segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Izo Goldman



1
A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à-toa!...
2
A grandeza imaginária
que todo vaidoso tem,
é uma estrela solitária
brilhando sobre... ninguém...
3
A Independência eu relembro,
meu Brasil, com muito orgulho:
- sonho em Sete de Setembro,
realidade em Dois de Julho!
4
Ao ser preso, o vigarista,
explica, muito matreiro:
- Sou apenas cientista,
faço "clones" de... dinheiro!
5
A queimada é um jogo insano...
A floresta pega fogo...
E, no fim, o ser humano
é o perdedor deste jogo!
6
A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...
7
A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...
8
A sorte, esquiva e malvada,
não dá “chance”, só trabalho...
Eu a sigo pela estrada,
e ela foge pelo atalho!...
9
A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz…
10
A violência eu detesto,
porque é pelo amor que eu luto,
sem amor o mundo é um “resto”
eternamente de luto!
11
Bate o sino em tom profundo,
lembrando a mulher que um dia
entregou seu Filho ao mundo,
sabendo que O perderia!
12
Cara cheia...Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
13
“Cara-metade”, em verdade,
é uma expressão... trapaceira...
- a gente quer a metade
mas tem que “engolir”... inteira…
14
"Casamento... - alguém já disse -
é chegar à encruzilhada
onde acaba a criancice
e começa...a criançada..."
15
Castro Alves, teu valor
está na contradição
do eterno escravo do amor
lutar contra a escravidão.
16
Coitado do Zé Maria:
- a mulher quase o esfola,
pois voltou da... pescaria...
co'um biquíni na sacola...
17
Com seu valor aumentado,
saudade é a restituição
do que já nos foi cobrado
pelos sonhos e a ilusão...
18
Contradição bem marcada,
que teima em nos separar:
- Meu amor toca a alvorada,
e o teu não quer acordar..
19
Coração não tem idade
quando vive de lembrança;
se a lembrança tem saudade,
faz, da saudade, "esperança''!
20
Depois que tu foste embora,
no meu peito, o desencanto
não desabafa nem chora,
não tem voz e não tem pranto...
21
Dois sentimentos moldados
no mesmo barro sem cor:
- é o ódio, pelos pecados,
pelas virtudes, o amor!…
22
É "Carcará" o apelido
do Zé, porque... come... e cisca...
Mas a mulher diz: - "Duvido!
Aqui em casa nem... belisca..."
23
Ele trouxe ao seu rebanho
muito amor e muita luz.
Barqueiro de um barco estranho,
talhado em forma de cruz!
24
É no rosto da criança
que o sorriso é mais bonito:
- tem a força da Esperança
e o tamanho do Infinito!
25
É nos momentos tristonhos
que eu peço à minha lembrança
que traga de volta os sonhos,
no aconchego da esperança…
26
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…
27
Enquanto eu tirava espinhos
das rosas que te ofertava,
deixavas nos meus caminhos
os espinhos que eu tirava...
28
"Esta peixada está quente!"
reclamava o Zé Maria;
e o dono do bar: - "Ó xente,
'se qué', tem pexera fria!”
29
Estás só...Mas, mesmo assim,
como se fora um castigo,
sinto um ciúme sem fim
do "ninguém" que está contigo!
30
És um arbusto florido...
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois... te abraça..
31
Eu, na vida, sou barqueiro
dos meus sonhos sem destino:
- sonho bom é o passageiro,
sonho mau é o clandestino.
32
Eu sou príncipe tristonho
porque, na história real,
não há, na escada do sonho,
sapatinhos de cristal!...
33
Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo "fotografia
de chuva"...por "dois cruzeiro"...
34
Foi no Grito do Ipiranga
que o povo outrora servil
sacudiu do jugo a canga
e fez gigante o Brasil!
35
Fui pirata, aventureiro,
no Mar da Felicidade;
hoje, a ferros, sou remeiro
na galera da saudade.
36
Jogam “xadrez” as nações,
e, no “jogo” em que se empenham,
sacrificam os “peões”,
para que os reis se mantenham.
37
Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira ...
