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terça-feira, 8 de junho de 2021

Gérson César Souza (PR)

 

A frase dura que escapa
da boca de muitos pais
é tão cruel quanto um tapa
e, às vezes, machuca mais!

A justiça, rica em falhas,
corrompida por esquemas,
enche de glória e medalhas
mãos que merecem algemas!

A natureza se rende
quando a noite cai nos campos
e a usina de Deus acende
estrelas e pirilampos...

Ao ver que meu teto vaza,
a sogra encerra a visita...
E eu deixo chover lá em casa:
êta goteira bendita!!!

Aquele adeus... teus acenos...
O barco partindo... o cais...
Eras minha um pouco menos
E eu te amava um pouco mais...

Ator, arisco ao cabresto,
rebelde, se for preciso,
a vida escreve o meu texto
e eu teimo e sempre improviso!

Bondade, segundo eu penso,
é a peça que está perdida
do quebra-cabeça imenso
que nós chamamos de vida.

Dizem que eu sonho em excesso...
Mas insisto em voos altos!
E as pedras nas quais tropeço
impulsionam novos saltos!!!

Espera é aquele momento
em que a saudade dispara
e o relógio fica lento,
fica lento e quase para...

Esta penumbra introduz,
no quarto, um amor profundo...
A gente desliga a luz
como quem desliga o mundo.

Eu comparo o meu sonhar
com quem, na praia, anda ao léu,
colhendo estrelas-do-mar,
querendo as que estão no céu.

Eu te deixei por orgulho,
mas meu coração não deixa
que eu te esqueça. E seu barulho
já não é batida... é queixa!

Foi com pregos de desgosto
que a saudade, do seu jeito,
pôs retratos do teu rosto
nas paredes do meu peito...

Maria, ao ver no madeiro
o Filho que tanto quer
sente a dor do mundo inteiro
num coração de mulher.

Meu filho, quando adormeces,
há um silêncio tão perfeito
que eu chego a escutar as preces
dos anjos, junto ao teu leito.

Não julgue alguém pela imagem,
pois muitos fazem de tudo
para esconder na “embalagem”
a falta de conteúdo.

Não permito, a quem me agride,
que os meus ideais distorça:
a força da Paz reside
em jamais usar a força!

Nas horas de despedida
sem querer a gente chora
e uma lágrima perdida
quer seguir quem vai embora...

Nas mãos de Deus tudo entrego
fazendo um pedido assim:
que estes sonhos que carrego
não morram antes de mim!

Nesta saudade, sem vê-la,
boêmio, só, pela rua,
faço queixa a cada estrela
e choro no ombro da lua.

Nesta vida poluída
é feliz quem, sem ter medo,
manteve a rede estendida
à sombra de um arvoredo.

Neste mundo profanado
(me desminta quem puder)
não há lugar mais sagrado
que o ventre de uma mulher.

Num show que bem poucos olham,
no palco das noites calmas,
chuvas de estrelas não molham,
mas lavam as nossas almas...

O namoro que se cria
feito de amor verdadeiro
sabe viver cada dia
como se fosse o primeiro!

O perdão, embora escasso,
é a cola mais indicada
para unir cada pedaço
de uma promessa quebrada.

Quando a dor se manifesta,
não desisto, sigo em frente,
pois sei que a luz que me resta
é Sol para muita gente.

Quando a esperança se cansa
o amigo é quem, prontamente,
empresta a sua esperança
para amparar a da gente.

Saudade, estranho licor
que embriaga, que extasia,
que faz um brinde de amor
com outra taça vazia.

Se a vida me fecha as portas
eu sigo em combate aberto:
por detrás das linhas tortas
há um Deus que só escreve certo!

Sei que os motivos são poucos,
sei que as razões também são,
mas este amor nos faz loucos,
e loucos não têm razão!!!

Se tens filho adolescente,
conversa, escuta, respeita:
do detalhe da semente
depende toda a colheita!

