quarta-feira, 2 de junho de 2021

José Lucas de Barros (RN)


1
A ciência, sem suspeita,
será no mundo aplaudida
se a clonagem só for feita
em benefício da vida.
2
A esmola às vezes se "enfeita"
com tinturas de vaidade,
mas a caridade é feita
de amor e fraternidade.
3
A liberdade é um tesouro
da mais alta qualidade...
Nem por gaiola de ouro
há quem troque a liberdade!
4
A menina seminua,
presa, disse ao detetive:
– eu não me queixo da rua,
mas do lar que nunca tive!
5
A mulher, rasgando os passos,
caminha alegre, vai cedo...
Quem leva um filho nos braços
enfrenta o mundo sem medo.
6
A multidão me põe louco
entre empurrões e zoada...
Sozinho, sou muito pouco;
na multidão, não sou nada!
7
Antes de sair de cena,
peço tempo aos céus risonhos,
pois acho a vida pequena
para a vida de meus sonhos.
8
Ao voltar, com muito amor,
ao campo que já foi meu,
bebi no cálix da flor
o mel que a abelha esqueceu.
9
A poesia se ilumina
e em trono de amor repousa,
pela pureza divina
dos versos de Auta de Souza.
10
A preguiça dos ponteiros
de meu velho carrilhão
mostra os minutos ronceiros
das noites de solidão!
11
Aquele singelo enredo
de amor, ensaiado a sós,
foi o mais belo segredo
que a vida pôs entre nós!
12
Auta pôs, com mãos de fada,
em versos de encanto e dor,
toda a pureza filtrada
na luz eterna do amor.
13
Carcará desce do pico,
pega a vítima e condena,
pois, sendo de pena e bico,
bica e mata sem ter pena.
14
Chove no Sertão, e o rio
desce da serra distante;
devolve a vida ao baixio
e o sorriso ao retirante!
15
Com devotamento ao lar,
onde o amor finca raízes,
a noite é para sonhar
e os dias são mais felizes.
16
Como é belo ver a planta
que abre flores nos caminhos,
nas horas em que Deus canta
pela voz dos passarinhos!
17
Como os demais trovadores,
tenho ilusões,toda hora...
São lindas, parecem flores,
mas, num sopro, vão embora!
18
Corre o viver tão bonito,
nesta paz de vento brando,
que eu vejo e não acredito
que a velhice está chegando!
19
Crianças em doce anelo,
fitando, além, o horizonte,
sonham que um dia mais belo
vai nascer por trás do monte!
20
De alguém que há pouco passou,
deixando a porta entreaberta,
alguma coisa ficou:
talvez a lembrança incerta!
21
Deus, que viagem florida,
em campos tão sedutores!
Como é bom trilhar, na vida,
pelo caminho das flores!
22
Duas taças num banquinho,
sem ninguém, têm a igualdade
do cheiro do mesmo vinho,
da dor da mesma saudade!
23
Em louco e brutal delírio
pra devastar o que resta,
a motosserra é um martírio
no calvário da floresta!
24
Em manhã chuvosa, a vida
canta no seio da mata
e há notas de água caída
no piano da cascata.
25
Em minha infância inocente,
teu afeto, mãe querida,
desenhou-me fielmente
o lado belo da vida!
26
Em momentos mais risonhos,
sei que já fiz trova linda,
mas a trova dos meus sonhos
não pude fazer ainda!
27
Em muitas ocasiões,
só somos bons elementos
porque certas intenções
não passam de pensamentos.
28
Enquanto a emoção se alteia
sobre as dunas, a rolar,
a vida brinca na areia
ouvindo a canção do mar.
29
Entre o cãozinho e a criança
há tão lindo entendimento,
que na estrada da esperança
há, para os dois, um assento!
30
Esta fé que nos norteia
para a "terra prometida",
mesmo sendo um grão de areia,
faz o alicerce da vida!
31
Estas cenas nos comovem,
como, na rua, alguém disse:
- Juntas, a energia jovem
e a lentidão da velhice!
