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domingo, 18 de dezembro de 2022

Pedro Melo (Caderno de Trovas)

Magnífico Trovador em Nova Friburgo, 2010 (Líricas/filosóficas) e 2022 (humorismo)
 

A briga passa do ponto,
mas nosso beijo a termina...
O amor, depois de um confronto,
é movido a adrenalina...
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A folha em branco é cruel...
O nada é a sua artimanha...
Ao confrontar o papel,
nem sempre o poeta ganha...!
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Ainda que sejas minha
só nos lençóis do meu sonho,
tu moras em cada linha
das páginas que componho!...
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Altas horas... a alma inquieta...
e, revirando o que sente,
a vigília do poeta
acorda um verso indolente...
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Ao meu lado nesta lida,
os amigos, venho a crer,
são a família que a Vida
me permitiu escolher.
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Chega dezembro… e as pessoas
camuflam seu próprio mal…
Quem dera que fossem boas
não apenas no Natal…
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De que vale o estardalhaço
de quem grita que é cristão,
quando a Bíblia, sob o braço,
não está no coração.
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Em nosso Amor tu te impões...
Eu sou quase teu mascote...
- Mas aceito teus grilhões
e ainda peço o chicote...!
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Em vigília a vida inteira,
me trazendo lenitivo,
a Ilusão é uma enfermeira
que mantém meu sonho vivo...
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Esta saudade tão rude
que faz minha alma deserta
vem desde o tempo em que eu pude
mas não fiz a escolha certa!
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Eu tenho a resposta pronta
e digo que o amor é findo...
Mas o espelho me confronta...
e sabe que estou mentindo...!
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“Eu volto...” Mas acontece
que não voltas... e, cansada,
minha vigília adormece
no colo da madrugada...
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Faz regime... e, por fazê-lo,
se desespera a coitada,
pois sempre tem pesadelo
com rodízios... de salada!…
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Fez a macumba... no entanto,
desesperou-se e sofreu...
- Em vez de “baixar” o santo,
a caxumba é que desceu...
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Há almas cheias de fel,
cujo rancor as emperra:
- Almejam vida do Céu
sem merecer nem a terra...!
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Importando-se comigo
em qualquer ocasião,
Deus é o meu melhor Amigo...
e sempre está de plantão...!
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Meus dias hoje não têm
a luz outrora sentida,
devido à ausência de quem
era a Luz de minha vida!
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Morre a sogra... e o genro, “terno”,
fala com certo cinismo:
“Talvez o calor do inferno
seja bom pra reumatismo...”
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Para esquecer o passado,
tenho um exemplo excelente:
- O rio, mesmo apertado,
só sabe correr... pra frente!
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Passa o tempo... e, enquanto corre
a lembrança vai sumindo...
Mas a saudade não morre:
- Apenas fica dormindo...
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Percorrendo triste rota,
sem quem amou é que sente:
- A Saudade é uma gaivota
planando dentro da gente...
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Pro inferno a sogra desceu
e apavorou a plateia:
O demo até se benzeu
ao ver a cara da “véia”...
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Quanto equívoco...! (Hoje sei...)
Burrada atrás de burrada...
Quantas portas eu tentei
abrir com a chave errada...
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Quero, mas não fujo dela...
que em tudo se faz presente:
— A Saudade é sentinela
em vigília permanente...
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“Quero um homem!” – diz, “acesa”,
a um gatão dentro do trem...
E, para sua surpresa,
ele responde: “Eu também...”
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Quis conquistar teu carinho,
mas tu não quiseste o meu.
- Escolheste outro caminho...
e a solidão me escolheu...
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Se a vida, em seus embaraços,
faz minha vida ser triste,
busco prazer em teus braços...
...e esqueço que a vida existe...!
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Sou peão que, em desatino,
não viu que estava iludido...
Contra o touro do destino,
todo confronto é perdido...!
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Tanto a maldade se eleva
num mundo contrário e horrendo,
que, em confronto com a Treva,
hoje é a luz que está perdendo...
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Tanto a paixão nos deslumbra
e o seu ardor nos seduz,
que, em nosso quarto, a penumbra
é pontilhada de luz...
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Tento esconder como estou,
mas saudade não tem jeito:
- Tua ausência faz um gol
e rasga a rede em meu peito...!

