sábado, 16 de dezembro de 2017

Aurora Pierre Artese


A brisa da madrugada
entrando pela janela,
balança a rede bordada
de sonhos, dos sonhos dela...

A brisa da mocidade
passa rápida, impaciente,
jamais volta e sem piedade
carrega os sonhos da gente…

A brisa do amor caindo
em minha rede do outono,
é primavera florindo
uma roseira sem dono!...

Acreditam os marujos
que as cantigas da sereia
marulham nos caramujos
que o mar atira na areia.

Ah! Se Deus ficar zangado,
qualquer dia, por capricho,
joga este mundo danado
dentro da lata de lixo!

Ah... se no inverno da idade,
voltassem as andorinhas,
aquelas, da mocidade,
que um dia foram só minhas!

A inocência tem a graça
e o porte de uma rainha;
límpida jóia sem jaça,
da mais pura água marinha.

A Maria do Rosário
vaidosa e analfabetinha,
procura um veterinário
que tire "pés de galinha"...

Anunciando a calmaria,
certa pomba mensageira
trouxe o olhar de um novo dia
num raminho de oliveira.

Ao partir ficou presente
uma estranha nostalgia,
e percebi, de repente,
que eu te amava e não sabia!

A patinha procurava
um ricaço só pra ela...
Encontrou: o pato estava
“recheado”... e na panela!

A solidão mais sofrida
é quando o tempo envelhece
na curva triste da vida,
onde o amor desaparece... 

As Trovas que ele escreveu
têm valor... mas não têm preço.
Luiz Otávio não morreu
foi morar noutro endereço.

Até onde a Fé alcança,
Anchieta deu agasalho,
e nasceu dessa esperança
a Capital do Trabalho.

A viúva do Licínio,
pelo jogo tem um fraco...
e sustenta o condomínio
com o lucro do... “buraco”!...

Caminho despercebida
entre os que vivem tão sós...
mas daria a minha vida
para alguém dizer-me... Nós!

Ciumenta, a pata chorava,
procurando pelas matas,
sabendo que o pato estava
andando com duas patas!

Declina o sol e retrata,
no crepúsculo silente,
uma estrela cor de prata
no sorriso do poente!

De um segredo bem guardado
num alento quase mudo,
fiz um verso em tom magoado
e, sem querer... disse tudo!

Duas almas quando juntas
se completam sem temor...
mas quando o amor faz perguntas,
a incerteza mata o amor.

Ela estufou... só na frente,
e contou pra sua amiga
que foi o inchaço do dente
que desceu para a barriga!

É no fim da caminhada,
quando nada mais se alcança,
que uma luz quase apagada
traça um risco de esperança...

Enquanto aumenta a cidade
na moderna construção,
cresce comigo a saudade
dos tempos do... casarão!...

É secreto para o mundo
esse mundo de nós dois...
Nosso amor é tão profundo
que nem importa o depois…

Felicidade é um recado
sem data, sem remetente,
chegando sempre atrasado
na caixa postal da gente!

Ferve o leite na panela,
e o garoto sapeando,
diz à mãe, pela janela:
– “A panela está babando!...”

Foi dando o pé que ficou
um papagaio assanhado,
até que um dia virou
“lourinho desmunhecado”!

Menino pobre, sem rosto,
sem futuro, sem roteiro,
só festeja o seu desgosto
com cola de sapateiro...

Muitos versos em segredo
te escrevi, com emoção...
Não mandei, pois tive medo
da resposta ser... um “não”!

Na moldura da janela,
a tua sombra franzina,
é uma pintura sem tela
entre as rendas da cortina.

Na rude encosta deserta,
por onde escorrega a vida,
não tem hora ou data certa
o comboio da partida…

Na seara desta vida
eu quero colher agora
toda esperança perdida
que, sem querer, joguei fora…

No começo o tempo sobra,
na juventude incontida,
e depois a idade cobra
restos que sobram de vida!

No espaço da porta aberta,
entra a saudade e, comigo,
divide a mesma coberta
que eu dividia contigo!...

Nossa vida é um manto feito
com capricho e sutileza,
bordado pelo direito,
sobre o avesso da incerteza. 

O apressado inconsequente
trocando as “bolas” do assunto,
deu pêsames ao nubente
e parabéns... ao defunto!

