sábado, 29 de julho de 2017

Marina Gomes Valente


1
A flor da fraternidade
floresce no coração
de quem ama de verdade
o próximo como irmão.
2
A mulher traduz ternura,
doação, vida e amor;
colabora com doçura
com a obra do Criador.
3
As árvores são sagradas,
são um milagre da vida;
no entanto, são derrubadas
pela ambição desmedida.
4
As paixões desenfreadas,
excessos de comilança,
mostram vidas desregradas
onde falta temperança.
5
Camélia é flor delicada,
tal qual um floco de neve.
Sentida, fica queimada,
mesmo com um toque leve.
6
Capricho da natureza?!...
Mão humana em gesto arteiro?!...
Cenário de tal beleza,
só se Deus for brasileiro...
7
Com roupagens só de amor
vistamos o coração,
sem ódio e nenhum rancor
para abrigar um irmão.
8
Contemplar o mar infindo,
entender sua poesia,
ver o sol se despedindo
é sentir paz e alegria.
9
Dama da noite, de branco,
com as vestes de cetim,
enfeita à noite o barranco
transformando-o num jardim.
10
De nada vale o rancor
que só deixa cicatrizes;
tecendo laços de amor
seremos bem mais felizes.
11
Engrinaldada de flores,
surge a mais bela estação,
e a alegria chega a cores
a cantar no coração.
12
Família ideal é aquela
onde há paz, docilidade;
por mais que seja singela,
tem um quê de majestade.
13
Gorjeiam os passarinhos
na ramaria orvalhada.
Primavera, nos caminhos,
vai despertando a florada.
14
Não adianta modelar
o corpo com perfeição,
se não soubermos moldar
com amor o coração.
15
Não importa a cor da pele,
o que importa é a inspiração
de uma trova, que revele
o que sente o coração.
16
Nesta era da informática,
computadores de mão,
sugam da família, a prática
da confraternização.
17
Nesta vida o tempo ensina:
quem partilhar seu amor
a paz também dissemina,
exterminando o rancor.
18
O esforço de uma formiga,
mais que exemplo é uma lição:
seu objetivo persiga
com fé e determinação.
19
Ó geração gananciosa,
desperta, presta atenção!
A arara azul, tão graciosa,
corre o risco da extinção!
20
O sonho de uma criança
pode a nós ser aplicado:
à luz da perseverança
poderá ser realizado...
21
Para encantar a velhice,
ser tranquilo, sonhador,
há que, desde a meninice
plantar sementes de amor…
22
Paz nasce do coração
de quem aprendeu a amar
a todos, sem distinção,
porque soube perdoar.
23
Pelas ruas, no passado,
nos realejos risonhos,
um periquito amestrado
passava vendendo sonhos.
24
Plante uma árvore, amigo,
que ela é sinal de esperança.
Se não lhe servir de abrigo,
servirá a uma criança.
25
Porque a “Fé move a montanha”,
não posso deixar de crer
que esta saudade (tamanha!)
vai um dia perecer.
26
Primavera e juventude,
presentes da Providência:
cores, vida em plenitude
que alegram nossa existência!
27
Protegida, a natureza
dará frutos a granel,
flores de rara beleza
e favos prenhes de mel.
28
Quando o amor fala mais alto
o mais prudente é calar;
coração em sobressalto
dá o recado pelo olhar.
29
Quem espalha em seu caminho
a paz, o amor e a alegria,
não caminhará sozinho,
terá Deus por companhia.
30
Rosa é a rainha das flores,
outra mais bela não há;
nem mesmo, com seus primores,
a flor do maracujá.
31
Seja em estrada de ferro,
seja em estrada florida,
posso dizer e não erro:
-assim vai o trem da vida!
32
Será livre de verdade
quem fizer a diferença,
quebrando o elo da maldade
e abraçando a benquerença.
33
Sob os tons crepusculares,
sem ninguém que nos impeça,
nosso barco cruza os mares
sem destino, sem ter pressa...
34
Sobre as vagas do oceano,
voando num céu de anil,
sinto alegria e me ufano
de estar voltando ao Brasil!
35
Sonha o menino acordado
com a bola e pé no chão,
ser um craque consagrado
e integrar a seleção...
36
Sonho um mundo colorido,
flores perfumando a estrada,
sem um ai, sem um gemido
de criança abandonada.
37
Tão humilde, a margarida,
sem perfume, sem magia,
para não ser esquecida,
por entre os ramos, espia.
38
Um casal alicerçado
no amor e na compreensão
deixará grande legado
à futura geração.
39
Um desafio na vida
é vencer tribulações
e a paciência nos convida
a refrear emoções.
40
Um trevo de quatro folhas
nascido no meu jardim,
trouxe entre tantas escolhas,
muita sorte para mim.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Josafá Sobreira da Silva


