quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nilton Manoel Teixeira



1
A noite calada e escura
que silencia meu pranto,
revela toda a amargura
na falta de teu encanto.
2
A vida com seus mistérios
mostra-nos e muito bem
que, no Poder homens sérios,
são sérios se lhes convém.
3
Bom de boca, o Zé Boquinha,
sustenta toda a família…
Aqui… emprego não tinha!
vira-se bem em Brasília.
4
Canta o galo, nasce o dia!
do chão da praça o sem nome,
põe num canto a moradia,
para lutar contra a fome.
5
Casa velha, quanto encanto!
tem cobras, cupins, lagartos…
uma história em cada canto
e fantasmas pelos quartos.
6
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
7
Com esse salário de fome…
sem ver a cor do dinheiro,
pobre, nem papel consome…
Fazer o que no banheiro.
8
Com meu freezer sem nadinha,
vou amargando o rosário.
Quem come pão com farinha
sabe o que vale o salário.
9
Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
10
Corre-se tanto, mas tanto,
pelo pódio e sua glória
que, o enfim é o fúnebre pranto,
de um troféu ao fim da história!
11
Depois dos cinqüenta, creio,
tudo é lucro e coerência;
homem que não faz rodeio,
sabe o que vale a existência.
12
Depois que a polícia veio
acabou todo o mistério;
Gemidos (que eram de dois)
sumiram do cemitério.
13
Deriva, momento incerto,
em que a vida segue a esmo,
mas quem vai de peito
vence a tudo, até a si  mesmo .
14
Dia da árvore, na escola,
faz-se festa às derrubadas;
a folhagem, sempre amola
sujando pátio e calçadas.
15
Do homem a pior desgraça
é casar com mulher burra;
a vida todinha passa,
na pior, de surra em surra.
16
Do jeito que a coisa vai
em tudo se põe durex…
pobre, sem panela sai
pra comer de marmitex.
17
Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
Hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
18
Em férias, certo doutor,
ganha auréola de moleque,
quando perde sua cor,
no exagero de um pileque.
19
Enfim dono dos saberes
da vida, em música e dança,
concluo que, o fim dos seres
é o limite da esperança.
20
Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de… Jornalda!
21
Florestas? – Quero espigões!
e a fauna toda enjaulada!
… e a moda de altos portões,
esconde a noite estrelada.
22
Fortaleza é o pobre honesto
ante as tentações da vida;
Quem planta,colhe e de resto
deixa a rota mais florida.
23
Gostava tanto de pão,
que casou com o Zé da Massa;
coitada vive na mão,
sempre só triste e sem graça.
24
Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
25
Homem maduro tem força;
firme, enfrenta ondas e ventos…
por mais que os anos lhe torça,
jamais perde os bons momentos.
26
Indo por outros caminhos
neste mundo, às vezes rude,
vou fugindo dos espinhos
pois, das mulheres, não pude!
27
Leia a sorte, meu senhor!
-Que sorte tenho cigana?
mãos de pobre professor
vive sem linhas e  grana.
28
Meu filho só dá trabalho…
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho…
por isto estou empregado!
29
Meu pai, exemplo perfeito
de luta e vitalidade;
ao partir, por ser direito,
deixou sincera saudade.
30
Muda o  mundo…tudo muda!
mas no campo do saber
há quem todo o tempo estuda,
mas é “verde” de morrer.
31
Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha;
quero deixar no futuro,
as lições de quem trabalha.
32
Na feira da corrupção
dois produtos têm destaque:
-laranja na execução;
pepino na hora do baque!
33
Não existe culpa imensa
para quem crê no perdão,
tendo o Deus de sua crença
tranquilo em seu coração
34
Na rua, toda nuazinha,
escondendo a cara santa,
no carnaval da Lurdinha,
até morto se  levanta
35
Nesse comércio bizarro
de promoção de viés.
Ainda venderão carro
dando de brinde mais dez.
36
No circo da vida explode
o que a vida sempre dá:
um é pipoca se pode;
o outro, apenas piruá!
37
No espaço da folha branca
o universo do escritor,
torna a vida bem mais franca
se traça versos de amor.
38
No lirismo de meu povo
sonho e tenho sempre fé
que num dia de sol novo
será plena a paz.. de pé!
39
O amante da Filomena,
se encontra o ex-marido dela,
treme tanto de dar pena…
e geme sem dor com ela!