terça-feira, 1 de junho de 2021

Professor Garcia (RN)



A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus,
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
2
A estrela da mocidade,
que em minha infância brilhou;
brilha em meu céu de saudade,
depois que a infância passou!
3
A existência é dividida
em dois extremos da idade:
- um, alvorada da vida,
outro, arrebol de saudade!
4
A insensatez, na verdade,
separou nossos lençóis;
e agora a dor da saudade
dói muito mais entre nós!
5
A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
6
Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
7
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
8
Antes que a aurora desponte
dando vida à luz do dia,
tenho que cruzar a ponte
nos braços da poesia.
9
A poesia se engalana,
mas só se torna completa,
quando se faz soberana
na voz do próprio poeta!
10
As cordas desafinadas
e esta voz chegando ao fim!...
São mimos das madrugadas
guardados dentro de mim!
11
A solidão me angustia
e à noite aumenta o meu drama,
vendo a cadeira vazia
que a tua ausência reclama!
12
Às vezes, me falta estima,
vendo a multidão que passa...
Muita gente se aproxima,
mas pouca gente se abraça!
13
A terra inteira secou!…
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
14
Busquei no universo um dia,
uma resposta eficaz;
que transformasse a POESIA
num hino de amor e paz!!!
15
Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
16
Cadeira velha!...Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
17
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
18
Como quem faz uma prece,
braços erguidos se abrindo,
a borboleta parece
um anjo da paz dormindo!
19
Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
20
Desperto e fico tristonho,
é triste o meu despertar,
ver acabado o meu sonho
antes do sonho acabar!
21
Deus - pintor da natureza,
usando a tinta mais viva:
- pinta o céu, de azul-turquesa
e os mares, de verde-oliva!
22
De volta ao lar que eu não via,
desde a minha mocidade...
Enquanto a emoção crescia,
crescia a dor da saudade!
23
Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
24
Do sino, ouvindo a amargura,
da tarde que já morria,
fiz da triste partitura
a mais feliz melodia !
25
Em cada beijo roubado,
que roubo de ti, meu bem,
sinto o gosto do pecado
que o beijo roubado tem.
26
Em seu vai-e-vem bonito,
a lua em seu caminhar...
Enche de luz o infinito,
de prata, as ondas do mar!
27
Enquanto a ciência avança,
fato novo se descobre…
E o fruto do que se alcança
torna a ciência mais nobre
28
Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
29
Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o AMOR e a saudade!
30
Esta dor que em mim persiste
e não me deixa dormir!...
é "aquela" lembrança triste
do que deixou de existir!
31
Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
32
Eu vejo ó linda criança,
neste teu sorriso lindo,
a mais feliz esperança
das esperanças dormindo!!!
33
Há uma sombra em meu caminho
que me segue…e, mesmo assim…
Nem quer me deixar sozinho
nem diz o que quer de mim!
34
Já escalei morros medonhos,
caminhando passo a passo.
Mas nunca pude em meus sonhos
escalar nuvens no espaço!
35
Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
36
Larga a tristeza e acalanta
teus sonhos, por onde fores.
Nada no mundo suplanta
teus lindos sonhos de amores!
37
Mãe preta! teu negro seio
deu-me o mais puro sabor;
nele eu bebi sem receio
a eternidade do amor!
38
Meu Deus! se a chuva caída,
fecunda o sertão no estio,
o inverno é fonte de vida
do sertanejo bravio!
39
Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
40
