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sexta-feira, 15 de março de 2024

Comemoração do Centenário de Carolina Ramos

 


Prestes a completar 100 anos, no dia 19 de março, a poetisa santista Carolina Ramos foi eternizada com o plantio de uma árvore no jardim da Pinacoteca Benedicto Calixto.

Com mais de 20 livros publicados e pelo menos 5 mil trovas. Carolina presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, a União Brasileira de Trovadores e marcou a Academia Santista de Letras e outras instituições nas quais atuou.

Carolina diz ter sido surpreendida com a homenagem: "Foi uma coisa muito significativa para mim". A iniciativa partiu da presidente da Associação de Amigos da Pinacoteca, Cristina Guedes, com o apoio do presidente da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto e diretor-presidente da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini.

"Ficamos imaginando o que poderia ser feito até chegarmos nessa proposta de plantar uma pitangueira, que representa a conexão espiritual, a força da natureza, e atrai pássaros. Então, eu acho que o jardim da Pinacoteca vai ser sempre assim, fonte de alimento e de energia para homenagear esse patrimônio da Cidade de Santos e essa pessoa tão gentil e tão delicada que é a Carolina", diz Cristina.

Santini recitou uma trova em homenagem à Carolina: 

"Quem não sabe e quem não sente 
que, às vezes, nos custa caro, 
a saudade de ser gente, 
quando ser gente é raro."

Outra homenagem que a escritora recebeu partiu do presidente da União Brasileira dos Trovadores - Seção de Santos, Antonio Coiavite, que compôs uma trova especialmente para a ocasião:

"Por ser comum, solitária,
franzina igual a menina,
que ela seja centenária
tal qual dona Carolina."

O escritor santista Flávio Viegas Amoreira também esteve na homenagem e contou que Carolina Ramos tem grande importância na literatura nacional. "Carolina é de uma tradição de escritores brasileiros que cantam Santos."

CENTENÁRIO
Carolina Ramos reflete que os 100 anos são acompanhados de cansaço e realizações. "Eu acho que eu cumpri minha vida. Se não foi brilhante, foi uma vida trabalhosa, que teve seus altos e baixos."

Para Carolina, o grande segredo para completar 100 anos é acreditar na vida e vivê-la como deve ser: "Em uma estrada, de mãos dadas com Deus". 

E um centenário é o motivo de comemoração para toda a família. Uma das filhas. Márcia Ramos, de 66 anos, estimulou a arte da mãe, que começou a se dedicar à poesia enquanto cuidava dela. "Eu achei muito simbólico, porque a árvore é uma coisa que eterniza, e a obra da minha mãe também irá ficar", diz. 

A bisneta Ângela Ramos, de 17 anos, cresceu ouvindo poesias e histórias contadas por Carolina Ramos. "Eu acho que as outras gerações devem conhecê-la. Uma pessoa incrível.”
Fonte: Ravena Soares, para o Jornal Santista.

ALGUMAS TROVAS PREMIADAS DE CAROLINA

A brisa... o mar... as cigarras...
as aves... quanta beleza
nas sinfonias bizarras
da orquestra da natureza!
= = = = = = = = = 

Ante as portas do sucesso
lembra, se as queres transpor,
quatro chaves dão-te acesso:
- Paz, Trabalho...Ação e Amor!
= = = = = = = = = 

A pior crise que existe,
é a injustiça a céu aberto!
- Nem a verdade resiste
quando o errado vira certo!!!
= = = = = = = = = 

Como dói, ver tanta gente,
em dias negros, medonhos,
beber o fel do presente,
sem mais direito a ter sonhos!
= = = = = = = = = 

Com ternura, quem não sente,
nas horas quietas dos sós,
como o passado é presente,
na lembrança de uma voz?!…
= = = = = = = = = 

De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
= = = = = = = = = 

De não saber esperar,
que ninguém jamais te culpe,
sê paciente, igual ao mar,
que aos poucos a rocha esculpe.
= = = = = = = = = 

Era o mar incalmo e escuro,
quando eu, sem temer fracassos,
ao buscar porto seguro,
fui ancorar nos teus braços!
= = = = = = = = = 

Meus netos - lindo jardim
que em primaveras me envolve!
- são pedacinhos de mim
que a natureza devolve!
= = = = = = = = = 

Nos dilemas desta vida,
e nos conflitos das almas,
quando a razão é vencida,
o coração bate palmas!
= = = = = = = = = 

O porto pulsa, fecundo,
nas chegadas e partidas,
nutrindo artérias do mundo,
dando vida a tantas vidas!
= = = = = = = = = 

O vencedor não evita
que atrás da sua vitória,
a inveja, sombra maldita,
se projete à luz da glória!
= = = = = = = = = 

Penas?! - quem as quereria?
Quisera eu uma, se fora
a que teve em mãos, um dia,
Isabel, a Redentora!
= = = = = = = = = 