40
O chifre em terra rachada
em bucolismo infernal,
é o adorno que traça a estrada
da carência de água e sal.
41
O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado “caixa postal”!
42
O mundo – pleno em magia,
nossa bola de cristal,
mesmo amargo, traz poesia,
aos momentos mais sem sal.
43
O mundo vive pedante;
grita e clama por socorro!
Gasta-se alto a todo o instante,
Não com gente… com cachorro!
44
Os teus olhos patrocinam
pensamentos variados;
todos aqueles que animam
os sonhos dos namorados.
45
Por entre as pedras da fonte,
cantante em sai alegria,
o bardo vê no horizonte
sua fonte de poesia.
46
Promoção de negro humor
em grandes filas, à vista;
qualquer “lixo” tem valor,
na glória do varejista…
47
Quando há morte programada
pelos quadrantes da terra,
homens que não valem nada
sentem paz plantando guerra.
48
Quando o homem é homem não chora,
enfrenta as farpas da vida,
vence a fauna hostil com a flora
tornando a estrada florida.
49
Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
50
Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do  bem que faz
um céu de Sol mais aberto.
51
Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
52
Ribeirão Preto é café
-terra amiga e sempre nova-
quinze décadas de fé
que todos cantam em trova.
53
Sem ter bolas de cristal,
quem sabe onde pisa faz
de sua estrada um rosal
se é do Bem e pela paz.
54
Sem ter calçado e camisa
pra não cair na prisão,
salário de pobre é a brisa
mal dá pra comprar o calção.
55
Solteiro? – Querida! Ó vida
de prazeres… sonhos tantos!
Casados? ? Os nós da lida,
cegam os reais encantos!?
56
Talento é ter arte e graça
brincando com a vida séria;
pobre curte até a desgraça
com o salário da miséria.
57
Viver pobre é contramão
mundo triste de aguentar;
A sorte que traz o pão
enfrenta os jogos de azar.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Oefe Souza


1
Agradeço ao Criador
pelos dons que me dotou
um deles, ser o escritor
que um dia, em mim despontou!
2
Amor se paga co' amor
e meu saldo está grandinho…
Vê se acorda esse torpor
me paga um pouco em carinho…
3
As notas da minha lira,
acompanhando teus passos,
se acendem, qual uma pira,
no calor dos teus abraços…
4
A vida só é vivida
com muito amor e paixão
se houver poesia imprimida
nas dobras do coração.
5
Canta sempre, poeta! Canta!
As dores de todo mundo…
Verso que a todos encanta,
com teu estilo profundo!
6
De sua corte, meu bem,
serei bobo com prazer!
Se sou palhaço também,
que mais me resta fazer?
7
De tanto andar procurando
desmanchar, um nó em mim,
em verdade, está virando
emaranhado sem fim!…
8
Do meu tempo de menino
dos folguedos infantis,
lembro do balão junino
e de como era feliz!
9
Este recado à saudade
senhora dos dias meus,
é pra dizer, que é verdade;
Reitero-lhe o meu adeus!
10
Eu me fiz um trovador,
pois dentro de mim, sentia
que a grandeza de um amor
cantar em verso, eu podia…
11
Eu tenho muita saudade
do tempo em que eras só minha.
Mas, é que sofro em verdade,
por te ver, também sozinha…
12
Faça uma trova bonita;
eu sei, você é capaz.
Rogue ao mundo que reflita
sobre a importância da Paz!
13
Foi o meu melhor momento,
de todos os dias meus!
Com você, meu casamento,
foi um presente de Deus!
14
Me enrolei tanto em você
que afinal, viramos nó.
E agora, não sei porquê,
desfazer, nos causa dó…
15
Nem tudo se pode ver
e nem tudo se expressar.
Mas, nem precisa dizer:
Vejo tudo em seu olhar!
16
Nossa Vida é um livro aberto
em cujas linhas contém,
tudo o que se faz de certo;
e todos os erros, também…
17
No tanger da minha lira,
sinto, em minha alma infinita,
o Deus maior que me atira
seus raios de luz bendita!
18
O cura em minha presença:
– Por que tu não vens à missa?
E como chama a doença?
Respondo: – É simples... preguiça!
19
- Peço à nova geração,
olhando um velho retrato:
não deixem meu ribeirão
minguar por falta de trato!