Morre a tarde!...E ao fim do dia,
na imagem do sol poente,
há tintas de nostalgia
do fim da tarde da gente!
41
Na sinfonia das almas
ensaia-se lindo canto;
ouvem-se preces e palmas:
- Padre João Maria é santo!
42
Na loucura dos meus versos,
e em quase todos seus traços,
há pedacinhos dispersos
do amor que tive em teus braços.
43
Não me faça mais perguntas,
erro assim, não mais cometa...
Talvez, só nossas mãos juntas
possam salvar o planeta!
44
Nas asas de um vento brando,
na espuma branca do mar…
as ondas chegam cantando,
trazendo o sal potiguar!
45
Na vida que se renova,
no Natal que se aproxima,
eu forro a mesa com trova,
e brindo a noite com rima.
46
Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
47
Ninguém é pedra polida,
se não mudar de conduta;
pois, a pedreira da vida
é feita de pedra bruta!
48
No outono triste da idade,
meu lago de solidão
transborda só de saudade
dos meus dias que se vão!
49
Nosso casebre, é de palha
de pau-a-pique a parede.
O amor que aqui se agasalha,
dorme comigo na rede!
50
O aborto, triste ferida,
que nos faz tanto sofrer;
como dói matar a vida,
antes da vida nascer!
51
Ó cigarra destemida
o seu disfarce me encanta,
por não ter nada na vida
e ser feliz quando canta!
52
Ó coqueiro pequenino,
que tanta água nos deu!
Que ironia o teu destino:
- por falta d’água morreu!!!
53
O mundo é roda gigante,
girando sempre a girar,
e eu sou passageiro errante
procurando meu lugar!
54
O outono da vida ingrata,
chega fazendo atropelos:
Joga tinta cor de prata,
na tinta dos meus cabelos!
55
Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
56
Porteira velha, o gemido
desta dor que te corrói...
é o teu passado esquecido
que em teu presente inda dói!
57
Por teu amor sofri tanto,
foi tão grande o meu desgosto,
que cada gota de pranto
se fez cascata em meu rosto!
58
Prazer é sentir os dedos
de nossas mãos artesãs
pintando os lindos segredos
das auroras das manhãs!
59
Quando a tarde veste o manto,
torna escura a luz do dia...
Saudade dói outro tanto
do tanto que já doía!
60
Quantas lições primorosas,
num pequeno beija-flor,
que beija todas as rosas
enchendo o mundo de amor!
61
Quase seca...E a fonte insiste
em seu lamento de dor!
É o canto ficando triste
e a fonte jorrando amor!
62
Rasga o manto que te cobre,
mostra teu riso e esplendor…
Pois, a cortina, mais nobre,
não cobre um riso de amor!
63
Revendo entulhos e tacos,
na tapera dos meus sonhos,
chorei por ver tantos cacos
dos meus dias mais risonhos!
64
Saudade de amor… lembrança,
que dói mais que qualquer dor!
Nem na velhice descansa,
quem tem saudade de amor!
65
Saudade – no fim do dia,
já sei por que me dói tanto:
- aumenta a melancolia,
dobra as dores do meu pranto!
66
Saudade – seja onde for,
sempre é saudade, meu bem.
Um sentimento de amor
que dói no peito de alguém!
67
Sempre sozinha, aos farrapos,
mas de rosário na mão...
A fé tecida entre os trapos,
remendava a solidão!
68
Se o tempo me desse tempo,
de fazer mais do que faço,
queimava a sobra do tempo
no calor do teu abraço!
69
Sinalizando o caminho,
do nauta na escuridão;
o farol velho, sozinho
é fantasma e solidão!
70
Sonho repetidamente,
vendo um clone em tristes ais,
chorando porque não sente
o carinho dos seus pais.
71
Sou sertanejo e não nego
crestei meus pés neste chão.
Nestas marcas que carrego ,
carrego o próprio sertão!
72
Teu amor que me enternece,
que acaba todo meu pranto,
da sobra faço uma prece,
e ainda sobra outro tanto.
73
Vem das águas cristalinas
e vem da espuma do mar,
o sal das brancas salinas
do meu rincão potiguar!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Petrarca Maranhão (1913 - 1985)



