terça-feira, 15 de junho de 2021

Luiz Otávio (Aspectos da Trova Humorística)

 
1 - A MALÍCIA:

Embora o conceito de malícia seja variável de pessoa para pessoa, há certo tipo de malícia que choca, de imediato, a quem a ouve. Assim, o leitor de alguma sensibilidade e cultura saberá distinguir a malícia fina, daquela que traz humorismo grosseiro.

A malícia, em nossa opinião, mesmo tendendo para o plano sexual, quando bem dosada, sutil, é perfeitamente aceitável em Trova.

Vejamos, por exemplo, esta trova de A. Bobela Mota, trovador português, em que há malícia com fundo sexual e que, entretanto, é plenamente aceitável:

Graças a certo percalço,
encontraste, enfim, marido…
Como vês, um passo em falso
nem sempre é um passo perdido…

Ou esta outra de Antônio Carlos Teixeira Pinto:

Minha sogra é mesmo o fim,
eu digo e sinto vergonha:
dúvida tanto de mim,
que acredita na cegonha…

De resto, até mesmo em trovas líricas, pode aparecer o erotismo explorado de maneira sutil e inteligente, emprestando força poética à mensagem, sem chocar a sensibilidade do ouvinte ou leitor.

2- A CRÍTICA, A SÁTIRA, A IRREVERÊNCIA

É inconveniente a trova que, de modo intencional, ofende, genericamente, um grupo, uma instituição, uma classe… Todavia, consideramos que é perfeitamente válida, aquela que toma, individualmente, um elemento pertencente a uma determinada profissão ou grupo, para desse indivíduo, assim isolado, fazer motivo de humor.

Como exemplo, citaremos a conhecida trova de Antônio Salles, que satiriza, ao mesmo tempo, um militar e um médico, sem que, com esta sátira, ofenda a classe médica ou militar:

Eis um médico fardado
- que perfeito matador!-
quem escapar do soldado,
não escapa do doutor…

Excepcionalmente, pode-se aceitar a trova, mesmo quando faz crítica a uma classe, porém sem premeditação de ofensa, isto é, com intenção, apenas, de fazer graça.

Tomemos, para exemplo, a Trova de Elton Carvalho que, por coincidência, é militar:

A mulher do militar
deve pagar mais imposto,
só pelo fato de usar
sempre um marido… com…posto…

Ora, ainda que seja uma graça extensiva a toda uma classe – a mulher do militar – não há absolutamente, ofensa ou crítica, mas tão somente, o humorismo ingênuo de um trocadilho.

3- EMPREGO DE NOMES PRÓPRIOS

Os nomes próprios vêm sendo usados, sem discriminação, em vários gêneros literários. Na prosa, Machado dá nomes adequados, para dar maior ênfase àquilo que escreviam. O sofrimento ou o riso, não raro se estampavam no nome que era dado ao personagem, principalmente o riso, pois Assis, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e outros, escolhiam os temas humorísticos que facilitam enormemente a escolha do nome, vamos dizer, engraçado. Na poesia desde os clássicos, quantas vezes os nomes inventados ou verdadeiros passaram a ficar indissoluvelmente ligados aos autores. Quem não se recorda de Marília de Dirceu, de Laura de Petrarca, de Beatriz de Dante? Na música popular, vemos uma infinidade de nomes que se tornaram celebres, através de valsas, polcas, canções, no passado,e, em outros gêneros musicais, no presente. Branca, Gilca, Maria, Neusa, Nanci, Amélia, Dora, Aurora, Marina, e, bem recentemente, Carolina, Luciana, Ana Maria, Isabela, etc… etc… São alguns dos nomes focalizados pela música popular. Nos anúncios de rádio e da televisão, anúncios muitas vezes estudados por equipes compostas de elementos formados em faculdades de comunicação, quantas vezes, o nome próprio aparece para facilitar a memorização daquilo que se pretende anunciar. Então aí os Apolônios, Jeremias, os Sugismundos…

Na própria trova lírica ou filosófica, quantas premiadas em concursos, ou consagradas pelo gosto popular, trazem nomes próprios!

Exemplo:

 Maria, só por maldade,
deixou-me a casa vazia:
Dentro da casa a saudade,
E na saudade, - Maria!

Esta trova, de Anis Murad, é uma das muitas que poderíamos citar e que foi classificada em 1º lugar, nos II Jogos Florais de Nova Friburgo. E quantas mais, não só em Nova Friburgo. Como em outras cidades, têm aparecido, principalmente, com o nome de Maria, quase um símbolo dos trovadores…

Há, além dos argumentos acima, outros que poderemos lembrar, em favor do aproveitamento de nomes próprios na trova humorística, tais como:

a- O nome próprio, em alguns casos, dá mais autenticidade ao assunto;

b- Há nomes próprios que, por si sós, pelo grotesco que apresentam, trazem mais humor à trova;

c- Em alguns casos, a trova gira, essencialmente, em torno do nome próprio usado;

d- Se encontramos, muitas vezes, trovas de rimas forçadas – humorísticas ou não – por que não usar o nome próprio que, além de facilitar a rima, pode trazer mais graça e fluência à trova?

Portanto, em nosso entender, é perfeitamente válido o uso de nomes próprios nas trovas, principalmente, humorísticas.