1
A deturpação dos fatos
é tão comum entre a gente,
que a corrente de boatos
passou a ser voz corrente!
2
Anote e depois confira,
visando seu próprio bem:
meia-verdade é mentira,
verdade-e-meia também!
3
Ao despedir-me de ti,
sujeito a carências novas,
compenso a paz que eu perdi,
buscando alento nas trovas!
4
Ao homem muito ciumento
há um dilema que aperreia:
ou esquece o casamento,
ou casa com mulher feia!
5
A saudade é uma corrente!
Só agora percebi,
livre de ti, finalmente,
e, afinal, mais preso a ti!...
6
Casamento de verdade,
pouca gente ainda procura:
querem ter a propriedade
sem pagar pela escritura!
7
Como trabalha o rapaz!
Mas não invejo esse estilo:
- na cama, tudo o que faz
é só tirar um cochilo…
8
Da chuva não corro mais!
Não pago esse mico, ó gente:
correr dos pingos de trás
pra me molhar nos da frente?
9
Deixaste a casa vazia,
mas há um retrato na sala;
e é dessa fotografia
que o teu silêncio me fala!
10
Deus construiu, no horizonte,
onde ninguém pode ver,
uma belíssima ponte
que a gente cruza... ao morrer.
11
Dúvida é sempre clareza!
E aqui vai a explicação:
- quem duvida tem certeza
de que está em confusão!
12
Essa azul coloração
das araras a voar
coloriu meu coração
e não sei como apagar!...
13
Há um piano na cabana
que espera, de tampo aberto,
expor, à perícia humana,
seu recital encoberto!
14
Meu consolo, na tristeza,
quando, no peito, a agasalho,
é o pranto da natureza,
nas gotas tristes do orvalho.
15
Minha máscara de austero,
que eu usei com tanto gosto,
sabe o quanto eu não a quero,
mas passou a ser meu rosto!
16
Namorar em rua clara?
Nunca fiz essa loucura!
Quem tem vergonha na cara
só namora em rua escura.
17
Numa euforia tremenda,
além de qualquer limite,
ouvi o riso da agenda
ao registrar teu convite!
18
Nunca consigo a proeza
de uma bola no buraco!
Será defeito da mesa
ou defeito do meu taco?
19
O comilão não se esquenta
na fila pra ver seu peso:
ou diz que a balança aumenta,
ou fica atrás de um obeso...
20
O meu prêmio, ao fim do dia,
é um sorriso na janela
de onde os lábios da alegria
beijam os meus, antes dela!
21
Quando vovó faz faxina,
vovô teme o seu capricho,
pois ela tudo examina:
Não tem uso? Vai pro lixo!
22
Quem entra ali pra jogar
ingressa um tanto cabreiro...
Há uma placa no lugar:
“Buraco? Só a dinheiro!”
23
Se, aos gritos, me manifesto,
já perdi a discussão,
pois quem grita num protesto
já mostra não ter razão!
24
Se há barragens no percurso,
aprende a lição do rio
que, em paz, retoma o seu curso
após saudável desvio!
25
Só agora eu percebi
a ganância do coveiro:
tem buraco por aí
que é uma mina de dinheiro!
26
Sobre as águas refletidos,
nuvens...matas...céu de anil...
tudo evoca aos meus sentidos
a bandeira do Brasil!
27
Sou velho metido a moço
e ainda levo à loucura!
Se me diz: 'morda o pescoço!",
cravo nela a dentadura!
28
Surpreso por teu aceno,
com timidez e apetite,
eu, tolo, me achei pequeno
para aceitar teu convite!
29
Traz a injustiça a discórdia,
mas a justiça me assusta:
À luz da misericórdia,
nunca vi justiça justa!