Sempre, a cada passo à frente,
cuida bem dos teus intuitos,
que de um passo do presente,
depende o amanhã de muitos!
= = = = = = = = = 

Sempre acolho de mãos postas
e humilde tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.
= = = = = = = = = 

Se pensas que tens razão,
calça as sandálias do réu
- talvez concedas perdão
a quem negavas o céu!…
= = = = = = = = = 

Vai, meu veleiro de sonho...
vai buscar teu porto certo,
que esta vida é um mar tristonho,
mas, o mar é imenso e aberto!…
= = = = = = = = = 

Veleiro... em águas incertas,
leve e branco, à luz do luar,
és cisne de asas abertas,
como tentando voar!
= = = = = = = = = 

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Cláudio de Capua (1945 - 2021)

 

 A derrota não me importa,
cumpro com o meu dever.
Do destino forço a porta,
sempre luto pra valer.
- - - - - -
Ah! Se eu tivesse saber,
se fosse poeta, escritor...
do poente ao alvorecer,
terias versos de amor...
- - - - - -
Ah! Você não vem! Não volta...
Eu, na saudade tropeço,
em noite que me revolta,
esperando o seu regresso.
- - - - - –
A métrica pondo à prova,
quatro versos eu componho
ao fazer mais uma trova
com tinta, papel e sonho!
- - - - - –
Ante a hora da partida,
nossa tensão se agiganta
e a despedida é contida
na voz presa na garganta.
- - - - - –
Ante ao talento me ajoelho…
E o teu talento invulgar,
tanto me serve de espelho
como me serve de altar.
(uma homenagem a Carolina Ramos)
- - - - - –
Ao ensinar Filosofia,
Sócrates, de vida sã,
ao fundar a Academia
fundou um novo amanhã.
- - - - - -
Ao faltar sua presença,
por amar muito você
a saudade cresce intensa
e dói, como não sei quê!
- - - - - –
Avisto do alto da serra
a pujança do sertão
e sinto orgulho da terra
que mora em meu coração!
- - - - - –
Busco a mulher, a beleza,
em meus delírios risonhos
trovador da natureza,
vou navegando em meus sonhos.
- - - - - -
Camafeu, nobreza pura,
seu retrato de perfil
tem no adorno da moldura,
clássico tom juvenil.
- - - - - -
Certo bispo ouve uma “história”
de um padre chamado Hilário
e grava, assim, na memória
um bom “Conto do Vigário”
- - - - - –
Chora a dor dos pinheirais,
no céu a estrela cadente,
são lágrimas siderais,
ante o machado inclemente.
- - - - - –
Com mensagem sempre nova,
transpondo mágoas e dor,
pelos caminhos da trova
planto sementes de amor.
- - - - - -
Da luz quero a beleza,
da lagoa quero o encanto,
das aves delicadeza,
de você, o acalanto.
- - - - - -
De “mau jeito” o Zé Baleia,
pescador de sorte estranha,
noivou com uma sereia,
casou com uma piranha..
- - - - - –
De união a nos dar prova,
cultivando novas flores,
cada dia cresce a trova
no canto dos trovadores!
- - - - - -
Do seu lar fazendo um templo,
menino, velho ou rapaz,
faz da vida um belo exemplo
quem trabalha pela paz!
- - - - - –
Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
- - - - - -
É neste “Canto que eu Canto”
belezas que a vida tem
que ao meu mundo dão encanto
e tanto me fazem bem!
- - - - - –
Essa vida se resume
para o poeta, trovador
em essência de perfume
quando faz versos de amor.
- - - - - -
És meu aroma, ventura...
E nem sei bem mais o quê!
Só esse perfume em mim dura,
é porque o extrato é você.
- - - - - -
Esta foto é mais um fato,
que nos traz para o presente,
através deste retrato,
lembranças de antigamente.
- - - - - –
Êta... que coisa mais louca,
quero ter explicação:
Por que boca na boca
acelera o coração?!
- - - - - –
Eu cansei de minha andança,
fui banhar meus pés no mar
e voltei a ser criança,
Santos agora é meu lar...
- - - - - –
Eu faço uma descoberta,
sempre que vejo você,
é meu peito porta aberta
eu nem sei bem o porquê.
- - - - - –
Eu fico muito feliz,
quando escrevo a letra V
escrita, a lápis ou a giz,
pois o V... lembra você!
- - - - - -
Eu que te dei muitos beijos,
te fiz até suspirar,
agora sinto desejos
dos beijos que faltou dar!
- - - - - –
Há muitos dias de dor
e bem poucos de alegria:
se a vida não tem amor,
pode ser noite o meu dia.
- - - - - –
Imensidões veneráveis,
que me fazem navegar,
céu e mar, inseparáveis,
na linha do meu olhar.
- - - - - –
Jovem... tenha fé na terra,
seja valente e viril,
suba monte, desça serra,
não desista do Brasil!
- - - - - –
Lembrando minha lembrança,
vou escrevendo meus versos,
buscando alguma esperança
dentro dos meus Universos.
- - - - - -
Maldosa como ninguém,
