quarta-feira, 16 de junho de 2021

Julimar Andrade Vieira (SE)

 


1
A dor que trago em meu peito
e transparece em meu pranto
me faz sentir o direito
de ser feliz quando canto.
2
A inteligência encerra
tudo quanto a força faz…
Da força resulta a guerra;
da inteligência, a paz.
3
Antes, nem dava importância
às "loucuras" que fazia.
Hoje, lembro a minha infância
com saudade e nostalgia.
4
Aprendi, desde criança,
a lutar pelo que quero.
Não hei de deixar herança
e nem receber espero.
5
Aprendi, desde menino:
Pra ser homem, de verdade,
não mentir, nem falar fino…
Precisa autenticidade.
6
À sombra do anonimato
somente os covardes agem.
Nunca, um cidadão sensato.
Nunca, um homem de coragem.
7
Caicó, quando o sertão
festeja teu centenário,
faço do meu coração
presente de aniversário.
8
Chegar pertinho de mim?
Como é que você se arrisca?
O incêndio começa assim:
basta haver uma faísca.
9
Contemplando um beija-flor,
ave de rara beleza,
percebi quanto primor
existe na natureza.
10
Costuma existir malícia
no carinho da mulher.
Sempre que nos faz carícia,
alguma coisa ela quer.
11
Cumpre bem a sua norma
em prol da sociedade
o jornalista que informa
sem distorcer a verdade.
12
De batalhar não desisto.
Hei de vencer algum dia.
Creio no poder de Cristo,
na Santa Virgem Maria.
13
De grandeza, desconfio
ser este o sonho da fonte:
ser, um dia, um grande rio,
todo coberto de ponte.
14
Deus, que fez o fogo, a água,
o vento, o frio, o calor...
misturou prazer e mágoa
na fabricação do amor.
15
Deus, no grande paraíso
que aos cegos reservais,
apenas se faz preciso
fazê-los ver. Nada mais.
16
Dura, suada e sofrida
quase sempre é a trajetória
de quem consegue, na vida,
a tão sonhada vitória.
17
Educar é a grande herança
que um pai consegue deixar,
mesmo que o filho, criança,
não consiga avaliar.
18
É na surdina, eu suponho,
juntinho à mulher querida,
que a vida se torna sonho
e o sonho se torna vida.
19
É nos teus olhos que leio
teus sonhos, tua mensagem.
Neles, um simples passeio
vale mais que uma viagem.
20
Enquanto eu viver na terra,
não quero julgar ninguém,
não quero punir quem erra,
nem ser carrasco de alguém.
21
Eu planto flor, colho hera.
Planto calor, nasce frio...
Isto não me desespera.
Insisto no meu plantio.
22
Eu quero ter, como herança
da pessoa mais querida,
somente a boa lembrança
do bem que me fez em vida.
23
Fruta - só da estação.
Mulher - se não for casada.
Trabalho - sem ter patrão.
Comida - sem ser salgada.
24
Guarapari, com certeza,
é a Cidade Saúde.
Terra de rara beleza.
Perfeição em plenitude.
25
Há muita gente que acha
que cachaça é coisa boa,
mas eu, se beber cachaça,
vou perder minha "patroa".
26
Há muito cego sabido
que nada de cego tem.
Se o vento sobe um vestido,
como o ceguinho vê bem!
27
Impor a força, o receio,
fazer uso de agressão…
não é este o melhor meio
de mostrar quem tem razão.
28
Língua pátria, espezinhada,
sem ter chances de defesa.
Mal escrita e mal falada,
nossa língua portuguesa.
29
Maria, os meus dissabores
espero ver desfazeres.
Não és Maria das Dores,
és Maria dos Prazeres.
30
Minha mãe, analfabeta,
sozinha aprendeu a ler,
mas fez seu filho, poeta,
muitas lições aprender.
31
Minha pacífica alma
merece a comparação
da fonte, que vence, calma,
os pedregulhos do chão.
32
Mulher, semelhante nossa,
uma  “costela” qualquer…
mas não há homem que possa
viver feliz sem mulher.
33
Nada existe mais sagrado
que a demonstração de afeto
naquele abraço apertado
que recebo do meu neto.
34
Nada expressa mais tristeza,
nem há vida mais tristonha,