terça-feira, 18 de julho de 2017

Newton Vieira


1
A existência – uma jornada...
E eu vejo, desde menino,
mais graça ao longo da estrada
que no lugar de destino…
2
Agora vivemos sós...
e dói, de modo incomum,
saber que o abismo entre nós
não teve motivo algum!
3
A apatia afasta mais
que os longes quilometrados,
pondo abismo entre casais
às vezes de braços dados!...
4
As nossas almas, amigo,
eram tão gêmeas, que, ao fim
da convivência contigo
senti saudades de mim!...
5
A utopia, em minha mente,
traduz-se desta maneira:
– Um lugar inexistente
que existirá, caso eu queira!...
6
Curvem-se todos os sábios
ante o saber infinito
que a mãe derrama dos lábios,
mesmo sem nada ter dito!
7
Dai-me perdão para o amor
contrário ao Vosso preceito.
Sei tantas coisas, Senhor,
menos amar de outro jeito!
8
“Darás à luz” – Anuncia
alguém do Eterno oriundo.
Plena de Graça, Maria
diz “Sim!” e transforma o mundo!
9
É do passado a lição,
mas com valor no presente:
- Só pode ter corpo são
quem tem saúde na mente.
10
Em Friburgo, qual Moisés,
julguei que Deus me dizia:
- "Tira as sandálias dos pés,
que estás no chão da poesia!"
11
Encontrei, como num sonho,
este amor forte e sem fim:
- a ponte na qual transponho
abismos dentro de mim...
12
É pequena, mas se expande
pondo em trovas mil louvores;
Jambeiro - cidade grande
no mapa dos trovadores!
13
É triste ver alguém cheio
deste vazio medonho:
- ter feito apenas rodeio
em torno de um grande sonho!
14
Eu amo... e, de tal maneira
o amor em mim se enclausura,
que sempre estou na fronteira
entre a razão e a loucura!...
15
"Eu volto!" - Falsa promessa
que ela ainda crê verdadeira,
pois, da varanda, não cessa
de contemplar a porteira...
16
Feliz Natal, com certeza,
promoverás, meu irmão,
se o pão que sobra na mesa
chegar às mesas sem pão.
17
Ficou mais lento o meu passo?
Caminharei, mesmo assim!
Só temeria o cansaço
se me cansasse de mim..
18
Mãos calosas... Entretanto,
cingem de amor o filhinho...
Roseira não perde o encanto,
apenas por ter espinho!…
19
Nasceu do acaso este amor...
cresceu...e, agora, acredito,
é bem capaz de transpor
as fronteiras do infinito!…
20
No rodeio do existir,
peço a Deus, a todo instante,
que eu não caia e, se cair,
com mais força me levante.
21
Nos meus braços estarias,
se tu não fosses, querida,
a maior das utopias
que acalentei nesta vida!
22
No Vosso martírio, eu pude
ver quatro quedas, Jesus,
quando um velho, sem saúde,
caiu na fila do SUS!...
23
O amor que escolhi um dia
expõe-me à língua do povo?
Dane-se o povo! Eu faria
a mesma escolha, de novo!
24
O que eu mais quero na vida
é a paz reinando na Terra,
mas não a paz confundida
com mera ausência de guerra...
25
Por mais que sofra, eu espero
ouvir somente a verdade;
é melhor o “não” sincero
do que o “sim” da falsidade.
26
Quando, amigo, nos teus ombros
deitei o rosto tristonho,
tu me ergueste dos escombros
que a vida fez do meu sonho!
27
São tantas encruzilhadas!...
Por isso eu me perco assim,
ao trafegar nas estradas
que existem...dentro de mim!...
28
Se tu te julgas montanha,
convém que então te assinales
pela bondade tamanha
de dar proteção aos vales.
29
Se o nosso amor é pecado,
esconda-o lá nos refolhos...
e só me mande recado
pelas meninas... dos olhos!
30
Sou quase feliz, querida.
Aceita ser minha e faze
que seja, então, destruída
a tal barreira do... quase!
31
Venceste alguém... e sorris
numa explosão de prazeres...
Serás, porém, mais feliz
quando a ti mesmo venceres...

