quinta-feira, 14 de março de 2019

José Maria Machado de Araújo (1922 - 2004)


A água jorrando em cascatas
pelos penhascos da serra,
é o sangue puro das matas
enchendo as veias da terra!

A cruz que às costas tu levas
pesa mais que a minha cruz:
é que eu ponho luz nas trevas
e tu, pões trevas na luz.

Ama, sê bom, e terás
horas tranquilas e calmas...
O amor é um sol que desfaz
a neblina que há nas almas!...

Angústia é a pressão feroz
daquela tristeza ingente,
que é bem maior do que nós
e teima em caber na gente...

Ante as sandálias furadas
que entre cascalhos gastei,
não culpo o chão das estradas,
mas os maus passos que dei.

Ao candidatar-se a Alice,
a modelo, o secretário
deu-lhe uma tanguinha e disse:
- Preencha este formulário...

Ao dentista, todo dia,
vai a noiva do Ventura...
E o noivo nem desconfia
que ela usa dentadura...

Ao pôr-lhe a esmola no prato
pergunto ao surdo, baixinho:
- És mesmo surdo de fato?
E ele: - Surdinho, surdinho!...

Ao vê-la, cheia de encantos
nos braços de outro, não nego,
os meus ciúmes são tantos,
que preferia ser cego!

Após longa caminhada
meus pés, sangrando em ferida,
deixaram no pó da estrada
as reticências da vida...

Aprende, filho, a viver
com amor, paz e alegria,
e eu te juro que hás de ter
mais de um hoje em cada dia.

As crianças ao falar
inventam frases tão belas,
que a gente fica a pensar
que é Deus que fala por elas.

A trova com boa rima
Mas sem um bom pensamento
Lembra uma linda menina
Com cabecinha de vento.

Bendigo o trabalhador
que, sem febre de ambição,
constrói domínios de amor
num pedacinho de chão!

Cite a terceira pessoa
do verbo amar, por favor.
E a voz do aluno ressoa:
- O ciúme, professor!

Com treze pontos que fez
na loteca, o Zé Gambá
já pronuncia, em Francês:
Niterói - "Niteruá"!

Coração, nunca te iludas,
pode ser falso o teu pranto:
há muito santo que é judas...
e muito judas que é santo...

De meu coração cativo
que é fonte de amor imenso,
nascem mágoas - porque vivo;
nascem culpas - porque penso!...

Demitiram o Waldir
da chefia da seção,
por esquecer-se de rir
da piada do patrão!

Deus deposita a ventura
nas almas puras e mansas:
há domínios de ternura
no coração das crianças!

Disse: "Que trova bonita!"
Mas tu não ouviste bem
e logo indagaste aflita:
"Quem é que é bonita, quem?"

Dizes serem diferentes
nossos ciúmes, - convenho:
-Tu sabes por quem os sentes,
eu não sei de quem os tenho!

Dos grandes não tenhas medo
se a razão não te faltar:
olha que um simples rochedo
tem domínio sobre o mar.

Ela é boa e não se poupa...
Vive a limpar, sem mãos frouxas:
de dia – trouxas de roupa,
de noite – roupa de trouxas!...

Ela é tudo em minha vida!
Seu nome... seu nome... Bem,
quem ama mulher proibida
não diz o nome a ninguém!

"Ela voltará, descansa",
a esperança me dizia...
E eu não via que a esperança
por piedade me mentia...

Em cada abismo em que afundo,
eu sempre planto um jardim
para achá-lo mais fecundo
quem cair depois de mim...

Em conflitos e bonanças
nossos destinos se traçam:
nós somos duas crianças
que brigam, depois se abraçam!

Em meu peito amargurado
tantos conflitos abrigo
que, às vezes, fico arrasado
de tanto brigar comigo!...

Em te negar a ternura
que eu tinha e nunca te dei,
quantos anos de ventura
à minha vida roubei!...

Entre a tua e a minha idade,
filho meu, quanta distância! ...
- És a infância da saudade,
sou a saudade da infância. . .

Esses olhos que possuis,
cheios de encanto e calor,
são dois convites azuis
para uma festa de amor!

Estuda, criança, aprende,
te educa enquanto puderes,
que o teu futuro depende
da educação que tiveres!

É tão forte e tão perfeito
o teu olhar, doce e mudo,
que ao infiltrar-se em meu peito
toma o domínio de tudo...

Eu, com outra? - Que maldade!
E tu crês nessa tolice?
- Não houve nem a metade
do que o ciúme te disse!...

É uma loura de lascar
minha secretária, a Elisa.
Só não sabe trabalhar,
mas eu pergunto: e precisa?