4 - USO DE GÍRIA

No capítulo da gíria, cabem as mesmas considerações que fizemos com relação aos nomes impróprios. Tanto na poesia humorística, como na prosa e, principalmente, no teatro, a gíria está presente. Não esqueçamos, também, que a gíria de hoje, amanhã poderá estar incorporada ao vernáculo. Assim tem acontecido em várias épocas, no processo evolutivo das línguas.

Chega-nos, agora, através do rádio, a notícia que o DNER do Ceará, numa experiência inusitada, está, em alguns lugares, substituindo as clássicas advertências de "cuidado", "devagar", por outras, bem modernas, onde a gíria é o principal ingrediente: "manera aí, bicho!" ou  "vá em marcha de paquera", etc…

Portanto, achamos perfeitamente natural o uso da gíria em trova humorística, por sua característica eminentemente popular.

5- PORNOGRAFIA

Muito embora o teatro moderno venha usando, ostensiva e abusivamente, a pornografia, quer parecer-nos que quase tudo isto é feito com fins comerciais ou sensacionalistas. Devemos, ainda, considerar que ao Teatro, comparecem aqueles que, com conhecimento de causa, estão dispostos a ver de perto tudo aquilo. Devemos frisar ainda que, muitas vezes, a censura faz imposições, limita a entrada a pessoas de determinadas idades. Isto acontece, também, em livros do mesmo estilo, em que se exige sejam os mesmos colocados em envelopes lacrados, com etiquetas proibitivas de venda a menores, Tal porém, não acontece com a trova pornográfica que, se declamada em público ou colocada em livro, poderá surpreender, desagradavelmente, o ouvinte ou o leitor. 

Embora nos itens anteriores, tenhamos demonstrado nossa compreensão quanto ao uso da malícia, irreverência, do emprego de nomes próprios, da gíria, achamos que a trova nada lucraria com o uso de palavras obscenas, ainda que veladas.

6 - ANEDOTAS

Embora seja aceitável a publicação em livros, jornais, revistas, etc, as trovas humorísticas calcadas em anedotas, julgamos que, em concursos e jogos florais, há outros aspectos importantes a considerar, além da graça, como seja a criatividade, a originalidade, enfim. Nessa ordem de ideias, é desaconselhável a classificação de trovas com aproveitamento de anedotas.

Acontece porém, que as comissões julgadoras poderão não conhecer as anedotas aproveitadas pelas trovas, o que torna interessante, portanto, o apelo que, ultimamente, os organizadores de concursos vêm fazendo, durante a classificação preliminar, no sentido de que, concorrentes ou leitores cooperem com as comissões, indicando as trovas que apresentem ideias já conhecidas (como anedotas), desde que, devidamente comprovadas, a fim de serem eliminadas do concurso.

7 - USO DO "PRA"

Julgamos essa "síncope" perfeitamente aceitável, principalmente nas trovas humorísticas, por ser expressão essencialmente popular.


Comissão de estudos: Luiz Otávio, Carlos Guimarães, Elton Carvalho, Joubert de Araújo Silva, Maria Nascimento Santos, P. de Petrus, Colbert Rangel Coelho.

Pedro Mello (Considerações sobre a trova humorística)


I
Já virou lugar-comum dizer que “humor é coisa séria”. De fato, apesar da propensão inata que temos de fazer piadas das coisas e das pessoas, a distinção entre o pastelão e o humorismo é tão evidente, que fica difícil tentar fazer uma definição propriamente dita.

Não que não se tenha tentado. O humorista Leon Eliachar, que se definia como um “carioca” da gema (nasceu no Cairo, capital do Egito, e se fixou na capital carioca), disse certa vez que o verdadeiro humorismo faz cócegas na inteligência das pessoas. Fora isso, o resto seria apenas comédia.

Tenho pessoalmente minhas dúvidas quanto à rigidez da ideia do escritor, porque quando o assunto é riso, para as pessoas é indistinto se a questão é entreter ou fazer pensar. Na realidade, tudo é possível. Há momentos em que as pessoas querem apenas se divertir, e para isto riem com as personagens caricaturais dos programas “Zorra Total”, “Pânico na TV” ou “A Praça é Nossa”, assim como riam de “Os Trapalhões” na década de 80. Em outros momentos, as pessoas preferem o humor mais, digamos assim, “intelectualizado” de Jô Soares e de seu anedotário político. O “Casseta e Planeta”, por exemplo, oscila entre o pastelão e a sátira política, em momentos “felizes”. (Se bem que político brasileiro é matéria-prima indiscutível para a sátira...)

II

Quando o assunto é a “Trova”, a oscilação é parecida. A Trova Humorística (chamada por A. A. de Assis de “brincante”) oscila da incorporação de anedotas populares a ditos chistosos e trocadilhos linguísticos.

Gritei: “- Pare, seu Joaquim”,
quando o trem apareceu...
Ele ainda olhou pra mim,
falou: “Ímpare!” e morreu...


A trova acima, de Therezinha Dieguez Brisolla, é um exemplo de como um trovador aproveita uma piada e a transforma em trova. Há quem não goste e considere falta de originalidade aproveitar uma piada em trova e prefira um trocadilho, um dito chistoso, uma sátira política ou de qualquer outra mazela brasileira.

Esse é um assunto que tem dividido os trovadores, pelo que percebi ao conversar com vários sobre o assunto. Parece que, quando se trata de humorismo, a ideia realmente original é difícil. Tudo é motivo de brincadeira e é difícil afirmar com precisão o que é anedótico ou não.