20
Procurei por todo canto
para te ver… te falar…
Na lágrima do meu pranto
eu fui, enfim te encontrar…
21
Quando a saudade chegar
no meu peito, de mansinho;
faço a danada afastar,
pensando no teu carinho!
22
Quando vejo o meu retrato
com seu charme jovial,
eu debito ao tempo ingrato
o estrago no original...
23
Quase perdi os sentidos
quando em seu quarto adentrei
ao ver, nos cantos, perdidos,
cacos, do amor que lhe dei…
24
Que as nações, em toda a Terra,
a busquem de forma audaz,
pois a mão que faz a guerra
é a mesma que faz a Paz!
25
Quem dera que esta Nação,
despertasse do recesso
e elegesse a Educação,
como base do Progresso!
26
São as tuas mãos mimosas
perfumadas, com calor…
são mil pétalas de rosas
trescalando muito amor!
27
São tantos os dissabores
que o dia a dia atanaza.
Mas, quem conserta os humores,
é um anjo que eu tenho em casa…
28
Saudade tem voz de encanto,
nos lembra uma ligação.
Mas do outro lado, entretanto,
ninguém diz sim, nem diz não...
29
Sonhei co' o circo florido
bandeirola em todo espaço
e em seu palco colorido
alegre, eu era o palhaço!
30
Vão, a infância… a juventude,
os anos sem esperança!…
Eu preferia a inquietude
dos meus tempos de criança…
31
Vivo ansiando e sonhando
num tempo que não tem fim,
ver você, enfim chegando
inteirinha para mim!
32
Você é minha esperança!
O meu sol de cada dia!
Meu carinho de criança…
minha doce melodia!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Olivaldo Júnior


1
A mentira mais sincera
sempre peca pelo excesso:
agradar a quem espera
que essa vida é só sucesso.
2
Ante os "beijos do cinema",
o casal enfim se rende;
todos sabem que esse tema
facilita um "happy end".
3
Ao clarão da tarde quente,
te abandono e tenho medo:
quando chove só na gente,
nasce a lágrima em segredo.
4
Ao tentar ser mais feliz,
disse adeus à solidão;
mas nenhum amigo quis
animar-me um violão...
5
Ao tomar de um violão,
tomo o bonde da esperança;
no abandono da estação,
estaciono em mim criança.
6
As palavras caem frouxas
no terreno dos ouvidos;
as imagens são as trouxas
nestes ombros doloridos.
7
Cada história dessa vida,
no arvoredo de uma voz
que se fez de adormecida,
só renova a Elis em nós.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
8
Cada lágrima guardada
guarda, sim, o coração:
fica sempre represada,
entre a voz e um violão.
9
Calendário da mentira
tem seu próprio movimento,
mas o povo que se vira
vira o jogo e muda o vento.
10
Cansadíssimo de tudo,
dou adeus à Boa Sorte,
calo a boca, fico mudo,
mas te amo até a morte.
11
Canto triste, na ribeira,
denuncia o poetinha
que se dera à cordilheira,
poesia que ele tinha.
12
Carrilhões, barulho santo,
como a música em João
Pernambuco, doce espanto
que nos dói no coração.
13
Castro Alves, bom poeta,
como um grande cantador,
conquistou a nobre meta
de expurgar do negro a dor.
14
Coração de mentiroso
sempre tem um bom motivo 
para achar maravilhoso
ser do próximo o mais "vivo". 
15
Coração de namorado
bate as horas como o sino,
avisando que é chegado
novo amor ao seu destino.
16
Coração que diz “Adeus”
bate fraco e sem barulho;
queira logo, nosso Deus,
eu me livre desse orgulho.
17
“Devagar, se vai ao longe”,
diz o povo em seu adágio;
seu adeus me fez o monge
da “saudade sem pedágio”.
18
Entre campos e cidades,
esta máxima conduz:
as mentiras são verdades
que queriam vir à luz.
19
Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
20
Folhas secas são histórias
de um verão inesquecível;
entretanto, até memórias
têm seu tempo previsível.
21
Fora escrava e alforriada,
"Anastácia" em ré menor,
mas, no céu da batucada, 
mulher negra é sol maior.
(Pelo Dia Latinoamericano da Mulher Negra)
22
Hoje, quando sou sincero
e lhe escrevo minha alma,
muito mais me desespero,
dando adeus a toda calma.
