terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Renato Benvindo Frata



1
Amar e ser muito amado
é coisa que o mundo quer;
o amor quando partilhado
não deixa aresta qualquer.
2
A minha musa é Thaléia
“a que faz brotar as flores”
escolhi, pois, a azaleia
para inspirar meus amores.
3
A musa proclamadora
do amor que tenho por ti
é a Clio, sonhadora
que me envolve em tititi.
4
A negra infelicidade
chama para si o fracasso
sorte que a felicidade
se encontra ali a um passo.
5
Bailando pra ali, pra lá
nesse mundinho idiota
muita coisa encontro cá
na algibeira do agiota.
6
Caju é fruta querida
que adoça a vida da gente
da polpa se faz batida
tira-gosto da semente.
7
Com agilidade os galgo
muro baixo, ou alto muro
vou sempre à procura de algo,
mesmo que fique em apuro.
8
Com os gestos bem devassos
junto daquela teteia
pegaram-se em amassos
– Foi uma ofensa à plateia!
9
Corra em busca do carinho
bem de mansinho, eu lhe rogo
venha bem devagarzinho
que esta vida passa logo.
10
Deixa-me a mente confusa
sua imagem noite e dia
a lembrar-me que é a musa
neste instante de acalmia.
11
De girar seguindo o sol
imponente sobre o solo,
coitado do girassol
ganhou um bom torcicolo.
12
Desejos que nos arrastam
na torrente de ilusões
muitas vezes se contrastam
entre incerteza e clarões.
13
Destino e sorte são jogos
honestos como o xadrez
sinceras chuvas de fogos
que nunca passam a vez.
14
Dizem que alguém é batuta
se faz gestos, fala e ri
mas só se sabe da fruta
após morder comari.
15
Duplo caminho nós temos
mas uma só decisão
ambos estão nos extremos
sem aceitar distração
16
Entre o rir ou o chorar
o primeiro é mais sensato
entre o ir ou o ficar
depende tudo do fato.
17
Esta vida é muito boa
quando ela nos dá proveito.
Exemplo: ficar à toa
na fresca e afago no peito.
18
Gritava eufórica a fã:
– Quero vê-lo, quero vê-lo!
Em sua algazarra vã,
mandou beijo de desvelo.
19
Meu amor deu-me um pacote
embrulhado com barbante
eu logo vi que era um trote:
- Lindo vidro de laxante.
20
Meu choro mostra meus ais
escondidos de você
e torço pra que jamais
venha saber o porquê.
21
Na imensidão deste céu
azul, sem nuvem, de abril
vaga só, perdido ao léu
seu sorriso juvenil.
22
Não bastasse o vinho tinto,
o branco igual embebeda
porém com o rosê, sinto
ficar bem perto da queda.
23
Não corra! Para que pressa
já que a vida segue o ritmo
e termina onde começa
em eterno logaritmo?
24
Não me incomodo sair
bradando por este espaço
que a querida Dinair
é digna do meu abraço.
25
Nossa vida é um vale-tudo
em que lutamos por ela
o bom sábio fica mudo
e o idiota tagarela.
26
O artista deu-lhe um presente,
chamou-a para o tablado
a fã, repentinamente
dançou de modo aloucado.
27
Pra todos dou uma figa
quando pego uma guitarra
risco e fuço uma cantiga
e na pior da algazarra.
28
Quando você chora manso
e faz biquinho ao falar
confesso que não me canso
quero o seu corpo afagar.
29
Que tal aprender a amar
por amar, assim, somente
sem pedir nem implorar:
trocar amor, simplesmente?
30
Se tristeza é uma charada
que atrasa o tempo da gente
a vida é longa piada
que manda adiante o presente.
31
Sorrir da vida que escapa,
perseguir a própria sorte,
é viver com sobrecapa
tentando enganar a morte.
32
Todas as musas do Olimpo
que criam a inspiração,
fazem do céu um garimpo
de eterna constelação.
33
Trabalhar como formiga
versejar como cigarra
duas coisas, minha amiga,
que ainda faço com garra.
34
Vento leve, bom agouro
no rosto nos faz feliz
Mas, quando forte é um desdouro
causador de cicatriz.
35
Vento venta em ventania
do chuvisco à tempestade
meu amor vira mania
com sua perversidade.
36
Verga o galho num lamento
que a noite fria produz
sofre e range com o vento
da tristeza que o conduz.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Orlando Woczikosky



1
A cantar, a minha vida,
eu canto em qualquer cidade,
  mas minha terra querida,
 eu não canto sem saudade!
