Mostrando postagens com marcador Pará. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pará. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Antonio Juraci Siqueira


1
A bela imagem nos traz
ilusão que nos aterra:
De longe um ninho de paz,
de perto, um campo de guerra.
2
Ademar Macedo encerra
nesta vida o seu papel.
Um homem que deixa a Terra,
um anjo que chega ao céu!
3
Ampara o menor que implora
tua ajuda e, nesse afã,
plantarás no chão do agora
a semente do amanhã.
4
Ao tempo tudo se rende,
tudo passa ou se renova;
só não passa o que se prende
nos quatro versos da trova!
5
Ao vê-los, minha alma chora,
porta-retratos, que além
das recordações de outrora
portam saudades, também!...
6
As nossas buscas eternas
pelo fim de tantos ais,
hão de vir por mãos fraternas
tão diversas, tão iguais.
7
Canta Trovador! Teu canto
alvissareiro e fecundo
é uma canção de acalanto
ninando as mágoas do mundo!
8
Com amor segue em teus trilhos,
do bom caminho não sai
para que, sempre, teus filhos
possam chamar-te de…Pai!
9
Com certeza alguém fará
protestos aos versos meus
só porque afirmo: — Quem dá
aos pobres e empresta, adeus!...
10
Criança alegre brincando
se afigura, aos olhos meus,
um lírio desabrochando
nas mãos sagradas de Deus.
11
Deus fez o mundo certinho
porém, por divina troça,
fez a mulher do vizinho
bem mais bonita que a nossa!
12
Em noites frias, sem lua,
quando meus versos componho,
eu cubro a verdade nua
com meu casaco de sonho.
13
Entre os chatos eu aponto
um que a todos aporrinha
ao dizer: - "Eu nem te conto!..."
E conta a vida inteirinha!...
14
Esculpir-me: eis o que faço
dia e noite, noite e dia
e, agindo assim, passo a passo,
conquisto a minha alforria!
15
Eu flagro, de vez em quando,
meu vizinho e a Maristela;
ontem mesmo o topei dando
um beijo na boca dela! 
16
Evita os tortos caminhos,
que o céu não vem por milagre;
o tempo apura os bons vinhos,
e, os maus, transforma em vinagre.
17
Felicidade - brinquedo
que todos querem, porém,
se para alguns chega cedo,
para outros tarda ou não vem...
18
Futebol, ópio do povo
e a um só tempo, redenção:
rico, pobre, velho ou novo
igualados na emoção.
19
Mãe – palavra que aproxima
criador e criatura;
tão singular que só rima
com a palavra… Ternura!
20
Minha alma se satisfaz
prenhe de amor e de encanto
ao ver a pomba da paz
pousada nas mãos de um santo!...
21
Momento eterno, maiúsculo,
prenhe de amor e magia:
nós dois fitando o crepúsculo
na rede da poesia!
22
Mundo digitalizado
onde tudo é virtual:
pais e filhos lado a lado
numa distância abissal!
23
“Não caso nem amarrado!”,
disse o noivo. E a noiva, então,
trouxe o bruto acorrentado
por espontânea pressão!
24
Não deixes que as desventuras
sepultem teus ideais;
vê que nas noites escuras
as estrelas brilham mais!
25
Não sente, nunca, a fadiga
desta existência bizarra
quem no peito de formiga
tem coração de cigarra.
26
Não sente o tempo passando
quem vive a vida com gosto
e traz um riso enfeitando
as marcas do próprio rosto.
27
Nessa estrada em que trafego
nem sempre flores conquisto
pois sei que em terra de cego
quem tem um olho... é malvisto!
28
No aceno a paixão reparte 
a dor que se multiplica
na tristeza de quem parte,
na saudade de quem fica!
29
Num Brasil de ouvidos moucos
a vida perde os encantos
quando a ganância de poucos
promove a fome de tantos!…
30
Num cantinho iluminado
pela luz da solidão,
um coração desprezado
espera outro coração.
31
Num mundo violento onde 
morre o peão pelo rei,
quanta injustiça se esconde 
sob a máscara da Lei!
32
O canibal, sem alento,
tentando a fome aplacar,
no dia do casamento
comeu a noiva... no altar!
33
Olho a imagem... Lá no fundo,
eu vejo, entre o claro-escuro,
que é Deus indicando ao mundo
onde é o país do futuro!
34
Pequenos sóis, duas gemas
banhadas de sedução,
são os teus olhos algemas
que prendem meu coração.
35
Por menor que seja, creia,
o lixo é problema certo:
de pequenos grãos de areia
é que se forma o deserto!
36
Pouco vale a vaidade
e a aparência exterior;
o sangue da humanidade
é todo da mesma cor.
37
Prudente quem não descarta
apoio a crentes e ateus
pois o amanhã é uma carta
lacrada nas mãos de Deus.
38
Qual pavilhões desfraldados
que ao mundo pedem clemência,
a vida manda recados
em prol daa própria existência!
39
Qualquer vivente se esbarra
nesta evidência que aterra:
– é no balanço da farra
que o bom farrista se ferra!
40
Quem não se rende ao fracasso
e nem se abate ante as dores,
transforma os seus trilhos de aço
em passarelas de flores.
41
Racistas, intransigentes, 
olhai o exemplo da mão:
cinco dedos diferentes
na mais perfeita união!
42
Se eu de ti me separar,
vagarei no mundo a esmo.
Somos um! Se eu te deixar,
darei adeus a mim mesmo.
43
Semeia sonhos, resiste,
planta amor pelos caminhos,
que a travessia mais triste
é a que fazemos sozinhos.
44
Sempre que na noite calma
ouvires passos na rua,
não tenhas medo, é minha alma
andando em busca da tua!
45
Sonho um mundo sem arenas,
mais justo, mais solidário,
onde a paz não seja, apenas,
três letras no dicionário.
46
Tomado por ânsia extrema,
o poeta o peito escalavra
e deita o grão do poema
no fértil chão da palavra.
47
Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
48
Vejo o Sol, fonte de vida,
e penso no amor de Deus
qual grande ponte estendida
unindo crentes e ateus.
49
Viver é corda e caçamba,
sonhar é pura emoção
pois se a vida é corda bamba,
o sonho é um belo balão!
50
Viver fiado em quimera
é coisa que não convém
porque de onde não se espera...
de lá mesmo é que não vem!
51
Vou carregando meu fardo
sem praguejar nos caminhos
pois sou feito a flor do cardo
que desabrocha entre espinhos... 