A glória é a ilusão de um bem...
nossa vida um simples ai...
o amor, um sonho que vem...
a morte, um sopro que vai...

As almas de certa gente
se parecem com um porão:
por fora, - que luz candente;
por dentro, - que escuridão!

A ventura é uma quimera
que estranhos caprichos tem,
pois vem quando não se espera,
quando se espera não vem...

Cômico é o mundo, não nego,
quando irônico insinua,
maldoso, que o amor é cego...
mordaz - que a verdade é nua...

Como vive tanta gente
de modo triste e inseguro
sem ver o bem do presente,
por só pensar no futuro! ...

Coração fonte da vida.
Coração fonte do amor.
E há tanta gente, querida,
que o torna fonte de dor.

Da vida que se renova
recolho a matéria prima
- com que faço minha trova...
- com que teço minha rima...

Eu pergunto, muito a medo,
quase a sentir-me um covarde:
- Nasceste por demais cedo,
ou fui eu que nasci tarde?

Felicidade... esperança
de um bem que custa a chegar:
e, afinal, quando se alcança,
se vê fugir... escapar...

Guarda escondido contigo
o amargor que te acabrunha:
não deixes teu inimigo
de teu mal ser testemunha.

Há muita gente infeliz,
por esta tolice imensa:
ou nunca pensa o que diz,
ou sempre diz o que pensa...

Minha trova canta o dia, 
canta a noite e canta o amor. 
Canta a tristeza e a alegria, 
- destino de trovador.

Muito boas as mulheres,
nos são sempre como amigas;
mas cuidado se as tiveres,
um dia, como inimigas...

Não dês a ninguém o gosto
de ver pela tua face,
na tristeza do teu rosto,
o que em tua alma se passe...

Não se deve valor dar
às grandes coisas apenas...
Saibamos valorizar
principalmente as "pequenas"...

Não te apresses. Que são danos
dentro da filosofia?
A vida, há milhares de anos,
recomeça todo dia...

Não te queixes desta vida.
Nunca sabes com razão,
se a de quem com a gente lida
resiste à comparação...

Ninguém é dono de nada.
E quem se conhece, quem?
Tudo é vaidade emproada
dos que se julgam alguém...

Nos recessos de minha alma
há dois seres bem diversos:
um que luta, sem ter calma,
outro, manso, que faz versos...

O amor é tal qual um rio
em caminho para o mar...
de repente faz desvio
para um rumo irregular...

O relógio bate as horas...
Na igreja, repica o sino...
E só tu, Amor, demoras
a surgir no meu Destino!...

Por entre mil embaraços,
luto contra anseios vãos:
quero cair em teus braços,
mas nunca nas tuas mãos...

Se ela, afinal, com delícia
te deu a boca a beijar,
com um pouco mais de malícia
tudo o mais hás de alcançar...

Se queres um bom conselho,
muito útil e bem pensado,
- nunca metas o bedelho
onde não fores chamado...

Sobre a montanha da vida ,
raro se pode saber
se ainda se está na subida,
ou já se vai a descer...

Um paradoxo qualquer,
sempre da vida nos vem:
- quando a gente tem, não quer...
- quando a gente quer, não tem...

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Paulo Roberto de Oliveira Caruso

1
A chave ao meu coração
só tu tens; não tenho medo.
Temos tão rica união
que eu nunca mudo o segredo!
2
As partidas de xadrez
têm decerto a sua essência.
Jogador tem sua vez;
é preciso paciência!
3
Certa vez ouvi um papo.
Um machista disse: “Eureca!
Homem não engole sapo...
Ele come perereca!”
4
Dando-se as mãos a cidade
com zeladora vigília
mostra solidariedade
virando grande família.
5
Deus construiu este mundo
com suor do seu trabalho.
Seu esforço foi profundo.
Assim nos nasceu o orvalho!
6
Fogueira em festa junina...
Eu me queimei um bocado!
Na quadrilha eu vi menina
e saí de lá casado!
7
Foto de bonita dama
atraiu Seu Juvenal.
Viu ser dum homem a trama
no tal mundo virtual!
8
Horas por dia eu passei
no tal mundo virtual,
até que um dia paguei
uma conta bem real!
9
João golpes praticou
no tal mundo virtual,
até que um dia encarou
um xilindró bem real!
10
Lendo sobre camisinha,
Joaquim logo gargalhou.
Em peça pequenininha
de agasalho ele pensou!
11
Menina virou rapaz
e rapaz virou menina...
Hoje muito isso se faz
não só em festa junina...
12
Meu coração suburbano
tu conheces muito bem!
Tem muito do amor humano
que preenche o teu também!
13
No ano de mil e quinhentos,
dia vinte e dois de abril,
Portugal, com ricos ventos,
arrecadou o Brasil.
14
Nosso amor é o sagrado.
O que revela união.
Ele sabe ser gerado
com paixão e compaixão.
15
O poeta Zé Mitôca
é mesmo "o cara" de Ocara!
Versos mil de sua boca
tornaram-se joia rara!
16
O político safado
faz o povo de capacho.
Da panela do coitado
raspa até o fim do tacho!
17
O silêncio é uma virtude,
disso todo mundo sabe.
Cala-te, não sendo rude,
quando falar não te cabe.
18
Para ser lugar perfeito
nossa querida cidade,
requer sempre um bom prefeito
praticando a honestidade.
19
Perguntou Seu Dorival
“o que é que a baiana tem?”
Não somente em carnaval,
rebola como ninguém!
20
Que dolorosa ironia:
a terra muito pisamos,
mas a morte chega um dia...
E sob a terra ficamos!
21
Quem diria? A sementinha
pela mamãe recebida
gera uma pessoazinha
regada a leite e querida!
22
Se mantemos o decoro,
o “eu” se doa pelo “nós”,
assim nasce o melhor coro,
parecendo uma só voz.
23
Se pregarmos a bondade,
o sagrado nós veremos:
em vez de fria cidade,
grande família teremos!