boa figura na igreja,
acrescenta sempre "Amém"
quando aos outros mal deseja…
- - - - - –
Na angústia das mais estranhas,
estão chorando as cascatas:
são murmúrios das montanhas
refletindo a dor das matas.
- - - - - –
Na lágrima do meu verso,
nesta madrugada calma,
ao contemplar o universo
a brisa me embala a alma.
- - - - - -
Não te sintas ultrajada,
quando te olho tanto... o intuito
é provar que és muito amada
e que eu te desejo muito!
- - - - - -
Naquela ponta de galho,
com luz pura e fulgurante,
uma gotinha de orvalho,
brilha mais que um diamante!
- - - - - –
Nasci em dia abençoado
no charmoso oito de março
da mulher enamorado
meu orgulho não disfarço.
- - - - - -
Natal! E nessa Babel,
em que ninguém mais se entende,
onde está Papai Noel,
se brinquedo só se vende?!
- - - - - -
Nesta ilha tão formosa,
prisioneiro de ti vivo.
E que vida venturosa...
vivo em teus braços cativo!
- - - - - -
Nesta noite prateada
minha sombra, junto à tua,
vai trilhando a mesma estrada,
tendo por cúmplice a lua.
- - - - - –
Nestas trovas nosso aceno,
ao leitor desta revista,
e um ano bem mais sereno,
e muito mais otimista.
- - - - - -
No céu, estrelas e brumas,
alvo luar envolvente.
No mar...reprises de espumas
a embalar sonhos da gente...
- - - - - -
No dia a dia... na lida,
eu sustento a minha fé
na caminhada da vida,
mantenho o ideal de pé.
- - - - - -
Num momento...num segundo...
sob a luz... desse sorriso,
vivo bem longe do mundo,
bem perto do paraíso.
- - - - - -
O delegado Pereira…
Êta Pereira bacana,
- É de pouca brincadeira,
não dá pêra, só da “cana”!…
- - - - - –
O garçom ganha gorjeta,
o político propina.
Nesta terra de mutreta,
só tem ave de rapina.
- - - - - -
O joão-de-barro é um exemplo.
pode não saber gorjear,
Com tão pouco faz um templo,
ao erguer seu próprio lar.
- - - - - –
Olha! A noite é uma criança,
diz o refrão popular -
que sacode e balança
presa às tranças do luar.
- - - - - –
Palhaços de profissão?
Ah, Como é bom, fazem bem.
O triste é ter coração
e ser palhaço de alguém!
- - - - - –
Poeta de sonhos diversos,
vivo momentos tristonhos,
mas, ao escrever meus versos,
entro no mundo dos sonhos.
- - - - - –
Quando cantava o sertão,
nossa Inezita Barroso
encantava o coração
cantando num tom gostoso.
- - - - - -
Quando o amor se tem por lema,
numa trova que se lê,
mais belo fica esse tema,
se a trovadora é você.
- - - - - -
Quando o rei sol estorrica,
tortura, com seu clarão,
mais forte é aquele que fica
e dá valor ao seu chão!
- - - - - –
Quando tão bela, ela passa,
elegante, indiferente,
sua graça é uma desgraça,
tira a paz de muita gente.
- - - - - –
Querendo muito ganhá-la,
vivo para bem-querê-la...
No seu desejo de amá-la
sentindo o prazer de vê-la.
- - - - - -
Reflexo do nosso mundo
meus olhos, de tons instáveis,
guardam amor lá no fundo
de momentos memoráveis.
- - - - - –
República portuguesa,
ao ler a história descubro:
foi grande a tua proeza!
E viva "Cinco de Outubro!”
- - - - - -
Sempre alerta mocidade,
em permanente vigília,
defenda a brasilidade,
ame a Deus, Pátria e Família.
- - - - - –
Sempre feliz, a pulsar,
meu coração é um celeiro,
tem muito amor para doar,
nele cabe o mundo inteiro.
- - - - - –
Servidor da tributária,
bem “Severo”, sem igual,
ergue a saia à secretária,
por ser, de “rendas”, fiscal.
- - - - - –
Sobrevoando terras... mares...
Vinte e três de outubro - França!
Santos Dumont vence os ares
e une povos em aliança.
- - - - - -
Só por descuido é que a Helena
acabou por se casar…
Pois, pensou que Cibalena
fosse a pílula… Que azar!
- - - - - –
Só tem sorte, verdadeira,
o que vence frustrações,
e rompe a própria fronteira
em busca de soluções.
- - - - - –
Sou poeta e trovador,
a inspiração me transporta
às nuvens e, com amor,
nas nuvens minha alma aporta.
- - - - - –
Surpresa está na investida
de cada dobra de esquina,
na caminhada da vida
o destino nos ensina.
- - - - - –
Unindo a seresta ao verso
quero compor na amplidão.
Sou menestrel do universo,
em tardes de solidão.
- - - - - –
Voando entre nuvem...montanha...
sou Poeta e Aviador!
Minha ambição é tamanha,
navego em busca do amor!
- - - - - -
Você, mulher escolhida,
da rosa tem o perfume
e, no palco desta vida,
é minha musa, meu lume.
- - - - - –
Vou plantar, da frente ao fundo,
um belo quintal em flor,
o maior jardim do mundo,
pra perfumar nosso amor.