 2 
  Agora sou nau sem rumo,
que zarpou da mocidade,
para encalhar, eu presumo,
no banco duma saudade.
  3 
A mãe da gente é uma luz
 que brilha, brilha e rebrilha:
dá-nos vida e nos conduz
pela mais sagrada trilha.
  4
Amor que não tem saudade,
é planta que não dá flor;
 amor que é amor de verdade,
   na saudade é mais amor.
   5 
A mulher é diferente
no terreno da emoção:
- O homem diz sim e consente,
ela consente e diz não!
    6 
   Às vezes, na multidão,
estou só sem ver ninguém,
  porque a maior solidão
 é estar longe do meu bem.
7
A vagar pela cidade
hoje, bem longe de ti,
vejo, através da saudade,
o tesouro que perdi.
  8   
    Beba água mineral
   e viva despreocupado,
  porque água só faz mal
 para quem morre afogado.
9
Cônscio de que nada valho,
 quando te beijo, formosa,
eu sou uma gota de orvalho
 que tremeluz numa rosa.
 10 
  Convidei a minha sogra
  pra passear no Butantã:
  a velha mordeu a cobra,
   e a cobra ficou tantã!
      11   
Curitiba, paraíso
que mil encantos encerra,
    linda Cidade-Sorriso:
  – Sorriso da minha terra!
   12
  Dentro de certas pessoas
   há duas forças latentes:
 uma que as torna tão boas,
 outra que as vira serpentes.
13
    Desde que cedo me acordo,
até que à noite me deito,
com saudade te recordo,
meu único amor perfeito!
    14   
   Em noites de lua cheia,
no tênue alvor que se espraia,
 minha alma foge e vagueia,
   perambulando na praia.
15
     É nobre quem não exalta
     vitória já conquistada,
    pois a nobreza mais alta
    é vencer sem dizer nada.
   16  
   É nos olhos que a pimenta
    quando toca nos magoa:
quem tem sogra não a aguenta,
quem não tem diz que ela é boa.
17
    Esta saudade é uma luz,
    na noite da minha vida,
    o guia que me conduz
    à tua imagem, querida.
    18  
      Eu fui a tua metade
e foste a minha, porque,
agora, só na saudade
inteiro a gente se vê!
       19 
    Eu não gosto de sorteio
porque a sorte é contra mim:
talvez porque eu seja feio,
de uma feiura sem fim.
      20
Eu não troco uma jazida
de ouro puro e refinado,
por uma hora vivida
na saudade do passado.
      21
     Eu nasci pobre na vida,
   no entanto sei quanto valho,
    pois conheço a dor sentida
  dos que tombam no trabalho.
   22
     Felicidade é a esperança
que está sempre em nós presente,
    mas a gente não a alcança
    e ela não alcança a gente!
     23
  Flavo sol que as flores pintas
com doce tonalidade,
empresta-me as tuas tintas,
quero pintar a saudade.
      24
  Minha avó, que já está morta,
queria tudo perfeito:
até fazendo uma torta,
fazia torta direito.
25
    Não fosse a necessidade
   de tanto, tanto te amar,
sufocaria a saudade
nas profundezas do mar.
  26 
  Não me comove a riqueza,
e nem lhe adoro a conquista,
pois, em saudade e pobreza
também sou capitalista.
   27
  Não te incomodes, querida
se o meu peito a dor invade,
 sois, são temperos da vida
 a dor, o amor e a saudade.
  28
Não vim pra te dar um beijo,
  vim pra te dar muito mais,
   vim dizer que te desejo
  O melhor dos teus Natais!
    29 
Nesta vida de percalços
   todo mundo tem defeitos,
  mas entre honestos e falsos
   todos se julgam perfeitos.
    30
    No dia dos namorados
   fico triste, simplesmente,
por ver que há muitos coitados
 sem ter a quem dar presente.
31
  O amor é a coisa mais bela
   deste mundo encantador!
   E é você quem me revela
    toda a beleza do amor!
32
   O amor é igual à comida:
   demais, não se dá valor;
 quando falta em nossa vida,
    dá-se a vida pelo amor!
   33  
 Oh! doce mundo da infância,
   todo em saudade tecido,
   a recordar-te a distância,
  eu choro por ter crescido.
   34
   Para trovar, certamente,
  não bastam apenas rimas;
     trovador inteligente
 faz das trovas obras-primas.
35
  Pela guerra não há glória:
  - Perder, vencer, tanto faz!
    - A verdadeira vitória,
    só se alcança pela paz!
