segunda-feira, 21 de junho de 2021

Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (II - Os ictos - o ritmo - a cadência)

 

Muitos autores têm declarado que na trova não há um esquema acentuai obrigatório e, por isso mesmo, os versos de sete sílabas são chamados de arte menor, em contraposição aos versos de mais de sete, estes sujeitos a ictos obrigatórios e chamados de arte maior.
          Em verdade, porém, o setissílabo apresenta oito ritmos recomendáveis, e a trova pode - e deve – para não ser monótona,  apresentar variedade sonora em seus versos.
         Icto é o acento obrigatório no verso, que marca o seu ritmo. Este varia conforme a disposição das sílabas tônicas e átonas no verso. Muito embora se  confundam em sentido lato, diferenciam-se ritmo e cadência. Assim, conforme os ictos, o ritmo pode ser variável, mas a trova, como diz Francisco Nogueira, "pode ter ou não uma cadência, que é a repetição do mesmo ritmo nos quatro versos", a qual é, assim, invariável.
         Eis uma trova com a mesma cadência nos quatro versos e com o ritmo 3-5-7:

CoraÇÃO de MÃE - canTEIro
 em peREne FLOraÇÃO,
 onde um SANto JARdiNEIro
 planta as ROsas DO perDÃO.
 MARILITA POZZOLI

         A seguir, uma de Autor desconhecido, com versos todos no ritmo 1-3-7:

 EU queRla, ela queRla;
 EU peDla, ela neGAva;
 EU cheGAva, ela fuGla,
 EU fuGla, ela choRAva.
 ANÔNIMA
        
Já vimos que o verso se conta até a última sílaba tônica, e, assim, o setissílabo tem sempre um icto na 7a. São as tônicas que dão, também, a acentuação interna do verso, elas que marcam os ictos e dão o ritmo.
   Registramos, pois, os oito esquemas referidos, cada um exemplificado com verso de nossa autoria, também com os ictos em letras maiúsculas:

ÉS meu SOL: EsTREla-GUIa                        1-3-5-7
BUSco a esTREla no caMInho                     1-3-7
A disTÂNcia é MEU torMENto                       3-5-7
A sauDAde é passaRlnho                            3-7
Minha trisTEza é infiNIta                             1-4-7
Uma espeRANça que DORme                      4-7
LemBRANças QUEImam: são BRAsas          2-4-7
A NOIte faBRIca esTRElas                           2-5-7

         Lembre-se que há palavras que têm um acento próprio, tônico, bem marcado: flor, quimera, rápido. Em outras, esse acento não é tão sensível: sereno, acidente, monte. Na sequência de vocábulos, principalmente essas palavras que não têm um acento marcante podem apresentar acentuação oscilante, sujeita ao ritmo global do verso. Há um processo natural de acomodação das palavras ao ritmo. Em função do conjunto fonético, as sílabas graves e tônicas, conforme sua disposição no verso, podem aumentar ou diminuir de intensidade. Daí também um mesmo verso poder apresentar mais de um ritmo, a se enquadrar ora num, ora noutro esquema.
         Observe-se que palavras longas podem ter um ou mais acentos secundários (subtônicas), o que acontece principalmente com palavras compostas: inTENsaMENte, AEroPORto, COUve-FLOR. Outras podem apresentar pronúncia variável, e receber um acento de intensidade : MIseRÁvel, MAraviLHOso.
         Palavras proparoxítonas apresentam também um acento secundário na última sílaba: LÍMpiDO, ÂNgeLUS, PÉRgoLA. No interior do verso, essas palavras podem contribuir para bons efeitos rítmicos. 
         Note-se que um verso aparentemente com acentuação apenas em 2-7 pode ter seu ritmo dado pela acentuação secundária em 2-4-7 ou 2-5-7, como em:

 DeBAIxo DOS serinGAIS                            2-4-7 ou
 DeBAlxo dos SErinGAIS                              2-5-7

         Autores conceituados incluem ainda no setissílabo o esquema 1-5-7, no qua! entra, mas forçadamente, para dar o ritmo, a acentuação secundária, no esquema 1-3-5-7. Na trova literária, porém, em nosso entender, o ritmo, no caso, se torna um tanto artificial. Como no verso:

 CAbe numa BARca DE Ouro                       1-5-7

         Já o esquema 2-6-7 foge completamente ao ritmo poético, tal como no exemplo: MosTROU-me o carroÇÃO VElho.
         O assunto, porém, é complexo: em caso de dúvida, apure-se o ouvido para o melhor resultado.
         Vejamos algumas trovas de ritmos variados, todas com boa sonoridade:

