que nunca se diria:
diz-se adeus para esquecer
quem jamais esqueceria.
65
Vaga-lumes incendeiam
a plateia de meninos:
são poetas que semeiam
poesia aos pequeninos.
66
Vulnerável coração,
coração dilacerado:
a cantora chora, não,
é soluço marejado.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
67
Violão deixado ao léu,
tua estante, muitas folhas,
todos vivem sem papel,
no entreato sem escolhas.
68
Violão que vive mudo,
sempre à espera de seu bem,
sonha dedos de veludo
que o dedilhem para alguém.
69
Violão, tens muitas cordas,
mais até que o coração;
entretanto, quando acordas,
só se move a da emoção.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...