Siga os mais velhos e creia
na experiência que eles têm:
quem reflete a luz alheia
ganha luz própria também!

Sinto ao final das jornadas
que o esforço não foi à-toa
se vejo em minhas pegadas
os pés de alguma pessoa.

Sou feliz, por um segundo,
quando o amor encurta espaços
e a fronteira do meu mundo
toma a forma dos teus braços.

Tropeço.. Sigo a jornada...
A neblina dos fracassos
pode ocultar minha estrada
mas não segura os meus passos.

Vejo a fé sem fundamento
dos que, olhando o céu em vão,
buscam Deus no firmamento
mas não O enxergam no irmão...

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Geraldo Pimenta de Moraes (1913 - ????)


As lágrimas que hoje choro
hão de secar, meu benzinho,
quando tiver o que imploro:
— O lenço do teu carinho...
- - - - - –

Da roupa e a cara pintada
faz a mulher seus "engodos"...
Mas... é sem roupa, sem nada,
que ela mais agrada a todos...
- - - - - –

Da vida em seu louco afã,
há quem carregue, com calma,
no rosto, a luz da manhã,
lendo a noite dentro da alma.
- - - - - –

De beijar-te não me tolhas…
— Que teus lábios, a rigor,
são duas primeiras folhas
de um doce livro de amor...
- - - - - –

Despedida — adeus dorido
que tanto nos mortifica...
— Sofrimento repartido
entre quem vai e quem fica.
- - - - - –

De você assim tão junto,
conversando os dois, a sós,
eu sinto, por nosso assunto,
quanta distância entre nós...
- - - - - –

Dor mais funda não existe,
mais acerba, mais pungente,
do que a gente viver triste,
com saudade até da gente.
- - - - - –

Esperança — bem que enleva
nossa vida, no presente...
— Um raio de luz na treva
do incerto amanhã da gente.
- - - - - –

É triste quando ela passa,
tão formosa e indiferente,
esbanjando a sua graça,
sem achar graça na gente!
- - - - - –

Existe uma opção na Terra,
em mentes sãs, há mil sóis:
- É melhor nunca haver guerra
do que ser "Berço de Heróis".
- - - - - –

Lágrimas de nós fluindo,
quando enfrentamos abrolhos,
são gotas de dor fugindo
de nossa alma, pelos olhos.
- - - - - –

Luz sublime, que fascina,
desprende-se, em doce brilho,
do olhar, que é força divina,
da mãe que acarinha um filho!
- - - - - –

Mulher bela, indiferente,
como a sorte fugaz:
 - Quanto mais foge da gente,
mais a gente corre atrás...
- - - - - –

Muita vez, fingindo calma,
na vida enfrentando escolhos,
a dor eu a escondo na alma,
de riso enfeitando os olhos.
- - - - - –

Na mãe que canta, embalando
um filhinho, até faz gosto
ver-se tanto amor brincando
na ternura de um só rosto!
- - - - - –

Na solidão, triste, assim,
minha dor é tão intensa,
que eu sinto fugir de mim
a minha própria presença...
- - - - - –

Neste mundo de percalço,
mentira existe tão linda
que se troca um amor falso
por amor mais falso ainda...
- - - - - –

Num velório, a vela acesa,
com chama embora aziaga,
não tem tamanha tristeza
como depois que se apaga.
- - - - - –

O alegre que ri de um triste
deve lembrar-se, no entanto,
no exíguo espaço que existe
entre o riso, a dor e o pranto.
- - - - - –

O Criador, na ânsia extrema
de tornar tudo mais lindo,
fez o Amor — esse poema,
que as almas cantam, sorrindo!
- - - - - –

O meu viver, na verdade,
chego a senti-lo risonho...
Que eu gozo a felicidade
onde ela existe — no sonho...
- - - - - –

Os meus olhos buliçosos,
fitando-te, assim risonhos,
são dois pássaros ansiosos,
buscando um ninho de sonhos...
- - - - - –