- Coragem!... Sua mulher
tem poucos dias... Lamento...
- Doutor, se o destino quer,
mais uns dias eu aguento...


A trova acima, de Vasques Filho, é de uma piada ou não? Quem sabe se Vasques Filho fez essa trova, já existisse a anedota e ele pessoalmente não soubesse?

José Maria Machado de Araújo fez um genial trocadilho entre um substantivo e uma interjeição nessa joia do humorismo:

Feita a macumba, sisudo,
disse-me o velho orixá:
- Oxalá vai te dar tudo...
E eu respondi: - Oxalá...


Não se trata de uma anedota. Mas como sabemos disto? Também é difícil dizer com precisão. A trova humorística, geralmente, é um “microconto” de cunho brejeiro. As trovas de Therezinha Dieguez Brisolla e de Vasques Filho nos parecem mais plausíveis, mais “narrativas”, poderíamos dizer. A anedota transformada por Therezinha é conhecida. A trova de Vasques Filho, se não era uma anedota, poderia perfeitamente se transformar numa gag visual do “Casseta e Planeta”, por exemplo. A trova de José Maria Machado de Araújo não é “narrativa”, ou “teatralizável”, embora seja construída “narrativamente”. Difícil concebê-la como uma gag.

A velha soprava a vela,
quando o velho, de surpresa,
soprou no cangote dela...
e a velha ficou acesa!


Mais um “lance” de gênio, desta vez de Edmar Japiassú Maia. Assim como a trova de José Maria Machado de Araújo, a de Edmar não é tão “narrativa” ou “teatralizável”. A situação jocosa, o jogo de palavras entre “vela” e “velha” são ingredientes perfeitos de um “trouvaille”. Também seria difícil transformá-la em uma gag visual. Comparando as duas, vemos o elemento em comum: o trocadilho, o jogo de palavras que constitui o mote da ideia.

Para a criatividade dos trovadores, nem o céu é limite. Isto eu disse no texto sobre “folclore”. O humor é feito com elementos tão distintos, que é difícil elencar. Tudo é possível, desde anedotas de sogras, de lusitanos, de infidelidades conjugais, de bêbados, de vizinhas, passando pela sátira a políticos ou a suas “realizações” e chegando a trocadilhos verbais e a situações inusitadas... Não há limites.

Na praia, alguém grita: gente,
dois carecas se afogando!
- Outro diz: calma, é somente
um nudista mergulhando...
José Tavares de Lima

Há uma loura acompanhando
seu marido o dia inteiro..."
- Pois vai acabar cansando...
O meu marido é carteiro !
Alba Christina Campos Netto

Pediu o bobó bem quente
o turista distraído...
E a pimenta, a mais ardente,
deixou seu bobó ardido...
João Freire Filho

- Escolha a pessoa certa
para entregar-se, querida...
- Mamãe, quando a fome aperta
não dá pra escolher comida!
José Tavares de Lima

A noivinha vaporosa
fita o noivo e se atordoa:
- De um pijama cor-de-rosa
não vai sair coisa boa...
Antônio Carlos Teixeira Pinto


É claro que a referida “oscilação” (ou, talvez dizendo, diferença) entre os tipos de trova humorística não permite uma “formatação”. Embora isto resulte no efeito colateral de trovas “humorísticas” de chorar, por outro lado também impede que o trovador se veja cerceado, que se veja em meio a contingenciamentos. Há quem seja contrário às anedotas ou ao emprego de nomes próprios em trovas humorísticas. Outros preferem o “liberou geral”. Não podemos afirmar que haja necessidade de uma “corrente” ou de “reformas” nesse sentido. Tudo é uma questão de discernimento e de bom-gosto.

A trova humorística:
1. não é idiota;
2. se não faz rir a matéria, faz rir o espírito;
3. é bem construída;
4. quando é realmente boa reconhecemos à distância e quando é ruim, também.

Claro que qualquer critério de análise será subjetivo, mas podemos perceber que a trova humorística e a trova lírica/filosófica têm mais pontos em comum do que à primeira vista notamos:

Se rirmos da trova lírica e chorarmos com a trova humorística, alguma coisa certamente estará errada...

Fonte:
Falando de Trova. http://falandodetrova.com.br/colunadopedromello. 21.08.2008.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Nemésio Prata (Fortaleza/CE)