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Ozório Porto


1
A fonte, assim cristalina,
nascente à margem da estrada,
é obra de mão divina
ao sedento em caminhada.
2
A lua fria, indiscreta,
invadiu meu barracão;
veio confortar o poeta
que curtia a solidão.
3
Creio que a felicidade
não convive em poluição;
por isso deixa a cidade
pra viver lá no sertão.
4
De pintor vou dar-te a prova
– e sem gastar muita tinta -
revelando nesta trova
que tens oculta essa pinta.
5
Deus fez tudo tão correto,
tão medido, tão certinho…
Que é feliz o humilde teto
do mais humilde ranchinho.
6
Dormindo sonho contigo.
Acordado penso em ti.
E por isso eu não consigo
esquecer quem já perdi.
7
Essa quadrinha que eu faço,
tão simples, tão inocente,
leva da alma um pedaço,
leva um pedaço da mente.
8
Esse mal que me tortura,
que me aflige e me consome;
esse mal, assim, sem cura,
só eu sei… Tem o teu nome.
9
Eu andei sempre correndo
por este mundo sem fim;
acabei envelhecendo
sem sequer lembrar de mim.
10
Foi-me dado um dia, em sonho,
minha infância reviver:
Brinquei, corri, fui risonho
e fui feliz a valer.
11
Já vi rio em chama ardente,
já senti calor da lua,
mas não vi, até o presente,
falsidade como a tua.
12
Maior que essa deficiência
que limita o que produz,
é o amor, na sua essência,
que compreende e que conduz
13
Meu coração, esse tolo,
que hoje inda espera por ti,
tem tão só, como consolo,
a esperança que eu perdi.
14
Meu coração silenciou
ao estetoscópio, com medo,
e ao doutor não revelou
um nada do seu segredo.
15
Meu pensamento se expande
e o trovador põe à prova:
Criança... Um tema tão grande
nos quatro versos da trova...
16
Minhas trovas têm um quê
que as outras trovas não têm:
Falam sempre de você,
e falam de mim também.
17
Miscigenação bendita,
és a grande responsável
pela beleza infinita
dessa mulata adorável!…
18
Na exiguidade do espaço
que me resta a percorrer,
cada trova é como um passo
no caminho do viver.
19
Nas entrelinhas da trova,
às vezes, paira um lamento
que facilmente comprova
uma dor, um sofrimento.
20
Nas noites de lua-cheia,
contemplo ao longe a cascata;
parece que ela se enleia
num manto feito de prata.
21
Nos rodopios da valsa,
fazendo juras de amor,
não supus que fosse falsa
quem me causa tanta dor.
22
Numa trova eu digo tudo,
tudo, tudo o que eu quiser;
desde que tudo que eu diga
seja tudo da mulher.
23
Percorri árduos caminhos
pra chegar onde cheguei;
guarda marcas, lembro espinhos
das trilhas por onde errei.
24
Pra manter minha alegria
um quase nada é o bastante;
fazer trovas cada dia
e abraçar-te a cada instante.
25
Quando criança eu queria
ser homem, sábio, talvez…
Hoje bem que gostaria
de ser criança outra vez!…
26
Quando eu era pequenino
contava o tempo a cantar…
Hoje lembro do menino
e conto o tempo a chorar.
27
Quem sofre do mal de amor,
sofre, sofre até morrer!…
Não há remédio ou doutor
que possa o mal desfazer.
28
Se à noite a lua opalina
envolve em luz a palhoça;
transforma em tela divina
um quadro humilde da roça.
29
Sem a fonte luminosa
e a retreta domingueira,
ficou triste e até saudosa
nossa Praça da Bandeira.
30
Se você não vai cumprir
o quanto me prometeu;
proponho lhe devolver
os beijos que já me deu.
31
Sonhei que estavas casando
numa igreja da roça,
que ouvia o padre abençoando
essa união que era nossa.
32
Só transportando criança,
velha KOMBI ao trafegar,
guarda um mundo de esperança,
rotulada de ESCOLAR.
33
Talvez, riacho cantante
que se despenha em cascata,
sejas tu um poeta errante
dizendo trovas à mata.
34
Teu beijo tem a doçura
de um doce favo de mel;
mas esperá-lo é tortura
que amarga mais do que o fel.