Os TEUS dois GRAMpos de PRAta                         2-4-7
LEMbram-me aGOra, ao prenDÊ-los,                     1-4-7
DUAS esTRElas briLHANdo                                   1-4-7
na NOIte dos TEUS caBElos.                                2-5-7
CORRÊA JÚNIOR

QUANto MAIS teu CORpo enLAço,                        1-3-5-7
 mais paDEço o MEU torMENto,                            3-5-7
 por saBER que MEU aBRAço                                3-5-7
 não PRENde o TEU pensaMENto.                         2-4-7
 JESY BARBOSA

SauDAde - perFUme TRISte                                 2-5-7
de uma FLOR que NÃO se VÊ.                              3-5-7
CULto que aINda perSiSte                                    1-4-7
num CRENte que JÁ não CRÊ.                              2-5-7
MENOTTI DEL PICCHIA

Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009

domingo, 20 de junho de 2021

Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (I - Rima: elemento imprescindível)

 

A rima é essencial na trova, e consiste na conformidade de sons de duas ou mais palavras, a partir da última vogal tônica. Assim, Maria rima com tardia - vogal tônica i; temerária rima com primária - vogal tônica a.
        Na trova, em sua forma mais simples, é regra que as rimas do 2° e do 4° verso, pelo menos, sejam consoantes, aquelas que conservam a conformidade total de fonemas a partir da última vogal tônica: destino - sino; planta - encanta. Mas podem haver bons efeitos sonoros também quando o 1° e o 3° verso trazem apenas rimas toantes, aquelas que apresentam identidade de sons somente nas vogais tônicas: dilema - pena; pedra - terra; lavra - escrava.
        As rimas podem ser perfeitas: mão - pão; sereno - pequeno. Ou imperfeitas: traz - mais; luz-azuis. No 2° e no 4° verso, devem ser evitadas as imperfeitas, mas acreditamos que, no 1° e no 3°, estas podem trazer sonoridade à trova. Algumas imperfeitas, por serem quase perfeitas, são, no entanto, admissíveis: boca- louca; beijo - desejo. Como na trova seguinte:

Essa que afasta os abrolhos 
de minha existência louca,
carrega a noite nos olhos
e a madrugada na boca.
ALCEU WAMOSY

No exemplo seguinte, todas as rimas são perfeitas:

Quem ama parece louco,
leva uma vida enganosa,
é como eu, que inda há pouco,
disse - Bom dia! a uma rosa.
MARTINS FONTES
        
São consideradas pobres as rimas de palavras da mesma classe gramatical e de verbos no mesmo tempo. Para nós, o que deve ser evitado é o emprego de rimas de advérbios em mente (finalmente - ternamente), de gerúndios (chovendo - sofrendo), de particípios (sofrido - colhido), e, o quanto possível, de verbos no infinitivo (amar - chorar; colher- sofrer, sorrir - partir, por- compor).
        Mesmo assim, pode haver uma boa trova com esses tipos de rimas, quando valorizada pela ideia, pelo achado. Vejamos as seguintes:

Para matar as saudades,
 fui ver-te em ânsias, correndo...
- E eu, que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo!
ADELMAR TAVARES

A noiva passa levada
pelas asas do seu véu:
é como Estrela enfeitada
para uma festa no céu.
ABGUAR BASTOS

        E a seguinte, com todas as rimas em verbo:

Saudade é tudo o que fica
daquilo que não ficou;
lembrança, que mortifica,
daquilo que se acabou.
JOARYVAR MACÊDO

        É bom evitar, quanto possível, rimas de palavras derivadas, consideradas pobres: encanto - desencanto; tempo - contratempo; caminho - descaminho; crença - descrença; caldo - rescaldo.
        Vêm sendo comumente chamadas pobresas rimas fáceis, como as que se fazem em ar, or, ão. No entanto, podem ser obtidos bons resultados com esse tipo de rimas. Veja-se a trova seguinte, aliás, com rimas imperfeitas no 1° e no 3° verso:

Por esses campos azuis,
ó lua do meu sertão,
tu és um pente de luz
nas tranças da escuridão!
FÉLIX AIRES

        E esta, de rimas perfeitas, também cheia de simbolismo:

Velhinha, de vida breve,
já misturando estação,
a paineira chora neve
num vendaval de verão!
CARMEN OTTAIANO
        
A trova seguinte, com rimas em orno 2° e no 4° verso, é uma das mais bonitas da nossa língua:

Saudade, palavra doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.
BASTOS TIGRE

