domingo, 27 de junho de 2021
Antonio Carlos Teixeira Pinto (Brasília/DF)
sexta-feira, 25 de junho de 2021
Jeremias Ribeiro dos Santos (Gentio do Ouro/BA, 1926 - 1999, Ipupiara/BA)
quinta-feira, 24 de junho de 2021
Oficina de Trovas do Assis
Trova é isto: uma sequência de 28 sons, ou seja, 28 notas musicais, formando um poema composto de quatro redondilhas maiores.
Entende-se por redondilha maior o verso setissílabo, provavelmente o mais antigo modo, ou pelo menos o modo mais natural de transformar palavras em música. Uma escala musical completa: dó-ré-mi-fá-sol-lá-si...
A redondilha está na boca e no ouvido do povo, em todas as línguas, desde que o homem e a mulher aprenderam a emitir sons vocais.
Está nos ditados populares:
- Quem tem boca vai a Roma.
- Filho de peixe é peixinho.
- Quem nasceu pra lagartixa / nunca chega a crocodilo.
- Agua mole em pedra dura / tanto bate até que fura...
- Oh ciranda, cirandinha / vamos todos cirandar...
- Meu limão, meu limoeiro, / meu pé de jacarandá...
- Batatinha quando nasce / se esparrama pelo chão... / Batatinha quando cresce / vira um baita batatão...
~ Toda vez que eu viajava / pela estrada de Ouro Fino...
- Fica comigo esta noite / e não te arrependerás...
Está na linguagem bíblica:
- Deus criou o céu e a terra / e viu que tudo era bom.
- Pai nosso que estás no céu / santificado é o teu nome...
Técnica
Aqui não cabe um estudo pormenorizado sobre técnicas de versificação. Vale, entretanto, lembrar que a trova, como as demais modalidades de poesia, tem normas a serem obedecidas. O trovador necessita, sobretudo, estar atento às questões da rima e da métrica.
RIMA
A rima, segundo as normas atuais, como já vimos, deve ser dupla, isto é, devem ser rimados o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto (abab). Em trova não há, porém, grande exigência quanto ao fato de a rima ser rica ou pobre, no sentido tradicional de que rica seria a rima entre palavras de diferentes categorias gramaticais: verbo com substantivo, adjetivo com advérbio etc. Isso não tem sido levado muito a sério atualmente. Mais importante é o trovador estar atento para evitar certos cochilos que, estes sim, enfraquecem o verso. Por exemplo:
rimas com palavra derivadas: ver / rever; agir / reagir; tempo / contratempo.
rimas imperfeitas, assim chamadas por haver diferença no timbre das vogais tônicas:
ideia / areia; sacode /pôde; melhor /favor.
rimas regionais: há, por exemplo, quem pronuncie /friu/, /riu/, num único som, rimando com "viu", em vez de /fri-o/, /ri-o/, em dois sons, como recomenda o Decálogo de metrificação adotado pela UBT.
rimas homófonas, em que a vogal tônica seja a mesma - e com o mesmo timbre – nos quatro versos (sem que haja sons internos fortemente contrastantes), como nestes exemplos inventados:
MÉTRICA
1) As sílabas são contadas até a última tônica do verso.
2) As pontuações não impedem as junções de sílabas.
3) Não se deve aumentar uma sílaba métrica nos encontros consonantais disjuntos. Ou seja: deve-se evitar suarabactí (não pronunciar "letra muda").
(Na contagem métrica, pronuncie "convição”, não "con/vi/qui/ção”)
4) Uma vogal fraca faz junção com a vogal fraca ou forte inicial da palavra seguinte.
Observação - Aceitam-se exceções a esta regra no sentido de evitar a formação de sons duros e desagradáveis. Exemplo: "cuja ventura / única consiste" (venturúnica)
Observação - Nos casos em que se prefira a junção "forte + fraca", deve-se ter sempre o cuidado de evitar sons desagradáveis ("mais que tu/ardo") ou formar novas palavras ("via” ao invés de "vi a...").
§ 1° - Não deve haver mais de uma vogal forte.
§2" - No caso em que a vogal forte não esteja colocada entre as vogais fracas e sim em 1" e 3° lugar, para que seja correta a junção as duas vogais fracas devem juntar-se por crase ou por elisão, e não por sinalefa (ditongação). Assim, estará certo: "é / a am/ bição que nos prende"; (ou) "é a am/ bição que nos maltrata". Mas não podemos unir as três vogais de "e a / ín / tima palavra derradeira".