23
Inda espero, distraído,
por teu carro à minha porta:
canto triste, dolorido,
esperando quem me importa.
24
Já perdi seu telefone,
só me vale seu e-mail:
hoje vivo só, “alone”,
sem a hora do recreio.
25
Já são trinta e dois verões
sem Elis cantando ao vivo;
tempo passa sem senões,
pois seu canto é redivivo.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
26
Lá do Sul, do comecinho
do pais que tanto amou,
certa Elis fez seu caminho
no país que a consagrou.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
27
Ladrilhada de brilhante,
ou “sujinha” de poeira,
Poesia é todo instante
que se pega na “peneira”.
28
Meu amigo mais querido,
Baden Powell de ilusão,
fez-se em algo conhecido:
abandono e eterno não.
29
Meu amigo mais querido,
com histórias de aventura,
fez-se logo o preferido
da saudade que perdura.
30
Meu poeta preferido
não escreve, nem recita,
mas dedilha, comovido,
cada nota que visita.
31
Na historinha familiar,
o João chamou Maria,
e Maria, sem pensar,
fez a ele companhia.
32
Namorado sempre esconde
quando chora de saudade,
pois amor, se perde o bonde,
nunca perde a majestade.
33
Na valsinha da memória,
num coreto enfim desperto,
todo mundo vira história
e anoiteço em um deserto.
34
No cantinho, atrás da porta,
meu amor ficou sozinho;
muitas vezes, quem importa
diz adeus devagarzinho.
35
No desenho de um acorde,
no lirismo de uma rima,
eu só quero que concorde:
seu adeus é nosso clima.
36
No divã da inconsciência,
entre Freud e o próprio eu,
peço a Deus a paciência
que o Abandono já comeu.
37
No lirismo do palhaço,
todo feito em poesia,
fantasio e me desfaço
desta falsa alegoria.
38
No serão da fantasia,
entre quarto e o calendário,
violão faz companhia
para um homem solitário.
39
No sertão de minha vida,
vivo feito o Riobaldo:
só "veredas" dão guarida
para o rio do Olivaldo.
40
No seu dia, Poesia,
todo mundo fica atento:
a metáfora, tardia,
busca o pé até do vento!
41
O barquinho, Poesia,
de mil versos carregado,
desemboca n’alegria
do oceano desdobrado.
42
O ninguém se faz de “flor”,
vale bem o quanto pesa;
quando espeta o seu amor,
despetala quem despreza.
43
O Pinóquio poderia,
se ele fosse brasileiro,
ser o dono d'alegria
desse trem eleitoreiro.
44
O segredo do abandono
se revela ao sol mais pleno:
és verão, e sou outono,
neste inverno nada ameno.
45
O verão que amarelece
cai em folhas, coração;
mas você jamais fenece,
faz do outono floração.
46
Para honrar o meu ofício
e “animar” a biografia,
vou pular no precipício
dos amantes da poesia.
47
Poesia bota em cheque
toda a nossa imensidão:
tempo curto de moleque,
breve tempo de ancião.
48
Poesia, forma vaga,
lua fixa a nós defronte,
cada verso é tua baga
neste cacho de horizonte.
49
Por pensar demais em ti,
vivo o carma desta prova:
incorporo um bem-te-vi,
bem te vejo e faço trova.
50
Pra dizer adeus assim,
não precisa piedade:
basta ser um ser a fim
de matar felicidade.
51
Quando a banda toca Chico,
fico alegre e, de repente,
muito mais tristonho eu fico,
porque tu estás ausente.
52
Quando choro com razão
percebendo o que se deu,
dou-me inteiro ao violão,
que me dá o que era meu.
53
 Quando eu era só abismo
no silêncio de meus ais,
tu me deste o “catecismo”
da amizade, luz no cais.
54
Quando vi a nossa foto,
desgastada, na gaveta,
vi nascer um terremoto
neste inóspito poeta.
55
"Romaria" de canções
arrastando a "Madalena",
travessia e comoções:
era Elis roubando a cena.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
56
Se jurei não mais falar
sobre nada do que disse,
é porque sou de trocar
a promessa por crendice.
57
Sem resposta a meus e-mails,
tua ausência é muito forte;
já tentei “milhões” de meios,
mas “deletas” minha sorte.
58
Se o verão lhe der licença
e o caminho for propício,
chegue e faça a diferença,
doce outono, neste início.