O tempo enfrento com gosto,
com paciência, amor e calma...
Se a velhice vem-me ao rosto,
não a deixo entrar-me na alma.
- - - - - –

Quando amor você murmura,
meu bem, me beijando assim,
a minha alma, com ternura,
ri feliz, dentro de mim!...
- - - - - –

Quanta angústia nos invade
na despedida inclemente,
quando a sombra da saudade
passa a ser sombra da gente.
- - - - - –

Quando comigo dançou,
tão embebido eu sonhava
que, quando a orquestra parou,
minha alma ainda dançava…
- - - - - –

Quando padeço um tormento,
da trova eu faço meu pranto.
E assim, ante o sofrimento,
em vez de chorar, eu canto.
- - - - - –

Quando passo por diversos
tormentos, buscando calma,
faço trovas, cujos versos
são retalhos de minha alma.
- - - - - –

Quanto Bem não nos seduz
por trazer contradição...
– Que valor teria a luz
não houvesse a escuridão?...
- - - - - –

Quem nunca sentiu saudade,
com sua angústia e negror,
jamais sentiu, na verdade,
em sua alma, a luz do amor.
- - - - - –

Saudade... rosa envolvente,
de inebriante fragrância,
perfumando a alma da gente,
da roseira da distância...
- - - - - –

Se no tempo eu me mergulho,
com minhas cãs tenho zelos,
chegando a sentir orgulho
da alvura dos meus cabelos.
- - - - - –

Se vendesses teu carinho,
teu carinho que é tão doce,
comprá-lo-ia, inteirinho,
por qualquer preço que fosse...
- - - - - –

Um clarão há que retalha
e enegrece os corações:
— É o que irrompe na batalha,
ao ribombar dos canhões.
_____________________________________

Geraldo Pimenta de Moraes, que eventualmente usava o pseudônimo Gerpimoré, nasceu na cidade de São Sebastião do Paraíso/MG, em 19 de setembro de 1913. Filho de Francisco Pimenta de Moraes e Antonieta Cosmina de Moraes. Vitorioso em diversos concursos de trovas e poesias. Além dos diplomas e medalhas que possui, conquistados em concursos de tremas e poesias — principalmente de trovas. Têm inúmeros trabalhos publicados em jornais e revistas, coletâneas, e através dos concursos já referidos. Pertenceu à Arcádia de Pouso Alegre e à União Brasileira de Trovadores. Militar inativo, capitão do Exército, onde prestou serviços durante 25 anos, conquistando, nesse tempo: Medalha de Bronze (10 anos de bons serviços); Medalha de Prata (20 anos de bons serviços); Medalha de Guerra e Medalha do Pacificador (por haver tomado parte na última Grande Guerra). Residia em São Paulo.
 
Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Gamaliel Borges Pinheiro

1
À falta de inteligência,
são argumentos de estulto
o destempero, a violência,
a gritaria, o tumulto.
2
A insegurança, a tristeza
dos que se dizem ateus
é nunca terem certeza
da inexistência de Deus!
3
Ante a dor do desgraçado,
quem se faz indiferente
tem o ouvido calejado
e a consciência dormente.
4
As fluentes, cristalinas
cataratas dos teus beijos
fazem girar mil turbinas
da usina dos meus desejos.
5
Até agora, meu bem,
ao certo saber não pude
se teu carinho faz bem
ou se me agrava a saúde.
6
A tua boca precisa
de levar esparadrapo,
para ver se imobiliza
a tua língua de trapo.
7
Como o sábio é ponderado,
comedido, tolerante,
o néscio é precipitado,
oco, vaidoso, arrogante.
8
Da vida de toda gente
quis o medíocre saber;
e a si mesmo, que era urgente,
não tratou de conhecer.
9
De palavras más, intensas,
trago os ouvidos vazios,
pois jogo fora as ofensas,
guardo só os elogios.
10
Do meu filho, homem formado,
eu conservo na retina
de alegre pai deslumbrado,
o guri vivo e traquina.
11
Do pensamento em conflito
ressalta a ideia serena:
ao mundo sofrido e aflito
vim somente pagar pena.
12
Em meio às lutas da vida
afirmo-te compensado:
nosso casório, querida,
tem sido um longo noivado.
13
Esta moda divertida
na mulher mais se acentua:
velha e feia - bem vestida;
bela e jovem - quase nua!
14
Mais do que o verbo inflamado,
me encanta, nas assembléias,
os grandes prélios travados
no terreno das ideias.
15
Musicando o riso e o pranto,
minha Itaocara aprendeu
as doces aulas de canto
que o Paraíba lhe deu.
16
Na luta do pensamento
o que se torna empolgante
é que, no fraco, o talento
pode torná-lo um gigante.
17
Numa alternância vadia,
a vida atira em meu rosto
um minuto de alegria
para um ano de desgosto.
18
Paraíba caudaloso,
nas tristes tardes de estio
sinto um murmúrio queixoso
nos marulhos deste rio.
19
Para amenizar o estio
de jornada tão sofrida,
vez por outra nasce um rio
no deserto desta vida.
20
Parece que, sem comando,
para chegar neste ponto,
de tanto viver rodando
o mundo já ficou tonto.
21
Pela vida entre perigos
dos caminhos percorridos,
tive nobres inimigos
e tive amigos fingidos.
22
Por mais negro e perigoso
que seja o mundo, nós temos,
em Deus, um sol luminoso,
para os momentos extremos.
23
Por-me-iam desnorteados
seus trejeitos atrevidos,
se eu não fosse vacinado
contra amores proibidos.
24
Quem sabe fazer alarde
a sua fama constrói,
por isso há muito covarde
condecorado de herói.
25
Tomba o trono, a majestade,
a glória em breve se vai,
mas do cimo da humildade,
meu amigo, ninguém cai.
26
Uma estátua a humanidade
deveria, solidária,
erguer em cada cidade
à professora primária.
27
Vai-se o dia sem promessa,
uma folha a mais caída,
o outono chega depressa
ao bosque de nossa vida.
28
Viúva, no inverno da vida,
sem carinhos do vovô,
vovó, no canto, esquecida,
coitadinha, faz tricô.
29
Vivido, bem tarimbado,
que experiência expressiva:
já vi o orgulho humilhado,
já vi a humildade altiva.

domingo, 23 de abril de 2017

Giselda de Medeiros Albuquerque (Fortaleza/CE)