   36  
Por mais que hoje louve a vida
  dos que fazem bem por lei,
  trago n'alma a dor sentida,
   dos males que pratiquei.
      37 
Pra me esquecer de você,
tenho rezado à vontade!
Mas não te esqueço, porque
a minha reza é saudade.
       38
     Quando a trova justifica
       sobejamente a valia,
    - Rima pobre ou rima rica -
     sempre é grande poesia.
       39
Quando em meus braços te aperto,
       todo o infinito sorri,
  porque a vida é um céu aberto
     quando estou perto de ti.
       40
     Quando tu fores velhinha
e eu também, da mesma idade,
sentirás saudade minha,
sentirei de ti saudade.
        41
  Quem diz que não tem saudade
     e se é verdade o que diz,
       não teve a felicidade
        de já ter sido feliz.
42
 Quem se afunda na bebida,
   para afogar sua mágoa,
  descobre, no fim da vida,
que a melhor bebida é água.
43
Que não valha a minha trova
 por nada do que ela exiba,
 senão por tudo o que prova
    do valor de Curitiba.
    44  
   Revivendo, na saudade,
   a minha casa paterna,
choro! Mas tenho vontade
 que a saudade seja eterna.
  45
 Saudade é a lembrança viva
 daquilo que já morreu;
é fogo que inda se ativa
das cinzas do escombro seu.
   46
Saudade é coisa que nasce
à tona do pensamento,
e, por mais que o tempo passe,
paramos nesse momento.
    47
    Saudade é lua que vaga
nas sombras do sol do amor;
  quanto mais o sol se apaga,
 mais a lua traz langor.
      48
    Saudade é luz matutina
    no crepúsculo da gente.
  Sol que o passado ilumina
 quando escurece o presente.
  49
  Se, à noite, chega o negror
e todo o meu ser invade,
clareia-se o meu amor,
dentro da luz da saudade.
   50
   Se eu de você fico ausente
  e alguém os meus olhos vê,
lendo os meus olhos pressente,
     no fundo deles, você!
51
     Se partes, fica o desgosto
   da minha alma sem a tua,
   e eu pareço um rei deposto
     perambulando, na rua.
52
Sou feliz por te dizer,
   em palavra comovida,
que minha vida é um prazer
  se há prazer na tua vida.
  53
Trocando sempre teus ares,
 foges de mim com prazer;
  mas apesar dos pesares
 eu não te posso esquecer.
54
 Tudo que é bom, nesta vida,
    foge-nos celeremente,
 somente a dor mais sentida
    fica na vida da gente.
   55  
  Vermelho igual ao tomate,
   meu coração é um bife:
quanto mais alguém lhe bate,
    mais amolece o patife.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Janske Niemann Schlenker



1
Abrindo meu coração,
aos quatro ventos proclamo:
ergui meu lar no teu chão,
és a cidade que eu amo!
2
Acordei (tinhas partido)
e me deixaste na estrada:
um pobre arbusto perdido
sem luz, sem pranto, sem nada…
3
Alegria na viagem
deste trem tão barulhento
que nos mostra, de passagem,
flores colorindo o vento!
4
A nossa vida vivemos
plena de desejos vãos
até saber: não podemos
ter o mundo em nossas mãos.
5
Às vezes, dias tristonhos
fazem-me pensar na vida:
Acho que deixei meus sonhos
numa canoa perdida.
6
Às vezes surge de um nada,
o amor, na vida da gente.
Hoje vivo acorrentada
mais do que a qualquer corrente!
7
Até hoje me envergonha
essa, que sonhou demais:
quando está dormindo, sonha,
acordada, sonha mais…
8
Basta acompanhar a seta
para que a alegria alcances.
Felicidade completa
vais achar só nos romances.
9
Dei-te o melhor dos abraços,
do mais profundo querer…
Mas a força dos meus braços
não conseguiu te prender!
10
Deixo que a vida me embale
 enquanto a tarde agoniza:
 mesmo que você não fale,
 ouço a sua voz na brisa…
11
Deus! Que beleza me deste!
– Penso que ela é toda minha –
mas no espaço azul celeste
sou só uma nuvenzinha.
12
Enquanto a rede balança,
tenho um pensamento louco:
eu deixei de ser criança
mas ainda sou um pouco...
13
Escrava do teu olhar,
quis fugir mas – que surpresa!
Na ânsia de me libertar,
cada vez fico mais presa…
14
Longe de pranto e de dores,
o nosso amor sem cobranças
tem um perfume de flores
como o de duas crianças.
15
Luzes! Músicas! E à mesa
como nunca alguém sonhou.