        São consideradas ricas as rimas de classes gramaticais diferentes: medo(substantivo) - cedo (advérbio); chuva(substantivo) - desluva (verbo).
        Também as que se destacam pela originalidade: strip-tease - deslize; labirinto - retinto; cofre - sofre.
        São ainda consideradas ricas as rimas de palavras iguais mas com sentido diferente: muda (adjetivo) - muda (verbo).
        Rimas preciosas são rimas exóticas, obtidas com palavras combinadas: se abre- sabre; silêncio - pense-o; foice- foi-se; vê-la - estrela. Eis uma trova com rimas preciosas no 2° e no 4o verso:

A vida que vivo agora,
só me encoraja vivê-la,
porque a saudade, lá fora,
me vigia de uma estrela!
C. A. BEIRAL

        Rimas raras são aquelas pouco encontradas para determinadas palavras: cisne - tisne; noite - açoite; olhos - abrolhos- escolhos. Essas rimas, porém, se tornaram muito desgastadas.
        Rimas completas (também chamadas ricas) são aquelas em que há concordância inclusive nas consoantes que precedem as vogais tônicas: lavra- palavra; candelabro - descalabro.
        Rimas auditivas, diz-se daquelas em que há conformidade de sons, mas não de grafia: messe -prece; lasso - laço.
        As rimas de palavras agudas (oxítonas) são também chamadas masculinas; as graves (paroxítonas), femininas. Alguns são de opinião que a trova deve sempre ter início com verso grave.
        Outros condenam a trova só de versos agudos, que consideram "duros". Achamos exagero nessas opiniões, mas, no geral, preferimos começar a trova com verso grave, sem que isto seja uma regra.
        Vejamos uma trova com rimas agudas no 1° e no 3° verso, com bons efeitos sonoros:

Não tenhas tanto temor
 do veneno da serpente.
 Causa muito mais pavor
 a lingua do maldizente!
 ALICE DE PAULA MORAES

        Devem ser evitadas as rimas homófonas, isto é, as que tenham a mesma vogal tônica e o mesmo som (ou só aberto, ou só fechado). Mas as rimas homófonas podem ser compensadas com um bom jogo de vogais no interior da trova, que, assim, não ficará prejudicada, como na quadra seguinte, com a vogal tônica i:

Quando ri, um passarinho
sai cantando de teu riso,
para mostrar-me o caminho
que conduz ao paraíso.
MURILLO ARAÚJO

        Quando é a mesma vogal tônica, mas alternando sons abertos e fechados, não há homofonia:

Jamais se rende o penedo
ao delírio das marés.
O mar agride o rochedo,
mas sempre morre aos seus pés.
VASCO DE CASTRO LIMA

        Rimas internas são as que se repetem também dentro do verso, em geral aleatoriamente, e contribuem para o efeito sonoro. Na trova seguinte, recamadaé uma rima interna:

Minha vida é uma almofada
recamada de açucenas;
por fora - tão cobiçada,
por dentro - cheia de penas.
LOURDES STROZZI

        Não se deve aceitar como rima um som aberto com o mesmo som porém fechado: vela - estrela; belo - selo; bode - pôde; céu - seu; menor - alvor; leve - teve; credo - medo; redor - amor; ainda que haja exemplos de bons poetas nesse sentido.
        Os melhores efeitos são conseguidos com pares de rimas contrastantes. A rima valoriza a trova, mas a ideia, o achado, a mensagem, vêm em primeiro lugar. Vejamos algumas trovas com boas
ideias e rimas bem contrastantes:

Eu sei de uma negra cruz,
de tão negra não tem nome:
essa que o pobre conduz
pelo calvário da fome.
SEBASTIÃO SOARES

Nunca o amor se satisfaz
e sempre se contradiz:
Faz e não sabe o que faz,
diz e desdiz o que diz...
LUIZ RABELO

Naquele instante do adeus
do nosso encontro fortuito,
teus olhos e os olhos meus,
discretos, disseram muito.
HEITOR STOCKLER

A própria infância, também,
é do passado uma voz:
Saudade, às vezes, de alguém,
que vive dentro de nós...
HELVÉCIO BARROS

Quem não calcula a descida
 e faz da droga um suporte,
cai do trapézio da vida
na rede fria da morte.
HILDEMAR DE ARAÚJO COSTA

Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009

sábado, 19 de junho de 2021

Therezinha Dieguez Brisolla (SP)

 


