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sábado, 17 de julho de 2021

Cônego Benedito Vieira Telles


 1
A esperança também gera
o mal que a saudade tem,
quando a gente vive à espera
do sonho que nunca vem.
2
Amigo, qual tenra planta,
tem de ser bem cultivado.
Se outro valor se levanta,
você pode ser trocado...
3
A neve nos pinheirais,
nestas paragens do Sul,
forma brincos de cristais
na terra da gralha azul.
4
À sua mesa haja o pão,
partilhe-o com quem não tem.
Reparta-o com o irmão,
que não o falte a ninguém.
5
Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer...
Com ela, as frescas aragens!
6
A trova, menor poesia,
síntese da inspiração.
São sete pés de maestria,
que medram no coração!
7
A trova não envelhece,
assim é toda a poesia.
É perene como a prece,
imortal a cada dia!
8
A vida é dura, renhida,
porém tem muita poesia.
Faço parte da torcida
da esperança a cada dia.
9
Cidade do coração,
tens meio milhão de amores,
tu és a ‘Cidade Canção’,
Maringá, urbe das flores!
10
Coração de mãe é grande,
infinito como o amor.
Sua ternura se expande
como o perfume da flor!
11
Em vez de bombas, canhões,
fome, miséria, orfandade,
que se unam os corações
na paz da fraternidade!
12
Frondosa árvore, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti saudades ficaram!
13
Há festa no céu, na Terra,
foi a maior deste Mundo,
nos mares, rios e serras...
Natal, mistério profundo!
14
O domingo é do Senhor,
dia pascal do cristão.
Vamos ao altar do Amor
enriquecer-nos do irmão.
15
O homem foi feito perfeito,
à semelhança de Deus;
às vezes, fico sem jeito
de não ser igual aos meus.
16
Ontem falara às estrelas,
e sussurros seus ouvia.
Foi difícil entendê-las!...
Novo dia em cantoria.
17
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
18
O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave o ninho envelopa
para abrigar seus amores.
19
Pode entrar. A casa é sua,
sempre me traz alegria.
Ao sair, esta é a rua...
se puder, volte. Bom dia!
20
Por que não curtir saudade,
que é parte do nosso ser?
– Saudade não tem idade,
fica em nosso entardecer.
21
Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
22
Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
23
Quisera ter coisas novas
escritas, mas tudo em vão.
Só encontrei algumas trovas
no escrínio do coração.
24
Quisera ter tantas vidas
pra levar a Paz e o Bem.
Lancei sementes nas lidas...
agradeço a Deus. Amém!
25
Receba, de coração,
o que posso repartir:
à mesa, um pouco de pão,
e a alegria de sorrir.
26
Rústico curral bovino,
maternidade do Amor.
– No corpo de um Deus-Menino,
nasceu-nos o Salvador.
27
Sai o hábil semeador
e lança a boa semente.
Chamado pelo Senhor,
planta-a na alma da gente.
28
Senhor, neste amanhecer,
louvo a tua criação:
da aurora ao entardecer,
eu te encontro em meu irmão.
29
Sigo minha trajetória
pelos caminhos, cantando.
No coração, trago a história
desde que O segui, sonhando.
30
Traz-me a árvore lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meus sonhos desde a aurora.
31
Tudo o que é criado passa,
porque tudo é contingente.
Deus sempre, com sua graça,
renova a vida da gente.
32
Uma prece eleve a Deus,
com fé peça hoje a cura
para alguém junto dos seus
e cure essa criatura.
==============================
Cônego Benedito Vieira Telles nasceu no Distrito de Campo Místico, hoje, cidade e comarca de Bueno Brandão/ MG, em 1928. Filho de pais católicos praticantes, Luiz Vieira Telles e Maria da Conceição Telles. Eram doze irmãos. Aos domingos, íam à Missa na Matriz de São Bom Jesus da Pedra Fria, igreja em que foi batizado, crismado, fez Primeira Comunhão. Nesta matriz rezou a Primeira Missa solene, em 1960, em Ação de Graças pelo chamado ao sacerdócio.
 