Fontes:
Revista Santos Arte e Cultura
Cláudio de Cápua. Retalhos de Imprensa. São Paulo: EditorAção, 2020.
http://www.de-capua.com/publicacoes.html (desativado)
Carolina Ramos (coord. e redação) A Trova: Raízes e florescimento - UBT. Santos: 3D Estúdio Editoração Gráfica, 2013.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Carlos Ribeiro Rocha (Ipupiara/BA, 1923 - 2011, Salvador/BA)

A lua é também rendeira,
e o trovador tem razão:
sua luz sobre a mangueira
faz a renda sobre o chão...
- - - - - –

Amigo, seja cordato,
que a vida é sempre esse jogo;
o fogo — incendeia o mato,
a fonte — elimina o fogo.
- - - - - –

A Natureza, exultante,
põe versos, por compaixão,
sobre o papel palpitante
do meu pobre coração.
- - - - - –

Ao pé do morro cravado,
qual o antigo Prometeu,
está o pequeno povoado
onde o poeta nasceu.
- - - - - –

Ao tempo da minha infância
não tive Norte nem Sul,
não sabia que, à distância,
toda serra é sempre azul.
- - - - - –

A pedra da estrada arreda,
e o mal não impera aqui,
quando, pensando na queda,
a gente cai mesmo em si.
- - - - - –

Bebo lições eloquentes
e escuto de Deus um hino,
nas asas verde-fulgentes
de um beija-flor pequenino.
- - - - - –

De ser magro, minha gente,
não tenho — confesso — mágoa,
o rio, em sua nascente,
é também filete d'água.
- - - - - –

Detesto a intriga, o revide,
porque, na vida, o que alcanço
é o dia — para que eu lide,
e a noite — para o descanso.
- - - - - –

Escuta-me, trova amada,
mesmo triste e cismarento:
como o cipó, na galhada,
te envolvo num pensamento.
- - - - - –

Essa cena, vez em quando,
contemplo, manhã bem cedo:
as trepadeiras botando
laçarotes no arvoredo.
- - - - - –

Está sendo bem feliz
e dando felicidade,
quem, injuriado, não diz
aquilo que tem vontade.
- - - - - –

Eu sinto grande euforia
quando a trova vou tecer,
— é meu pão de cada dia,
sem ela não sei viver.
- - - - - –

Lá nas serras passeando,
aprendi um tanto mais:
eu vi as pedras chorando
sem glândulas sensoriais.
- - - - - –

Minhas trovas — Primavera
sobre as durezas da vida,
são aquilo que eu quisera:
— estrada sempre florida.
- - - - - –

Morrer nos causa pavor,
porque não temos lembrado
de que — morrendo de amor,
damos vida ao ser amado.
- - - - - –

O nome do meu Colégio?
Ninguém suas letras soma;
Nunca tive o privilégio
de receber um diploma.
- - - - - –

O sovina e o pistoleiro
fazem coisas parecidas:
Cede a vida — por dinheiro,
por dinheiro — arranca vidas.
- - - - - –

Ouço da saudade o grito
vibrando uma tarde inteira,
naquele canto bonito
da nambu, na capoeira.
- - - - - –

O vento, com pé macio,
passou pelo meu jardim,
e como guri vadio,
nas minhas rosas deu fim.
- - - - - –

Para escrever, inspirado,
no horizonte os olhos fito,
com o coração mergulhado
nas belezas do Infinito,
- - - - - –

Para minha mãe, viúva,
neste maio de esplendor,
quero rogar-te uma chuva
de luz e bênçãos, Senhor.
- - - - - –

Pedi hoje, também ontem,
rogo a Deus o dia inteiro,
para que trovas despontem
fresquinhas, no meu canteiro.
- - - - - –

Pequenez é coisa feia?
Grandeza é documentário?
— Pequeno é o grão de areia,
mas enguiça um maquinário.
- - - - - –

Piedosa, mãe Natureza
vendo a terra assim despida,
teceu um manto (lindeza!)
e a deixou verde e florida.
- - - - - –

Poeta, se queres, venha
escutar a voz da mágoa
pela garganta rouquenha
do boqueirão do Olho d'Agua.
- - - - - –

Quadro que nos enternece,
pintura de que se gosta:
a água evapora — é a prece,
e a chuva cai — a resposta.
- - - - - –