 1
A droga foi seu arpéu,
sem destino, destroçado,
vagueia na rua, ao léu,
até quando for "levado"!
2
Antes do quebrar da barra,
ao canto do caboré,
sussurrando, ela me agarra,
dizendo: hora do café!
3
Ao relento, relegado,
negado pelo destino;
hoje vive escravizado,
coitado; que desatino!
4
Ao ver a imagem singela
do barco, tranquilo, ao mar,
lembrei-me: não há procela
que Deus não possa acalmar!
5
Chorando, segue o andarilho
solitário, a sua dor;
de deixar pra trás um filho,
fruto de um fugaz amor!
6
Com talento e sutileza
no salão, "a media luz",
o casal mostra a leveza
do belo tango andaluz!
7
Coração, enquanto bate,
é vida, amor e paixão;
mas depois que ele se abate,
é vela, choro e caixão!
8
Correndo, desesperado,
de mala e chapéu na mão,
o passageiro, coitado,
perdeu o trem... e a razão!
9
Deixe a Natureza em paz,
rapaz, tenha mais juízo; 
pois isso que você faz
demonstra falta de siso!
10
Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
11
Despertando, reparei
a "louça" já preparada
em nossa cama, e tomei
o "Café" da madrugada!
12
De toda trova legenda
que já fiz na minha vida
esta veio de encomenda,
pois não dei nem a partida!
13
De tudo que eu aprendi
pra chegar a ser “doutor”,
se, bem, eu o compreendi:
devo muito ao Professor!
14
Deus me livre, por um dia
me faltar um Livro a mão;
de tristeza eu morreria,
em pungente solidão!
15
Deus, o Poeta dos Poetas,
é TROVADOR; e em poesias
manda-nos netos e netas
para encher-nos de alegrias!
16
Dizem, com propriedade,
que a saudade é inexplicável;
explica-se: na verdade,
o senti-la é indecifrável!
17
Dois minutos, Cinderela;
está chegando o momento!
Não vá cair na esparrela
de esquecer o encantamento!
18
É noite, e a brisa do sono
sopra, mansa e sorrateira;
em seus braços me abandono,
enroscado, a noite inteira!
19
Entre lágrimas e risos,
respostas às emoções,
liberamos sentimentos
represos nos corações!
20
Férias! Ah, sim, bem eu sei,
que és bem merecedora;
mas, cá, não esquecerei
de ti, grande trovadora!
21
Homem, mau, vil e perverso;
toda vez que tu desmatas,
mesmo em nome do progresso,
é a ti mesmo que tu matas!
22
Já não suportamos mais
ver os nossos pequeninos,
nas mãos destes marginais:
traficantes-assassinos!
23
Lancei minha rede ao mar
e pesquei bela sereia
que comigo foi deitar
noutra rede, em plena areia!
24
Maranguape a tua glória
são teus filhos de valor;
foi Capistrano, na História,
e Chico Anísio, no Humor!
25
Na mata o machado bate
forte pra tirar "madeira";
e assim o "homem" abate,
uma a uma, a mata inteira!
26
Na mão o toco de giz,
na outra, o apagador;
na assistência o aprendiz,
no tablado o Professor!
27
Não "curta" a sua velhice
dando voz ao seu lamento;
deixe dessa "caduquice"
seu "velhote" rabugento!
28
Não queiras por teu amigo
quem não pode ser provado
no dar água, pão e abrigo,
para alguém necessitado!
29
Na solidão do meu eu,
fugindo da realidade,
meu pensamento varreu
da mente toda verdade!
30
No céu, as nuvens, e as flores,
no campo; um quadro sem par.
É Deus tingindo de cores
a Primavera a chegar!
31
Nos bailes não dava trela,
e a todos dizia não;
mas no fim foi a donzela
quem "dançou": ficou na mão!
32
Nos braços do seu amor,
loucamente apaixonada,
ela sente o seu calor
mesmo sob a chuvarada!
33
O ato de ler praticado
com prazer, pelo leitor;
no final, seu resultado,
assemelha-se ao do amor!
34
O bailarino, indeciso,
na chuva, dá mil volteios;
e o lampião diz, bem preciso:
homem, deixe de rodeios!
35
O envelhecer é sublime
presente a nós concedido
por Deus; o que bem exprime:
Dele, ninguém é esquecido!
36
Olhando com bem clareza
pras marcas do seu herdeiro,
já não tem tanta certeza
de ser o pai verdadeiro!
37
Olho azul, branco e lourinho
o filho do "Zé Negão"
lembrava mais o vizinho;
coitado, tinha razão!
38
Os dois silentes, colados,
corações a palpitar;
olhares apaixonados...
já pensou no que vai dar?
39
Para cuidar da saúde
com desvelo e competência
busco Médico amiúde,
amigo, de preferência!
40
Passei horas meditando,
pensando no que dizer;
terminei nada compondo,
sem nada para escrever!
41
Perdido na multidão
das ruas, sem ter alguém
que ao menos lhe estenda a mão;
não passa de um "Zé Ninguém"!
42
Pintor, por que teimas ver
o teu sol onde ele não
pode mais aparecer,
vítima da poluição?
43
Por aqui passava um rio
caudaloso e pleno em vida;
hoje mal se vê um fio
d'água suja e poluída!
44
Quando chove no sertão
o sertanejo se apega
ao santo de devoção,
esperando pela sega!
45
Quem ama a literatura,
e a ela se entrega, tem
prazer não só na leitura,
mas, no produzir, também!
46
Quem busca noiva, é preciso
que tome muito cuidado;
procure uma de bom siso,
pra não terminar "ornado"!
47
Quem corta, na natureza,
árvores sem precisão,
destrói-a e deixa-a indefesa;
é um ser sem coração!
48
Selva: bela e exuberante;
cria, de rara beleza,
de Deus que, naquele instante,
nominou-a... Natureza!
49
Sem um "pingo" de pudor
o mar fita a lua, arfante,
clamando: vem meu amor,
quero te ter por amante!
50
Ser Poeta neste mundo
é cultivar nele o Amor;
sentimento mais fecundo
na vida do TROVADOR!
51
Se tu estás velho, também,
mais perto de Deus tu estás;
tem tu, pois, por grande bem
ser velho, e bem viverás!
52
Se você anda amargado,
tristonho, ou com grande dor,
procure ser "medicado"
por um Doutor TROVADOR!
53
Se você sofre de tédio
só tem um jeito: tomar
TROVADOR, santo remédio;
e seu tédio vai passar!
54
- Solta-me! Clama o navio
ao cais que o faz prisioneiro;
- deixa-me sair vadio
pelo mar... que é meu parceiro!
55
Tem coisas que não se explica
na vida de um TROVADOR;
uma: é quanto ele mais fica
só, mais cultiva o Amor!
56
Tem Poeta nesta terra
que seus versos dão prazer
de lê-los, pois ele encerra
numa Trova o seu dizer!
57
Tem quem só quer receber
para si o que é melhor,
porém ao aparecer
chance pra dar: dá o pior!
58
Toda noite o seresteiro
aguardava a madrugada
para declarar, faceiro,
seu amor à sua amada!
59
Todo livro deve que ter
"título" bem eficaz...
pois não é que o meu vai ser:
Leia-me... (se for capaz).
60
Triste sina a da criança
deste meu Brasil gigante;
vive “presa” na esperança
de escapar do traficante!
61
Uma folha de caderno,
um lápis, e a inspiração,
bastam ao trovador terno
pra lhe abrir o coração!
62
Vendo a imensidão do mar
pensei cá, com meus botões:
se esta turbina falhar
tem "janta" pros tubarões!
63
Vindo de tão longe, não
se deu conta que chegara
ao seu velho e antigo chão,
que há muito tempo deixara!
64
Voa, canário indeciso,
o que esperas; afinal
seres liberto é preciso,
mesmo pensando irreal!