Eu sempre soube enfrentar
os conflitos mais violentos:
um velho lobo do mar
não foge à fúria dos ventos!

"Eu sou, sim!"  Ela jurou...
E o rapaz casou com ela.
Não era o que ele pensou,
mas era o signo dela...

Eu tenho amor, tu pureza,
não temas um lar modesto:
a nossa fé põe a mesa
e Deus há de por-lhe o resto...

Feita a macumba, sisudo,
disse-me o velho orixá:
- Oxalá vai lhe dar tudo...
E eu respondi: - Oxalá!...

Finjo ter ciúme agora,
para matar a saudade
daqueles tempos de outrora
em que o tinha de verdade.

Fizemos, na vida ingrata,
do nosso amor um tesouro:
os filhos nos deram prata!
Os netos nos deram ouro!

Há, na vida, uma verdade
que é cumprida com rigor:
- Só se encontra com a saudade
quem teve encontros de amor.

Há nos pais tamanhos brilhos
de meiguices e de afetos,
que alforriados dos filhos,
tornam-se escravos dos netos!

Hoje, na mansão mais alta
do Céu, sem falta de nada,
o artista lamenta a falta
que tem feito à garotada!...

Já fui jovem, mas não pude
tal ventura perceber,
porque a minha juventude
passou por mim sem eu ver!

Lentamente cai a tarde...
E o medo da solidão
vai fazendo com que eu guarde
as tardes no coração.

Louvo os heróis e heroínas
que cruzam o mar da vida
por entre espessas neblinas
e encontram, sempre, saída!

Mesmo eu não sabendo de nada
Digo aos crentes e aos ateus:
a eternidade é a estrada
com o tamanho de Deus!

Mesmo morta, mãe querida,
a tua luz me alumia,
pois, não morre quem na vida
foi sempre uma estrela guia.

Minhas mãos cheias de amor,
plantam amor pelas ruas...
E mais não plantam, Senhor,
porque só me deste duas!...

Na ânsia de te encontrar
eu dominei mil fracassos,
e não pude dominar
meu coração em pedaços!...

Não a ofendi, "seu" Juiz!
Só disse àquela malvada
o que um motorista diz
quando leva uma fechada!...

Não busquem na vida o "além",
que a busca será perdida,
pois Deus não conta a ninguém
o que existe além da vida.

Não condenes, por favor,
estes ciúmes, meu bem:
- Já viste alguém sem amor
sentir ciúmes de alguém?

Não condenes, por favor,
os meus ciúmes, Maria.
Olha que os cegos de amor
também precisam de guia!

Não deixo, cheio de mágoa,
a esperança me faltar:
eu sei que sou poça d'água
mas tenho sonhos de mar.

Não foste a minha metade,
pois jamais me deste um "sim",
mas fizeste que a saudade
fosse a metade de mim!...

Não tive escola, é verdade,
na minha infância sofrida,
mas com força de vontade
cursei a escola da Vida.

Não tive, por ambição,
o mundo bom que eu queria,
e Deus deu-me um coração
onde esse mundo cabia!

Nascemos irmãos comuns...
Mas, a ambição e os engodos
puseram nas mãos de alguns
o mundo que era de todos!

Nasceu de um simples afeto
o mundo do nosso amor:
o sonho, - foi o arquiteto
e o desejo, - o construtor!

Na trilha do meu destino,
agora quase no fim,
ainda encontro um menino
brincando dentro de mim...

Na vidraça uma pedrada...
Corro à rua... e a raiva passa
ante a criança culpada:
- já quebrei tanta vidraça!...

Nosso amor, em desacerto,
e de mágoas tão coberto,
hoje não tem mais conserto
nem acerto que dê certo!...

Nosso outono é tão bonito
que ao sonho abrimos as portas,
e um amor quase infinito
põe vida nas folhas mortas.

Nunca ambiciones a fama
se não sabes merecê-la...
Quem sobe em cordas de lama
jamais chega a ser estrela.

O domínio mais profundo
deste mundo é o coração,
pois é maior do que o mundo
e cabe dentro da mão!...

O meu sonho mais bonito
é, de um dia, conquistar
esse domínio infinito
que há dentro de seu olhar!...

Os que devastam as matas
por prazer de devastar,
vão chorar quando as Cascatas
não puderem mais chorar!

O tempo é ladrão perfeito
mas a saudade o enganou,
escondendo no meu peito
o que o tempo me roubou...

Parece imenso, e é restrito
o saber que o Homem cultua:
quer conquistar o infinito
e, apenas, pousou na Lua.

Pelas sandálias furadas
que entre cascalhos gastei,
não culpo o chão das estradas,
culpo os maus passos que dei.