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira …
38
Marcando suas fronteiras
as bandeiras eram trapos,
e, os trapos eram bandeiras,
na Querência dos Farrapos!
39
Meu conflito e meu fracasso
é que as trovas que componho
têm sempre os versos que eu faço,
e nunca os versos que eu sonho…
40
Na Barra o que mais encanta
é o contraste bem marcado: 
- o Rio, passando, canta,
e o sertão canta parado...
41
Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando...
42
Na cidadania existem
os deveres e os direitos,
e os "direitos" só persistem
se os "deveres" forem feitos!
43
Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
- a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...
44
Na jangada a vela panda
parece um ouvido atento,
à espera de prece branda
que há no murmúrio do vento.
45
Na velhice, as incertezas,
para ocupar os espaços,
vão empilhando tristezas
e acumulando cansaços..
46
Nem o Sol pode entender
a estrela que ele namora:
- É “Vésper” no anoitecer,
mas é “D’Alva” à luz da aurora…
47
Nesta "corrida" da vida,
quando o Destino nos solta,
só sabemos na "saída",
que a "corrida"... não tem volta!
48
Neste sesquicentenário,
meu Brasil, sinto presente
teu passado legendário
e o teu futuro ascendente!
49
No seu biquini apertado,
Maria me deixa mudo,
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
50
No viver o que mais cansa
são estas andanças vãs,
correndo atrás da esperança
e perseguindo amanhãs.
51
O pai da moça, que é mau,
Chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau",
tava namorando em..."braile"!!!
52
O teu gesto de ternura,
na minha vida sofrida,
foi um copo de água pura
matando a sede da vida! ...
53
 " O trabalho é que enobrece!"
Dizem todos ao Raul.
E ele responde: - "Acontece,
que eu detesto sangue azul!"
54
Partir é quase morrer...
É deixar na despedida
um pouco do próprio ser
e muito da própria vida…
55
Partiste, e eu fiz o que pude,
num brinde à felicidade,
mas, quando eu disse -"saúde!"
ela respondeu... "Saudade..."
56
Peixinho mais mascarado
do que aquele eu nunca vi:
- só belisca anzol marcado,
"minhoca com... pedigre"…
57
Perdoa, amor, o meu jeito
de te olhar quando te vejo,
teu olhar me diz... “Respeito!”,
meu olhar te diz... “Desejo!”...
58
Pergunta o padre ao noivinho:
- "É de espontânea vontade?"
e ele respondeu baixinho:
- "Não senhor...necessidade!...”
59
Poeta do cativeiro,
nos teus versos triunfantes,
eu vejo um "Navio Negreiro",
sobre "Espumas Flutuantes"!
60
Por artes do coração
Castro Alves foi vencido;
lutou contra a escravidão,
sendo escravo de Cupido!
61
Pulando do nono andar,
o otimista diz a alguém
que, no quarto, o vê passar:
- Até agora... tudo bem!!!
62
Quando o silêncio é uma prece,
sob a lua, em noite calma,
no meu bairro até parece
que as velhas ruas, têm alma...
63
Quando os "Dezoito do Forte"
marcharam, cabeça erguida,
não foi por desprezo à morte
e sim por respeito à vida!
64
Quando pergunta o burrinho,
diz a mula envergonhada:
- "Tu nasceste, meu filhinho,
por causa de uma...burrada!..."
65
Queimadas... Devastação...
Natureza poluída...
e os homens, por ambição,
destroem a própria vida!
66
Quem morreu naquela Cruz,
foi o Corpo e nada mais:
- ninguém apaga uma Luz
crucificando ideais!
67
Quem pela força conquista,
não conquista de verdade;
não há força que resista
à força da liberdade!!!
68
Sai do museu, braço dado
com sua sogra, o Sinfrônio:
- e o guarda grita, alarmado:
- "Tão roubando o patrimônio!"
69
Se a gente fosse dar crédito
ao que diz a maioria,
só de "autor de livro inédito"
tinha uns mil na Academia!...
70
Se a saudade embala a rede,
meu amor, de olhar frustrado,
vê, no branco da parede,
teu semblante desenhado…
71
Se a tua ausência magoa,
magoa mais a saudade...