59
Solidão e violão
são irmãos e não se largam:
uma amarga o coração,
outro adoça os que se amargam.
60
Todo adeus tem duas beiras,
duas margens de amizade;
numa beira, estão trincheiras,
noutra beira, só saudade.
61
Todo outono faz de mim
o jardim que fora eterno;
mas o "eterno" do jardim
ressuscita findo o inverno.
62
Trabalhando desde cedo,
aprendendo a conquistar,
todo jovem perde o medo
de esboçar o céu no mar.
63
Uma casa de escritores
junto ao "rio guaçuano"
foi a causa dos amores
que cobri de desengano.
64
Um adeus só quer dizer
o que nunca se diria:
diz-se adeus para esquecer
quem jamais esqueceria.
65
Vaga-lumes incendeiam
a plateia de meninos:
são poetas que semeiam
poesia aos pequeninos.
66
Vulnerável coração,
coração dilacerado:
a cantora chora, não,
é soluço marejado.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
67
Violão deixado ao léu,
tua estante, muitas folhas,
todos vivem sem papel,
no entreato sem escolhas.
68
Violão que vive mudo,
sempre à espera de seu bem,
sonha dedos de veludo
que o dedilhem para alguém.
69
Violão, tens muitas cordas,
mais até que o coração;
entretanto, quando acordas,
só se move a da emoção.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Orlando Brito (Niterói/RJ, 1927 - 2010, São Luís/MA)

1
A botina na janela
não deu sorte ao Manoel.
O chulé que havia nela
espantou Papai Noel...
2
A cidade acorda os ais
quando a chuva enche os caminhos,
chorando pelos beirais
a falta dos passarinhos...
3
A cidade bufa e sua!
Sedento, a pedir socorro,
eu vi um poste na rua
correndo atrás de um cachorro!...
4
A família do Trindade,
que de vinho enchia a tripa,
fez-lhe a última vontade:
enterrou-o numa pipa.
5
Ah, coração, tem piedade...
Batendo tão forte assim,
vais acordar a saudade
que dorme dentro de mim...
6
Amor à primeira vista?
Nosso bolso anda tão raso,
que até mesmo uma conquista
deve ser a longo prazo.
7
Antes que o sol, com seu brilho,
das trevas rompesse o véu,
um galo comeu o milho
que a noite espalhou no céu.
8
Certa vez com Dr. Lopes
caso raro aconteceu:
- receitou alguns xaropes
e o doente não morreu...
9
Com crianças tagarelas
em meu rancho alegre e lindo,
até portas e janelas
vivem cantando e sorrindo!
10
Como é linda, sobre as casas,
a melodia que evola
de um alegre par de asas
que foge de uma gaiola...
11
Contra a fome, contra a guerra,
que geram mortes e escombros,
marchai, soldados da terra,
levando a enxada nos ombros!
12
Corre a seiva em chão bravio
como o sangue em cada artéria.
São as valas do plantio,
trincheiras contra a miséria.
13
Coveiro, choremos juntos
nossos destinos tristonhos.
Pior que enterrar defuntos
é ser coveiro de sonhos…
14
De livros encham-se as casas,
eis um conselho excelente,
pois o livro, aberto em asas,
põe asas na alma da gente.
15
Dentadura, novo preço
e chifre, - diz o Paluma,
sempre doem no começo,
- depois a gente acostuma...
16
Deus marca os sons e o compasso,
não há mais linda canção!
Bater de sinos no espaço,
bater de enxadas no chão...
17
É da luz que o sol envia
que nasce o brilho da lua.
Assim é minha alegria:
depende sempre da tua!
18
Em meus calos ninguém pisa.
Se topo um cabra indigesto,
por bem me tira a camisa,
e por mal me tira o resto...
19
Esses teus olhos, amada,
deve a polícia prendê-los.
São dois ladrões de emboscada,
à sombra dos teus cabelos…
20
Eu, trabalhar desse jeito,
com a força que Deus me deu,
pra sustentar um sujeito
vagabundo que nem eu?
21
Foi num bar de certa esquina,
que, sem beber, quando pus
meus olhos nos teus, menina,
fiquei bêbado de luz.
22
Grita o coveiro, com mágoa,
na sepultura do André:
- Na cova deste pau-d'água
nem a cruz fica de pé !
23
Há nos jardins, entre arranjos
de passarinhos e abelhas,
candelabros onde os anjos
acendem rosas vermelhas...