Em 1945, entrou no Seminário dos padres da Congregação Salesiana, em Lorena – SP. Concluídos os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior São José, Rio de Janeiro – DF, foi ordenado sacerdote por dom Jaime Luiz Coelho, em 1960, na primeira catedral de madeira, cujo bispo de Maringá ordenava-lhe o primeiro padre da diocese.

Foi nomeado vigário coadjutor da catedral, Secretário do Bispado, Chanceler da Cúria Diocesana. Implantou pastorais na catedral: catequese paroquial e nas escolas, Obras das Vocações Sacerdotais, cujas vocações floriram. Ia mensalmente às capelas dos distritos de Maringá, zonas rurais, para dar-lhes assistência espiritual. Fundou o Movimento Familiar Cristão e outros. Foi nomeado Cura da Catedral de Maringá. Pároco por quase nove anos. Foi transferido para a paróquia de Inajá. Depois, pároco em Guairaçá, Atalaia, comunidades desta arquidiocese. Exerceu o magistério de Direito na Universidade Estadual de Maringá até a aposentadoria e Unicesumar.

Colaborou na Folha do Norte do Paraná, imprensa diocesana e outras obras, que constam em Livros Tombos das paroquiais que administrou.


Fontes:
Trovas obtidas nos Boletins de Trovas "Trovia", de A. A. de Assis.
Biografia adaptada obtida da Arquidiocese de Maringá, em 2016.
http://arquidiocesedemaringa.org.br/noticias/695/60-anos-da-arquidiocese-de-maringa-conheca-a-historia-do-conego-benedito-vieira-telles

domingo, 3 de setembro de 2017

Benedito de Góis


1
Ah! Se Deus me desse a graça
de ter-te sempre ao meu lado,
eu não teria a desgraça
de viver tão maltratado…
2
Ave-Maria! Soou
lá na capelinha o sino.
E só a saudade ficou
de um coração peregrino...
3
A vida é como um navio
que, na procela do mar,
vai indo como Deus quer,
até seu porto encontrar.
4
Eu vivo perambulando
noite e dia sem cessar.
A sorte de um vagabundo
que nasceu para penar...
5
Há nos teus olhos ciúmes,
no teu corpo sedução.
No meu peito, uma saudade
nas noites de solidão.
6
Minha mãe, deusa querida,
santa que reza por mim,
és razão da minha vida,
és a flor do meu Jardim!
7
Minha terra tem salinas,
tem rios, tem coqueirais.
Também tem moças bonitas,
para quem mando os meus ais.
8
Na minha vida o caminho
é sempre tão negro e atroz...
Nem sequer tenho um carinho,
dela já não escuto a voz...
9
No meu silêncio tristonho
que teu amor me deixou,
minha vida é quase um sonho
e tudo, tudo arruinou...
10
No pé daquele arvoredo
coloquei o nome dela,
para que morra em segredo
o amor que tenho por ela.
11
Ó lua branca e formosa,
mandai do céu, por favor,
um bom presente, uma rosa,
como oferta ao meu amor...
12
Ó mundo todo maldade,
tu, que me roubas a calma,
dá-me um pouco de bondade
e alívio para minha alma!
13
Ó! Tu que pisas mansinho
e tens um bom coração,
dá-me bastante carinho
e mata minha paixão!
14
Quando eu a vejo sozinha
na escuridão dos meus dias,
sinto a dor que me espezinha
e as esperanças sombrias...
15
Saudade, dor que me invade
o coração facilmente...
Espinho atroz da maldade,
que me destrói lentamente...
16
Se ela por mim sentisse
um sentimento qualquer,
nem que ela apenas fingisse
que foi um dia mulher...
17
Se tu soubesses, morena,
o gosto que o beijo tem,
não me fazias tal cena...
me beijarias também.
18
Só entre escolhos vivido,
não sei mais o que fazer.
Eu já me sinto perdido
quando não posso te ver!
19
Tarde sombria de outono,
Orion já longe vai…
Quisera sempre ter sono
na hora em que o pranto cai.
20
Você, ó fada encantada,
dona do meu coração,
não lembra a vida passada,
berço de negra ilusão...
21
Vou sentindo dentro em mim
um quê de amor e paixão.
Meu viver é tão ruim
que até Deus tem compaixão...