Que quadro lindo, estupendo!
— Por entre as brechas do morro,
raízes longas, descendo,
pedindo à terra socorro...
- - - - - –

Querendo trova perfeita,
rabisco, lápis em punho,
mas depois da trova feita,
volto à busca do rascunho.
- - - - - –

Saiba, amigo, que Deus brilha
na face dessas estrelas;
quem quer ver de Deus a trilha,
procure somente vê-las.
- - - - - –

Sem Colégio, encontro tudo
no livro da Natureza,
e como não tive estudo,
— sou ave no visgo presa.
- - - - - –

Se queres "bandeira branca",
procura assim praticar:
O orgulho — de ti arranca,
' planta amor no seu lugar.
- - - - - –

Se queres viver tranquilo,
ouve em ti mesmo essa voz:
Seremos somente aquilo
que construímos em nós.
- - - - - –

Sou de crer, ninguém resiste
a força desse episódio:
Sai o amor, aflito e triste,
quando no lar entra o ódio.
- - - - - –

Tem mais valor, entre os meus,
muito mais do que um retrato,
meus versos simples, plebeus,
que me retratam, de fato.
- - - - - –

Trovador, que belo enredo
para uma trova louçã:
na pia do sol, bem cedo,
lava seu rosto a manhã.
- - - - - –

Tua casinha, menina,
bem no sopé da ladeira,
é o lírio da colina
que quanto menor, mais cheira!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

domingo, 10 de maio de 2020

Casimiro de Abreu (1839 - 1860)

Barra de São João, hoje Casimiro de Abreu

A borboleta travessa
vive de sol e de flores...
— Eu quero o sol de teus olhos,
o néctar dos teus amores!
- - - - - –

A vida é triste — quem nega?
— Nem vale a pena dizê-lo.
Deus a parte entre seus dedos
qual um fio de cabelo!
- - - - - –

Como a ave dos palmares,
fugindo do caçador,
eu vivo longe do ninho,
sem carinho e sem amor!
- - - - - –

Conchinha das lisas praias,
nasceste em alvas areias;
não corras tu para os charcos,
arrebatada nas cheias...
- - - - - –

Nas horas mortas da noite,
como é doce o meditar,
quando as estrelas cintilam
nas ondas quietas do mar!
- - - - - –

Ri, criança, a vida é curta,
o sonho dura um instante.
Depois... o cipreste esguio
mostra a cova ao viandante.
- - - - - –

Tem tantas belezas, tantas,
a minha terra natal,
que nem as sonha um poeta
e nem as canta um mortal!
- - - - - –

Todos cantam sua terra,
também vou cantar a minha;
nas débeis cordas da lira
hei de faze-la rainha.
- - - - - –

Tudo se gasta e se afeia,
tudo desmaia e se apaga,
como um nome sobre a areia,
quando cresce e corre a vaga.
- - - - - –

Um anjo veio e deu vida
ao peito de amores nu:
Minha alma agora remida,
adora o anjo — que és tu!


Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Célia Cerqueira Cavalcanti (1910 - 2003)


A amizade verdadeira,
tem nobreza e galhardia,
pois sabe ser companheira
na tristeza e na alegria.
- - - - - –

A dor, ajuda e consola,
ao pobre dá tua mão,
que bondade é quando a esmola
nos provém do coração.
- - - - - –

Bandeira de minha terra,
tu retratas o Brasil,
a grandeza que se encerra
sob a luz de estrelas mil...
- - - - - –

Da terra à lua, a distância,
pelo astronauta vencida,
que nunca sirva à ganância,
nem à guerra fratricida...
- - - - - –

Ensinemos à criança
o verdadeiro civismo:
nunca lutar por vingança,
ser leal, ter patriotismo.
- - - - - –

Era a lua, antigamente,
fonte só de inspiração...
Hoje, o astronauta, inclemente,
diz que é pedra e solidão…
- - - - - –

Era de paz, tão-somente,
o mundo que Deus criou...
a humanidade, inclemente,
logo a maldade inventou.
- - - - - –

Gosto da trova, é singela
tradução do pensamento;
é pequenina aquarela
retratando um sentimento.
- - - - - -

Humilde seja o trabalho,
mas honesto, que o valor
não vem da forja ou do malho,
mas da alma do lutador…
- - - - - –

Jamais haveria guerra,
se um dia a fraternidade
unisse os povos da terra
na fé, no amor, na bondade.
- - - - - –

Não sei se tenho razão
de ter ciúmes de ti;
confiar desconfiando...
foi contigo que aprendi.
- - - - - –

Na vida, grande tormento,
por vezes terrível mar,
nau perdida é o pensamento
que não sabe onde aportar...
- - - - - –

Nossa infância é madrugada,
juventude é meio-dia;
a velhice, um quase nada
para o fim da nostalgia...
- - - - - –

O lar que tive em criança,
era um farol entre escolhos...
Berço de vida e esperança,
luz que refulge em meus olhos.
- - - - - –