32
Eu sou mais poeta quando,
no jogo de altas marés,
fico na praia esperando
que as ondas lavem meus pés.
33
Existem palavras mudas
que têm o peso da cruz,
e foi sem falar que Judas,
num beijo, entregou Jesus.
34
Feitas de sonhos e flores,
as nossas trovas são ninhos,
onde os vates trovadores
trinam como passarinhos.
35
Felicidade é o lugar
indicado pelo amor...
Lá, quem consegue chegar
é, por certo, um sonhador!
36
Há tempo sem teus afagos,
deixa-me lavar as dores
nos dois pequeninos lagos
de teus olhos sedutores!
37
João Maria, em nenhum canto
deixava um mendigo ao léu...
Na terra já era um santo;
foi ser mais santo no céu.
38
João Maria morreu quando
fazia um trabalho lindo.
Sua alma subiu cantando;
Deus o recebeu sorrindo!
39
Mais vale da vida o espelho
que muitos sermões no templo...
Em vez de nos dar conselho,
seu padre, nos dê o exemplo!
40
Mesmo enfermo, João Maria,
cumprindo a santa missão,
a própria dor esquecia
pra sanar a dor do irmão!
41
Mesmo que eu mude de estilo,
não mudarei, nem de leve,
uma vírgula daquilo
que a mão do destino escreve.
42
Mesmo que eu renove as trilhas,
desviando a caminhada,
não escapo às armadilhas
que o destino põe na estrada
43
Meu querido Rio Grande,
na beleza de teus vales,
desfeito em trovas se expande
o amor do “Trio Canalles”.
44
Meu rancho, no campo em flor,
longe de intriga e maldade,
era o meu ninho de amor,
hoje é o ninho da saudade!
45
Minha mulher reza tanto
aos pés de Nosso Senhor,
que eu vou precisar ser santo
pra merecer seu amor.
46
Musas divinas!... Ao vê-las,
no sonho que me seduz,
subo ao ninho das estrelas,
seguindo os rastros da luz!
47
Não há coisa mais bonita
neste mundo de pecado,
do que a fé que ressuscita
um sonho já sepultado!
48
Não me fizeste justiça
ao negar-me o teu carinho,
e hoje a saudade aterrissa,
como sombra, em meu caminho!
49
Não temo a longevidade
por esta simples razão:
a flor da felicidade
brota em qualquer estação.
50
Na paz da boa atitude
não há passada perdida,
e a moeda da virtude
paga o pedágio da vida.
51
Na paz de um lago deserto,
longe da luz da cidade,
foi quando estive mais perto
da luz da felicidade
52
No doce embalo da rede,
um sono bom me enfeitiça
e o relógio de parede
me acompanha na preguiça.
53
No instante em que o sol se enfada,
de tanto aquecer a Terra,
deita a cabeça dourada
no travesseiro da serra...
54
No meu rancho, pobre teto,
o chão era a cama e a mesa,
mas fui tão rico de afeto,
que nem falava em pobreza.
55
No trabalho, meus irmãos
não buscam prêmio nem glória,
e os calos de suas mãos
enobrecem nossa História.
56
Numa devoção de monge,
o Potengi, sem parar,
traz água doce de longe
e entrega de graça ao mar.
57
Numa fonte de águas claras,
Onde as musas cantam hinos,
Bebo as imagens mais raras
De meus versos peregrinos.
58
O alpinismo é dura prova
que não ficou para mim,
mas, no alpinismo da trova,
escalo alturas sem fim.
59
O amor e o sonho, querida,
são graças que Deus nos deu...
Quem não ama não tem vida,
quem não sonha já morreu.
60
O beijo, em qualquer instante,
estimula o amor e a vida,
e, sendo um beijo dançante,
faz tudo além da medida.
61
O cego, com dedos certos,
tange a sanfona dorida,
e eu, com dois olhos abertos,
erro nas teclas da vida.
62
O céu azul de meus sonhos
e as flores da mocidade
lembram-me dias risonhos
na aquarela da saudade!
63
O destino abre-me os braços
mas tem seu lado mesquinho:
guia-me todos os passos
mas não me ensina o caminho.