Muitas vezes a garoa
molha mais que a tempestade…
72
Se disseres que, hoje em dia,
vivo no "mundo da lua",
depois de um beijo, eu diria:
- "Vivo sim! E a culpa é tua!...”
73
Sem esquinas ... sem saídas ...
muitas vidas são assim ...
Ruas retas e compridas,
e um grande portão no fim …
74
Se tu queres divulgar
uma notícia qualquer,
basta o fato confiar,
em segredo... a uma mulher…
75
Tem mais nobreza e valor
o triunfo conseguido,
quando, humilde, o vencedor
aperta a mão do vencido!
76
Têm uma força tamanha
as nossas trovas singelas,
que acendem, "Flor da Montanha",
mais cento e cinquenta velas!
77
Teu "Adeus" eu não censuro,
censuro é um erro fatal:
- meu amor não fez "Seguro"
que pague a "perda total"…
78
Todo "barbeiro" sustenta
que a "batida" foi assim:
- "Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!..."
79
Uma devota a rezar
é o que a rendeira parece,
faz da almofada um altar,
de cada renda, uma prece!
80
Velho Chico, eu te saúdo,
pois vencendo o rude agreste,
fazes, acima de tudo,
a redenção do Nordeste!
81
"Vem aí um furacão!!!",
avisa a rádio, "Cuidado!!!"
e o genro por ...precaução...
põe a sogra...no telhado!!!
82
Vencendo medos e mágoas
foi que o sublime barqueiro
que andava por sobre as águas
trouxe luz ao mundo inteiro.
83
Vendo alguém varrer o chão,
ele deita de comprido,
e, dá logo a explicação:
- "Quero ser...doido varrido..."
84
Virtude é fazer o bem
pelo prazer de fazê-lo,
mesmo sendo para alguém
que não fez por merecê-lo.
85
Zé Pescador não sossega,
mente tanto que dá gosto,
só que os peixes que ele... "pega"
têm carimbo do entreposto.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Carolina Ramos



1
Adeus, filho, segue a vida...
Volta um dia, sem promessa...
que a primeira despedida
no ventre da mãe começa!
2
A grande, a maior vitória
que até hoje consegui,
foi remover da memória
as batalhas que perdi.
3
Alforriada, ela passa
gingando frente ao feitor
e o dengo de sua raça
faz dele escravo do amor!
4
Alforria... e a voz dos bravos
se erga, potente, entre as massas,
negando criar escravos
de um ódio cruel entre raças.
5
 A liberdade germina
quando um povo pulsa e anseia,
qual semente pequenina
que rasga o solo e se alteia!
6
A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...
7
Angústia, imensa, dorida,
pior que a dor de morrer,
é não ter apego à vida
e ser forçado a viver…
8
Ante a força intransigente,
para o caos a paz resvala...
- Deus, deste alma a tanta gente
que nem sabe como usá-la!
9
Ante a lua, o mar se alteia,
tenta alcança-la na altura,
mas é nos braços da areia,
que encontra a paz que procura!...
10
Ante os dilemas da vida,
embora ilusões destrua,
à mentira bem vestida,
prefiro a verdade nua!
11
A pele negra retrata
a dor de uma triste saga,
pois o estigma da chibata
nem mesmo a alforria apaga!
12
A penumbra da saudade
torna os meus dias tristonhos
e eu bendigo a claridade
das estrelas dos meus sonhos!
13
As bandeiras desfraldadas..,
O povo em vai-vem nas ruas...
e as esperanças sonhadas
são minhas... e também tuas!
14
A sós, na penumbra doce...
Neste agora sem depois,
é como se o mundo fosse
um mundo só de nós dois!...
15
A verdadeira alforria
é aquela que estende as mãos,
unindo em plena harmonia
branco e negro, como irmãos.
16
Bendigo o dom da poesia:
- num mundo de tais perigos,
deu-me a serena alegria
de achar um mundo de amigos!
17
Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
- É gato? - Não... é mulher!
18
Boneca sem cor, partida...
uma bola abandonada...
- Saudade mostrando à vida
quanto vale um quase nada!