Três Trovas sem Pé nem Cabeça
65
Sem barulho, corta o céu
por entre as nuvens, um trem,
levando pro beleléu
a lua, e o sol também!
66
Era noite e a lua cheia,
viu chegar a madrugada,
trazendo o sol, em candeia,
deixando-lhe "encandeada"!
67
Não deixe a coisa ficar
do jeito que já não dê
pra você, um jeito dar,
no sujeito que é você!

Teia de Trovas sobre o Limão
68
No meio do laranjal
que plantei lá no sertão
deu-se um fato especial:
só foi colhido limão!
69
Recebendo este recado
do presidente Alencar
vou tomar maior cuidado
quando limão for provar!
70
Trovando e tirando as provas
deste fato memorável;
provei, brincando com trovas,
de que o limão é saudável!
71
Ao tomar a limonada
vá bebendo devagar
sorvendo cada golada
pro seu gosto apreciar!
72
Pode até não ser remédio
mas não dê cavaco não;
agora, ao chegar o tédio
o remédio é... com limão!
73
Cabe a cada cidadão
interpretar os pontinhos
desde que o "velho" limão
não falte nos pingadinhos!
74
Se você não é chegado
a quaisquer pingas, então:
esqueça logo o pingado
e chupe, puro, o limão!
75
Quem muito chupa limão,
dizem alguns entendidos,
melhora a "disposição":
aceito seus desmentidos!

domingo, 13 de junho de 2021

Maurício Norberto Friedrich (1945 - 2020)

 

 A alva bruma que enverdece
os campos das pradarias
me faz dizer velha prece,
no entardecer dos meus dias!

Almejem sempre a vitória,
em todos empreendimentos,
que ficarão na memória,
pelos seus merecimentos.

A lua no céu passeia
num chão coberto de estrela,
deixa o sol, que tanto anseia
louco de amor, para vê-la.

Amar-te, pra mim, foi vício,
doença que não tem cura;
e este foi grande suplício
que me levou à loucura.

Amor é doce tormento!
Amor é vício sem cura!
É o amor um linimento
entre a razão e a loucura!

Amor, palavra tão doce
que nos enche de prazer;
é, às vezes, como se fosse
dor, a nos fazer sofrer!

A nora desesperada,
ao ver a sogra na porta.
lendo a receita trocada,
pôs formicida na torta.

Ansioso, meu coração,
vive, sempre, nesta espera:
de uma nova floração
da dourada primavera.

Ao chegar o meu outono,
sensato, hoje sou bombeiro:
quando jovem, perdi sono
por querer fazer braseiro!

Ao idoso, honra e venera,
a sua sabedoria;
na velhice, que te espera,
terás tu, a primazia...

Ao Novo Tempo a vitória,
neste concurso de paz:
pois, já bem merece a glória
quem pela trova assim faz.

Ao ter fé em Nosso Senhor,
levo a vida em linha reta,
pois, com fé, esperança e amor,
minha vida se completa.

Ao ver a Lua Bailando,
com tanto brilho e esplendor,
eu já me ponho rezando:
- Obrigado, meu Senhor!

Aposentou-se o freguês…
e a pobre esposa reclama
que, banho, é só um por mês,
mas, sem tirar o pijama!

Árido, feito um deserto,
meu coração sofredor
anseia, disto estou certo,
ser fértil com teu amor!

As flores todas são belas,
mesmo as que nascem em abrolhos,
mas, as mais lindas, dentre elas,
são as que vêm nossos olhos.

As folhas mortas que, ao vento,
bailam e caem ao chão,
me evocam, por um momento,
os ventos de uma paixão!

As marcas do teu batom
deixadas no meu cristal,
têm sabor e têm o tom
de um grande amor, no final...

As marcas que a tua ausência,
deixou em meu coração,
são as marcas da pungência
da nossa separação.