1
A canequinha da casa
pertence à mulher do Osíres.
"Tá" desbeiçada e sem asa
porque serve a muitos pires!
2
Ao pai dela, o cafajeste
explica: "Foi num pagode"...
O velho é um "cabra da peste"
e a moça explica: "Deu bode!"
3
Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era a vista!
4
À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo!
5
Ao ver que estava em perigo
fechou a Jane, a matraca...
É que o Tarzan, sempre amigo,
hoje "tava com a macaca"!
6
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
7
A porquinha se casou
e chora o tempo inteirinho!
Bem que a mãe dela avisou:
"Não case com porco-espinho"!
8
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão...
"Essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!'
9
Bonita, pobre e sacana
é a nova mulher do Ernesto.
Do velho, só quer a grana
e, do filho dele... o resto!
10
 - Canta mal, essa "coroa"...
- Pois saiba que é minha tia.
- Se a música fosse boa...
- Pois é de minha autoria!
11
Chega tarde, o companheiro
e ao ver tanta grana, exclama:
- Como ganhaste o dinheiro ?!
Passas o dia na cama!!!
12
Chega a cantora, que é mestra
no gingado da cintura
e os integrantes da orquestra
nem olham pra partitura!
13
Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva, e o cão morreu!
14
Chora de fome o povão!!!
Pro aperto, depois dos censos,
dá o governo a solução:
Distribui milhões de lenços!
15
"Com Deus, vou subir a serra
sem perigo... eu tenho fé!"
Na curva, o bebum se ferra...
Deus subiu, mas foi a pé!
16
Com a filha "naquele estado",
o pagode interrompeu:
- Confessa ou morre ...tô armado!
Os três confessam: "Fui eu".
17
"Depois do jantar, o mate",
diz, ao filho, o anfitrião.
Foge, ao perigo, o mascate.
Foi sem tomar chimarrão!…
18
Deram sumiço ao rateio
do mensalão!... e, por zelo,
o ladrão, lá do correio,
diz que não aceita sê-lo!
19
Deu, à sua esposa mística,
que finge chilique e ataque,
uma viagem turística...
E ela já embarcou pro Iraque!
20
Deus cria a lua... as estrelas...
e uma pergunta o inquieta:
"Quem poderá descrevê-las?"
Então, Deus cria o poeta!
21
Diz, já caduco: - Que tédio!...
E a esposa, sempre calminha:
“- Quer jogar dama?” E, do prédio,
ele jogou a velhinha!
22
Diz ao dançar, enfadonha:
- Você sua !!! ...     O Zebedeu
Bem caipira e com vergonha
Diz baixinho : vô sê seu !!!
23
Diz “Não” à sogra e à cunhada.
- é astuto e não cai na rede –
“Família, aqui, só a Sagrada
e pregada na parede!”
24
Diz que quer dormir comigo,
em qualquer canto, a Gioconda...
Pra não ter esse "castigo",
comprei a cama redonda!
25
"Dorme comigo!... é o Joaquim!..."
peço, quando telefono.
E hoje que ela disse "sim"
olha o aperto!... eu tô sem sono!
26
É mãe de um casal!... e é duro
olhar a cena espantosa:
a filha em pijama escuro!
- O filho... em babydoll rosa!
27
Envergonhado e sem jeito,
meu coração sonhador
conserta o ninho desfeito
enquanto espera outro amor!
28
- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
29
Flagrando a esposa e o banqueiro,
pensa bem e esquece o orgulho:
-Vou precisar de dinheiro...
e sai sem fazer barulho!
30
Foi o bebum "muito esperto",
como eremita... e está crente
que, no calor do deserto,
o oásis é de água ardente!!!
31