19
Buscá-la cansa, é verdade...
mas a vida nos ensina:
- Se queres felicidade,
olha a seta...só lá em cima!
20
Como pode haver poesia
nos rumos da humanidade,
se tarda tanto esse dia
da paz ser PAZ de verdade?
21
Das cores, qual a mais bela?
- "A negra" - diz o ceguinho...
"pois, dentre todas, é aquela
que eu vejo no meu caminho."
22
Dessa cruel liberdade
de ofender, há quem abuse
a esquecer de que a verdade
um dia talvez o acuse!
23
Deu a tantos seu carinho
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!
24
Ele chega de mansinho,
velho cão ressabiado...
mas, se conquista um carinho,
nos dá carinho dobrado!
25
Ele mente e se arrebata
com tal veemência e desplante,
que, se um besouro ele mata,
vira o besouro elefante!
26
Embora sozinha eu siga
e sigas também a sós,
dentro do amor que nos liga
não há distância entre nós!
27
Enquanto a vida nos cansa,
o poeta, fugindo ao chão,
vai procurar a esperança
entre as nuvens de algodão!
28
É possível que aconteça:
Seja folclore ou novela,
tanta gente sem cabeça...
por que não mula... sem ela?
29
Esse que vive algemado
às paixões, odiando a esmo,
mesmo sendo alforriado,
segue escravo de si mesmo!
30
Esta penumbra... Este frio,
este agora sem porquê...
Este silêncio vazio
é o meu mundo sem você!
31
Filho, a montanha da vida,
escala devagarinho,
que há muita flor escondida
entre as pedras do caminho!
32
Guarda sempre esta mensagem
da própria vida que diz:
- è feliz, quem tem coragem
de acreditar que é feliz!
33
Há contraste em nossas vidas
mas, perfeito é o desempenho:
luz e sombra, quando unidas,
dão força e vida ao desenho…
34
Há vidas que se parecem
com as roseiras viçosas:
quando podadas, mais crescem
e mais se cobrem de rosas!
35
Já velhinho, sonha ainda,
mantendo o brilho no olhar,
que a juventude só finda,
quando é impossível sonhar!
36
Lembrando a ternura antiga,
minha saudade se exalta...
- Bendigo a penumbra amiga
que me esconde a tua falta!
37
Liberdade de calar
todos têm, mas, cuida, pois,
ser livre é poder falar
e seguir livre depois!
38
Liberdade, em termos sãos,
vale mais se, humildemente,
podendo retê-la em mãos,
nós a damos de presente!
39
Liberdade é o grande anelo!
Na mansão, casebre ou ninho,
é o cobiçado castelo
quer do rico ou pobrezinho!
40
Mente com tal propriedade,
que ao mentir jamais hesita
e quando diz a verdade,
nem ele mesmo acredita.
41
Mesmo descendo a montanha,
não temo abismos do mundo;
- quando a Fé nos acompanha,
pode haver flores no fundo!
42
Não prolongues a partida...
Vai... não olhes para atrás,
dói bem mais a despedida,
quão mais longa ela se faz!
43
Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas,
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.
44
Na penumbra, o berço é um templo,
ajoelho e em ternura enorme,
entre rendas eu contemplo
meu pequeno deus que dorme!
45
Não se queixa de ser pobre,
quem, no seu modesto lar,
trabalha e feliz descobre
que é livre para sonhar!
46
Na vida, a luta não cessa
em prol do sonho e do pão
e a liberdade começa
onde acaba a servidão!
47
Na vida, quanta maldade
não punida, se repete!
E, em nome da liberdade,
quantos crimes se comete!
48
No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
se estás longe, ele se arrasta;
se perto, corre demais!
49
No claro-escuro da vida,
fusão de alegria e dor,
a penumbra é colorida
se for penumbra de amor!
50
No Livro da Eternidade,
o herói a expirar, exangue,
a História da Liberdade
escreve com o próprio sangue!
51
Nosso amor, quadras desfeitas,
de um poema sem achados...
Rimas tristes, imperfeitas,
fechando versos quebrados!...