Perdoar, mesmo ofendido,
às vezes não custa nada:
cada conflito contido
é uma vitória alcançada.

Pesada cruz suportamos:
-de ciúmes os dois sofremos!
Por isso é que nos amamos
e nunca nos entendemos...

Pode o homem ser tacanho,
pode ser grande e perfeito,
que o seu mundo é do tamanho
do mundo que tem no peito.

Por crer em Deus e querer
voltar ao céu de onde vim,
eu comecei a fazer
outro céu dentro de mim!

Por ambição desmedida
muitos homens conheci,
que, sendo donos da vida,
não foram donos de si...

Por favor, doutor Gamboa,
dê-me um remédio bem quente:
marido de mulher boa
não pode ficar doente...

Por oito lustros inteiros,
nossos acertos, Maria,
foram como o dos ponteiros
de um relógio, ao meio-dia...

Por querer sempre o melhor
descobri, em meu labor
que o pão ganho com suor
tem muito melhor sabor!...

Por tuas culpas, eu minto
para ninguém te ferir,
mas só Deus sabe o que sinto
quando tenho que mentir...

Quando me ponho a brincar
com os netos que Deus me deu,
no domínio do meu lar
o dominado sou eu!...

Quando o homem prender as rédeas,
decisões precipitadas,
muitas das grandes tragédias
poderão ser evitadas...

Quanto pão, quanto agasalho,
ao suor estou devendo!
Sangue branco do trabalho
em minha pele escorrendo!...

Quem vive de alma iludida,
entre conflitos, não sente
que a gente não muda a vida,
a vida é que muda a gente!

Que o jardineiro da paz
nunca se dê por vencido...
Feliz aquele que faz
da vida um jardim florido.

Que tudo quanto a Deus peço
caiba no meu coração:
pois, o desejo em excesso
não é desejo, é ambição!

Que vontade de chorar
sinto na alma, certos dias
em que abro as mãos para dar...
mas encontro as mãos vazias!...

Quis ir além do que sou
e, apenas, colhi fracassos...
Meu limite ultrapassou
o tamanho dos meus braços!...

- Sabes quem morreu?  O Piassa.
E o amigo: - É brincadeira!
- Se é brincadeira, é sem graça,
o enterro foi quarta-feira!...

Se a estrada em que me confino
pelo destino é traçada,
sei que não mudo o destino,
mas posso mudar de estrada!

Sei que existes, sei que és linda,
sei que é doce o teu olhar...
Só não sei quem és ainda,
mas eu hei de te encontrar!...

Sejam grandes ou pequenas,
eu sinto muito mais medo
das culpas que têm, apenas,
o tamanho de um segredo...

Sempre desculpo e tolero
teu ciúme pertinaz.
Não vale o bem que te quero,
todo o mal que ele me faz.

Sem teu amor que é meu mundo,
a vida não faz sentido:
é como andar num mar fundo,
dentro de um barco, perdido.

Sendo a vida vela acesa
dos ventos maus te acautela,
que o destino, de surpresa,
apaga a chama da vela.

Sendo o amor um grande bem,
traz o mal que nos invade:
quem mais ama, menos tem
domínio sobre a saudade...

Seria a vida mais doce,
para os meus sonhos sem fim,
se o mundo, em que eu giro, fosse
o mundo que gira em mim.

Seria o mundo perfeito,
sem ódio, sem ambição,
se as mãos que batem no peito
batessem no coração!...

Se um domínio deslumbrante
vejo da serra mais alta,
vejo, também, mais distante
a terra que aos pés me falta...

Se vês em mim algum brilho,
também podes ser assim
pois foi a escola, meu filho
que fez um homem de mim.

Sofro um castigo pesado
e não quero que se abrande,
pois não fui injustiçado:
minha culpa é que foi grande!

Sonho de alma prevenida,
pois sei que, o sonho é quimera,
e em cada esquina da vida
uma surpresa me espera.

Também sou irmão, na dor,
da velha fonte entre abrolhos.
Quem tem ciúmes de amor,
tem duas fontes nos olhos.

Tendo a precaução por base,
a reticência é uma queixa
que a gente deixa na frase
quando a censura não deixa...

Tenho ciúme profundo
de todo mundo, porque
tenho medo que esse mundo
roube o meu mundo - você!

Tenho culpas e, realmente
muitas delas me consomem.
Cometo-as porque sou gente,
confesso-as porque sou homem.

Tive-a por mãe, que ventura
chamava-se Margarida.
E foi ela a flor mais pura
do jardim da minha vida.

Trovadores, meus irmãos,
vamos viver de mãos dadas.
Onde há correntes de mãos
não há mãos acorrentadas!