Foi o par pro beleléu...
e o fantasma, em tom moderno:
- Venho, à noite, aqui no céu,
ou você vai lá no inferno?
32
Gera corrida e surpresa,
notícia mal pontuada:
"A Mulata Globeleza
visita a Serra, Pelada"!
33
Gritei: “- Pare, seu Joaquim”,
quando o trem apareceu...
Ele ainda olhou pra mim,
falou: “Ímpare!” e morreu...
34
Investigou tudo aquilo
que falavam da Tereza
e agora não tem mais "grilo"!...
Agora ele tem certeza!!!
35
Já velho o Sansão estrila:
"Minha mulher tá caduca...
Mal cochilei e a Dalila
tosou a minha peruca!?
36
Jaz o ancião na cascata!...
Seu anjo, que é seu abrigo,
já velho e com catarata,
não viu a placa "PERIGO"!
37
Leva o troféu “Bom de bola”
o craque da temporada.
Sem jogar nada, é o cartola
quem sempre leva a “bolada”.
38
Ladrão alto, bem vestido,
já sai, do quarto, ligeiro,
e ouve a voz... quase um gemido:
“Só lhe interessa dinheiro”?
39
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra como troféu!
40
Na guerra pela conquista
de um bom salário, valentes,
a manicure e o dentista
lutam com unhas e dentes!
41
Não sobrou uma peninha!!!
E o galo machão despista:
- Saio pelado da rinha
quando é verão, sou nudista.
42
Não houve pancadaria
nem sufoco na paquera...
“Sou homem”, disse a Maria.
Ainda bem que o Zé  não era!
43
Na pescaria, é a fisgada
tão forte, que a vara entorta!
E a boneca: - É peixe-espada?
Comer sardinha,  nem morta!!!
44
Nas Bodas de Ouro, ela encuca:
- Quer, meu bem, uma canjinha?
Grita o velho: - Tá caduca?
Que culpa tem a galinha?
45
No açougue foi tal o susto
ante o preço do filé,
que a peruca do seu Justo
ficou de cabelo em pé!
46
"No fogão eu passo o dia",
disse ele antes de casar.
Só não disse pra Maria
que o tal fogão era um bar!
47
Num dos quadros se consterna...
vê o pintor... mete o bedelho:
- Que homem feio! Arte moderna?
- Não, meu senhor... É um espelho!
48
Num pagode eu fui dançar
diz o velho, e "aconteceu"
quando a moça eu fui tirar:
– Quer dar-me a honra? E ela deu!
49
O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu não tem fogo!!!
50
O marido não aguenta
ver a cara da Maria!...
“Não dá pra trocar – lamenta
– veio sem a garantia!”
51
 O marido sai a campo
– e o pipoqueiro é estourado!...
vendo a esposa com sarampo
e o vizinho empipocado!!!
52
"0 que faz dentro do armário ?!"
Nu, no aperto, ele se poupa:
- "tem traças!... e o esposo otário:
- "Xi !!! comeram sua roupa!?
53
O salão, que se destaca,
lota, assim que a noite desce,
por um engano na placa:
- “Faço tranças” tá com S!!!
54
Os dois donos têm receio
que a maloca caia e, agora,
toda noite tem sorteio:
enquanto um dorme o outro escora!
55
Padre, eu sei quem é Jesus?,
diz o caipira e dispara:
“Conheço o sinar da cruz...
Num sei é espaiá na cara!”
56
O trovador tá empolgado
e até troféu quer ganhar!...
O tema é “Mar” e eis o “achado”:
- És meu mar... mas não faz mar!
57
Passa o efeito do remédio
e o velho, sem jeito, avisa:
- Demorou demais o assédio
e o furacão virou brisa!
58
- Peço a mão de sua filha...
e aí para, ante a visão:
Tá o sogro de sapatilha
e a sogra de sapatão!
59
Pede a graça ao padroeiro
e promete ao santo, à beça...
É um beato caloteiro
que não paga nem promessa!
60
Perdeu no xadrez também...