1
Aprendi, na tua ausência,
uma lição ponderada:
– que a espera, com paciência,
torna mais breve a chegada.
2
As trovas são diamantes
que certo ourives, um dia,
com suas mãos operantes,
cravou no anel da poesia.
3
Cem anos da abolição
e o negro sofre a desgraça
de acorrentar-se à prisão
do preconceito da raça!
4
Chove a cântaros... e o frio
cai sobre tudo, por fim...
E, enchendo este meu vazio,
chovem saudades em mim...
5
É carnaval… e em meu peito
qual um sagaz folião,
brinca o meu sonho desfeito
nas alas da solidão…
6
É o mais belo panorama
e de Deus o melhor verso
o sol ressurgindo em chama,
banhando de ouro o universo.
7
Essas rugas que há no rosto,
mostrando a idade inclemente,
são rumos onde o desgosto
caminha, pisando a gente.
8
Esse gemido tristonho
das ondas, sempre a chorar,
é a voz queixosa de um sonho
preso nas conchas do mar!
9
Felicidade... momentos
de emoções transcendentais,
que se vão na asa dos ventos
e não voltam nunca mais!
10
Lançada a sorte! Em verdade,
eu parti... Mares medonhos!...
E, no Porto da Saudade,
fui ancorar com meus sonhos…
11
Leu tanto amor… e, no entanto,
sozinha, a cigana, à morte,
convive com o desencanto
de não ler a própria sorte!…
12
Não deixes preto o teu céu...
Vê que as grandes tempestades
espalham sombras ao léu,
mas vêm, depois, claridades.
13
Nesta existência sofrida, 
triste certeza me invade: 
– o sonho ardendo na vida, 
e a vida a arder na saudade.
14
O teu adeus, mesmo em sonho,
me aniquila de tal sorte
que, estando viva, suponho
estar nos braços da morte!
15
Por te amar tão loucamente,
fui-me tornando um palhaço,
fazendo rir tanta gente
às custas do meu fracasso.
16
Por um momento de sonho,
que dure uma eternidade,
darei tudo e não me oponho
a viver só da saudade.
17
Ri, palhaço, que o teu riso
vai à dor dar acolhida,
transformando em paraíso
teu picadeiro da vida.
18
Se a noite vem, com azedume,
vestindo de preto o céu,
que sejas tu, vagalume,
e espalhes luz a granel.
19
Sê como o mar, grandioso,
cujo esplendor estonteia,
mas, humilde e generoso,
vem bordar rendas na areia!
20
Se vires um tom de escuro
na trilha dos rumos teus,
não temas, e vai seguro,
que é a sombra da mão de Deus.
21
Sublime, aquele momento
em que o poeta, risonho,
põe asas no pensamento
e voa, buscando o sonho.
22
Tenta esconder o teu pranto,
às frustrações, ao desgosto,
pois não há maior encanto
que mostrar a paz no rosto.
23
Teu olhar, por sorte, às águas,
sombra nenhuma deixou,
no entanto deixou-me mágoas
nesta sombra que hoje eu sou!
24
Teus olhos, ardentes círios,
meus dias tornam risonhos,
e tuas mãos, brancos lírios,
vão modelando meus sonhos.
25
Vasculhando meu passado,
encontrei nele, tristonho,
teu retrato empoeirado
na gaveta do meu sonho.
26
Vencendo todo o cansaço,
decerto gargalharei,
pois hoje sou um palhaço
dos sonhos que não sonhei.