24
Teus olhos da cor da terra
são meu solo, são meu chão.
É neles dois que se encerra
minha antiga solidão!
25
Toda saudade, de fato,
traz o início dum sofrer.
Sabemos que ela num ato
vem do fim de um conviver.
26
Um enfermeiro embriagado
susto deu-me a injeção.
Meu braço foi preparado
com bafo, sem algodão.
27
Um soneto ia eu tentar,
mas a preguiça chegou.
Antes de os olhos pregar,
esta trova me sobrou.

domingo, 27 de novembro de 2016

Paulo Emílio Pinto (1906 - ????)



1
A amizade mais o amor
cultivar bem que eu tentei.
Mas quanta praga, Senhor,
deu nos jardins que plantei!
2
Aquela?  Que bom partido!
Além das rendas que tem,
é boa no bom sentido
e do outro jeito também.
3
As suas cartas, senhora,
releio-as de quando em vez.
Mas nelas só vejo agora
os erros de português...
4
Às vezes fico a pensar
que minha alma ainda é menina.
Uma garota a brincar
num casarão em ruína.
5
Canta um galo.  Já distingo
um clarão lá no nascente.
mais um dia... mais um pingo
de tempo a pingar na gente.
6
Com ar assim de quem sonha,
filosofava uma cobra:
- Ah! se eu tivesse a peçonha
que na alma dos homens sobra!
7
Com ares de gozação,
ele à colega dizia:
- Essa tua promoção
foi reza mesmo, Maria?
8
Como funcionária a Elvira
produz pouco, é negligente.
Mas como a esperta se vira,
terminado o expediente!
9
Cuidai dos ricos, Senhor,
protegei-os mais de perto,
que aos pobres a própria dor
ensina o caminho certo!
10
Dizes que sentes por ela
apenas amor carnal.
- Com mulher tão magricela,
melhor dirias - ossal!
11
Do nosso encontro, Tereza,
naquela segunda feira.
Minha alma saiu ilesa,
o estrago foi na carteira.
12
Ela, arrependida, ao cura,
sem outra desculpa, disse:
- Era a noite tão escura,
que eu pensei que Deus não visse!
13
Enquanto o bar está cheio
de risos e alacridades,
eu, sonhando, pastoreio
meu rebanho de saudades.
14
Enquanto o mar lambe a areia
com volúpia, devagar,
de ciúmes a Lua cheia
chora prantos de luar.
15
"Era uma santa!" - dizia
o viúvo, olhando o caixão.
Mas, perto, alguém malicia:
- Agora, sim. Antes, não.
16
Esbelta, leve no andar,
calor mostrando também,
vem ela.  E eu fico a pensar:
que puro-sangue ali vem!
17
Escuta, fonte, não sigas
jamais os caminhos meus.
Tuas quedas são cantigas,
as minhas... pergunta a Deus.
18
Esta engrenagem, que é a vida,
esmaga a todos, sem dó.
E a gente, aos poucos, moída,
de novo volta a ser pó.
19
"Fizeram-te mal, Leonor?"
- indaga, atento, o legista.
E ela, com o rosto em rubor:
"Conforme o ponto de vista..."
20
Foi-se a sogra.  E o cenário
é bem outro no meu lar.
Até meu velho canário
voltou de novo a cantar.
21
Há dois tipos de mulher
que a nossa vida atormenta.
- Aquela que não nos quer
e aquela que a gente aguenta.
22
Ia triste.  De repente,
uns olhos negros, risonhos,
deixaram na minha mente
uma ninhada de sonhos.
23
Infeliz não é o que chora
de inveja ou amargo rancor.
É o que vai por vida a fora
sem uma história de amor.
24
Mais bebo, mais me angustio,
tamanha é a dor que me invade.
- Sou planta de beira-rio,
numa enchente de saudade!
25
Maria, com jeito e graça,
de meu cigarro reclama.
Mas não é pela fumaça,
é pela cinza na cama.
26
Morre um doutor. Cena forte.
Porém, nesse triste instante,
quem mais chora é a própria Morte,
que perdeu seu ajudante...
27
Mulher correta é a Maria.
Correta e boa também.
- Fazendo o que não devia,
ela não deve a ninguém...
28
Mundo de gente que chora...
Mundo de gente sofrida...
E o Tempo fincando a espora
na besta magra da vida...
29
Não queira jamais um caso
resolver lá na Jutiça.
É prazo, prazo e mais prazo;
e, mais que prazo, é preguiça...