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Bastos Tigre (1882 - 1957)


1
Aliança! algema divina,
a mais doce das prisões;
uma prisão pequenina
que encerra dois corações.
2
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.
3
AMBIÇÃO – De olhar agudo,
marcha, firme, aos seus ideais;
quer pouco, que mais, quer tudo;
se tem tudo ainda que mais.
4
Amizades são incertas.
Ao fazê-las, desconfia:
esta mão que agora apertas
bem pode espancar-te um dia.
5
Ao te ver fico mudo
mas mesmo assim, sou feliz.
Pois meu olhar te diz tudo
que a minha voz não te diz.
6
A Saudade é calculada
por algarismos também:
distância multiplicada
pelo fator “querer bem”.
7
Como infeliz é esta gente
que pensa que ser feliz
é não dizer o que sente
e não sentir o que diz!
8
Como será compreendida
a incongruência da sorte?
Pois há quem nasça sem vida
e ninguém morre sem morte.
9
Com tuas frias maneiras
eu não me incomodo, pois,
embora tu não me queiras,
meu amor vale por dois.
10
Cora a moral, fica rubra,
ante a imodéstia; pois, certo,
é feio que se descubra
o que deve ser coberto.
11
Da morte a sentença imprensa
trazemos desde o nascer:
assim que a vida começa
começa a gente a morrer.
12
Da vida o relógio rode
até que a corda se acabe…
Em moço, nada se sabe;
em velho, nada se pode… 
13
Depois de uma vida airada,
ao céu quis ir sem licença.
São Pedro pede-lhe a entrada-
e o morto, arrogante: – Imprensa!
14
Dinheiro não há que abrande
a dor que um peito magoa:
uma sorte é ” sorte grande”
outra coisa é ” sorte boa “.
15
Dos versos os mais diversos
já fiz: muita gente os lê…
Mas “poesia” há nos versos
que eu fiz pensando em você.
16
Elo de ouro! És a esperança
de horas risonhas e calmas! 
Felizes dos que, na aliança, 
acham a aliança das almas. 
17
Este velho batoteiro
quando a morte o trouxe cá,
ao ver a pá… do coveiro
foi dizendo: – bacará !
18
Eu, neste assunto de esmola
sem ambições me suponho:
estendo a minha sacola
peço um bocado de sonho…
19
Foi-me o amor, na mocidade,
um passatempo, comum:
tantas amei que, em verdade,
nunca tive amor nenhum.
20
Isto de amar considero
que ser amado requer.
E é por isso que eu não quero
querer a quem não me quer.
21
Jurar é falar a esmo,
é prometer sem pensar.
Juras não faças; nem mesmo
a jura de não jurar.
22
LIBERDADE – O cidadão 
livre, tem todo o direito
de fazer o que o patrão
acha que deve ser feito.
23
Maldigo quem te ache feia,
quem te ache bela também.
Quero mal a quem te odeia
e odeio a quem te quer bem.
24
Mente o peito que suspira?
O beijo é só falsidade?
Bendigamos a mentira
se ela é melhor que a verdade.
25
Meu amor enche-me a vida
e eu vivo feliz assim.
Basta que gostes, querida,
de ser querida por mim.
26
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!
27
Na minha face estás lendo 
que a minha mágoa é sem fim; 
mas sinto alívio, sabendo 
que não sofres… nem por mim! 
28
Namorados. Para ouvi-los
faço, ao lado esforços vãos,
Como dois mudos, tranquilos,
falam somente com as mãos. 
29
Não te queixes! Sofrem quantos
vivem, na vida, a lutar;
se não secassem os prantos,
o mundo era todo um mar.
30
Neste mundo organizado 
de encontro à lei natural,
tudo que é bom é pecado
e o que é gostoso faz mal.
31
No amor não há diferença:
nós mentimos, vós mentis...