domingo, 16 de abril de 2017

Gilvan Carneiro


1
Abro a cortina do sonho
e num gesto de quem vela,
-me deito a seu lado e ponho
meus sonhos nos sonhos dela...
2
A Justiça, envergonhada,
baixa os olhos impotentes,
quando algumas, por um nada,
prendem pulsos inocentes.
3
Alvorada dos meus dias,
teus olhos – luzes pagãs
acendem com poesias
o céu de minhas manhãs…
4
A mais cruel solidão
é a do cego (sina triste),
vivendo na escuridão,
sabendo que a luz existe.
5
Angustiante dúvida esta
perseguindo os dias meus:
o tempo que ainda me resta
é o mesmo tempo de Deus?…
6
A vida é um breve passeio
e o homem não sabe, talvez,
que ele é um “turista” que veio
e vai voltar outra vez…
7
Baseada em tristonhos fados
a história assim se deduz:
todos nós somos culpados
daquela morte na cruz…
8
Cai a tarde lenta, e nasce
em tudo um gesto de prece...
Ah, se o instante me levasse!
Ah, se a tarde te trouxesse!
9
Caíste amigo? Ergue o peito.
Esconde o pranto. Levanta.
É caindo no seu leito
que o rio mais forte canta.
10
Como esconder a tristeza
que aperta meu coração:
o pão me sobra na mesa
e há tanta gente sem pão!
11
De fato acordos teriam
de a paz selar muitos laços,
se braços que digladiam
se estendessem para abraços.
12
De pensar tanto em Maria,
- oxalá isto endireite -
no restaurante, outro dia,
pedi Maria com leite...
13
Diante de tantos escolhos
em meu insone abandono,
eu sei que são os teus olhos
a luz que impede o meu sono
14
Dizer que a vida não presta
não me cabe isso afirmar.
A minha vida é uma festa
na festa do seu olhar.
15
Em meio a ações violentas,
tanto ódio, pouco juízo,
bendito aquele que ostenta
como armamento um sorriso.
16
Esta manhã que se adensa
em tanta luz e poesia.
basta ter tua presença
para enfeitar mais o dia.
17
Foi ela... Eu sei, é um garrancho
esse "EU TE AMO" escrito assim...
Mas isso faz do meu rancho
um castelo para mim!
18
Fraco ante as minhas paixões,
invejo, juro por Deus,
essa audácia com que pões
teus olhos dentro dos meus.
19
Fui à missa. Que pecado!
- Perdão, "seu" padre, se errei.
Ela sentou-se a meu lado,
olhei... pensei e... pequei!
20
Hoje não te vi. Prevejo
inquietação... desconforto...
O dia em que não te vejo
é para mim dia morto...
21
Mesmo que a tantos iluda
com diversas abordagens,
história de amor não muda,
mudam só os personagens...
22
Meu coração não te esquece,
refém de insones rotinas.
Ah, se a manhã te trouxesse
quando eu abrisse as cortinas!...
23
Minha paixão decidida
doce sentença esquadrinha:
minha vida só tem vida
se a tua vida for minha.
24
Mistérios em si bisonhos, 
que o amor decifra e traduz:
são os teus olhos tristonhos
que enchem meus olhos de luz.
25
Nas mãos de Deus, em verdade,
o universo se afigura
na simples fragilidade
de ser uma miniatura.
26
Neste sonhar em que vivo
da poesia cultor,
o teu desvelo é o motivo
dos meus motivos de amor.
27
Numa tímida esperança
eu a cobiço com medo,
como uma pobre criança
que almeja um lindo brinquedo!
28
O céu de luto parece
quando a cigarra anuncia
num canto em forma de prece
a morte triste do dia...
29
Ó minha alma, por que anseia
ir tão longe os vôos seus?...
O universo é um grão de areia
na palma da mão de Deus...
30
O pobre estende a sacola:
(que triste contradição!)
- os lábios pedem esmola;
- os olhos pedem perdão...
31
– O que é o vento, mamãezinha,
que a gente não vê mas sente?
E a mãe responde: “– Filhinha,
vento é Deus beijando a gente...”
32
O sol vem... E faz algumas
distinções em seu caminho:
deixa um Palácio entre brumas,
cobre de luz um ranchinho.
33
O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço…
34
Por mil candangos plantada
com ferro, cimento e asfalto,
eis Brasília, germinada
como uma flor no Planalto!
35
Procuras em vão... Contudo,
não desesperes... Convém.
A felicidade é o tudo
do pouco que a gente tem…
36
Quem me vê tristonho assim,
talvez não saiba que existe
chorando dentro de mim
o eterno menino triste...
37
Refém de ti, não recuo,
réu do amor que me corrói:
cada sonho que construo,
tua apatia destrói...
38
Se crês, uma prece apenas
é possível transformar
um mar de dores e penas
num doce e tranquilo mar...
39
Se não te tenho ao meu lado,
um só instante sem ti
é como um dia passado
que sinto que não vivi...
40
Sendo boa ou má, a vida
teve sempre o seu valor,
se um dia foi repartida
em um momento de amor.
41
Sendo o fim de longa espera
sabendo que sou teu dono,
voltou a ser primavera
em minha vida de outono…
42
Sonhos dourados desmancho...
Meu coração enfim vê
que às vezes, ventura, é um rancho
de chão batido e sapê…
43
Teus rogos, se estás sozinho,
pleno de amor, Deus atende,
mas a luz do teu caminho
teu coração é que acende !
44
Veio um golpe em teu encalço?...
Não desesperes em vão!
Às vezes um passo em falso
não joga a gente no chão.
45
Vejo-te e tanto me apego
com teu ser que me seduz,
que me sinto como um cego
maravilhado ante a luz…
46
Vivendo de um sonho morto
na solidão dos meus dias,
o meu coração é um porto
cheio de amarras vazias...