e, sem dinheiro, se abate
ouvindo a ordem de alguém:
— Se não der um cheque... mate!
61
Pedir votos, não foi "canja"!
Um político safado
criou confusão na granja
e saiu "ovocionado!?
62
Pergunta o "maitre", polido:
(no prato a vespa... tostada!)
- E qual foi o seu pedido?
- O prato da vez passada!
63
"Peruca!... dente postiço...
Tô velho", pensa o Danilo.
E, como só pensa nisso,
não dá pra pensar "naquilo"!
64
Por xeque-mate, em segundos,
perdeu tudo... e o que ele fez?
Pagou com cheque sem fundos
e foi parar no “xadrez”!
65
Por assédio à passageira,
o maquinista apanhou!!!...
Na maca, diz pra enfermeira:
- O meu trem descarrilhou...
66
Por vê-lo em farras constantes,
com humor, fez a surpresa:
- Querido, se chegar antes,
deixa a luz de fora acesa.
67
Pra casar, fingiu carinho
e ao tornar-se sua herdeira,
encomendou pro velhinho,
um pijama de madeira.
68
Pôs anúncios nas estradas:
"Por um módico aluguel,
moitas limpas, bem cuidadas".
E inaugurou seu"Moitel"!
69
Prende a sogra na moenda
e aí prepara a cilada...
Faz negócio com a fazenda
mas..."de porteira fechada!"
70
Pra cantá, estudamo um meis
e num é que nóis se gabe:
nóis quebra um galho em ingreis
e portugueis... nóis já sabe!
71
Quando a vida se distrai
ou dá tudo ou tudo nega;
Rico, pega o carro e sai...
pobre sai – e o carro pega!
72
“Que consulta milionária!”
diz o velhinho... e diz mais:
“Se a doença é hereditária,
é dívida dos meus pais!”
73
Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!
74
Se alguém de menina o chama,
se ofende o nenê Raul
que, tirando o seu pijama,
mostra o sapatinho azul!
75
Sem avisar, sorrateira,
foi ao pagode e azarou:
- No baile, um "chá de cadeira"!
Chegando em casa... "dançou"!
76
Se põe pijama listrado,
de zebra a mulher o chama...
E alguém explica ao coitado:
"Zebra é um burro de pijama"!
77
Seu dono, pra castigá-lo,
— perdeu, na rinha, outra vez —
com um dos filhos do galo
fez um franguinho xadrez!
78
Sultão velho vende, urgente,
tendas sem uso, importadas.
No aperto, dá de presente,
odalisca e esposa usadas.
79
- Talvez o ciúme a incomode
mas, seu marido eu cobiço...
como ele é bom no pagode!!!
- Meu bem, ele é bom só nisso!
80
"Tira a mão! - Diz, enfezada -
tá pensando que é baderna?"
"Desculpe, ao dançar lambada,
nunca sei de quem é a perna!?
81
Trabalha no vestiário
onde o marido é roupeiro,
e, pra aumentar seu salário,
“dá bola” pro time inteiro!
82
Um banhista, ante os apelos,
tenta salvar o Manduca
agarrando os seus cabelos.
Só que ele usava peruca!
83
Um remédio envenenado
e a Julieta morreu...
O Romeu foi condenado
porque ela disse: "Erro meu".
84
Vendo a fera, fica “um gelo”...
retira a cruz do pescoço.
Mas, o leão, ante o apelo:
“Só rezo depois do almoço!”
85
- Vamos ao circo sozinhos
e, por favor, fiquem calmas.
E as mães dos dois mosquitinhos:
- É que o povo bate palmas!
86
Vê o boneco em sua cama
e arma o maior alarido!
O "banana de pijama"
é um clone do seu marido!!!
87
- Vou ganhar... meu santo é forte!...
E o santo: - Eu não sei jogar...
Nem sei porque pede sorte,
se aposta em “jogo de azar”?!
88
"Zerou" no vestibular !!!
Com vergonha, ela tremeu,
disse ao pai, pra disfarçar:
- Sabe a última ?  Sou eu !