Tu dizes que eu sou perfeito
e eu nunca fui o que pensas:
nas alcovas do meu peito
se escondem culpas imensas!

Um reino em seu ventre cabe
e ela o governa sozinha ...
Só quem é mãe é que sabe
quanto custa ser rainha !...

Vejo, em conflitos amargos,
que a causa do meu revés,
foi subir em passos largos
sem ver onde punha os pés.

Vencendo fragas ingratas,
desde a montanha a cantar...
É que a água das cascatas
também tem sonhos de mar!...

Vive o pobre do Vicente
entre o pecado e a virtude,
a esposa muito doente
e a vizinha... que saúde!

Vivi a infância sem mágoa
de não ter Papai Noel:
eu tinha uma poça d'água
e um barquinho de papel...

sábado, 9 de março de 2019

Lavínio Gomes de Almeida (???? - 2009)

A densa treva a cobrir
a montanha do calvário
faz a gente concluir:
- Sombra é uma luz ao contrário.

Ah, Santos! Com que egoísmo
tomas o meu coração!
Teu solo é meu catecismo;
Teu amor, minha oração...

Carnaval!... Tantas folias...
Pagodes doidos de insano!
Cai a máscara três dias
da face que a usou um ano!...

Conceitos, no livro breve
da vida, em página vaga,
vem nosso sonhos, e os escreve;
chega o destino, e, os apaga...

Cruz nas velas, cruz nas luzes
deste céu, brilhante joia...
Mas, por que Deus, tantas cruzes
nas montanhas de Pistóia?

Da História, no vasto trilho,
deixando impressos meus passos,
bem quisera ser teu filho
e erguer-te, Santos, no braço!

Da ternura faço o tema,
das desditas, minha prosa...
De cada dor, um poema,
de cada espinho, uma rosa!

Descalços pelo gramado,
teus pés mansamente vão...
Pões, no pisar, tanto agrado
que eu tenho inveja do chão...

De tudo o que for deleite,
Deus, só deixou, para mim,
a candeia sem azeite,
da vida que chega ao mim...

Deus fez Eva num segundo,
Mas teve um choque, parou!
O seu barro vagabundo
era tão mau que rachou.

Deus que deu ao mar as águas
e às matas deu as graúnas,
pôs, em minh’alma, mais mágoas
que grãos de areia nas dunas...

Durante as longas esperas
de reabrir-se o mosteiro,
a teimosia da heras
já cobre um mural inteiro...

Enquanto choro os fracassos
que a vida me tem imposto,
o tempo imprime seus passos
sobre as rugas do meu rosto!

Envolvido em meus lençóis,
ouço a chuva sobre as hortas
solfejando si bemóis
na clave das horas mortas!

Ergue-te, povo oprimido,
toma tua decisão!
Querem manter-te entretido,
mesmo sem circo e sem pão!

Evolando após a infância,
a juventude é fumaça
tão fugaz, como a fragrância
de um bom perfume que passa...

Faz tanto frio lá fora,
não te vás, detém teus passos!
Eu quero despir-te agora
para vestir-te de abraços...

Já tendo a morte defronte,
nem da vida teve pena:
para não gastar com ponte
quis “pinguela” de safena...

Mais aumentas meu desejo
se colocas, sem ressábios,
a nota “sol” do teu beijo
sobre a flauta dos meus lábios.

Meu sonho bom, tu me bastas,
mas, perto do amargo fim,
se por acaso te afastas,
morre um pedaço de mim!

Meus sentimentos ressalto,
ouvindo do céu conselhos:
sinto-me muito mais alto
quando fico de joelhos.

Na estrada sem estações
do tempo, que, insano, corre,
o amor, cheio de emoções,
nasce... cresce... e depois morre...

Na estrada sem estações,
onde jamais há demoras,
minutos são os vagões
do “trem-sem-volta” das horas.

Na inquietação que se aguça,
carrego na alma dorida
a grande montanha-russa
do sobe-e-desce da vida.

Nas fantasias douradas
da minha imaginação,
fui herói, fiz cavalgadas
sem tirar os pés do chão.

Neste silêncio, as demoras,
em noite escura, sem fim,
eu sinto aceno de auroras,
se acaso estás junto a mim.

No curso de minha vida
foi a tua aparição
a comédia mais fingida
de um Carnaval de ilusão.

No seu viver temerário,
que a nenhum lugar conduz,
quem passa por um calvário
leva vestígios da Cruz!...

Num ato de bom agouro,
se o véu da história descerro,
vislumbro uma pena de ouro
quebrando grilhões de ferro...

Pobre menino vadio,
triste pária pequenino,
és um grande desafio,
sem infância, sem destino...