domingo, 16 de julho de 2017

Rita Marciano Mourão


1
Bilhetes de amor... saudade
que a lembrança hoje cultua
onde a tal felicidade
era o carteiro da rua!...
2
Cansado, frágil, tristonho,
quando a fé lhe pede um preço,
o escritor faz de um bom sonho
outro livro, outro começo…
3
Com máscara da ilusão
minha altivez nem percebe
quando a porta da emoção
ergue a tranca e te recebe.
4
De minissaia, a coroa
tenta a sorte... lá na praça.
De longe alguém diz: - É boa...
Mas de perto... assusta a caça.
5
Depois de tantos verões,
talento pouco me importa.
No jardim das ilusões
já sou como folha morta.
6
Deriva meu corpo, enquanto
contra os reveses reluto.
Hoje o tempo usa meu pranto
para cobrar seu tributo.
7
Desato o nó da lembrança
e um facho de luz sem fim
me traz de volta a criança
que o tempo levou de mim!
8
Diz o velho, em maus trejeitos:
- Como o carnaval é ingrato:
com produtos tão perfeitos,
a distância nega o prato!
9
Entre cristais, vinhos nobres,
com saudade, hoje lamento
do campo as canecas pobres
mas tão ricas de alimento!
10
Ergo o cristal, já vencida,
mas a razão me renega,
quando a emoção, iludida,
bebe o vinho e a ti me entrega!
11
Escrevo, reluto... E assim
da tristeza eu vou fugindo.
O escritor que habita em mim
me ensina a sofrer sorrindo.
12
Este espinho que me atira
aos braços da dor sem fim,
é o fruto desta mentira
que você plantou em mim.
13
Faço versos da incerteza,
com talento a dor suplanto.
É bem mais leve a tristeza
dissimulada em meu canto.
14
Lembrança da mocidade,
de um som de lira em seresta...
Ah! como fere a saudade
quando lembrança é o que resta…
15
Levada por fantasia
de um desejo inconsciente,
eu beijo na cama fria
as formas de um corpo ausente!
16
Mesmo ante o furor medonho
de um mar que raivoso freme,
solto a jangada de um sonho
e o sonho conduz meu leme!
17
- Meu filho, veja onde está
o seu querido paizão!...
- Ah! Mamãe, não sejas má,
da outra vez levei "sabão"!
18
Meu salário é duvidoso
qual moça de minissaia.
De longe, acena maldoso,
mas, na mão, foge da raia!
19
Minha jangada à distância,
(velha tábua na enxurrada)
remada por mãos da infância
foi bem mais do que jangada!
20
Na fonte antiga da praça,
que em lembranças recomponho,
a minha ilusão te abraça,
movida por este sonho!…
21
No céu a espalhar magia
com frases mudas, a lua
nas pautas da noite fria
faz versos à minha rua…
22
Nos limites da demência
entre o delírio e a razão
eu beijo um rosto que a ausência
desenha na solidão!
23
Nosso amor meio sem jeito
mas, talentoso e insistente,
vai vencendo o preconceito
que a idade lança entre a gente.
24
No vazio do meu peito,
meu destino de escritor
vai preenchendo, a seu jeito,
velhas lacunas de amor…
25
Perfumada e porte nobre,
na incerteza que a consome,
testou com sabão de pobre
e da rival soube o nome.
26
Pondero... Mas, atrevida,
minha ilusão enche a taça
desta fonte proibida
que à razão condena e embaça!
27
Quando a lua me abre as frestas
das lembranças que são tuas,
de uma lira ouço as serestas
feitas à luz de outras luas!...
28
Quando esta lua indiscreta
me traz lembranças sem fim,
eu choro o velho poeta
que morreu dentro de mim.
29
Relembrando os sons dispersos
das liras da mocidade,
meu sonho acompanha os versos
nas cordas desta saudade!...
30
Ribeirão, cidade nobre,
mas de alma humilde e serena,
és mãe do rico e do pobre,
da pele clara e morena!
31
Ribeirão é terra quente
de clima e de coração.
Qualquer raça, aqui se sente
bem mais gente, mais irmão!
32
Rondando marco após marco,
a minha sorte à deriva,
a ventura é sempre o barco
que do meu porto se esquiva.
33
Sem dinheiro, a pobre Aninha
se refaz em volta e meia:
depois de rodar bolsinha,
tem sempre a panela cheia!
34
Sem lamentar, eu suponho,
ao ver um sonho à deriva:
- mais importante que um sonho
é eu sentir que estou viva!
35
Se o verão tudo arrefece,
talento é inovar quimera;
onde um novo sonho cresce,
sempre existe primavera.
36
Sobras desta trajetória,
os espinhos do desgosto
vão escrevendo outra história
sobre as linhas do meu rosto!
37
Talentoso no passado
mas depois um tanto frio...
e desse amor mal cuidado
restou-me um lar tão vazio!
38
Tiro a máscara... - ouço aflita
de um mar de farsas sem fim
um outro Eu que ainda grita
por vida, dentro de mim!
39
Usou truques à vontade,
tentando a sorte a coroa...
Mas alguém diz: - "Nessa idade,
só gasta cartucho à toa!”
40
Vencendo marco após marco,
alcancei um mar deserto
onde à deriva, meu barco
já não tem mais rumo certo.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...