E, se um diz o que não pensa,
outro o que pensa não diz.
32
“O cão que ladra não morde”.
Permitam que nesta quadra
eu do provérbio discorde:
sim, não morde… enquanto ladra.
33
Olhos tristes ou risonhos
vejo entre a gente do povo
dos restos dos velhos sonhos
fabricando um sonho novo… 
34
O meu coração é o cofre
que as minhas dores contém
e as dores que você sofre
eu nele guardo-as também.
35
O poderoso ? Merece 
pena, lamento, piedade! 
Ah! se ele ao menos pudesse
mandar na própria vontade! 
36
Os sonhos tem saúde, entendo,
nasceram com boa estrela.
Pena é viverem sofrendo
pelo medo de perdê-la.
37
Para se amar é preciso,
de todo, o juízo perder;
ter-se a um tempo, amor e juízo
isto é que não pode ser.
38
Ponhamos no calendário
mais um santo português
milagroso Santo Hilário, 
que os fados mais belos fez.
39
Quando Deus fez Portugal
lá plantou com sua mão
na terra; vinha e trigal
e o fado no coração.
40
Quando em meus braços te aperto,
satisfaço o meu desejo: 
de mim te sinto tão perto, 
tão perto que não te vejo.
41
Quando nós, discretamente 
ficamos conosco a sós,
é que ouvimos quanta gente 
chora e ri dentro de nós.
42
Quanta palavra bonita!
Quanto perdido latim!
E quanta cera erudita
para defunto tão ruim!
43
Quem canta seu mal espanta,
diz o provérbio ilusório.
Você, rapaz, quando canta
espanta, sim… o auditório.
44
Quem só a verdade aspira
com certeza inda não viu
que a verdade é uma mentira
que inda não se desmentiu.
45
Saudade, meiga Saudade
filha do amor e da ausência,
és a nossa mocidade
durante toda a existência.
46
Saudade é um mal que consiste 
em sofrer por vontade
mas na vida o quanto é triste 
não ter de quem ter saudade!
47
Saudade, palavra doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.
48
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
uma vontade de ver 
a quem nos vê à distância 
com os olhos do bem-querer.
49
Se a mulher que está contigo 
vive do “outro” a dizer mal, 
tem cuidado, meu amigo,
ela inda ama o teu rival.
50
Se a mulher sincera fosse,
sincera como o homem quer,
era uma vez... acabou-se
todo o encanto da mulher.
51
Se estou, meu amor, contigo,
tão feliz me considero
que quero mas não consigo
dizer-te o bem que te quero.
52
Seguro porto, esperança,
dos que andam pelo alto mar!
É nas procelas – bonança, 
farol… estrela polar…
53
Se te olho de quando em quando, 
Por Deus, não é por mau fim;
é que estou verificando
se tu olhas para mim. 
54
Seu dinheiro o homem, cioso,
não confia a qualquer, 
mas a honra de esposo
deixa nas mãos da mulher.
55
Trocar ideias contigo?
É possível, mas escuta:
quero ver, primeiro, o artigo
que ofereces à permuta.
56
Tu com todo o teu ardor
não estarás enganada?
Talvez confundas amor
com o prazer de ser amada.
57
Um filósofo de peso
é desta sentença o autor:
o beijo é fósforo aceso 
na palha seca do amor.
58
Um longo olhar que se lança
numa carta ou numa flor;
Saudade – irmã da Esperança,
Saudade – filha do Amor.
59
Um sonho é ter-te ao meu lado,
a te ver, ouvir, palpar… 
Que bom sonhar acordado
sem perigo de acordar!
60
Vacinei-me contra o amor
mas não tive resultado…
Nas farmácias – é um horror!-
tudo é falsificado. 
61
Você diz que é cego o amor…
Como se engana você!
Fecha os olhos o impostor
para fingir que não vê.