O segredo desta vida
é criar de um quase nada,
uma trilha bem florida,
no agreste da longa estrada.

Pinheiros ao sol levante,
parecem taças voltadas
sorvendo o orvalho espumante
no festim das madrugadas...

Quando a saudade procura
entrar, arrombando as portas,
ilumina a casa escura
das minhas lembranças mortas!

Quando certo olhar me afaga,
eu mergulho no infinito
de um eco que se propaga
na insistência do meu grito.

Quando chegou parecia
ter chegado a madrugada...
E partiu levando o dia,
deixando a noite fechada.

Quando o boi é retalhado
e sem dó entra na faca,
muda de nome o coitado
e vira... carne de vaca!

Se eu tranco a porta da frente
para não sofrer com ela,
a saudade impertinente
quebra os vidros da janela!

Seguindo os passos das horas
na solidão desmedida,
eu perdi muitas auroras
na aurora da minha vida.

Solidão... pautas vazias,
cantigas lentas, remotas...
solfejo marcando os dias
no descompasso das notas!

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Lucy Sother de Alencar Rocha (1928 - 2006)


A cadeira que, na sala,
num balanço  vem e vai…
acorda a saudade e fala
das lembranças de meu Pai…

Ah! Coração, vê se aprendes!
Finges orgulho e altivez,
um mês depois.. te arrependes
começas tudo outra vez !

Ai! paisagem esmaecida
de um quadro em papel machê.
Ai! sombras de minha vida!
Ai! entre as sombras... você!

A resposta custou tanto,
demorou tanto a chegar,
que a esperança lá num canto
envelheceu de esperar!

A saudade em cada fio
dos cabelos, se retrata.
Por isso, é que eu desconfio
que a saudade... é cor de prata.

As coisas simples, modestas,
encerram saber profundo.
Nasceu, sem plumas e festas,
o Maior Homem do mundo!

As jóias, pesando tanto,
são agrados que eu dispenso...
Se queres secar meu pranto,
basta a leveza de um lenço.

Atenta à voz de comando
da patroa, a empregadinha,
pra ver a louça brilhando
lambe os pratos na cozinha.

À "Tua Sombra", não temo
os percalços da maré,
por saber que além do remo,
mais que a força, tenho a fé.

A vida é como a semente,
que não se acaba ao morrer;
fenece, mas novamente
mais tarde... vai renascer!

A vida escreve e ainda assina
mais esta, entre outras verdades:
quem só conhece a neblina
não resiste às tempestades.

Centésima primavera!
Esfumando o azul de um monte,
a natureza se esmera
em seu mais "belo horizonte"!

"Coma a casca (a mãe exorta)
do seu sorvete"... E hoje o Abel
toda vez que come torta...
come o prato de papel!

Conquiste o amor; mas... prudência!
Se o amor for fácil, desista!
Conquista sem resistência
não tem sabor de conquista!

Da capital favorita
dizem de forma sumária:
- "Assim... tão moça e bonita...
não pode ser Centenária"!…

Este louco às gargalhadas
que alegre assim te parece,
esconde em meio às risadas
os conflitos que padece.

Lá nos reinos da lembrança,
lá nos porões da memória,
reina a saudade que trança
e destrança cada história…

Magia – é quando o crepúsculo
do sol, apaga o braseiro,
e um pirilampo... minúsculo…
acende o seu candeeiro…

Mais uma ausência, outra  ausência,
um adeus, um nunca mais.
E a longa e triste sequência
dos momentos sempre iguais. 

Minas, distâncias tamanhas
de vales, cerros, colinas...
das minas sob as montanhas,
velhas montanhas de Minas!

Minha angústia se resume
no gesto em que acaricio
resquícios de teu perfume
num travesseiro vazio…

Minha sorte é tão inglória,
que ostento ao peito, entre laços,
não as medalhas da glória,
mas o troféu dos "fracassos".

Mostram-me, estradas que eu venço
sem ti, sem fé, sem razão,
que o caminho é mais extenso
se quem passa... é a solidão.

Mudo, quieto, sem barulho,     
na sombra em que se mascara
este seu teimoso  orgulho
é o portão que nos separa.  

Murmuram de nós que amamos
um ao outro, mas que importa?
Importa o que murmuramos
nós dois, por detrás da porta...