64
– Oh! Que demora sem fim
para tua decisão!
Chegou tão tarde o teu sim,
que já parecia um não!
65
Olhando o primor da teia,
eu fico aos céus inquirindo:
como é que a aranha, tão feia,
traça um desenho tão lindo!
66
Olho o céu de eterno azul,
e como fico feliz,
vendo o Cruzeiro do Sul,
emblema de meu país!
67
O meu destino de amor
me pôs no rol dos felizes:
fez-me nascer trovador
no mais belo dos países.
68
O perdão é que é o sinal
de perfeita lucidez...
Quem se vinga faz o mal
do jeito que alguém lhe fez.
69
O Potengi deita a luz
no seu leito sedutor
e, ao tê-la formosa e nua,
mergulha em sonhos de amor.
70
Os anos trazem cansaços;
nossa vida é sempre assim,
e a saudade segue os passos
da velhice, até o fim!
71
O trabalho é luta santa
que não vislumbra medalha,
e um país só se levanta
pelas mãos de quem trabalha.
72
O trabalho me norteia
e dele eu não me despeço,
pois quero meu grão de areia
a construção do progresso.
73
Para abraçar-te, menina,
meu anseio é tão profundo,
que a distância de uma esquina
parece uma volta ao mundo.
74
Pobre casal foi multado
sem defesa, na avenida,
por beijo estacionado
numa faixa proibida!
75
Por mais que a vida me açoite
com refinada ironia,
depois da prece da noite,
esqueço as mágoas do dia!
76
Potengi, corrente amiga
que alimenta o manguezal,
artéria grossa que irriga
o coração de Natal.
77
Qual a fonte de energia
Da luz de tantas estrelas?
Se não for Deus, quem teria
Um facho para acendê-las?
78
Quando a jangada flutua
sobre as águas, ao luar,
é uma lágrima da lua
nos olhos verdes do mar.
79
Quando a Lua se retrata
com seu encanto invulgar,
traça um caminho de prata
sobre a esmeralda do mar.
80
Quando estou em meu terraço,
olhando os astros risonhos,
a Lua atravessa o espaço,
puxando o carro dos sonhos!
81
Quando eu vejo a morte acesa
na fúria de uma queimada,
sinto a dor da natureza,
impunemente afrontada!
82
Quando o tempo se levanta
no sertão, e a seca vem,
não morre somente a planta,
morre a esperança também!
83
Quanta labuta perdida
para a clonagem de gente,
quando o amor que traz a vida
jorra de infinda vertente!
84
Queimada!... A terra ferida
clama por um povo forte
que faça brotar a vida
onde o fogo impôs a morte!
85
Quem fere, seja onde for,
uma simples borboleta,
mata um sonho multicor
que sobrevoa o planeta!
86
Se a lua beija as areias
destas praias de Poti,
cantam todas as sereias
das noites do Potengi.
87
Se aos pintores falta tinta
que eternize a juventude,
feliz quem, na vida, pinta
um retrato da virtude!
88
Sei que deste mundo lindo
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
89
Se já não restam viventes
sobre a terra calcinada,
plantemos novas sementes
na cicatriz da queimada!
90
Se meu Potengi não fosse
perene, iria esgotar
de despejar água doce
no fundo amargo do mar.
91
Sem ter o clone a beleza
do amor que embala os casais,
torce as leis da natureza
e engendra seres sem pais!
92
Sem ter da mulher o afeto,
não tenho felicidade.
Homem nenhum é completo
quando lhe falta a metade.
93
Senti o ardor da poesia
nos meus primeiros amores,
quando a vida parecia
uma cascata de flores!
94
Sinal da antiga aliança
de Deus com a humanidade,
o arco-íris nos traz bonança
de paz e felicidade.
95
Toda a natureza é um plano
de vida farta e beleza,
mas o lucro desumano
põe no bolso a natureza!
96
Tomara que os trovadores
batam do verso a poeira,
e a trova, assim como as flores,
enfeite as bancas da feira.