Fonte:
Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge (organizadores). Cem Trovas de Bastos Tigre. Coleção “Trovadores Brasileiros”- Editora Vecchi – 1959

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Belmiro Braga (1872 - 1937)


1
A beleza não te atrai?
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
que morreu velho e... solteiro.
2
A caridade... Consola         
ao vermos que ela é perfeita,
não por ser grande a esmola,
mas no modo por que é feita.
3
A mãe que aperta no seio
um filho de seu amor,      
tudo enfrente sem receio   
a calúnia, a injúria e a dor.
4
A mãe que a um filho acalenta
- tal o seu amor profundo -
tem a impressão que sustenta
em seus braços todo um mundo.
5
Amigos... E quanta gente
não crê na verdade atroz
que, no mundo, há somente:
- Aquele que existe em nós.
6
A mulher, além de terna,
faz tudo com perfeição,
que até nos passando a perna,
tem a nossa gratidão...
7
Aquele que dá esmola
tem duas vezes a palma:
- Primeiro, o pobre consola,
depois, consola a sua alma.
8
As almas de muita gente
são como o rio profundo:
-a face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!...
9
Assim como brotam flores
do triste, empedrado chão,
em rima brotam-me as dores
que trago no coração.      
10
A vida, pelo que vejo,
hoje é  vale e amanhã cimo:
-A quantos pobres invejo
e a quantos ricos lastimo!
11
Casa em março Ester Macedo
e em julho é mãe... Ora, o alarde!
O filho não veio cedo,
o esposo é que veio tarde...
12
Chegaste, afinal ! Chegaste
no instante mais preciso;  
vens trazer a quem mataste
as rosas de um teu sorriso...
13
Com juiz, reto e calmo
posso afirmar sem receio:
- Mulher de boca de palmo
tem língua de palmo e meio
14
Coração, bate de leve;
deixa os teus sonhos horríveis,
que um coração nunca deve
sonhar coisas impossíveis.
15
Desilusões, desenganos,
tudo a velhice nos traz,
mas existe, além dos anos,
a eterna bênção da paz...
16
Dizem que a lágrima nasce
do fundo do coração...
Ah! se a lágrima falasse,
que doce consolação!
17
Do berço à tumba há um caminho
que todos tem de transpor:
de passo a passo - um espinho,
de légua em légua - uma flor.
18
Dos beijos me lembro, Glória,
mas não do sabor, meu bem.
Por que a fronte tem memória
e a minha boca não tem ?
19
Em ti, minha mãe, se encerra
todo o meu maior troféu:
- guardas num corpo de terra
uma alma feita de céu.
20
Entre o berço e a sepultura
um relâmpago fugaz,
mas que século perdura
pelo que nele se faz!
21
Eu morro por Filomena,
Filomena por Joaquim,
o Joaquim por Madalena
e Madalena por mim.
22
Eu não lamento o revés
do morto que se fez pó;
do vivo, que espera a vez
desse sim, eu tenho dó.
23
Fiz na vida o meu escudo
desta verdade sagrada:
- o nada com Deus é tudo
e tudo sem Deus é nada.
24
Há dois poderes no mundo
que tudo movem. Primeiro:
- Mulher bonita. Segundo:
dinheiro, muito dinheiro.
25
Há no livro uma luz calma
que torna o mundo maior:
- quem vê pelos olhos da alma,
vê mais longe e vê melhor.
26
(Mãe) Acima de tudo, acima
do céu, te devemos por:
o teu nome não tem rima,
nem limite o teu amor.
27
Meu coração é uma ermida
toda enfeitada de flores,
onde conservo escondida
Nossa Senhora das Dores.
28
Minha vida é uma jangada
num mar revolto de escolhos,
baloiçando sossegada
à doce luz dos teus olhos.
29
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a finados.
30
Muito mais desenxabido
que a goiaba sem queijo,
é te abraçar, bem querido,
e não poder dar-te um beijo.
31
Muitos supõe a ventura
ver em meus olhos brilhar,
quando esse brilho é tortura
de não poder chorar.
32
Mulheres que eu vi no banho,
vejo-as depois no salão!
-Se pelo rosto as estranho,
pelas pernas sei quem são.
33
Na justiça tem confiança
e verás depois, surpreso