Presente! Tens frágil glória...
És barco a vagar no escuro!
Fração de tempo, irrisória,
entre o passado e o futuro...

Qual vaqueiro de esperanças,
aboio, com emoção,
a manda das lembranças
nos pastos do coração.

Sei que todo salafrário
que deixa o credor às tontas,
detesta sempre o rosário,
que é feito também de contas.

Sempre só e abandonado
nos teus momentos de ausência,
eu sou segundo parado
no mostrador da existência...

Sofredor sempre se esquiva
de mostrar a dor por fora...
Quando a lágrima é furtiva,
maior é a dor de quem chora...

Sonhando novas auroras,
no meu viver sem ninguém,
me embala a dança das horas
pelo amanhã que não vem...

Vai findar-se a mocidade!
Com ela os sonhos se vão...
Fico noivo da saudade
e viúvo da ilusão...

Veleiro que ao vendo avanças,
a demandar outras plagas,
tu vais cheio de esperanças
sobre a esperança das vagas!

Velhas cartas... meu degredo...
Com pranto as pude escrever.
Há no seu bojo um segredo
que o mundo não vai saber!

Vi, morando em teu rosto,
ao buscar sinais de amor,
pantomimas de mau gosto,
comédia escondendo a dor...

Voltei... a rua, em verdade,
em quase nada mudou...
Mas tinha agora a saudade,
que em cada esquina brotou...

quarta-feira, 6 de março de 2019

Ester Figueiredo


Algemas são os teus braços
que me prendem com ardor...
De alma nova, sem cansaços,
eu vou render-me a este amor!

Amanheci tão contente
por mais um dia de vida,
podendo seguir em frente
com Deus me dando guarida.

A paisagem que desfila
perante este meu viver,
lembra o tempo, lembra a vila,
o amor que me fez sofrer.

As alegres margaridas
enfeitam nosso jardins
jamais ficam às escondidas
parecem até manequins.

A vagar por nossas mentes,
sempre tão belas, tão novas,
as palavras são sementes
que dão vida às minhas trovas.

Dia de verão, tão lindo...
O sol, teu corpo dourando...
Tua, nua, quase dormindo...
E eu, bem perto, apreciando!

É magia, é sedução,
sempre que meu corpo inteiro,
ao toque da tua mão,
se transforma em um “braseiro”.

És o rumo em minha estrada...
És a luz que me ilumina...
És uma noite estrelada...
És o sol que bem me anima...

Estas rugas no seu rosto
que a deixam amargurada
formam marcas de desgosto
por amar sem ser amada.

Esta união que é um exemplo
de amor, de fidelidade,
fez dos corações o templo
que acolhe a felicidade.

Este orgulho que carregas,
insano, dentro do peito,
foge, tão logo te entregas
de corpo e alma em meu leito.

E tu seguiste... sozinho...
Aqui fiquei rejeitada...
Prologarás teu caminho,
eu buscarei nova estrada.

Exalando este perfume,
enlaçando-me em teus braços,
eu me esqueço do ciúme
e entrego uma alma em pedaços.

Exploram o trabalhador,
prostituem a mestiça,
e quase sempre este autor
fica impune, sem justiça.

Inverno de frias noites
e também de solidão,
ausências que são açoites
machucando o coração.

Lembrando as chaves das portas,
que abrias de madrugada:
passos lentos, horas mortas...
marcando tua chegada.

Linda manhã de verão,
o sol surgiu radiante,
à noite estrelas virão
abrilhantar meu semblante.

Mãe!... Exemplo de ternura,
coragem, fé, devoção.
A tua face é moldura
que adorna meu coração.

Minha Barra tão amada,
de palmeiras, tradições...
Tu serás sempre lembrada
num século de orações.

Muito te amei... tanto, tanto,
com grande ardor dos quinze anos...
Hoje, se rola o meu pranto,
a culpa é dos desenganos.

Na carícia do teu beijo
e no calor deste abraço,
te demonstro o meu desejo
e, em prazer, me despedaço.

Na contramão desta vida,
a criança, sem saber,
é pelo povo esquecida,
mas luta para viver.

Na corrente dos teus braços,
adormecida e bem calma,
eu te entrego meus cansaços,
torno cativa a mina alma.

Não sofra, não se atormente,
tenha fé, muita coragem,
pois nesta vida silente
nós estamos de passagem.

Nas noites de serenata,
o poeta sonhador,
canta, na triste sonata,
as suas dores de amor.

Neste instante derradeiro
em que nada mais restou
sou errante marinheiro
que na saudade afundou…

Neste momento, calado,
de gestos e olhar bisonho,
penso em você ao meu lado,
nos “amanhãs” dos meus sonhos!