52
Nós somos duas tipóias,
somando forças escassas:
- quando eu fracasso, me apóias,
te apoio, quando fracassas!...
53
O mar da vida parece
que, às vezes, quer me afogar,
mas, Deus, que nunca me esquece,
atira a boia no mar!...
54
O mar, raivoso, se alteia,
como todos, quer a altura,
mas, é nos braços da areia
que encontra a paz que procura.
55
O mundo é paisagem triste,
chora o rico e o pobre chora...
- Meu Deus, se a ventura existe,
onde será que ela mora?!
56
Os ponteiros marcham lento,
mais um ano que se acaba
- pede PAZ meu pensamento,
para um mundo que desaba!
57
Ouço teus passos serenos
e o meu abraço se expande,
mas sinto os braços pequenos,
para ternura tão grande!
58
Para os que entregam ao nada
os sonhos que ontem sonharam,
o orgulho é terra pisada
moldando os pés que a pisaram…
59
Passa o tempo... bem depressa...
a roubar o que nos deu,
e, uma dúvida se expressa:
- passa o tempo... ou passo eu?!
60
Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
61
Pobre pássaro!... é de crer
que a prisão não mais suporta
- e vale a pena viver
se a liberdade está morta?!
62
Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
- Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!
63
Preso ao tronco, em ais tristonhos,
geme o negro, sem alarde...
- para quem não tem mais sonhos,
a alforria chegou tarde...
64
Quando a penumbra descia,
a nossa emoção vibrava,
sonhando o que não dizia,
dizendo o que nem sonhava!...
65
Quem se agarra a uma quimera,
quem persegue uma utopia,
age como se soubera
que sem sonhos... morreria!
66
Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro?
67
Que o presente se reparta
com o passado, sem queixa...
- A memória não descarta
o que a saudade não deixa!
68
Queres vencer? - Pensa bem
e não dês passos a esmo,
ninguém pode ser alguém
sem conquistar a si mesmo.
69
Se amigo é o que escuta a queixa,
seca o pranto e ajuda a rir,
mais amigo é o que não deixa
sequer o pranto cair!
70
Se a ternura nos aquece
e um grande amor nos ampara,
é quando a penumbra desce
que a vida fica mais clara!
71
Se eu sinto fugir a calma
e até viver me angustia,
eu abro as janelas da alma
e deixo entrar a Poesia!
72
Sempre acolho de mãos postas
e, humilde, tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar!
73
 Ser livre é também saber
que a liberdade alcançada
faz parte do próprio ser
e não se troca por nada!
74
Ser mau é fácil...insiste
em ser bom, sempre a lembrar:
- bondade, às vezes, consiste
em ver, ouvir... e calar!...
75
Sofre e perdoa sem grito,
o mal que de alguém se emana,
que há outro Alguém no Infinito,
maior que a maldade humana!
76
Sussurrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta.
77
Teu amor... tal força tinha,
que a saudade me conduz
e esta penumbra só minha
ainda é cheia de luz!
78
Vai-se um dia... Vai-se um mês...
E eu te imploro, sem revolta,
se não regressas de vez,
esta noite, ao menos, volta!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Héron Patrício


1
"Adeus, meu sonho perdido,
belo, imponente, palpável!",
disse a mulher ao marido
e ao seu "lixo reciclável"!
2
A gente vê, de manada,
estrela...lua...e planeta...
Basta uma boa topada
numa quina de sarjeta!
3
A alvorada, em grande gala,
tece a rica fantasia
que faz do Sol, mestre-sala
na passarela do dia.
4
A minha trova sem ela
– a musa que eu sempre quis -
é uma trova tagarela,
rima...rima.., e nada diz…
5
Antes de uma despedida,
que haja razões de verdade...
- Quem planta um adeus na vida,
um dia colhe saudade.
6
Antes um "não" que amargura,
antes um "não" que maltrata,
do que a terrível tortura
do teu silêncio - que mata!
7
A saudade é um passarinho
em teimosa migração...
vem do passado, e faz ninho
nos beirais do coração.
8
A tristeza é uma senhora,
minha velha conhecida,
que me rouba a luz da aurora
e põe noite em minha vida!