Quando o amor é de verdade,
e puro, sem preconceito,
faz parecer qualidade
até mesmo o que é defeito.
- - - - - –

Que não seja a tua esmola,
vazia de coração.
– A esperança mais consola
do que um pedaço de pão…
- - - - - –

Saudade, tu representas
como se fosses atriz,
repetindo toda a história
do nosso tempo feliz.
- - - - - –

Seja de rico ou de pobre,
a honra é glória, é candor
que do plebeu faz um nobre,
e ao nobre dá mais valor.
- - - - - –

Senhor Deus, tornai unidas
as nações, todos irmãos;
as crianças protegidas,
o trabalho unindo as mãos!...
- - - - - –

Ser avó é, novamente,
ser mãe feliz; é viver,
na ternura do presente,
o passado... é renascer...
- - - - - –

Tão pequenino e, no entanto,
traduz o amor mais profundo!
Que nome existe, mais santo,
do que o teu, mãe, neste mundo?
- - - - - –

Vale mais a lealdade
de calar, tendo razão,
do que triste falsidade
de fingida opinião…
- - - - - –

Vida sem fé não é vida,
é somente escravidão,
é matéria consumida
em sete palmos de chão…
- - - - - –

Viver feliz não é ter
o mundo inteiro na mão;
felicidade é saber
amar, é ter coração.

Fonte:
Enviado por Alexandre Magno Oliveira de Andrade Reis

sábado, 29 de junho de 2019

Colombina (1882 - 1963)


A palavra que revela
anseio, prazer e dor,
que toda a vida constela,
é sempre a palavra - Amor. 

Adeus - sinal de partida
do trem, do barco, do avião;
sempre carrascos da vida
dos que ficam, dos que vão...

Amar... quem dera eu pudesse
esse verbo definir: 
- É gozo de quem padece,
é uma lágrima a sorrir...

Amar, sendo espinho, é rosa,
é luz, sendo escuridão:
é uma amargura gostosa,
- voluntária escravidão.

Amor de mulher no todo
é um anjo posto de rastros;
desce mais baixo que o lodo
ou sobe acima dos astros.

Amor no amor se resume,
sem pensamento mesquinho,
ódio nasce do ciúme,
como o vinagre do vinho.

A vida pode ser linda
um dia... uma hora, talvez,
mas toda a lindeza finda,
fica sendo: era uma vez…

Da frase que não disseste,
- que tanto tempo esperei -
do beijo que não me deste
eu jamais me esquecerei.

Das rimas revolvo a messe,
do ritmo busco o veludo...
No entanto, se eu te dissesse:
- eu te amo - diria tudo.

É na cartilha da vida 
que a gente aprende de cor
(e depois de tanta lida)
que...não saber é melhor...

"Eu te amo" - frase pequena
que num segundo se diz;
um paraíso ela acena,
faz, quem a escuta, feliz!

Felicidade seria,
para mim (juro por Deus!),
dizer-te sempre "Bom-dia",
e nunca dizer-te "Adeus".

Meu bem comigo zangou-se.
Que motivo eu lhe daria?
Não sei, não. Mas, talvez fosse
por amá-lo em demasia…

Meu bem escuta, em surdina,
a floresta a sussurrar:
- geme ao vento a casuarina,
escutando a voz do luar.

Meu bem, escuta a cigarra
cantando em pleno verão:
às vezes, é uma fanfarra,
muita vez - um cantochão.

Meu bem, escuta a tristeza
do trem, na curva a apitar...
Vai levando, com certeza,
um coração a chorar.

Meu bem, escuta as cantigas
das ondas crespas do mar:
as suas mágoas antigas,
querem, cantando, olvidar...

Mulher perdida na estrada,
que o mundo tange ao relento,
é pérola encarcerada
na concha do sofrimento.

Não adianta nada agora,
eu já não perco a cabeça.
Mas, é bom ires embora,
antes que tal aconteça…

Não te assuste a falsidade,
nem a palavra mentida:
Não estranhes a maldade,
porque são coisas da vida...

Não te odeio nem maldigo.
Por que motivo? Eu bem sei:
se sofrer foi meu castigo,
amar-te foi minha lei!

Quantos anos tem Maria?
- Não perguntes, pois é em vão.
Ela só responderia:
- Que falta de educação!

Quem me dera ter vinte anos,
não ter na alma cicatrizes!
Poder sonhar, fazer planos,
e acreditar no que dizes...

São sete letras, somente,
numa palavra a dizer
a mágoa que toda gente
terá que, um dia, sofrer...

Saudade - é sombra que fica
e tudo a cinzas reduz:
palavra que crucifica
dois entes na mesma cruz.

Saudade, febre que a gente
sem querer pode apanhar.
nunca mata de repente,
vai matando devagar...

Saudade, lâmpada acesa
no altar da recordação,
onde a ternura e a tristeza
rezam a mesma oração!