Não é sobre um mar de rosas
que se afirma o navegante.
São as ondas fragorosas
que fazem dele... um gigante!

Narram as lendas que as dunas
do deserto, à lua cheia,
são encantadas escunas
navegando em mar de areia…

No antigo ninho eu não entro.
Depois que tu foste embora,
sinto mais frio lá dentro
do que no inverno... aqui fora.

Ocasos... eu posso vê-los
num sino longe a tocar:
no branco dos meus cabelos,
no brilho do teu olhar...

O rouxinol quando canta,     
é um joalheiro em serenata,
que tendo de ouro a garganta,   
põe jóias na voz de prata.

Perdi. Não quero consolo.
Mais que "pedra de tropeço",
cada derrota é um tijolo
com que me edifico e cresço.

Por onde andarão, agora,
de mãos dadas, por aí,
tuas mãos, minhas outrora,
que, por um nada, eu perdi?

Porque nos sonhos - é certo
não há muros, nem distância,
quantas vezes eu desperto
nos ontens da minha infância...

Postas as cartas na mesa,
vejo que o amor, na verdade,
deu-me por prêmio... a tristeza
e por conquista... a saudade.

Quando o amor acende a chama
no cenário da paixão,
cobre o inverno e em nossa cama
põe suores de verão.

São chamas do mesmo lume
a invadir com seus bailados;
e ambos - o amor e o perfume
gostam de ambientes fechados…

São teus braços sedutores
o abrigo, onde em devaneios,
“ressonam” meus dissabores
e “cochilam” meus receios.

Se, areia do tempo, alcanças
meu deserto entardecer,
busco o oásis das lembranças
e não me deixo abater…

Se fui sol, fui luz e aurora
dos filhos, no amanhecer,
Sinto nos filhos, agora,
minha luz... no entardecer.

Se o "oásis" - abrigo e sombra -
me promete a lua cheia,
nenhum "deserto" me assombra
com tempestades de areia…

Se tens culpa, nunca apontes    
com teus dedos  a ninguém.
Existem dedos aos  montes
a te apontarem também.

Soberana, eu acredito
ser rainha até meu fim,
não desse reino em que habito,
mas deste que habita em mim.

Tem a vida os seus segredos:
deu-me trabalhos de um jeito...
Não tive calos nos dedos
mas, quantos, dentro do peito!

Tenta. Retorna ao início...
Recomeça as caminhadas...
que a conquista e o sacrifício
andam sempre de mãos dadas.

Teu agrado... e como agradas.
É uma festa para mim
quando as portas são fechadas
e o silêncio esconde um "sim".

Tua ausência vem e conta
o que a presença não diz,
e eu brinco de faz de conta,
fingindo que sou feliz.

Voltou sim! Voltar... voltou.
Abriu-me os braços... sorriu.
Só que... o “você” que chegou
não é o “você’ que partiu...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

José de Ávila (1904 -????)


Ah! estou muito mudado.
Bem diferente me vejo.
Já pequei por atacado
e agora, peco a varejo. 

A mulher manda, pedindo.
Ovelha fera de brava,
a si mesmo até, mentindo,
diz que não passa de escrava.

A mulher não é de graça.
Abusa pra ver! Depois,
não te queixes, que ela passa
o carro à frente dos bois.

Ante a manhã, não me engano
– falo para meu contento –
Deus é poeta parnasiano
de incomparável talento.

Ao lhe contar meu segredo,
mesmo só pela metade,
o nosso amor de brinquedo
virou amor de verdade.

A sua mão estendida,
apertei de olhos em pranto.
Nunca adeus de despedida
dei a alguém que doesse tanto.

A tarde em flor se anuncia.
Silêncio. Paz. Hora santa!
Despedindo-se do dia
sabiá saudoso – canta.

Bem contra a minha vontade,
vento da recordação,
pões o moinho da saudade
a moer meu coração.

Botão-de-rosa vermelho
que do jardim fulge a um canto!
Diante de ti, eu me ajoelho
embriagado de encanto.

Conversas rindo e brincando
e, em tua voz, eu descubro
os passarinhos cantando
nas madrugadas de outubro.

Ela se foi. Falo franco:
chorei lágrimas de dor,
tantas que meu lenço branco
nunca mais voltou à cor.