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Zaé Junior (1929 - 2020)

 Ao cumprir o meu dever
de filho, de pai, de irmão,
aprendi que compreender
vale mais que ter razão!
- - - - - -
A ternura que deixaste,
pai, qual herança tão nobre,
deixou-me na alma o contraste
de ser rico... sendo pobre!
- - - - - -
Brilhando ao sol, em cascata,
as águas, fazendo festa,
jorram confetes de prata
no carnaval da floresta!
- - - - - -
Cansado, mas com coragem
de continuar a jornada,
a vida é a minha bagagem,
que vou deixando na estrada!
- - - - - -
Com pena das minhas penas,
tais penas o assum levou,
e apenas penas pequenas
das próprias penas deixou!
- - - - - -
Copiando os astros distantes,
o sereno, em seus desvelos,
pousa estrelas de diamantes
na noite de teus cabelos!
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Depois da chuva inclemente,
levando um pássaro morto,
o ninho, na água corrente,
é nau fantasma e sem porto!
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Depois do amor sem censura,
nossos agrados sutis,
dizem coisas de ternura
que a nossa boca não diz!
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Dividindo, sem paixão,
tudo o que nos pertenceu,
levaste o teu coração,
mas não me deixaste o meu!
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Do teu perfil, na verdade,
só podes ver um pedaço,
pois para a tua vaidade,
o espelho tem pouco espaço!
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Em frente à perfumaria,
enquanto o ônibus espera,
pergunta o cego ao seu guia:
- Já chegou a primavera?
- - - - - -
Em silêncio vejo pura,
disfarçada em teu olhar,
a lágrima de ternura
que não querias chorar!
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E quando o inverno chegar,
saudosos, em seus desvelos,
meus dedos irão esquiar
na neve dos teus cabelos!
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Fiz da vida um labirinto,
do qual, se eu tento escapar,
quanto mais fujo, mais sinto
que estou no mesmo lugar!
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Há quem renove a esperança
e com promessas se iluda...
mas o Ano Novo é mudança,
que em verdade nada muda!
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Herói, que vence o cansaço
da vida em rude batalha,
tem no peito um marca-passo,
sua invisível medalha!
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Lembra? Eu brincava de Rei,
você... de escrava brincava;
do meu sonho hoje acordei,
escravo de minha escrava!
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Manhã... a geada caindo...
Mas se do inverno estou farto,
beijo os teus olhos se abrindo
e é primavera em meu quarto!
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Meu barraco, sem queixume,
fiz com redes de cipós...
mas a vida, com ciúme,
um a um desfez os nós!
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Meu cirquinho no quintal
era um circo de verdade;
na infância, não tinha igual
nem tem igual na saudade!
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Meu pai, a tua bondade,
que nos deu pão na pobreza,
é agora a farta saudade
que se serve em nossa mesa!
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Meu reino é um casebre antigo
onde um sol, sem majestade,
vem, de cócoras comigo,
aquecer minha saudade!
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Na Academia onde moram,
em sussurrante coral,
os imortais também choram
a morte de um imortal!
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Na existência dividida
pela incompreensão da idade,
se não te encontrei em vida,
te encontro, pai, na saudade!
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Na infância a gente brincava,
eu de sol, você de lua...
e o universo começava
e acabava em nossa rua!
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Não me agrada a falsa glória
que o jogo da vida tem,
pois sei que toda vitória
sempre é derrota de alguém!
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Não queiras cobrar com sangue
o mal que te machucou,
pois o mal é um bumerangue
que volta à mão que atirou!
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Na penumbra, sobre a toalha,
vultos que a vela produz
mostram que a sombra não falha,
por menor que seja a luz!
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No meu palco de ilusão,
quando se fecha a cortina,
ao terminar a sessão,
a ilusão nunca termina!
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No princípio, a solidão,
mas tu voltaste... e depois,
não coube em meu coração,
o que restou de nós dois!
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O atalho me leva à ermida,
a ermida me leva a Deus;
e Deus me leva à outra vida,
que a levou dos olhos meus!
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O bonde rangeu nos trilhos,
meu pai desceu, não sei onde...
Seguimos, a mãe e os filhos,
sozinhos no mesmo bonde!
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O chão não é de ninguém
nem do seu "dono", um instante;
do chão os homens só têm
sete palmos... e é o bastante!
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O meu sonho é um passarinho,
que de voar ficou farto
e acabou fazendo o ninho
na janela do meu quarto!
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O poeta mais que o soldado,
se quiser ser vencedor,
terá que amar, ser amado,
e só perder por amor!
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O tempo é como a caverna,
que não tem volta nem fundo,
onde a vida, que é eterna,
dura apenas um segundo!
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Ouço a melodia amena,
que vem do cosmos disperso
e minha alma, tão pequena,
ganha amplidão de universo!
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Plantando a vida se cansa...
e o caboclo, sem espaço,
colhe tão pouca esperança,
que não vale o seu cansaço!
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Quando a saudade é saudade,
saudade que faz penar,
saudade é felicidade
que se foi e quer voltar!
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Quando a seresta termina
sob o lampião do jardim,
a solidão, em surdina,
toca apenas para mim!
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Quem perde o tempo não sabe
que perde a vida também,
pois jamais a vida cabe
no tempo que a gente tem!
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Queres ferir-me gritando,
mas em soluços aflitos,
os teus murmúrios chorando
me ferem mais que teus gritos!
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Sagrado seja esse chão
no qual rezando, o roceiro
planta o próprio coração,
para a fome do ano inteiro!
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Se descobrir é preciso,
mais preciso é navegar;
"Terra à vista"... e um paraíso
floresceu além do mar!
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Sem abrigo, ao vento forte,
sem jardim e sem escolha,
sou frágil trevo sem sorte
à espera da quarta folha!
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Sem família, na orfandade,
aprendi triste lição;
quanto mais dói a saudade,
menos dói a solidão!
- - - - - -
Sem fronteiras, num só laço,
os homens são mais felizes,
pois a Terra, lá do espaço,
não se divide em países!
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Seu regresso foi surpresa,
pois já ninguém o esperava;
nem sentou... tinha outro à mesa,
na cadeira em que sentava!
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Teu olhar azul celeste
só sabia dizer não;
tantos não azuis disseste,
que azul virou poluição!
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Vovó, desfiando o rosário
das peraltices que fez,
foi zerando o calendário,
virou criança outra vez!
 