Num bom livro, sem frescura,
devaneio na emoção,
de tanto amor e candura,
dando-me sustentação.

O teu carinho de amante,
tão ardente e sem pudor,
eu desejo a todo instante
que me dês com muito amor.

Partiste com ar tristonho
e repleto de razão...
Fui ingrata, mas proponho:
- Volta! Dá-me o teu perdão.

Pobre menino de rua,
sem amor e sem carinho,
só a clara luz da lua
ilumina o teu caminho.

Por causa dos teus maus-tratos,
indiferença... desdém...
eu rasguei os teus retratos,
mas hoje não sou ninguém!

Por sobre o lençol macio,
desejosos, sem pudor,
brilhos de olhos no cio
clamam momentos de amor.

Quando escrevo minhas trovas,
sem saber como e porque,
sinto que são como provas
do meu amor por você.

Que a minha infância floriu
com os conselhos e cuidados,
saudades de quem partiu
mas deixou muitos legados.

Que me tire todo o breu
e que surja a claridade,
pra que neste mundo meu
reine só felicidade.

São tuas mãos que me afagam
e teus beijos que me aquecem...
E quando as luzes se apagam,
os desejos me enlouquecem...

Segue teu rumo a teu gosto...
E esqueça que eu existi,
pois as rugas do meu rosto
revelam o que já sofri.

Se me olhas, estremeço...
Se me tocas, aí, socorro!
Se me beijas, enlouqueço...
No teus braços, quase morro!

Se o mundo te encheu de dor,
se te feriram a alma,
lembra-te sempre: há o amor...
Espera, conserva a calma!

Sob um velho abacateiro,
revivo os doces amores...
E o violão companheiro
é quem canta as minhas dores.

Somente a fé na justiça
do Supremo Criador
destruirá a cobiça
de quem promove o terror.

Tantas tardes de alegria
e tantas noite de amor!
Hoje, à madrugada fria,
busco, em vão, o teu calor.

Tu finges que não me queres,
percebi tudo, já sei...
Mas nenhuma das mulheres
Vai te amar como eu te amei...

Tu trazes na alma a nobreza
e, por caminhos diversos,
mostra bem toda a beleza
tão presente nos teus versos.

Um mundo melhor seria
se o homem fosse capaz
de, num toque de magia,
converter a guerra em paz.

Um olhar cheio de brilho,
de ternura, de emoção,
é o da mãe ao nascer seu filho,
fruto de amor, de doação.

Vejo um mundo de carinho
neste teu jeito de olhar
como a seta de um caminho
que me conduz a te amar.

Vendo as ondas e os rochedos,
num encontro sedutor,
vi que escondiam segredos
de um belo sonho de amor.

domingo, 3 de março de 2019

Lydia Lauer (???? - 2004)


Abre a gaiola, menino,
deixa o pássaro voar.
Deus lhe deu este destino:
ramos verdes, sol e o ar.

A casa da minha sogra.
é lugar onde me escondo.
ninguém me pega, nem logra
em casa de marimbondo.

A droga muito entusiasma
menino inexperiente,
fazendo dele um fantasma,
um malvado e dependente.

A espuma do mar é doce,
mesmo ele sendo salgado,
o inventor fez com que fosse
sem sal o doce inventado.

A mulher é descansada!...
Preguiçosa é o que ela é,
pois faz sempre bem sentada
o que o homem faz em pé.

Ao dormir, os animais
permanecem sempre alerta.
Os homens e os ancestrais
só roncam de boca aberta.

Aqui vai um grande abraço,
num cacho do meu carinho
que, enrosquilhado num laço
tem cor e gosto de vinho.

Barata na marmelada
na banca do seu Abreu
chora, toda lambuzada
o “barato” que morreu.

Com meu olhar distraído
mal noto a vida danando,
num palco já escurecido
com a cortina fechando.

Cor: amarelo vibrante
Sabor: espetacular
Espuma: branca, constante.
Cerveja: bem de-va-gar.

Cumpre o dever com cuidado
que é uma nobre lei cristã.
O tempo desperdiçado
vai fazer falta amanhã.

Disse o tomate à banana,
ele que era só um fedelho:
- Não tire a roupa bacana,
que fico todo vermelho.

É fácil criar a trova.
Basta rimar a receita:
ter bom ritmo, ideia nova,
metrificação perfeita.

É inverno de manhãzinha...
campo branco de geada...
Chimarrão? Lá na cozinha,
onde a porta é franqueada.

Ela deixou sobre a mesa,
numa folha de papel,
cruel adeus... que vileza!
Uma flor e o meu anel.