que a de quem sofre a pobreza,
sem realizar o que sonha…
35
Não gosto de estardalhaço,
nem sou de fazer barulho,
mas tudo de bom que faço
me deixa um pouco de orgulho.
36
Não há nas canções de agora
sentimento ou poesia.
Prefiro, sempre, as de outrora,
com seu tom de nostalgia.
37
Não quer para si, não faça
o mal a outra pessoa.
Quem vive a fazer trapaça
a si mesmo amaldiçoa.
38
Nem sempre faço o que penso,
para evitar embaraço,
mas, por questão de bom senso,
penso sempre no que faço.
39
No Dia dos Namorados,
fiz algo surpreendente:
gastei todos meus  “trocados”
para te dar um presente.
40
Nosso amor ninguém desmente,
nem aprova ou recrimina,
pois eu sinto e você sente
discretamente, em surdina.
41
Numa fonte que desliza,
cristalina, pelo chão,
a natureza improvisa
sua forma de canção.
42
O futuro é resultado
do plantio no presente.
Da semente do passado
nasce o futuro da gente.
43
O poeta é quem descreve,
de maneira inteligente:
trova é o meio mais breve
de se dizer o que sente.
44
O rancor não engrandece
o passado de ninguém.
A gente prospera e cresce
amando e fazendo o bem.
45
O teu narigão vermelho,
que parece um pimentão,
espanta qualquer espelho
que não sofra da visão…
46
Para mudar a imagem
do Nordeste brasileiro,
falta dinheiro e coragem,
principalmente dinheiro.
47
Partir... voltar... não me queixo.
Isto faz parte da vida.
Saudade eu carrego e deixo,
no momento da partida.
48
Precisa de inteligência
dar inestimáveis provas
quem julga ter competência
para um concurso de trovas.
49
Qual faminto sem comida,
o ser sem inteligência,
sem saber, imita a vida
da flor que não tem essência.
50
Quem erra e assume o que faz
revela autenticidade,
mas pouca gente é capaz
de ter tamanha hombridade.
51
Quem me vê falar sozinho
não pense que falo a esmo.
Às vezes, faço, baixinho,
repreensões a mim mesmo.
52
Quem muito a si mesmo cobra
ou de si mesmo é juiz,
no pouco tempo que sobra
não dá para ser feliz.
53
Quem quer algo conquistar
precisa compreender:
ter esperança é sonhar,
ter ousadia é fazer.
54
Quem quer bens materiais
de uma forma desmedida
mostra egoísmo demais.
Não sabe viver a vida.
55
Rui Barbosa, num sorriso,
ao morrer, disse à Ciência:
“Vou mostrar no paraíso
o que é inteligência” .
56
São os sonhos, com certeza,
que à vida tornam risonha.
Por isto, esquece a tristeza.
Sonha, sonha, sonha, sonha…
57
Se eu fosse um passarinho,
desses que vivem perdidos,
iria fazer meu ninho
nos teus cabelos compridos.
58
Sentimento de criança
não comporta explicação.
Oscila como balança,
explode como vulcão.
59
Ser pobre não é defeito.
Falta, apenas, quem lhe ajude.
O que mostra o bom sujeito
é sua boa atitude.
60
Seu Padre, seja sensato:
não reclame a Santo Antônio!
Mais vale um bom celibato
do que um mau matrimônio.
61
Sofro fome, sede e peste,
sem saber o que é dinheiro,
mas não troco o meu Nordeste
pelo Rio de Janeiro.
62
Sujeito que fala fino,
sem qualquer explicação,
pode, até, ser nordestino,
mas não nasceu no sertão.
63
Tem mar morto, mar azul,
mar de toda qualidade.
Em Cachoeira do Sul,
um mar de felicidade.
64
Ter fé é ter esperança
numa conquista qualquer.
É com fé que a gente alcança
aquilo que a gente quer.
65
Uma estação... um apito...
uma partida de um trem...
No meu coração aflito,
a saudade do meu bem.
66
Vale bem mais ser ousado
que ter a vida vazia.
O sucesso é resultado
de uma dose de ousadia.
67
Volta, cigana bonita,
tu, que leste a minha mão.
Volta! Teu laço de fita
prendeu-se ao meu coração.
____________________________