que, por ter venda e balança,
ela te rouba no peso.
34
Não conhecem mesmo os sábios
este caso singular :
- Fala a mente pelos lábios
e o coração pelo olhar.
35
Na terra que te consome,
nem uma triste inscrição!
Pudera! Porque teu nome
não me sai do coração.
36
Na vida, maior ventura
nada nos pode causar
do que a tépida ternura
que nos vem de um doce olhar.
37
(À Maria Teresinha)
Nestes dois nomes se encerra
um rutilante troféu:
- Se Maria é a flor da Terra,
Teresinha é a flor do céu.
38
No anel que me deste, pego
e vejo que é falso, crê.
- Se o amor verdadeiro é cego,
também falso é o amor que vê...
39
Noite de núpcias. O Gama
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama :
— Posso, enfim, ver-te vestida!
40
Num tronco seco, sem vida
minha mão teu nome abriu
e o tronco seco, em seguida,
reverdeceu e floriu.
41
Olhos pretos, dois acesos
e rescendentes carvões:
- Par de algemas que traz presos
corações e corações.
42
O noivo, da noiva outrora
via o rosto e nada mais;
se o rosto não vê agora,
todo o resto vê demais...
43
O que perdemos na vida,
procuramos sem achar,
exceto a mulher perdida,
que achamos sem procurar...
44
Os beijos, segundo os sábios,
dados com muita afeição,
não deixam sinal nos lábios,
mas deixam no coração.
45
Ouvindo-a falar da vida
dos próprios pais, tive pena
de ver língua tão comprida
numa boca tão pequena.
46
Para ser feliz, um louco
costuma me aconselhar:
- deverás desejar pouco   
e quase nada esperar...     
47
Pobre de mim! Por desgraça
meu coração é um coador:
nele, o riso escorre e passa
e fica o que é dor.
48
Por ver-me alegre e contente,
julga-me o mundo feliz:
nem sempre o coração sente
aquilo que a boca diz…
49
Prezado amigo, perdoa
a resposta demorada:
tu sabes, quem vive à toa,
não tem tempo para nada.
50
Quanta vez junta a um jazigo
alguém murmura de leve:
- Adeus para sempre, amigo!
E diz-lhe o morto: - Até breve!
51
Quantas vezes tenho ouvido:
- como ele ri de prazer!        
Quando esse riso é um gemido
que aos lábios me vem morrer...  
52
Que grande, triste verdade
me sussurra o coração:
- a dor é uma realidade,
a alegria - uma ilusão...
53
Quem maldiz a vida, prova
não conhecer que ela é vã:
- no espaço do berço à cova
há ontem, hoje, amanhã.
54
Quem, mesmo nas alegrias,
de lastimar não se furta
de ver tão longos dias,
para uma vida tão curta?..
55
Quis a sorte que te visse,
quis o amor que eu te adorasse,
quis o dever que eu partisse,
quis a paixão que eu ficasse.
56
Saudade... palavra linda,
de sete letras... Saudade
é noite que tem ainda
lampejos de claridade.
57
Sobre o triste chão de abrolhos
em que tu vieste ficar,
meus tristes, cansados olhos,
não se cansam de chorar.
58
Tenho um neto e essa ventura
veio florir os meus dias,
que um neto é um sol que fulgura
num céu de nuvens sombrias.
59
Teu coração é morada
que não atrai, felizmente:
– Quem nele arranja pousada
encontra a cama ainda quente.
60
Teus olhos, Rosália amada,
me recordam dois ladrões,
sob a pálpebra rosada
tocaiando corações...
61
Tu não vês que vivo louco
por causa desta afeição ?
Coração, sossega um pouco,
coração sem coração !
62
Uma princesa parece
pelos trajes do alto preço,
mas quanta gente conhece
seus vestido pelo avesso!…
63
Vi teus braços... que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
Que eu quero ver o teu rosto.
64
Vivo, encheu (a História o prova)
com suas glórias o mundo,
e, morto, não enche a cova
de quatro palmos de fundo.
_______________________
NOTA: As trovas tem por regras a obrigatoriedade da rima do 2. com o 4. verso, mas não existe a necessidade de rimar o 1. e 3. versos, contudo para os Concursos de Trovas, é obrigado o 1. rimar com o 3. e o 2. rimar com o 4.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...