Envolvido na emoção
e esplendor deste luar,
meu amor, peço perdão
se esqueci de te beijar.

Este poncho esfarrapado
é uma bandeira pra mim.
Na refrega desfraldado
acompanhou-me... até o fim.

É uma estação de lamentos,
tem um jeito de abandono.
Folhas cansadas de ventos
morrem no peito do outono.

Eu sou um barco sem leme
na falta da sua mão.
Sem apoio, a minha treme,
procurando amparo em vão.

Há, na enseada da vida,
três caravelas no cais:
Uma, esperança perdida
Duas, sofrendo demais.

Lua cheia na varanda,
suave aroma de flor
é a inspiração que comanda
a lira do trovador.

Luz modesta e pequenina
de valor raro, puríssimo
é a chama da lamparina
acompanhando o Santíssimo.

Minha mãe é tão velhinha,
delicada, carinhosa,
tem a cabeça branquinha,
mas o frescor de uma rosa.

Minha mãe quando mocinha
em cuidados e desvelos,
com a flor que mais convinha
enfeitava seus cabelos.

Nariz vermelho, gelado,
no inverno mal aguento.
É claro, segue pelado
na frente cortando o vento.

No verão, na minha terra,
vem mosquito safadão.
Faz zum... zum... e depois ferra.
deixa marca e comichão.

O bigode do compadre
vai ficar para depois.
Falo só no da comadre,
pois que vale pelos dois.

O biquíni no varal
balançando o dia inteiro
sem querer faz muito mal
aos rapazes do mosteiro.

O careca inteligente
que se salva como pode
não dá bola, vai em frente,
de cavanhaque e bigode.

O ciúme bem dosado
é uma taça de licor,
meio amargo, mas rosado,
numa bandeja de amor.

O ciúme pediu prazo
junto ao tribunal do amor.
O juiz deu fim ao caso
na solitária da dor.

O meu clone certo dia,
lá no céu tentou entrar,
mas, sem a carta de alforria,
São Pedrinho o fez voltar.

O meu marido pinguço
é feio como a desgraça
pobre, careca, dentuço,
e se afunda na cachaça.

O trovador se liberta
compondo versos risonhos.
É assim... uma porta aberta
nos paraíso dos sonhos.

O vento levou meu sonho,
rodopiou com vontade,
fez meu coração tristonho,
pergaminho da saudade.

Parabéns ao tropeirismo
por desbravar nossa terra,
pelejador do civismo
que faz conquista sem guerra.

Praia sem graça é aquela!
Só tem cara cabeludo,
pirralho feio e magrela
e velha mostrando tudo.

Praia!... Sol! Manhã risonha!
O ar vai ficando quente.
Ah! biquíni sem vergonha!
Não hã cristão que te aguente!

Quando não puder bater,
em teu peito o coração,
salva a vida de outro ser
na sublime doação.

Realidade da vida
que fica atrás da cortina,
liberal ou proibida,
é sempre a que mais fascina.

Roda do tempo girando,
no espaço largo sem fim
é como um disco gravando
a vida dentro de mim.

Se falar, tenha certeza.
Não diga palavra oca.
São joias da natureza
o que sai da sua boca.

Se no lugar por onde passas,
deixares bens e carinhos.
encontrarás também graças
e amores nos teus caminhos.

Solta a barca pescador!
Vai ao mar pescar com ela.
Fica em terra teu amor
aguardando na janela .

Tudo temos de pagar:
o pão, a roupa, a cachaça...
e quem não se conformar,
nem no céu entra de graça.

Uma estrelinha cadente
encontrou seu namorado.
Deu-lhe um beijo incandescente
e um abraço enluarado.

Vai caravela perdida,
nos grandes mares distantes,
como pétala esquecida
na saudade dos amantes.

sábado, 2 de março de 2019

Luci Barbijan


A beleza do poente
quando o Sol vai descansar,
se iguala, quando presente,
ao amor: “Luzes no Olhar”.

A dor que o coração sente,
ao partir um ser querido,
só deixa na nossa mente:
”Rastos de um amor partido”.

Ah! Quanto deleite e amor
tua carta me trazia
Cada palavra, uma flor;
cada frase... poesia.

A Lua sonha acordada
desejando o alvorecer.
Pelo Sol quer ser amada
no encontro, do amanhecer.

Amigo boleia a perna,
e apeia desse malhado.
Com minha amizade eterna,
dou-te um abraço apertado.

Ao gaúcho altaneiro
”que lutou por liberdade”.
Meu abraço verdadeiro,
chegue até na eternidade.

Ao partilhar bons momentos
qualquer coração se aquece.
Na união de pensamentos,
a tristeza, a gente esquece.