9
Cai o luar, transparente,
sobre uma gota de orvalho
e cria um lindo pingente
que dá vida a um velho galho...
10
Coitadinha da infeliz,
com marido gordo, esférico,
arranjou amante, e diz:
- É meu marido... genérico!
11
Com a dentadura bamba,
que nem “Corega” grudava,
os dentes dançavam samba
cada vez que ele cantava!...
12
Desde os tempos de criança
conheço a grande verdade:
jovem vive de esperança,
velho vive da saudade!
13
Frutos de velhos fracassos,
nossos medos são um muro
limitando novos passos
nos caminhos do futuro.
14
Luar... ourives de fama
que, pela mata orvalhada,
faz o engaste, em cada rama,
de uma gota iluminada!
15
Malandro, quando elegante,
detém qualidades raras:
tendo apenas um semblante
consegue ter duas caras.
16
Minha saudade é defeito
que outra saudade requer,
pois, sempre que abro o meu peito,
encontro a mesma mulher...
17
Mulher nova me apetece,
cinco ou seis... nunca é demais.
Se mais saúde eu tivesse...
mentiria muito mais!
18
Nas trovas de amor que eu teço
no meu tear de ilusão,
só faltam nome e endereço
de onde vem a inspiração...
19
Na voragem da procela
do combate interior
é que o homem se revela
se é escravo ou é senhor!
20
No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!
21
Nó na vida?... - Não me abalo,
desfazê-lo não me cansa,
pois consigo desatá-lo
com dois dedos de esperança!
22
Nos caminhos do Universo
eu sou caçador de estrelas,
e jogo o laço do verso
na esperança de prendê-las.
23
Nos momentos cruciais
em que o pranto é represado
o silencio fala mais
do que um discurso inflamado!
24
O balouçar da folhagem
- pequenas mãos dando adeus –
é a chuva, em sua passagem,
trazendo as bênçãos de Deus.
25
O cientista é poeta,
é trovador inspirado
que a pesquisa só completa
quando encontra o seu "achado".
26
O forró, diz meu amigo,
me esbraseia e deixa quente:
o esfrega-esfrega de umbigo
é um perfeito antecedente.
27
O forró ia animado;
de briga, nenhum perigo...
- Gostoso, que só pecado:
Era umbigo contra umbigo!…
28
O forte nó da saudade
amarra o tempo num laço
e aprisiona a mocidade
nas trovas de amor que eu faço.
29
O meu desejo transborda,
feito um rio ardendo em chama,
quando a saudade me acorda
sem você na minha cama!
30
O poeta é um ser aflito,
um eterno insatisfeito,
por ter um mundo infinito
no exíguo espaço do peito!
31
O sol parece fornalha
queimando tudo o que existe.
O chão, seco, a fome espalha...
mas, nordestino, resiste!
32
O sucumbir da virtude
ante o poder, é fatal:
é furo rompendo o açude
por onde escorre a Moral.
33
O tempo, pastoreando
nos sertões da mocidade,
foi, pouco a pouco, juntando
meu rebanho de saudade...
34
Pela ameaça da fome,
quando a seca teima e avança,
a chuva ganha outro nome,
passa a chamar-se... esperança!
35
Pondo bom senso no meio
quando surge a indecisão,
o medo parece um freio
a pedir calma e atenção...
36
Quando a folhagem fenece,
cobrindo o verde de luto,
o outono, em troca, oferece
a recompensa do fruto
37
Quando foi dada a partida,
com mil gametas brigando,
eu lutei por minha vida ...
e continuo lutando!
38
Quem casa com mulher feia,
um “bolo gordo”... um “canhão”,
anda atrás de um “pé de meia”
ou adora assombração!
39
Ratinho.. lobo... leão...
- mais alguns irracionais -
fazem da televisão
um reduto de... animais!
40
Se o mundo inteiro sorrisse
tão fácil como as crianças,
talvez não fosse tolice
sonhar e ter esperanças!
41
Sob um manto de neblina,
o sol, que o dia conduz,
aos poucos abre a cortina
e enche o seu palco de luz!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...