As trovas de um trovador
são belas, ricas em rimas
pois são feitas com amor,
verdadeiras obras primas!

A trova que é dita ao vento
tal qual o vento é fugaz;
existe, por um momento...
...e o próprio vento a desfaz!

A vida, às vezes, malvada,
traiçoeira, inconsequente;
nos tira a pessoa amada
e não tem pena da gente.

Bailando sempre a procura
do néctar de belas flores,
o beija-flor, com ternura
não se importa com as cores.

Beber da fonte hipocrátlca
para o médico é um dever,
é a fórmula democrática
da medicina exercer!

Beijando, a brisa, meu rosto,
meiga, me faz relembrar,
com saudade e muito gosto,
o amor que pude lhe dar.

Bela musa, encantadora!
Igual eu nunca vi;
meiga e doce inspiradora;
foste tu que eu escolhi!

Bem-vindos, oh Trovadores,
aos nossos Jogos Florais.
A vós, grandes vencedores,
as láureas dos Pinhais.

Carrego, dentro do peito,
a cicatriz de uma dor
que jamais me dá o direito,
de reaver teu amor!

Casamento - ação esperta!
Isto já está definido,
onde uma parte está certa
e a outra é sempre o marido!

Combater, do fumo o vício
para o médico é um mister:
exaltar seu malefício
como a ética requer!

Combater com veemência
o triste vício do fumo,
sem dó e sem clemência,
pra saúde andar no rumo!

Com grande amor e trabalho,
carinho e dedicação,
do meu amor eu me valho,
pra fisgar teu coração!

Como é bonito o Direito,
quando se julga uma ação
e, ao exercê-lo, perfeito,
sempre o que impera é a razão.

Como pode uma criança,
ser vítima de agressão,
se tem, cheio de esperança,
o inocente coração?

Como são belas as serras
do Estado do Paraná!
Que têm cobertas as terras
das cores do manacá!

Completa felicidade
é, por certo, uma utopia;
pois quem já sentiu saudade,
já sofreu melancolia.

Compondo versos eu sonho,
que trovador, inda, serei
e, nos versos, que componho
no teu nome já pensei!

Contigo sinto que a vida
tem sentido e fulgor,
pois teus carinhos, querida,
dão esteio ao meu amor!

Cuida, ao contar um segredo,
em quem tu vais confiar:
é a liberdade, bem cedo,
que, ao certo, vais entregar...

Curitiba doce encanto
da terra dos pinheirais
é nela que vivo e canto
meu amor e meus ais.

Curitiba! Ó Curitiba!
Onde estão teus pinheirais,
que te davam tanta vida,
e, hoje, não os vejo mais?

Curitiba, Terra amada,
me albergaste o coração;
a minha alma apaixonada
tem por ti grande paixão!

Da cultura és um celeiro,
Curitiba dos Pinhais;
com teu Jeito hospitaleiro
hoje albergas os florais.

Dando fim às duras penas,
nossa princesa c'oa mão,
com dois artigos, apenas,
aboliu a escravidão...

Daquele beijo roubado,
em pausa de tua festa,
sinto o gosto adocicado,
o bom sabor que me resta.

Das felizes madrugadas,
sozinho, curto a saudade...
– Que alegria, nas noitadas,
dos tempos da mocidade!

Das folhas, vendo o cair,
pressinto o chegar do inverno
e o coração, a invadir,
saudade... do lar paterno,

Da singeleza nos vem
mensagem de amor e de paz;
é a mensagem de Belém
que um anjo de Deus nos traz!

De areia, fiz um castelo,
nas dunas, em vastidão,
e o vento, sem ter rasteio,
soprou...pôs tudo no chão.

Decidido e corajoso,
à tua porta eu bati,
foi o susto mais gostoso
que eu já pude dar em ti.

Dentre as coisas que cultivo,
para evitar vida obscura,
o saber é o incentivo
que aumenta minha cultura.

Dentre tantas namoradas,
que já tive em minha vida
e de todas as jornadas,
foste tu a escolhida!

Descrente, sou eu, de tudo...
muito mais sou de sereia
mas, é no verão, contudo,
que vejo tanta na areia!

Desde o dia em que partiste,
triste está meu coraçao:
este pobre não resiste
a dor da separação.

Desta vida, na escalada,
cada degrau tem a altura,
muito bem delimitada
no tamanho da cultura.

Distante de ti, amor,
noites insones, eu passo
fazendo a Deus um clamor:
pra ver-te, um dia, em meu braço!

Do amor, divino expressar,
a encantadora seresta
faz da janela um altar,
de apaixonados, em festa.

Do pai seguiu a carreira,
com amor, dedicação:
Tinha a semente certeira
plantada em seu coração!

Do sol em raios envolta
vi-te passar tão ditosa,
com puros gestos, tão solta,
tendo a beleza da rosa.

Dos corações, sempre em festa,
o amor, divino expressar...
faz com que cada seresta
torne a janela um altar!

Dos teus carinhos, distante,
na insônia de cada noite,
fico a pensar, num instante,
esta distância é um açoite.

É indizível a tristeza,
dum sabiá na gaiola;
cabisbaixo e sem beleza
nem à amada, cantarola!

É Natal! Que cante o sino
para ao mundo anunciar
a vinda do Deus Menino
que hoje veio nos salvar!

É nobre de coração,
o médico pediatra:
dá amor, carinho e afeição,
à toda criança que trata!