Na tarde cinzenta e fria,
quê de tristezas no ar!
Bate um sino... Ave-Maria...
Ah!  se eu soubesse rezar!
29
Nesta vida, mar revolto,
onde a carne em ânsias grita,
quando o demônio anda solto,
toda mulher é bonita.
30
Nesta vida que se arrasta,
tão cheia de coisas loucas,
há mulheres de mil castas,
mas castas mesmo, há bem poucas!
31
Nordeste.  Vai longo o estio.
Quanta tragédia traduz
o leito seco de um rio
e à beira dele urubus!
32
Nunca vi coisa mais louca
do que os teus olhos, Maria.
Como brilham quando a boca
da noite devora o dia!
33
Os dois brigaram por ela.
E como saiu pancada!
- Por causa de uma costela,
quanta costela quebrada!
34
O sol, ao romper do dia,
olha a Terra em festival,
sem saber que essa alegria
ele a trouxe em seu bornal.
35
Ó tu que vives por baixo,
se subires sê decente.
Não sejas como o riacho
que faz misérias na enchente.
36
Para a minha alma sofrida
quisera apenas um bem:
o de ir brincando com a vida,
enquanto a morte não vem.
37
Pernas tortas, magricela,
e de biquíni na praia!
- Você não sabe, Isabela,
que falta lhe faz a saia!...
38
Por essa vida, aos esbarros,
sigo só por meu caminho.
Sou como um desses cigarros,
que vai queimando sozinho.
39
Por que gargalhas, coruja,
lá nas grimpas do telhado?
Alegra-te a noite suja
de tanto vício e pecado?
40
Qual a sua opinião
sobre a nova professora?
- Pela aparência, um canhão,
pela voz - metralhadora.
41
Quando o sol descamba além
e os sinos soltam lamentos,
intrusa, a saudade vem
despertar meus pensamentos.
42
Quando vinhas caminhando,
disse alguém com grande humor:
"Eis um pecado passando
em busca de um pecador.
43
Que a esmola que dás ao pobre
seja sempre aos olhos teus
apenas um gesto nobre,
nunca um empréstimo a Deus.
44
Que luta quando eu a vejo
tão tentadora e inocente!
Já viu respeito e desejo
brigando dentro da gente?
45
Que mulherzinha apressada!
Outra assim eu não conheço.
Nem espera ser cantada,
vai dando logo o endereço.
46
Quer sejam feias ou belas,
das mulheres fujo sim.
Das feias - de medo delas.
Das belas, medo de mim.
47
Regra, filho, o teu viver
para não teres a mágoa
de ver que o falso prazer
num mar de tédio deságua.
48
Revendo a velha cidade
onde deixei meu umbigo,
qual cicerone, a saudade
é quem passeia comigo.
49
Roteiro duro o da vida!
Tem setas bem indicadas,
mas quanta gente perdida
em suas encruzilhadas!
50
Sempre que o Dr. Clemente
fazia uma operação,
ocoveiro, previdente,
ficava de prontidão!
51
Sem rumo, triste, mofino,
segue o rebanho pastando.
Quem pastoreia é o Destino.
De cima Deus fica olhando.
52
Trovador procuro, aflito,
o belo em temas diversos,
sonhando ver o infinito
amarrado em quatro versos.
53
Tua sorte, companheiro,
à de mais ninguém se iguala:
tens saúde, tens dinheiro...
e uma mulher que não fala!
54
Uma estátua, um monumento
que lembre amor e carinho?
- Uma mulher no momento
de amamentar seu filhinho!
55
Vai o boi, dando de duro,
com o velho carro que chia.
Soubesse de seu futuro,
tanto esforço não faria.
56
Vejo-o sempre em meu caminho
e invejo-lhe a placidez.
- Ensina-me a ver, ceguinho,
a Vida assim como vês!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