Julimar Andrade Vieira nasceu em Teixeira/PB, em 1949. Desde os onze anos de idade escreve poesias, por influência do seu falecido pai, também poeta, Júlio Rodrigues Vieira. Integrou as equipes de radiojornalismo da Emissora de Educação Rural de Caicó (RN) e Rádio Arapuan, de João Pessoa (PB). Trabalhou durante quase 30 anos no Banco do Nordeste do Brasil, onde atuou, até pouco antes de aposentar-se, como Advogado, Assessor da Presidência e Chefe da Assessoria de Assuntos Institucionais, em Brasília-DF, órgão vinculado ao Gabinete da Presidência. Aposentado em 1998, exerceu a advocacia sem vínculo empregatício e ocupou o cargo de Chefe de Gabinete do Procurador-Geral do Estado de Sergipe (2007/2010). 

No campo literário, foi colaborador do jornal “A Folha” , de Caicó, onde foi Presidente da União Estudantil e sócio-fundador do Clube dos Trovadores do Seridó. No BNB, foi redator do jornal interno Comunicado ao Funcionalismo. 

Publicou o livro de poesias Coisas da Vida (1981). Fez parte do Coral do Carmo, em Recife-PE. Participou, também, de algumas antologias poéticas de âmbito nacional e vem participando, com razoável êxito, de vários concursos literários. 

É delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Aracaju (SE), onde reside atualmente.

Fonte:
União Brasileira de Trovadores Porto Alegre - RS. 
Trovas de Julimar Andrade Vieira e Júlio Rodrigues Vieira. 
Coleção Terra e Céu. vol. LXXIV. Porto Alegre/RS: texto Certo,  2016

Plágio em Concursos

1 – Se numa trova ou numa poesia eu colocar uma das estrofes “o poeta é um fingidor” (que é de conhecimento geral ser do Fernando Pessoa), mas todo o resto for diferente, pode ser considerado como um plágio? Ou perdem seu direito a participar de um concurso?

R= Não tem como implicar com uma trova porque tem um verso igual ao verso de outra. No entanto, em um concurso, os julgadores poderão desconsiderar a mesma, caso este verso seja extremamente conhecido, como o de Fernando Pessoa.

2 – Se as estrofes forem formadas de gente conhecida, mas cada uma de um outro autor. Exemplo: 1ª. Estrofe é do Castro Alves, a 2ª. Do Manuel Bandeira, a 3ª. Do Cláudio Manoel da Costa a 4ª. Do Ouverney, e assim por diante. Isto é considerado plágio?

R= Este caso se aplica ao exemplo anterior. Versos do conhecimento geral não tem como “assumirmos a paternidade” em um concurso.

3 – Se eu participar com uma trova em um concurso e nem me classificar com ela e quiser envia-la para outro, posso ou não é permitido isto, pois de repente os julgadores podem ser deste e lembrar desta trova?

Pode. Em Pouso Alegre, no ano 2000, Waldir Neves foi 1º lugar no tema “Noite:

Cai a noite … Seu negrume,
mercê de um mistério estranho,
faz de um ínfimo queixume
um lamento sem tamanho …

Quando eu o parabenizei pela belíssima trova (muito bem elaborada), ele me disse que ela havia sido enviada, anos atrás, para Friburgo e não pegou nada lá. O julgador poderá até lembrar-se dela mas o que vale é não ter sido publicada em lugar nenhum, ser inédita em termos de divulgação.

4 – Se eu haver divulgado uma trova na Internet, posso participar de concurso com ela, ou por estar ao publico perde direito?

R= Se ela está divulgada, deixou de ser inédita. Já vi casos, até recentes (em que o autor arrisca pois, afinal, pouca gente o acessou na Internet. Manda para o concurso e ganha. Eu, particularmente, acho mais grave o autor premiar com uma trova já premiada. O que também ocorre.

5 – Até quanto de uma trova ou poesia é considerado plágio?

Exemplo:
Naqueles tempos de antanho,
de escribas e fariseus,
conheci um homem tacanho,
que consertava pneus.

As duas primeiras é do Durval Mendonça (o restante seria: Um homem do meu tamanho/ tinha o tamanho de Deus) e as 2 ultimas muito mal feitas (horrorosas) (só como exemplo), são minhas. É plágio isto?

São dois versos extremamente conhecidos, seriam caracterizados como plágio. Acho que não é bem o tamanho do que se copiou mas é quando se atinge a parte chamada “achado”, o diferencial da composição. Conheço trovas que têm até três versos parecidos, mas são tão comuns que todo dia tem alguém escrevendo algo igual, ou quase.

6 – Reforçando, até quanto de uma trova ou poesia é plágio?