É tão atroz a distância
a nos separar, amor,
que só a saudade, em constância
ameniza a minha dor.

É tão linda esta menina!
Linda? Parece boneca...
Mas, se namora na esquina,
logo vira uma sapeca.

É uma escultura, bem-feita,
de uma costela qualquer:
criada por Deus, perfeita,
que lhe deu nome...: mulher!

É verdadeira a amizade,
quando nunca se destrói,
com tempo vira irmandade
e faz do amigo um herói!

Hoje sou um moribundo
nas cinzas do teu amor
e não vejo, neste mundo,
remédio para esta dor!

Insone, em noites frias
e em permanente vigília
de mamãe com as ave-marias
recomendava a família.

Irradiantes de alegria!
façamos trovas de amor,
para louvar, no seu dia,
o poeta Trovador!

Já inventaram um remédio,
de um certo tom azulado,
que tira moço do tédio
e deixa velho… assanhado!

Já no ocaso desta vida,
com tanta conta a ajustar,
peço a Deus, seja abatida
a despesa.. por te amar!

Lembranças da mocidade
são um espelho em que a gente
só vê, com tanta saudade,
o passado... no presente!

Lembro de ti, com saudade,
nos tempos que longe vão;
tu eras felicidade,
dentro do meu coração!

Lindos traços, no teu rosto,
que harmonizam a beleza,
me fazem exclamar com gosto:
-Tu és, sim, minha princesa!

Meu amor da mocidade
foi efêmera ilusão:
dele só resta a saudade,
nas cinzas de uma paixão.

Meu coração é um deserto
por falta do teu amor,
se me ofertares, por certo,
virará, um jardim de flor!

Minha herança não tem ouro,
um conselho é o meu legado:
– Meu filho, mais que um tesouro,
vale um homem muito honrado!

Minha paixão foi loucura
por amar-te tanto assim;
hoje estou nesta tortura:
- Por que tu foges de mim?

Pobre é a nação sem cultura,
sem heróis e sem memória,
cujo povo não procura
resgatar a sua história!

Poesia, versos de amor
nascidos no coração;
versos em que o rimador
exprime a sua paixão.

Poeta! Sou trovador!
Que todos possam saber:
faço trovas por amor,
faço trovas por prazer.

Regressaste!.... Que alegria!
E a saudade se desfez!
Hoje minha alma irradia
felicidade outra vez!

Restou tão grande a distância,
que nos separa no amor,
que já não dou importância,
se minha vida se for.

Saibam todos que o trabalho,
ao bom homem enobrece,
mas, quem não pega no malho,
seu espírito empobrece!

Salve, ó verão de mil cores,
ao despertar o manacá
que cobre, todas, de flores
as serras do Paraná!

São Francisco, nas veredas,
feito um pobre vagabundo,
despido de suas sedas,
encheu, de amor, este mundo!

Saudade... dor da lembrança
de alguém que distante está;
é o sentir de uma esperança
de que esse alguém voltará!

Saudade é uma dor silente
que nos ataca e vem mansinha;
entra no coração da gente,
toma posse e ali se aninha!

Saudade, saudade e meia,
é o que sinto de você;
meu coração serpenteia,
- só você é que não vê!

Saudade! Triste amargor!
Dolorosa e tão pungente,
a nos causar tanta dor;
só a entende quem a sente!

Se encontro, ao voltar pra casa,
as tuas mãos carinhosas,
o meu amor já se abrasa,
com teu perfume de rosas.

Segue, meu filho, na estrada,
os trilhos da retidão:
sê firme em cada pisada
que as honras te seguirão!

Sigo, na vida, o caminho
penoso, porém, correto,
que aprendi, desde meu ninho,
com meu pai severo e reto.

Sim, nas cores do arrebol,
Deus, o mais perfeito esteta,
sob a luz do pôr do sol,
dá inspiração ao poeta..

Singrando mares incertos,
marujo, audaz, varonil
achou montes, recobertos
com flores: Eis o Brasil.

Sinta o perfume das flores
nas serras do Paraná,
tem árvores de mil cores:
– primaveras ou manacá.

Teu charme, encanto e beleza
dão aos poetas um tema,
ó encantada Fortaleza,
linda Terra de Iracema!

Teu conselho, pai querido,
de retidão e de amor,
faz-me, hoje, já envelhecido,
mais entender seu valor!

Teve um infarto, na cama,
a noiva, que é tão frajola,
ao ver que, em vez do pijama,
o noivo pôs camisola!

Tico-Tico seresteiro
que vives, sempre, a cantar,
põe teu ninho em meu terreiro;
vem comigo avizinhar!

Vai, meu filho! Não tropeces
nas pedras do teu caminho:
a Deus, faze tuas preces
e não seguirás sozinho!

Vejo uma gota de orvalho
pairando sobre uma rosa:
de Deus, é mais um trabalho
para tomá-la formosa.

Vendo-a sentada no ninho
ditosa mamãe beija-flor,
vejo que há muito carinho
neste seu gesto de amor.

Vi beleza… colhi flores
nesta vida, em seus caminhos,
mas às vezes senti dores
causados por seus espinhos!


Fonte:
Luiz Hélio Friedrich. Maurício Norberto Friedrich. Família Friedrich em Trovas. Curitiba/PR: Centro de Letras do Paraná, 2018.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Leonilda Yvonetti Spina (PR)


Acredito piamente
que o destino Deus nos traça,
já que generosamente
soprou-nos da vida a graça.