97
Tua voz, terna e macia,
sob o calor dos lençóis,
tinha a doce melodia
de um canto de rouxinóis.
98
Viram cinza os verdes braços
de árvores tão bem formadas
e a terra morre aos pedaços
por onde vão as queimadas!
99
Volta aos sonhos de criança,
em teu recanto singelo,
mas nutre a flor da esperança
que torna o mundo mais belo!
100
Vou brincar com pirilampos
e beijar as flores nuas
pra ver se encontro nos campos
a paz que fugiu das ruas!
101
Zarpei ao romper do dia,
no meu barco, a velejar,
para “pescar” a poesia
que a Lua escondeu no mar.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Professor Garcia (RN)



A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus,
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
2
A estrela da mocidade,
que em minha infância brilhou;
brilha em meu céu de saudade,
depois que a infância passou!
3
A existência é dividida
em dois extremos da idade:
- um, alvorada da vida,
outro, arrebol de saudade!
4
A insensatez, na verdade,
separou nossos lençóis;
e agora a dor da saudade
dói muito mais entre nós!
5
A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
6
Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
7
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
8
Antes que a aurora desponte
dando vida à luz do dia,
tenho que cruzar a ponte
nos braços da poesia.
9
A poesia se engalana,
mas só se torna completa,
quando se faz soberana
na voz do próprio poeta!
10
As cordas desafinadas
e esta voz chegando ao fim!...
São mimos das madrugadas
guardados dentro de mim!
11
A solidão me angustia
e à noite aumenta o meu drama,
vendo a cadeira vazia
que a tua ausência reclama!
12
Às vezes, me falta estima,
vendo a multidão que passa...
Muita gente se aproxima,
mas pouca gente se abraça!
13
A terra inteira secou!…
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
14
Busquei no universo um dia,
uma resposta eficaz;
que transformasse a POESIA
num hino de amor e paz!!!
15
Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
16
Cadeira velha!...Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
17
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
18
Como quem faz uma prece,
braços erguidos se abrindo,
a borboleta parece
um anjo da paz dormindo!
19
Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
20
Desperto e fico tristonho,
é triste o meu despertar,
ver acabado o meu sonho
antes do sonho acabar!
21
Deus - pintor da natureza,
usando a tinta mais viva:
- pinta o céu, de azul-turquesa
e os mares, de verde-oliva!
22
De volta ao lar que eu não via,
desde a minha mocidade...
Enquanto a emoção crescia,
crescia a dor da saudade!
23
Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
24
Do sino, ouvindo a amargura,
da tarde que já morria,
fiz da triste partitura
a mais feliz melodia !
25
Em cada beijo roubado,
que roubo de ti, meu bem,
sinto o gosto do pecado
que o beijo roubado tem.
26
Em seu vai-e-vem bonito,
a lua em seu caminhar...
Enche de luz o infinito,
de prata, as ondas do mar!
27
Enquanto a ciência avança,
fato novo se descobre…
E o fruto do que se alcança
torna a ciência mais nobre
28
Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
29
Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o AMOR e a saudade!
30
Esta dor que em mim persiste
e não me deixa dormir!...
é "aquela" lembrança triste
do que deixou de existir!
31
Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
32
Eu vejo ó linda criança,
neste teu sorriso lindo,
a mais feliz esperança
das esperanças dormindo!!!
33
Há uma sombra em meu caminho
que me segue…e, mesmo assim…
Nem quer me deixar sozinho
nem diz o que quer de mim!
34
Já escalei morros medonhos,
caminhando passo a passo.
Mas nunca pude em meus sonhos
escalar nuvens no espaço!
35
Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
36
Larga a tristeza e acalanta
teus sonhos, por onde fores.
Nada no mundo suplanta
teus lindos sonhos de amores!
37
Mãe preta! teu negro seio
deu-me o mais puro sabor;
nele eu bebi sem receio
a eternidade do amor!
38
Meu Deus! se a chuva caída,
fecunda o sertão no estio,
o inverno é fonte de vida
do sertanejo bravio!
39
Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
40
Morre a tarde!...E ao fim do dia,
na imagem do sol poente,
há tintas de nostalgia
do fim da tarde da gente!