Ao ver a moça bonita,
desmanchou-se, bem de leve.
Não pelas formas da dita...
era boneco de neve.

A saudade me esporeia,
fere fundo o coração.
Meu pensar se desnorteia,
tão longe do meu rincão.

Boas lembranças eu trago
na bagagem desta vida.
Uma delas, sem embargo:
“o abraço” da mãe querida.

Canjica e broas de milho,
pro prazer da garotada.
Mais rosquinhas de polvilho..
E uma festa está formada .

Do fósforo da ilusão
deixei apagar a chama.
Sem qualquer outro senão,
Me afastei da tua cama.

Em todo castigo humano
o que, pra mim, tem valor,
é aquele que “mostra o engano”,
e não o que “causa dor”.

Foi um sono agitado,
resquício de um pesadelo,
quando na cama deitado,
sonhou ser um cogumelo.

Frente ao verdadeiro amor
a nossa vida floresce
No desabrochar da flor,
o empedernido enternece

GAIA: Terra, Mãe Divina.
cujo seio é guarida.
“In Natura” nos ensina
que amando-a, amamos a vida.

Graças vos damos Senhor
por nos livrar da “desdita”.
Pela Lua, Sol e Amor...
Por esta terra bendita.

Lá no bule o café cheira;
Na xícara, a fumegar.
E nós, ao pé da lareira,
no inverno, a nos esquentar.

Lá no fim das trevas - LUZ
dissipando a escuridão.
É a esperança que conduz
quem doa seu coração.

Limiar da própria vida
último sopro em ação.
voz sussurrante, sentida,
pediu e deu-lhe perdão.

Lindo carro, cor de breu,
veloz como um avião.
Sem motor e sem pneu
voa na imaginação.

Lua trigueira, no céu,
quis com Verão se casar.
Ela, esqueceu-se do véu...
Ele, esqueceu-se do altar.

Na corrida pela vida,
muitos amores passei
Mas, entre todos, querida
do teu, não me separei.

Na dança da nossa vida,
o tempo logo se esvai. 
E envoltos na própria lida,
o hoje não passa de um ai.

Na mente do trovador
as ideias vão e vem.
"No meu coração a dor.
Amei quem não me quis bem".

Na xícara, café quente;
no prato, um naco de pão.
Venha logo minha gente
saborear seu quinhão.

No âmago da minha vida
não entra nenhum vilão.
Nele apenas a batida
suave do coração.

No coxim da terra deito
para poder descansar.
No acalento deste leito
contigo quero sonhar.

No fim das trevas, a luz
dissipando a escuridão.
Esperança que conduz
no caminho da emoção.

No jardim da minha vida
roseiras mil, vou plantar.
No caixão, na despedida,
só uma rosa vou levar.

No pago, noite serena;
na roda, um bom chimarrão.
Um causo, uma cantilena
e a cuia de mão em mão.

Nos deitamos conversando...
e a madrugada chegou.
Toda a manhã, nos amando,
minha amada engravidou.

”Nunca te há de faltar nada”...
O velho lhe prometeu
Na hora mais esperada.
”soldado” nem se mexeu.

O brilho daquele olhar...
“Eta” menina sapeca!
Não querendo se casar,
fez do garoto - peteca.

O pecado do coveiro
foi não prestar atenção
nas joias que o relojoeiro
levou junto, no caixão.

Os amores descartáveis?
Cá na terra, não no céu!
Desses amores passáveis,
não se salva nem o véu.

Pensamentos do escritor
provoca muita emoção.
Mas precisa do leitor
para haver transformação.

Poeta da lua, sigo
na noite, luz prateada.
Sozinho, qual um mendigo,
esmolando o amor da amada.

Por meter o seu nariz
onde não fora chamado,
o rapaz, frente ao juiz,
acabou sendo julgado.

Quisera poder, um dia,
beijar-te com muito ardor.
Mesmo que na fantasia:
“retrato de um grande amor”.

Se com a caneta traço
pensamentos, no papel,
com minhas mãos eu abraço
um bom vinho MOSCATEL.

Sob o vidro espedaçado,
um retrato encontrei.
Tão antigo, amarelado,
infância que atrás deixei.

Suave, nascem da fonte
correm rumo ao seu destino,
Perdendo-se no horizonte
vão águas, em desatino.

Tuas tranças, menina,
quero de leve puxar.
És tão linda, feminina,
queres comigo casar?

Um bom livro sempre traz
conhecimento e prazer.
Nesta vida é mais capaz
quem escreve e sabe ler.

Velha tapera ruindo,
solitária: "Desamor".
Um pássaro construindo
novo ninho: "Muito amor".

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...