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Gilson Faustino Maia


1
A ecologia é ciência
hoje muito comentada.
Busca o fim da violência
aos seres vivos, mais nada!
2
A lua vive distante.
Não chega perto porque
não quer olhar seu semblante
e a luz que vem de você.
3
A temperança eu conheço
por virtude necessária.
Seja na infância o começo,
como tarefa diária.
4
Cintura fina, eu sabia,
é de tanto trabalhar!
Não frequenta academia,
não tem tempo pra malhar.
5
Depois de uma certa idade,
querendo a vida entender,
vi que a mente da saudade
pode o passado esquecer.
6
Desde o berço à sepultura
caminharei sem temor,
conduzindo esta ventura:
ter nascido trovador.
7
Eu não sei se é por maldade,
porém é um fato frequente
chega um tempo em que a saudade
também se afasta da gente.
8
Falar de amor, eis o tema,
no céu, na terra, no mar,
na boate, no cinema,
onde eu puder te encontrar.
9
Fui ao doutor outro dia,
não me pergunte por quê.
Olhou a radiografia,
só viu, lá dentro, você.
10
Maria pula a fogueira,
mas cai, nas brasas, sentada.
Eis o fim da brincadeira:
a parte de trás queimada.
11
Na vida a gente imagina
tudo poder suplantar.
Olho os seus olhos, menina,
já começo a fraquejar.
12
Meus versos, quanta alegria
trazem ao meu coração.
À custa da poesia
é que eu suporto a traição.
13
Não é o mesmo que outrora,
mas vale a pena emendar.
Com amor que a gente adora,
vale reconciliar.
14
O leito ficou quebrado
pela dupla pesadona:
um cinquentão assanhado
nos braços da cinquentona.
15
Petrópolis, que beleza!
Que lugar encantador!
Já, assim, dizia a nobreza,
na corte do imperador.
16
Olha, amor, à minha mesa,
veneno e licor de vida.
Ou morro em minha tristeza,
ou vivo por ti, querida.
17
O sol nasceu, alegria!
Que bom que a chuva parou!
Vou secar a poesia
que a tempestade molhou.
18
Quando eu era bem criança,
as mãos limpas de aprendiz
transportavam esperança
de ser, um dia, feliz.
19
Quem parte deixa saudade.
Quem fica sofre demais.
Buscai a conformidade.
Desesperança? Jamais.
20
Saudade é coisa que passa
quando está pronto o caixão.
Oprime, destrói, amassa,
arrebenta o coração.
21
Se a gente, por vil destino,
perde, na vida, o que tem,
mais tarde, por dom divino,
perde a memória também!
22
Sofri e chorei baixinho,
fui te esquecendo, meu bem,
quando eu vi que o teu carinho
desembarcou do meu trem.
23
Tendo um passado tristonho,
desde os tempos de criança,
mostro o meu rosto risonho,
movido pela esperança.
24
Vamos buscar união,
paz, amor, fraternidade,
sem encolher nossa mão
ao querer felicidade.
25
Vejo, em minha fantasia,
que a sombra só diz verdade,
quando, à luz da poesia,
volto à minha mocidade.
26
Vem chegando o trem de ferro
entre os canteiros floridos.
Nele, você, se eu não erro,
vem pôr fim aos meus gemidos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Glória Tabet Marson