41
Na sinfonia das almas
ensaia-se lindo canto;
ouvem-se preces e palmas:
- Padre João Maria é santo!
42
Na loucura dos meus versos,
e em quase todos seus traços,
há pedacinhos dispersos
do amor que tive em teus braços.
43
Não me faça mais perguntas,
erro assim, não mais cometa...
Talvez, só nossas mãos juntas
possam salvar o planeta!
44
Nas asas de um vento brando,
na espuma branca do mar…
as ondas chegam cantando,
trazendo o sal potiguar!
45
Na vida que se renova,
no Natal que se aproxima,
eu forro a mesa com trova,
e brindo a noite com rima.
46
Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
47
Ninguém é pedra polida,
se não mudar de conduta;
pois, a pedreira da vida
é feita de pedra bruta!
48
No outono triste da idade,
meu lago de solidão
transborda só de saudade
dos meus dias que se vão!
49
Nosso casebre, é de palha
de pau-a-pique a parede.
O amor que aqui se agasalha,
dorme comigo na rede!
50
O aborto, triste ferida,
que nos faz tanto sofrer;
como dói matar a vida,
antes da vida nascer!
51
Ó cigarra destemida
o seu disfarce me encanta,
por não ter nada na vida
e ser feliz quando canta!
52
Ó coqueiro pequenino,
que tanta água nos deu!
Que ironia o teu destino:
- por falta d’água morreu!!!
53
O mundo é roda gigante,
girando sempre a girar,
e eu sou passageiro errante
procurando meu lugar!
54
O outono da vida ingrata,
chega fazendo atropelos:
Joga tinta cor de prata,
na tinta dos meus cabelos!
55
Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
56
Porteira velha, o gemido
desta dor que te corrói...
é o teu passado esquecido
que em teu presente inda dói!
57
Por teu amor sofri tanto,
foi tão grande o meu desgosto,
que cada gota de pranto
se fez cascata em meu rosto!
58
Prazer é sentir os dedos
de nossas mãos artesãs
pintando os lindos segredos
das auroras das manhãs!
59
Quando a tarde veste o manto,
torna escura a luz do dia...
Saudade dói outro tanto
do tanto que já doía!
60
Quantas lições primorosas,
num pequeno beija-flor,
que beija todas as rosas
enchendo o mundo de amor!
61
Quase seca...E a fonte insiste
em seu lamento de dor!
É o canto ficando triste
e a fonte jorrando amor!
62
Rasga o manto que te cobre,
mostra teu riso e esplendor…
Pois, a cortina, mais nobre,
não cobre um riso de amor!
63
Revendo entulhos e tacos,
na tapera dos meus sonhos,
chorei por ver tantos cacos
dos meus dias mais risonhos!
64
Saudade de amor… lembrança,
que dói mais que qualquer dor!
Nem na velhice descansa,
quem tem saudade de amor!
65
Saudade – no fim do dia,
já sei por que me dói tanto:
- aumenta a melancolia,
dobra as dores do meu pranto!
66
Saudade – seja onde for,
sempre é saudade, meu bem.
Um sentimento de amor
que dói no peito de alguém!
67
Sempre sozinha, aos farrapos,
mas de rosário na mão...
A fé tecida entre os trapos,
remendava a solidão!
68
Se o tempo me desse tempo,
de fazer mais do que faço,
queimava a sobra do tempo
no calor do teu abraço!
69
Sinalizando o caminho,
do nauta na escuridão;
o farol velho, sozinho
é fantasma e solidão!
70
Sonho repetidamente,
vendo um clone em tristes ais,
chorando porque não sente
o carinho dos seus pais.
71
Sou sertanejo e não nego
crestei meus pés neste chão.
Nestas marcas que carrego ,
carrego o próprio sertão!
72
Teu amor que me enternece,
que acaba todo meu pranto,
da sobra faço uma prece,
e ainda sobra outro tanto.
73
Vem das águas cristalinas
e vem da espuma do mar,
o sal das brancas salinas
do meu rincão potiguar!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...