Se acaso eu fosse rainha,
dava a você meu reinado;
e, se fosse uma andorinha,
- o meu ninho no telhado.

Se é muito o que nós sofremos,
por mais que a vida nos fira,
o que do berço trouxemos,
somente a campa nos tira.

Se é triste sentir saudade,
muita saudade de alguém,
maior infelicidade
é não tê-la de ninguém.

Sentença justa que brilha
entre os avisos da estrada:
qualquer perdão, quando humilha,
é vingança disfarçada.

Trovas... A muitos parece
que são fáceis de compor:
talvez sejam, mas carece
ter alma de trovador.

Trovas... Traços apagados
de uma vida já no fim...
Quando eu me for, namorados,
lembrem-se um pouco de mim!

Um barco à margem de um rio,
abandonado, sem remos...
lembrando todo o vazio
de um sonho que não vivemos…

Ventura - assim eu a traço
com a pena do coração:
o meu braço no teu braço
e na tua a minha mão.

Fonte:
Amaryllis Schloenbach

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Célia Aparecida Marques da Silva


1
A chácara já tem nome
que é bastante sugestivo,
de pássaro, não de um homem: 
QUERO-QUERO, tão festivo! 
2
A foto desse mural
foi por mim fotografada.
Não pensei que fosse a tal
da pose tão comentada. 
3
Almejo a Universidade
mais do que tudo na vida,
e só será realidade
quando eu lutar sem medida.
4
Ao passar por essa rua
o que me chama atenção,
é um ipê roxo que atua
tocando meu coração. 
5
Declamar uma poesia
é melhor ao som da lira,
seja em qualquer melodia...
eis um som que sempre inspira. 
6
Esporte: vida e energia,
mente sã em corpo são.
Quem se mexe todo dia
pode viver um tempão.
7
Foi só depois de um colapso
que tomei tal decisão,
pois se eu não fosse relapso,
não faria confusão.
8
Na areia daquela praia
encontrei um diamante...
Me distraí com uma raia
e o perdi no mesmo instante.
9
Na feira de artesanato
sempre se encontra de tudo...
Um simples pano de prato,
também tapete felpudo.
10
Não há palavra que exprima
toda a minha reflexão
para compor minha rima
e a trova pôr em ação!
11
Não se aproveite de mim
se deitando em meu colinho.
É bem melhor achar, sim,
um travesseiro fofinho. 
12
No concurso de marchinhas
votei naquela que diz:
- Não fique nunca sozinha,
vá na praça da matriz.
13
No dia da formatura,
arranjei uma namorada.
Pensei só numa aventura,
mas entrei numa enrascada. 
14
No restaurante pedi
um suco de carambola,
mas depois me arrependi, 
porque minha língua enrola. 
15
O capricho do desenho
feito por este rapaz,
mostra todo seu empenho
e do quanto ele é capaz. 
16
Oh, meus alunos queridos,
a razão do meu viver.
Vamos todos, bem unidos,
conhecer sempre o Saber! 
17
Todo samba na avenida
é tudo que tem de bom,
mas se o “samba” for na vida,
não é visto com bom som.
18
Quantas sílabas se têm
na palavra caridade?
Quatro... mas também contém
uma infinita bondade. 
19
Quer gerenciar o tempo?
Programe-se todo dia...
Ele passa como o vento,
por qualquer e toda via. 
20
Ser autor de um grande livro
é meu sonho de consumo.
Por isso que não me privo
de escrever e nunca sumo!
21
Vou praticar um esporte
para ter vida saudável.
Precisa ser do meu porte,
também bastante agradável.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Conrado da Rosa (1930 - 2003)


A lágrima consagrada
aos pés da divina cruz,
será uma flor alcançada
no teu caminho de luz.

Ao chimarrear tão sozinho
no canto do avarandado,
a saudade é um passarinho
beliscando o meu passado.

À praia, mal comparando,
vou quando o vento não tem:
tu, a jangada chegando,
mas fingindo que não vem.

Aquele ranchinho triste,
feito à beira do caminho.
foi testemunha que existe
do quanto sofri sozinho.

A vida, grande carreira:
os anos formam a raia...
Chegando à cabeceira,
a morte está de tocaia.

Com jeito falas de amor,
mas algum truque me assusta...
Sabes bem te dar valor,
e sei bem quanto me custa.

Comparo o viver sozinho,
a que muita gente tem,
à tristeza de um caminho
onde não passa ninguém...

Contar estrelas eu sei,
desde criança aprendi,
não sei se todas contei,
mas contei todas que vi.

Cruzei todos os caminhos
sem saber onde iam dar...
-Pássaro de tantos ninhos
perde seu próprio lugar!

Deixem-me ficar quietinho,
numa quietude de monge.
Eu sei que todo caminho
leva a gente para longe...

Do triunfo não quero a palma,
nem da glória o pedestal:
Apenas a vida calma
do meu fundo de quintal.