24
Li teu livro. Um desconsolo!
Em papel fino, agradável,
se ele fosse feito em rolo,
seria um livro passável...
25
Madrugada, tem piedade
deste meu frio abandono,
e acalenta esta saudade
que não quer pegar no sono…
26
Marujo quando namora,
lembra a onda em seu vaivém.
O seu amor não ancora
no coração de ninguém...
27
Meu destino, casa velha,
com o teu é parecido.
Há sempre um furo na telha,
há sempre um cano entupido...
28
Meu livro de cabeceira
é o teu, de efeito excelente.
Logo à página primeira
que sono ele dá na gente...
29
Não pisco os olhos ao vê-la
para não correr o risco
de, por momentos, perdê-la,
a cada instante em que pisco.
30
Nem é mister que decifres
quem da fazenda é o patrono.
- Na porteira um par de chifres
já identifica o seu dono.
31
No norte, onde o sol abrasa,
e o calor queima sem dó,
só defunto sai de casa
de gravata e paletó.
32
No porto dos meus anseios
esperanças são navios,
que de manhã partem cheios
e à tarde voltam vazios...
33
No velório, alguém pergunta:
- Todo mundo já bebeu?
É quando uma voz defunta
diz do caixão: - Falta eu!
34
O doutor não teve escolha
quando o ébrio entrou ali,
e operou com saca-rolha
no lugar do bisturi...
35
O falso amigo, ao mostrar-se,
nas ciladas que prepara,
sempre muda o seu disfarce,
mas conserva a mesma cara.
36
O mapa do marinheiro
difere de outro qualquer:
cada porto, em seu roteiro,
tem um nome de mulher.
37
Para ter paz e harmonia
no lar, é mais importante,
não o pão de cada dia,
mas o amor de cada instante!
38
Passam tropeiros, tristonhos...
Assim vou eu, sem guarida,
tangendo a tropa dos sonhos
pelas encostas da vida.
39
Passou... Bonita de fato!
E o mar, ao vê-la, tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela!
40
Por muito que ela nos fira,
tristeza encanta e consola,
se é tristeza de um caipira,
chorada ao som da viola.
41
Poupou, viveu que nem rato,
e hoje tem a burra cheia.
- Foi andando sem sapato
que ele fez seu pé de meia.
42
Primavera... Vai-se o estio,
chega o outono. Solitário,
assisto ao cair sombrio
das folhas do calendário...
43
Procura estrelas num poço
quem no passado se abisma.
Sonhar é coisa de moço,
pois velho não sonha, cisma...
44
Problemas? Eu cá não acho
problema algum que me oprima.
Se é grande – passo por baixo,
pequeno – pulo por cima.
45
Quando nós formos defuntos,
e Deus nos der alvará,
para o céu só iremos juntos,
pois, separados, nem lá!
46
Quando quer prender a gente,
sem dar laço ou fazer nó,
usa o amor uma corrente
que possui um elo só.
47
Relógio, em seu tique-taque,
ligeira a vida se esvai.
- A cada segundo, o baque
de um sonho que morre e cai…
48
São iguais seus idiomas,
há semelhança em seus dons:
a rosa – sino de aromas,
o sino – rosa de sons.
49
Seguindo a lei do progresso,
depois do fio dental
dois maiôs farão sucesso:
o sem fio e o digital...
50
Sobrevivendo ao calvário
de uma queimada funesta,
um sabiá solitário
chora a morte da floresta…
51
Tento em vão, desde menino,
mudar da vida a estrutura,
mas no Livro do Destino
Deus não permite rasura...
52
Teu livro, que eu li com tédio,
não o pus na minha estante
mas na caixa de remédio,
com o rótulo: purgante!
53
Teu vulto lindo e risonho
surge em meus dias desertos,
como se fosses um sonho
que eu sonho de olhos abertos!
54
Uma atitude maluca
e até mesmo temerária:
- desejar “bom dia” ao Juca,
o dono da funerária…
55
Um médico e dois coveiros
uniram-se, em sociedade.
Em um ano os três parceiros
deram cabo da cidade...
56
Vaso de aromas dispersos,
incenso queimado em brasa,
assim é um livro de versos
aberto dentro de casa...
57
Vê, querida, - entre as cantigas
dos filhos em algazarras,
nós somos duas formigas
numa casa de cigarras...

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...