R= Acho que foi respondido no item anterior. Nesse caso agora, que deu polêmica, uma trova, premiada em 1992, foi:

Ontem rompemos os laços
e a saudade, por magia,
me faz ouvir os teus passos
por toda a casa vazia!…

E a outra, premiada, em 2006 (autores diferentes) foi:

Ontem rompemos os laços…
Numa utópica magia,
a saudade pôs teus passos
por toda a casa vazia…

Fonte:
Oceano de Letras

terça-feira, 15 de junho de 2021

Haroldo Lyra (Fortaleza/CE)

 1
A gaiola me resguarda
da fatal atiradeira:
do chumbo da espingarda,
da pedra da baladeira.
2
A juventude sadia
brincando cria um evento,
com lindo sorriso envia
buquê de flores ao vento.
3
Araras num voo rasante,
recolorindo a paisagem,
reflete um ditoso instante
no esplendor da plumagem.
4
A rede armada na praia,
lazer que embala o casal,
que no Ceará se espraia
ao longo do litoral.
5
A sedução dessa imagem
vem de um pseudo horizonte,
pré-confundindo a paisagem
num reflexo estonteante.
6
A sombra da juventude
na parede projetada,
contrasta com lassitude
da velhice na calçada.
7
Bailar na vida é rotina
de quem sabe ser feliz,
e nunca fecha a cortina
do baile que não tem bis.
8
Cai a chuva sobre a terra
em queda fenomenal;
quanta alegria que encerra
até banhando o casal.
9
Cenas de tempos passados,
que à saudade satisfazem,
evocam sonhos dourados
e muito a tantos aprazem.
10
Confirma-se o sofrimento
do pobre homem, coitado!...
pois desde o seu casamento
que ele vive acorrentado.
11
Comprova a fama que traz,
o casal protagonista
desse filme ora em cartaz,
intitulado turista.
12
Considero a efervescência
dessa densa multidão,
estressante consequência
da tal globalização.
13
Com sua vela enfunada
não lhe intimidam navios
e singra, afoita jangada,
os verdes mares bravios.
14
Cores de outono bizarro
que a paisagem modifica;
E a estrada tosca de barro
juncada de folhas fica.
15
Era um garoto travesso,
Um mestre na peraltice:
virava tudo ao avesso,
era o rei da macaquice.
16
Essa fumaça abismal
configura um retrocesso
atroz e paradoxal,
nas esteiras do progresso.
17
Fora a lida humanitária,
do trabalho grande amiga,
herdara dessa operária
o denodo da formiga.
18
Gosto de me divertir
 nas belas praias do Iguape,
 mas acho melhor curtir
 a serra de Maranguape.
19
Já tenho setenta e três
nessa tal melhor idade,
versando com lucidez
e muita felicidade.
20
No cais, sem vela, ancorado,
o barco sofre a lacuna,
de um capitão reformado
que abandonou velha escuna.
21
No mar da vida sonhei
com a rota certa e fiel.
Sereno, as vagas singrei
num barquinho de papel.
22
Nos acordes, uma festa,
namoro no coração;
são enlevos da seresta
nas cordas de um violão.
23
O arrojo dos alpinistas
arrepia tal qual túmulos,
mormente quando as conquistas
escalam os níveos cúmulos.
24
Oh! vento que vela enfunas.
Oh! buggy aberto ao terral,
cinzelando as alvas dunas
ornam praias de Natal.
25
Olhando a fotografia
me confunde um leve açoite:
no relógio é meio-dia
ou será que é meia-noite?
26
O luar no mar refrata
feixe de raios azuis,
realça a onda e retrata
a praia que nos seduz.
27
Ontem pujante esperança
numas linhas refratárias;
no caderno, hoje, a lembrança
das minhas trovas primárias.
28
Os sentimentos do mar
as ondas cantam na areia,
afagando o firme olhar
da solitária sereia.
29
Para o carinho colher,
 por Maranguape eu passava,
 subia a serra a rever
 a noiva que ali morava.
30
Permita entrar meu amor
pela porta da afeição,
para expulsar o torpor
que anula a sua razão.
31
Pode até conter amor,
mas a emoção será pouca:
beijos por computador!...
prefiro os de boca à boca.
32
Pra viagem convidado,
chegou depois da partida.
Convém tomar mais cuidado:
se não, perde o trem da vida.
33
Quanto mais vai apertando
tanto mais fica gostoso,
com esse aperto estreitando,
doce abraço carinhoso!...
34
Quisera que sempre houvesse
nas mãos que dominam o mundo,
a força que o amor exerce
num viver livre e fecundo.
35
Rio de curvas simétricas
emoldurando a paisagem,
cinzela as veias poéticas
da natureza selvagem
36
Tens a missão importante
num mar sereno ou escuro,
indicando ao navegante
aquele porto seguro.
37
Terra de gente importante
 que em Maranguape nasceu:
 do Chico, comediante;
 d’um Capistrano de Abreu.
38
Um carinho especial
dispensei à margarida;
essa flor que hoje é vital
no jardim da minha vida.
39
Vai disposto e sorridente,
o senil casal surfar.
Quanta alegria evidente
por se divertir no mar.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...