Fonte:
Alexandre Magno Andrade de Oliveira Reis

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Carlos Ribeiro Rocha (Ipupiara/BA, 1923 - 2011, Salvador/BA)

A lua é também rendeira,
e o trovador tem razão:
sua luz sobre a mangueira
faz a renda sobre o chão...
- - - - - –

Amigo, seja cordato,
que a vida é sempre esse jogo;
o fogo — incendeia o mato,
a fonte — elimina o fogo.
- - - - - –

A Natureza, exultante,
põe versos, por compaixão,
sobre o papel palpitante
do meu pobre coração.
- - - - - –

Ao pé do morro cravado,
qual o antigo Prometeu,
está o pequeno povoado
onde o poeta nasceu.
- - - - - –

Ao tempo da minha infância
não tive Norte nem Sul,
não sabia que, à distância,
toda serra é sempre azul.
- - - - - –

A pedra da estrada arreda,
e o mal não impera aqui,
quando, pensando na queda,
a gente cai mesmo em si.
- - - - - –

Bebo lições eloquentes
e escuto de Deus um hino,
nas asas verde-fulgentes
de um beija-flor pequenino.
- - - - - –

De ser magro, minha gente,
não tenho — confesso — mágoa,
o rio, em sua nascente,
é também filete d'água.
- - - - - –

Detesto a intriga, o revide,
porque, na vida, o que alcanço
é o dia — para que eu lide,
e a noite — para o descanso.
- - - - - –

Escuta-me, trova amada,
mesmo triste e cismarento:
como o cipó, na galhada,
te envolvo num pensamento.
- - - - - –

Essa cena, vez em quando,
contemplo, manhã bem cedo:
as trepadeiras botando
laçarotes no arvoredo.
- - - - - –

Está sendo bem feliz
e dando felicidade,
quem, injuriado, não diz
aquilo que tem vontade.
- - - - - –

Eu sinto grande euforia
quando a trova vou tecer,
— é meu pão de cada dia,
sem ela não sei viver.
- - - - - –

Lá nas serras passeando,
aprendi um tanto mais:
eu vi as pedras chorando
sem glândulas sensoriais.
- - - - - –

Minhas trovas — Primavera
sobre as durezas da vida,
são aquilo que eu quisera:
— estrada sempre florida.
- - - - - –

Morrer nos causa pavor,
porque não temos lembrado
de que — morrendo de amor,
damos vida ao ser amado.
- - - - - –

O nome do meu Colégio?
Ninguém suas letras soma;
Nunca tive o privilégio
de receber um diploma.
- - - - - –

O sovina e o pistoleiro
fazem coisas parecidas:
Cede a vida — por dinheiro,
por dinheiro — arranca vidas.
- - - - - –

Ouço da saudade o grito
vibrando uma tarde inteira,
naquele canto bonito
da nambu, na capoeira.
- - - - - –

O vento, com pé macio,
passou pelo meu jardim,
e como guri vadio,
nas minhas rosas deu fim.
- - - - - –

Para escrever, inspirado,
no horizonte os olhos fito,
com o coração mergulhado
nas belezas do Infinito,
- - - - - –

Para minha mãe, viúva,
neste maio de esplendor,
quero rogar-te uma chuva
de luz e bênçãos, Senhor.
- - - - - –

Pedi hoje, também ontem,
rogo a Deus o dia inteiro,
para que trovas despontem
fresquinhas, no meu canteiro.
- - - - - –

Pequenez é coisa feia?
Grandeza é documentário?
— Pequeno é o grão de areia,
mas enguiça um maquinário.
- - - - - –

Piedosa, mãe Natureza
vendo a terra assim despida,
teceu um manto (lindeza!)
e a deixou verde e florida.
- - - - - –

Poeta, se queres, venha
escutar a voz da mágoa
pela garganta rouquenha
do boqueirão do Olho d'Agua.
- - - - - –

Quadro que nos enternece,
pintura de que se gosta:
a água evapora — é a prece,
e a chuva cai — a resposta.
- - - - - –

Que quadro lindo, estupendo!
— Por entre as brechas do morro,
raízes longas, descendo,
pedindo à terra socorro...
- - - - - –

Querendo trova perfeita,
rabisco, lápis em punho,
mas depois da trova feita,
volto à busca do rascunho.
- - - - - –

Saiba, amigo, que Deus brilha
na face dessas estrelas;
quem quer ver de Deus a trilha,
procure somente vê-las.
- - - - - –

Sem Colégio, encontro tudo
no livro da Natureza,
e como não tive estudo,
— sou ave no visgo presa.
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Se queres "bandeira branca",
procura assim praticar:
O orgulho — de ti arranca,
' planta amor no seu lugar.
- - - - - –

Se queres viver tranquilo,
ouve em ti mesmo essa voz:
Seremos somente aquilo
que construímos em nós.
- - - - - –

Sou de crer, ninguém resiste
a força desse episódio:
Sai o amor, aflito e triste,
quando no lar entra o ódio.
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Tem mais valor, entre os meus,
muito mais do que um retrato,
meus versos simples, plebeus,
que me retratam, de fato.
- - - - - –

Trovador, que belo enredo
para uma trova louçã:
na pia do sol, bem cedo,
lava seu rosto a manhã.
- - - - - –

Tua casinha, menina,
bem no sopé da ladeira,
é o lírio da colina
que quanto menor, mais cheira!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...