Durmo tranquilo na rede,
me desperta a passarada...
Pela frincha da parede
entra um fio da madrugada.

Essa loirinha – ternura,
que passa envolta em quimera,
vem de noite e me procura,
mas transformada em pantera...

Essas cruzes que deparo
ao longo do meu caminho,
são de amigos, que não raro,
vão me deixando sozinho.

Esta viola que hoje tenho,
sonoridade sem fim,
é de um sagrado lenho,
capaz de tocar sem mim.

Este contraste covarde,
causa do meu desengano:
Tu és a brisa da tarde
eu, vento forte de outono.

Estes meus cabelos brancos,
semeados ao passar dos anos,
são devido aos solavancos
da estrada dos desenganos.

Há muito tempo passado,
renunciei à juventude,
mágoas eu trouxe ao meu lado,
felicidade eu não pude.

Já fui fonte de água pura,
praia, arroio a navegar...
Sou rio, cuja ventura
é correr... correr pro mar...

Mesclada de fantasia,
no meu sonho tu surgiste...
Mas veio a barra do dia
e, venturosa, fugiste.

Meu testamento está feito,
agora te remeti:
guarda sempre junto ao peito
cem trovas que fiz pra ti.

Minha estrela da manhã
brilha sobre o meu caminho!
Que minha alma tenha irmã,
que eu não seja tão sozinho.

Montei no lombo da noite
na busca de sonhos fundos;
a brisa foi nobre açoite
pra alimentar tantos mundos.

Na costa do Jaguarão,
bem neste extremo gaúcho,
é que nasceu este irmão.
que pra cantar não tem luxo.

Não fosse a tristeza minha,
que assim vai me consumindo,
o riso da tua boquinha
me faria andar sorrindo...

Narigudo, o “Zé Pegada”
foi campeão por um triz...
Pois na linha da chegada
ele avançou seu nariz.

Na terra, morre um poeta
e ninguém lembra jamais...
-Mas o Universo se inquieta
e uma estrela brilha mais.

Negrinho do Pastoreio,
mulato santificado,
me trás aqui pelo freio
aquele amor desgarrado.

No mar do meu casamento,
onde a esperança desmaia,
tu és a jangada ao vento,
fugindo, deixando a praia.

Nunca vai à igreja em vão
essa loura sem retovo:
De dia pede perdão,
de noite peca de novo.

Ó meu Deus, como sou feio,
tão na flor da mocidade!
Mas juro que não me apeio
do matungo da vaidade…

Pôe-se a criança a chorar,
depois ri, tudo é preciso...
Mas há sempre um despertar
entre a lágrima e o sorriso.

Por uma palha perdida,
brigam tanto, fazem cena...
E depois, no fim da vida,
será que valeu à pena?

Quando acode aos meus apelos,
faz o tempo rodopiar:
traz a noite nos cabelos
e a madrugada no olhar...

Quando pra sempre te fores,
muito além da solidão,
murcharão todas as flores
e os pássaros migrarão...

Quantos anos eu vivi
na velhice que componho...
Foram anos que perdi
na busca louca de um sonho.

Quem pilota este navio,
nas crespas ondas da crise?
Hoje se anda por um fio,
por mais que se economize!…

Quem tem a alma em revolta,
vê tudo confuso assim:
– Caminhos que não tem volta...
– Estradas que não tem fim...

Quero-quero, sentinela,
no meio da noite grita,
espalhando que é por ela
que minha alma anda proscrita...

Saudade... um barco partindo,
por entre brumas de esguio...
Lembrança me dividindo
na última curva do rio!

Saudade, vaca tambeira,
que volta no entardecer
quando, à sombra da parreira,
o mate pego a sorver.

Tudo tem igual valor,
no meu tranco de solteiro:
-Caso com o último amor,
mas lembrando do primeiro...

Uma noite não é nada
quando sonhar é tão lindo,
pois vem logo a madrugada
e meus sonhos vão fugindo.

Vamos fazer o correto,
de nossa vida um resumo:
tu serás meu objeto,
eu serei o teu consumo...
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Conrado da Rosa nasceu em Jaguarão/RS, a 28 de novembro de 1930. Poeta e Trovador, militar reformado, casado com a trovadora Doralice Gomes da Rosa. Foi na residência do casal, naquele tempo localizada na rua Itapucai, no Bairro Cristal, em Porto Alegre, que no dia 8 de março de 1969 foi criada e instalada a União Brasileira de Trovadores, da qual Conrado foi associado até o fim da sua vida. Conrado participou da coletânea Trovadores do Brasil - 2º Volume, organizada por Aparício Fernandes, e das antologias Cantares do Sul e Trovadores do Rio Grande do Sul.

Fonte:
União Brasileira de Trovadores Porto Alegre/RS. Trovas de Doralice Gomes da Rosa e Conrado da Rosa. Coleção Terra e Céu, vol. XXVII. Porto Alegre/RS: Texto Certo, 2016.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...