1
A alegria de viver
vai depender do momento...
Veranear pode ser
perfeito acontecimento.
2
A Escola se consolida     
quando o aluno, bem formado,
vai bem na escola da vida
por ter sido preparado!
3
Alegria de viver,
jamais poderá ter freios...
Sorrisos vão aquecer
todos os meus galanteios!
4
Atraídas pelas cores,
pela beleza que impera,
crianças fazem das flores
saudação à Primavera!
5
Buscando tecnologia,
o mundo, de hoje, se esquece
que a família em harmonia
tem o amor que nos aquece!
6
Céu do Brasil refletido
nas águas de um grande rio
retrata o país movido
por gente de muito brio!
7
Chegar às nuvens é sonho
de fugir da desventura,
mas jamais será tristonho
aquele que a Deus procura!
8
Cheiro de mato, gorjeio
dos pássaros... Que saudade!
Nada mudou e o passeio,
uma volta à mocidade!
9
Como faz a talhadeira
retirando toda aresta,
amolda-te por inteira:
– a vida vira uma festa!
10
Com uma enorme tristeza
que invade o meu coração,
eu contemplo a natureza,
fugindo da solidão.
11
Cor da pele? Quer saber?
não faz ninguém diferente.
Diferente é sempre ter
coração benevolente!
12
De barco, para o recanto,
fui por rio sinuoso,
e aquele pavor, no entanto,
tornou-se algo prazeroso!
13
Dia e noite navegando,
eu busco a felicidade...
céu e mar vou contemplando,
vendo você com saudade!
14
Do trem, a vista florida
logo foi me surpreendendo;
se assim olharmos a vida,
de sonhos vamos vivendo!
15
É gente que vai e vem
nesta vida de labuta;
São Paulo não se detém,
é cidade resoluta!
16
Enquanto favorecidos
levam vida sem coragem,
muitos pobres, decididos,
lutam, fraquejam, mas agem!
17
Esta família preciosa
ninguém de nós escolheu;
cordial e generosa,
foi Deus quem nos concedeu!
18
E vendo o tempo que passa,
afloram recordações:
– as retretas lá na praça,
flertes causando emoções!..
19
É verão, a natureza
se aprimora: o sol ardente,
o azul do céu... e a certeza
desse Deus onipotente!
20
Folhas e folhas rasgadas,
escritas com tanto ardor,
hoje “páginas viradas”
do que foi um grande amor!…
21
Homem de olhar penetrante,
sem que a donzela resista,
está certo que, por diante,
estará feita a conquista.
22
Na grinalda e no buquê,
flores brancas e amarelas;
se tudo tem o porquê:
isto é sonho das donzelas!
23
Não precisa ter chuteira
para mostrar futebol;
quem tem batida certeira
terá um lugar ao sol!
24
Nem sempre ter liberdade
traz total satisfação;
eu, presa a você, verdade,
mantenho acesa a paixão!
25
Num céu de rara beleza,
um arco-íris resplandece...
e, olhando, tenho a certeza:
é luz de Deus que aparece.
26
Onde tudo foi escuro,
mar e lua resplandecem;
sendo assim, eu asseguro:
namorados aparecem!...
27
O “ser feliz” nesta vida
está na simplicidade,
um só carinho, querida,
traduz a felicidade!
28
Preservação se constata
no Mato Grosso do Sul,
pois voa por toda a mata
a formosa arara azul!
29
Que bom se o Sol encoberto,
por nuvens de poluição,
mostrasse ao homem, por certo,
o tamanho da agressão!
30
Que bom seria se a Terra
estivesse em boas mãos,
liberta de qualquer guerra,
seriam todos irmãos!
31
Registrar minhas andanças
me traz intensa alegria;
com essas doces lembranças,
não deixo a vida vazia.
32
Saudemos nossa amizade
com o mais alegre brinde:
que ela a ninguém desagrade,
e que jamais ela finde!
33
Sei que nada nos aparta,
nem a distância malvada,
pois ao abrir sua carta...
Vejo-me até abraçada!
34
Tempo passa, vai embora...
restam lembranças, saudade...
busque, então, em cada aurora,
a doce felicidade!
35
Um rapaz encantador
agrada qualquer donzela,
se faz as juras de amor
num jantar à luz de vela.
36
Vale a pena envelhecer,
viver o hoje e ser feliz;
o passado remover
sem deixar a cicatriz!
37
Vão meus beijos tão distante,
levando o que mais esmero:
sentimento fascinante
de um amor sempre sincero!
38
Voando a primeira vez,
por entre nuvens passei;
quem sabe um dia, talvez...
estrelas contemplarei.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...