P. de Petrus (1920 - 1999)


1
A aurora, calma e silente,
áurea luz no céu espraia...
- Vitória do sol nascente
sobre a noite que desmaia...
2
Alto lá, diz a franguinha
para o frangão maltrapilho:
- eu não vou sair da “linha”
em troca de um grão de milho.
3
A minha sogra endiabrada,
– onça que o diabo me deu,
devia estar “empalhada”
na vitrine de um museu!
4
A mulher do meu vizinho,
que em amores não se aperta,
mesmo errando no caminho,
chega em casa na hora certa.
5
A primavera vem vindo!…
 Há festas, risos e amores…
 é Deus que chega sorrindo
 pelo sorriso das flores…
6
Certos olhos, já cansados
pelo tempo que passou,
lembram faróis embaçados
que o mar da vida embaçou.
7
Desce à campa a sogra má,
e explica um verme sereno:
- Hoje, irmãos, jantar não há,
porque este prato é veneno!
8
Disse um verme sorridente,
vendo o judeu no caixão:
- Este é um manjar diferente,
que se come à prestação!
9
Do amor, em triste momento,
fomos nós dois à falência,
- não por falta de talento -
faltou a luz da experiência.
10
Do Calvário veio a glória,
cheia de paz e de luz,
onde a divina vitória
nasceu em forma de cruz.
11
Eu bem que desconfiava
desse jeitão de Maria,
o segredo que eu guardava,
todo bairro já sabia.
12
Fui alegre, e tive sonho,
dei todo o amor que era meu,
alegrei alguém tristonho:
– Hoje o tristonho sou eu!
13
Levaste, no desenlace,
o meu Futuro e a Esperança,
como se alguém carregasse
meus brinquedos de criança…
14
Louvo essas mãos calejadas,
que, sem escola e instrução,
aprenderam, com enxadas,
todo o alfabeto do chão!…
15
Maria da Luz, que é bela
e almeja um claro futuro,
contrariando o nome dela,
namora sempre no escuro.
16
"Meu bem, se foste enganado,
que Deus me cegue sem dó...”
E ele agora está casado
com mulher de um olho só!
17
No cinema o filme estreia...
Bem juntinhos, ele e ela,
dão reprises, na plateia,
dos beijos vistos na tela!
18
"O ar da serra eu lhe receito",
- disse o doutor ao Santana.
E este, em casa, satisfeito,
pega um serrote e se abana!
19
Para um 'nu" de fino gosto,
ao posar, sem medo, a nora,
com vergonha cobre o rosto,
mas deixa o resto de fora...
20
Que me adianta a fibra estoica,
o estridor de tantas queixas,
a insistência quase heroica,
se quero amar-te, e não deixas?!
21
Rastro de espuma esbatida,
que o barco deixa nas águas,
faz lembrar a minha vida
toda orvalhada de mágoas.
22
Saudade – espelho encantado
que mostra, aos olhos da gente,
toda a imagem do passado
revivendo no presente…
23
Sejam brotos ou coroas,
isto dispensa argumento,
são sempre as mulheres boas
que inspiram maus pensamentos!
24
Se uma pedra arremessada
chega a ferir fortemente,
fere menos a pedrada
que a língua de muita gente!
25
Sinto-me velho e inseguro,
porque o tempo me enganou;
plantei, feliz, meu Futuro,
e a semente não vingou…
26
Tem dez filhos o ceguinho...
E a cada filho que nasce,
explode sempre o vizinho:
- Calculem se ele enxergasse!
27
Tens tanto fascínio, tanto,
que as flores, puras e belas,
se curvam cheias de encanto
quando tu passas por elas!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...