Ela voltou. Da saudade
cessou a dor que eu sentia.
Chorei de felicidade,
quase morri de alegria!

É pelo amor que me atrevo
a tudo. Sem covardia
faço mesmo o que não devo
e até mais do que devia.

Esperança: meu encanto!
Neste nosso mundo louco,
por que me prometes tanto,
e, depois, me dás tão pouco?...

Esta manhã deslumbrante
é doce beijo de amor
que Deus dá, do céu distante,
na face da terra em flor.

Eu conheço como poucos,
este mundo também, meu.
é mesmo, mais dos loucos,
se não for, louco sou eu.

Exibindo tua graça,
sorri e canta, menina,
que a vida é sonho que passa,
pois – mal começa – termina.

Juro que em Deus acredito
até mesmo, assim – sem crer.
Em tudo que acho bonito,
nunca me canso de  O ver.

Fã da flor, feliz, festejo
esta rosa e me convém
apanhá-la, dar-lhe um beijo
e levá-la pra meu bem.

Feito cego sem ter guia,
sem que soubesse meu santo,
perdi-me na pradaria
florida de teu encanto.

Juro, amor, que não me iludo
ao dizer que tu és, sim,
o sal e o doce de tudo
neste mundo, para mim.

Meu galo músico canta
cantiga de saudação
à aurora – bonita santa
no altar azul da amplidão.

Muitos casais são palhaços
que fazem rir os presentes,
indo de beijos e abraços,
a coices, unhas e dentes.

Na casa de um capixaba
se a gente chega sem pressa,
a pressa logo se acaba
quando a conversa começa.

Não me consolem. Que o pranto
cristalino e superior
cumpra seu trabalho santo
de aliviar a minha dor.

Nêga-fulô de magia,
com a candeia da lua,
risonha, a noite alumia
os namorados na rua.

O homem sem a mulher,
sem cabeça é corpo. Moço,
sozinho, o que ele fizer,
vira um angu de caroço.

Ouvir-te, que coisa grata!
Falas e a gente se encanta.
Terás um sino de prata
na catedral da garganta?

Pela mão do Onipotente
generoso protegida,
na magia da semente
se oculta, dormindo, a vida!

Por te querer, com certeza,
culpa não tenho, menina.
Culpa tem tua beleza
que me escraviza e fascina.

Prezo, estimo, considero
o amor a mais não poder,
mas amor sem ser sincero
é bem melhor não se ter.

Quando namoro uma rosa
ou vejo mulher bonita,
uma paixão tormentosa,
inteiramente, me agita.

Quando viro pensador
e me perco descuidado,
no universo de uma flor,
me sinto maravilhado.

Quem ama, de si faz trigo.
Luta e vence; em Deus – confia;
sem medo enfrenta o perigo
e sofre com alegria.

Que manhã! Das mais formosas…
O céu na infância do dia,
parece que chove rosas,
chovendo luz e harmonia.

Quem diz adeus e ao partir
fica em saudade e lembrança,
devia mesmo não ir
sem nos levar na mudança.

Risonha, a Aurora se agita.
Róseos tons a luz lhe empresta.
Parece moça bonita
chegando alegre da festa.

Santo remédio é o pranto.
Tem o divino condão
de abrandar o desencanto
e as dores do coração.

Se meu coração te apoia
em tudo mesmo, querida,
é porque tu és a joia
que melhor me enfeita a vida.

Senhor Deus, devo saber
o meu destino cumprir.
Que eu faça por merecer,
para ganhar sem pedir.

Sou onda que vai, tangida,
da escura profundidade
do mar inquieto da vida
à praia da eternidade...

Tudo passa tão depressa:
sonho, amor, felicidade
e mal se acaba, começa
o tempo em flor da saudade.

Usa e abusa de agrado
a seu querido a mulher.
Vai chovendo no molhado
e alcança tudo o que quer.

Vai silencioso, em segredo,
o tempo, sem descansar,
cuidando do seu brinquedo
de fazer e desmanchar...

Vivo a vida em sonho imerso.
Tenho amor à fantasia.
Sou operário do verso
e lavrador da poesia.

Vivo vivendo de sonho,
quando te vejo sorrindo.
Sonho acordado e suponho
que estou sonhando – dormindo.