domingo, 13 de novembro de 2016

Alonso Rocha (1926 - 2010)

 
 1
A igreja, as flores e o eleito;
ela de branco e eu tristonho:
– foi o cenário perfeito
para o enterro do meu sonho.
2
Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio...
- De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.
3
Ao teu "fogo" sou submisso
(mesmo sabendo quem és)
e me basta esse "feitiço"
para que eu viva a teus pés.

4
 Cabelos brancos da idade,
recolho do poço limpo
a única joia - a saudade -
que me restou do garimpo.

5
Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.
6
De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz –
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.
7
Em silêncio os cinco dedos
da minha mão de aprendiz,
guardam íntimos segredos
das trovas que eu nunca fiz.
8
Em sofrer minha alma insiste,
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém...
9
Louco artista é o trovador,
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.
10
Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.
  11
Nas manhãs, num velho rito   
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito –
guarda o rebanho de estrelas.
12
Pelas leis da natureza,
sem ouro e glória vivemos;
porém, com toda certeza,
nós, sem água, morreremos.
13
Poesia, como eu entendo,
é milagre de escrever...
Quase dizer, não dizendo...
ou não dizendo...dizer! 
14
Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,  
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.
15
Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?
  16
Quando, ao luar, nadas nua
e os teus brancos seios vejo,
sangra, ao feitiço da lua,
o açude do meu desejo.

17
Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.
18
Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.
19
Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus - o Oleiro -
cobra o retorno do barro.
20
Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.
21
 Sempre que eu sonho na vida,
sou numa luta sem jaça
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.
22
Sem resposta que conforte,    
dúvida imensa me corta:
– Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?
23
Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.
  24
Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,   
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...