Mas havia uma tristeza
que eu não sei por onde entrou…
16
Mesmo vindo da favela
- Brasil, África ou Europa -
o menino se revela
ao disputar sua Copa.
17
Nós, filhos da natureza,
não nascemos para o mal:
podemos criar beleza
de qualquer material.
18
O mar sussurra e promete
assim que o dia clareia.
Nós vamos "pintar o sete"
correndo juntos na areia!
19
O relógio dos meus dias
vem batendo devagar.
Só recordo as alegrias,
vou dormir quando parar.
20
Parece o mesmo ambiente:
cordial, familiar;
todos juntos, mas somente
conversam... sem conversar.
21
Paro a pensar um instante
e, numa oração sentida,
peço água - tão importante -
que é tudo na nossa vida!
22
Pétalas voam tão belas
e mais parece que dançam;
quero-as - brancas, amarelas -
mas minhas mãos não alcançam...
23
Quando, ao longe, o teu veleiro
singra as ondas do destino,
parece que o mundo inteiro
também ficou pequenino...
24
Quando o meu dia começa
e abro os olhos... e levanto,
acabam dor, medo e pressa
e o que resta é puro encanto!
25
Sejamos gratos pelo  ar
que respiramos de graça
ou iremos transformar
nosso planeta em fumaça!
26
Tentei ignorar a dor
mas do peito não arranco
aquele primeiro amor
numa foto em preto e branco...
27
Tuas palavras bonitas
eu recordo nesse instante:
promessas que estão escritas
nas linhas do teu semblante.
28
Um abraço podes dar-me,
também quero te abraçar.
Mas vai soar um alarme
se tentares me beijar!
29
Um grande amor nasce mudo
pois não consegue falar;
você não me disse tudo,
disse-me tudo um olhar...
30
Visuais estonteantes
no voo das ararinhas!
Fazem pensar, por instantes,
que - enquanto as vejo - são minhas...

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Edmar Japiassú Maia


1
Aperta meu coração
ser mãe de um filho ilustrado...
- Ele tem muita instrução?
-Não ! ... É todo tatuado!
2
As flores não mais assistem
na praça, a eternos amores...
É que amores não resistem
ao ver as praças sem flores!
3
Coração...cerca o pedaço
para que o amor não se perca,
que hei de cuidar desse espaço,
antes que a dor ponha cerca...
4
Da empregada viu na cama
o pijama conhecido.
E o pior é que o pijama
tinha dentro o seu marido!
5
Da velha fonte no lago,
à luz do mesmo luar,
retorno...e nos olhos trago
as águas que fui buscar!
6
Dentro do peito, profundo,
meus sentimentos concentro...
Não há espelho no mundo
que me desnude por dentro!
7
Entardece em minha infância...
Temendo que o medo cresça,
espreito a vida, à distância,
antes que a infância anoiteça!
8
Ilusão...velha charrete
que, teimoso, eu não desmancho,
pois, vez por outra, faz frete
de sonhos...aqui no rancho!
9
Mesmo no aperto, o sobrado
do velho não foi vendido.
Pelo prédio estar tombado
é que o velho está "caído"!
10
Na fábrica de tecidos,
proposto o aperto nos planos,
os "acertos" resolvidos
são "por debaixo dos panos"!
11
Nas asas do desvario,
tentando um sonho alcançar,
eu despenquei no vazio,
mas...aprendi a voar!
12
Ninguém vai sentir-se preso
ao peso da minha cruz;
que a cruz só revela o peso
para o ombro que a conduz…
13
No aperto, ao chefe ele vai
e expressa sua revolta...
- E a grana, sai ou não sai?
- Já saiu!... Não sei se volta!!!
14
Nos seus encontros ousados
junto da velha porteira,
esperava os namorados:
hoje ela espera a parteira!
15
O sonho é carga festiva
nos trilhos das ilusões...
E o amor é a locomotiva
que vem puxando os vagões!
16
Por mais que a vida se oponha,
traze os sonhos junto a ti,
porque, aos olhos de quem sonha,
o infinito...é logo ali!
17
Porque sou vidrado nela
seus carinhos não recuso:
é por meio da arruela
que se aperta o parafuso!
18
Quem por cigarro se entrega
às mãos do vício, sem medos,
não percebe que carrega
a morte acesa entre os dedos!
19
Talvez porque a noite esconda
sombras de amor...é que a Lua
põe mais luz em sua ronda,
quando ronda a minha rua!
20
Tendo a sombra distorcida,
seu retrato ela me deu...
Nem percebeu, distraída,
que aquela sombra...sou eu!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...