A garota muito esperta
conquistou o seu patrão
e agora quer ver se acerta
a senha do seu cartão.

Ajudar o semelhante
sem pensar em si primeiro
é atitude edificante:
- Revela amor verdadeiro!

Amar na maturidade
faz da vida uma canção,
pois o afeto, na verdade,
refloresce o coração.

A muralha de Belém
tombada e reconstruída
vem simbolizar também
a ressurreição e a vida!

Antes, a família à mesa,
em sagrada comunhão.
Hoje, silêncio e frieza,
por conta da evolução.

Ao enterrar o pinhão
com o bico, a gralha-azul
vai repovoando o chão
dos verdes pinhais do sul.

Aquele que menos tem
ajuda mais que o abastado.
É a caridade de quem
sabe o que é ser rejeitado.

Baixa o nível da represa.
Fica a terra ressequida.
Corre risco a natureza,
pois água é fonte de vida!

Com fé e calor de abraços,
partilhando o amor e o pão,
a família estreita os laços
em perfeita comunhão.

Comunhão - ato sagrado,
que conforta o coração.
Corpo de Deus transformado
através do vinho e pão.

Contempla com alegria
cada novo amanhecer
e agradece a cada dia
a dádiva de viver.

Cuidemos bem da floresta,
da fauna, pássaros, flores.
A natureza é uma festa,
cheia de encanto e primores.

Desfrute o Outono da vida,
feliz, em cada estação,
conservando a alma florida,
quer seja Inverno ou Verão!

Despertando a fantasia
no espírito da criança,
o livro traz alegria,
semeia sonho e esperança.

Deus é a divina vertente
de luz e conhecimento.
Ele está sempre presente
em nosso discernimento.

Deus pregou paz, altruísmo,
tolerância e caridade,
mas o ódio e o terrorismo
arrasam a humanidade.

Eis os dons que só na idade
madura, por fim, se alcança:
prudência, serenidade,
equilíbrio e temperança!

Entre outonos bem vividos
não teremos solidão,
se mantivermos floridos
os sonhos no coração.

É o amor divina graça
que conforta o coração,
mas a paixão breve passa
como chuva de verão.

Já no Inverno da existência,
quem traz Deus no coração
desfruta da vida a essência
e não teme a solidão.

Lembrando a felicidade
que desfrutei com meus pais,
a dor de imensa saudade
arranca-me tristes ais.

Meninos, de braços dados,
não pensam em raça ou cor,
pois são todos irmanados
pelas correntes do amor.

Muitos sonhos se arrefecem
no Inverno do coração.
Aos poucos, porém, se aquecem
para a nova floração.

No alto da cruz, o Senhor,
em dolorosa aflição,
aos algozes, sem rancor,
ofereceu seu perdão.

Nos reveses desta vida,
o otimista não se ilude.
Busca sempre uma saída,
com ousadia e atitude. 

Nossa vida é uma passagem.
Nessa longa travessia
é preciso ter coragem
e muita sabedoria.

O amor é a seiva sagrada,
que o coração fortalece.
A pessoa que é amada
e ama, rejuvenesce.

O amor é cumplicidade,
respeito e compreensão.
Quem sabe amar de verdade
tem aberto o coração.

O calor de teu carinho,
de teus beijos, meu amor,
embriagam-me qual vinho
de raríssimo sabor.

O livro é silente amigo,
que nos fala ao coração
e nos oferece abrigo
nas horas de solidão.

O médico, meus senhores,
é sacerdote em missão.
Salva vidas, cura dores
- Bendita essa profissão!

Pregar a boa vontade
e o entendimento entre os povos
é levar a humanidade
a descobrir rumos novos.

Pressinto sempre ao meu lado
a presença do Senhor,
quando um conselho é ditado
por minha voz interior.

Primavera, quem me dera,
que como renasce a flor,
depois de uma longa espera
reflorisse meu amor.

Quem com fé vive seus dias
e semeia paz e amor,
colherá sempre alegrias
na seara do Senhor.

Quem em todos os momentos
age com sinceridade,
revela bons sentimentos
e preza o bem e a verdade.

Quem tem por lema viver
com fé, trabalho e ousadia,
com certeza irá vencer
as lutas do dia a dia.

Saiba sempre perdoar
ao sofrer ingratidão.
Seu coração vai ficar
mais leve com o perdão.

Sempre em versos de saudade
há uma confissão de amor.
Ninguém sabe se é verdade
ou fantasia do autor.

Se passo pelo jardim,
onde a sorrir me acenaste,
floresce dentro de mim
a saudade que plantaste.

Se queres vencer na vida,
que não te falte ousadia!
Prepara a tua subida:
- Escala um degrau por dia!

Siga firme na jornada,
sem se afligir com tropeço.
Importa na caminhada
a decisão do começo.

Só com paciência se alcança
o que se espera da vida.
Siga com mais esperança
a cada meta vencida.

Só quem pauta seu viver
sem assomos de vaidade
é que sabe compreender
o que é autenticidade.

Teu beijo é precioso vinho
de inigualável sabor.
Quem prova do teu carinho
logo entontece de amor.

Tratemos a ecologia
com respeito e seriedade.
Trabalhemos cada dia
pelo bem da humanidade!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...