Vou te vigiar, não sou bobo,
o bom-senso me aconselha.
Quem melhor guarda do lobo
se não eu a minha ovelha?

sábado, 4 de novembro de 2017

Nilton da Costa Teixeira (1920 - 1983)

1
A humildade não se cansa,
conserva a fé arraigada,
e vai plantando esperança
onde não haja mais nada.
2
A mentira do sorriso
é silenciosa e indulgente,
e sempre vem de improviso
aos lábios tristes da gente!
3
Após frustradas quimeras
nossos silêncios ocultos
mostram descrenças e esperas,
choram desejos sepultos.
4
As campas dos cemitérios
sempre, em silêncio, esquecidas,
guardam os tristes mistérios
das esperanças perdidas.
5
A vida triste fantasia,
que abriga tanta ilusão,
é o caminhar dia a dia,
para um funéreo caixão.
6
Buscando mundos risonhos,
plenos de sábios caminhos,
vou na humildade dos sonhos,
esquecer dos meus espinhos.
7
Despreocupado com a morte
para quem tão pouco resta,
mesmo os rigores da sorte
são verdes sonhos de festa!
8
Durante suas andanças,
Jesus Cristo foi fecundo,
recolocando esperanças,
entre as descrenças do mundo.
9
Em silêncio, entre matizes,
estrelas postas ao léu,
mostram sorrisos felizes
dos anjos que estão no Céu.
10
Em silêncio, pelas faces,
vão as lágrimas descendo,
quais esperanças fugazes
dos sonhos que vão morrendo!
11
Há silêncios manifestos
calando sempre mais fundo,
porque são mudos protestos
aos desacertos do mundo.
12
Não! O silêncio não basta
contra uma intriga atrevida
que, caluniosa e nefasta,
quer arruinar nossa vida.
13
Neste abraço em que te aperto,
com a beatitude de um monge,
sinto meu amor tão perto...
Minha esperança tão longe!
14
Nossa vida é uma viagem
de turismo e avaliação,
em que o peso da bagagem
é feito no coração.
15
No silêncio das esperas,
entre meus dias tristonhos,
vou sonhando primaveras
nos espinhos dos meus sonhos.
16
Nos meus cabelos de prata,
silenciosa, sem defesa,
fio a fio, se retrata
minha infinita tristeza!
17
Nos silêncios dos caminhos
a cruz triste e apodrecida
é uma lembrança entre espinhos,
dos espinhos desta vida.
18
Nossos silêncios ocultos,
dentro do peito, sofrendo,
são quais desejos sepultos
dos sonhos que vão morrendo.
19
O Judas de hoje, moderno,
maneiroso, demagogo,
não teme os clarões do inferno,
porque dança sofre o fogo.
20
O meu sonho não se cansa,
vagaroso nos seus passos!
- Vai em buscada esperança,
com a humildade nos braços!
21
Para salvar aparências,
nós pela vida, mentindo,
entre silêncios e ausências,
sofremos sempre sorrindo.
22
Quais tênues gotas de orvalho
sobre as folhas pequeninas,
busca a humildade agasalho
nas almas mais cristalinas.
23
Quem passar por Ribeirão,
fatalmente, irá deixar,
pedaços do coração,
que um dia virá buscar.
24
Quem se conserva de pé
frente à calúnia tacanha,
tem humildade, tem fé,
e transpõe qualquer montanha!
25
Ribeirão - tu sobranceiro,
és do interior, no presente,
o município, primeiro,
porque caminhas à frente...
26
Sempre a palavra saudade
entre o silêncio e a emoção,
tem um quê de eternidade
morando no coração.
27
Sempre em silêncio profundo,
no mais triste desencanto,
vamos nós por este mundo,
chorando e escondendo o pranto.
28
Sempre em silêncio vivendo,
eu venho, desde criança,
por entre espinhos sofrendo
sem ter qualquer esperança.
29
Silenciosos e tristonhos,
desfilam pelos caminhos,
os meus calvários de sonhos
e minhas cruzes de espinhos!
30
Tal uma flor campesina,
sempre a humildade oferece
a grandeza pequenina
do perfume de uma prece!
31
Tenho a casa pobrezinha,
um prato e uma colher,
e a esperança toda minha
de arranjar uma mulher.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...