Observação 1 - Há nesse grupo alguns encontros vocálicos que não aceitam a ditongação:
Sa / a / ra, fe / é/ ri / co, a / é/ reo, pa / ra / í/ so, ra / í/ zes, ba / ú, sa / ú/ va etc.
§único - Em algumas regiões do Brasil é usada a ditongação nesses encontros vocálicos, com base na fonética local. No entanto, não será aceita na metrificação, em benefício da uniformidade, uma vez que na maioria dos estados é feita a separação dessas vogais.
OBSERVE:
Fi /ca / co / mi /go es/ ta / noi / te
e / não / te a/ rre /pen / de / rás...
Lá / fo / ra o/ fri / o é um / a / çoi / te,
ca / lor / a /qui / tu / te / rás.
Adelino Moreira
Eu / nas / ci / na / que / la / se / rra,
num / ran / chi / nhoà/ bei / ra- / chão,
to / do / chei / o / de / bu / ra /co,
on / de a / lu / a / faz / cla / rão...
Angelino de Oliveira
Se / re / nô, / eu / ca / io, eu/ ca / io;
se /re /nô, / dei / xa / ca / ir...
se / re / nô / da / ma / dru / ga / da
não / dei / xou / meu / bem /dor / mir...
Antônio Almeida
Es / ta / vaà/ to / a / na / vi / da,
o / meu / a / mor / me / cha / mou
pra / ver / a / ban / da / pa / ssar
can / tan /do / coi / sas / de a / mor...
Chico Buarque de Holanda
Pe / guei / um / I / ta /no / Nor / te
pra / vim / pro / Ri / o / mo / rá...
A / deus, / meu / pai, / mi / nha / mãe;
a / deus, / Be / lém / do / Pa / rá!
Dorival Caymi
Pre / pa / re o / seu / co / ra / ção
pras / coi / sas / que eu / vou / contar.
Eu / ve / nho / lá / do / ser / tão,
e / po / sso / não / lhe a / gra / dar...
Geraldo Vandré
Na a / la / me / da / da / poe/ si / a,
cho / ra / ri / mas / o / lu / ar...
Ma / dru / ga / da... e A / na / Ma / ri / a
so / nha / so / nhos / cor / do / mar...
Juca Chaves
Es / te é/ o e / xem / plo / que / da / mos
aos / jo / vens / re / cém- / ca / sa / dos:
queé/ me / lhor / se / bri / gar / jun / tos
do / que / cho / rar / se / pa / ra / dos...
Lupicínio Rodrigues
Quan / do es/ tou / nos / bra / ços / teus,
sin / to o/ mun / do / bo / ce / jar...
Quan /do es/ tás / nos / bra / ços / meus,
sin / to a / vi / da / des / can /sar!
Luiz Vieira
O / no / sso a/ mor / tra / du / zi / a
fe / li / ci / da / de, a /fei / ção,
su / pre / ma / gló / ria / que um / di / a
ti / ve ao / al / can / ce / da / mão.
Mário Rossi
Mui / ta / gen / te / cai / à/ to / a,
ou / tros / ca / em/ com / Ra / zão...
A / sau / da / de é u / ma / ga / roa
ca / in / do / no / co / ra / ção.
Roberto Martins
O / lho o / sol / fin / dan /do / len / to,
só / nho o / so / nho / de um / a / dul / to:
mi / nha / voz / na / voz / do / ven / to
in / do em / bus / ca / do / teu / vul / to...
Sérgio Bittencourt
Eis / a / qui/es/ te / sam / bi / nha
fei /to / de u / ma / no / ta / só...
Ou / tras / no / tas / vão / en / trar,
mas / a / ba / se é/ u / ma / só...
Tom Jobim
Um / ve / lho / cal / ção / de / ba / nho,
o / di / a / pra / va / di / ar...
Um / mar / que / não / tem / ta / ma / nho
e um / ar / co– / í/ ris / no / ar.
Vinícius de Moraes
quarta-feira, 23 de junho de 2021
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (IV - O que evitar)
Enjambement é quando palavras que pertencem ao grupo tônico de um verso, à sua unidade, passam para o verso seguinte, onde completam o sentido, muitas vezes com prejuízo para o valor da rima.
Ex:
Seguimos pela estrada
da vida, com nossas mãos
unidas; etc.
Versos sibilantes, com muito s e z, podem ser desagradáveis:
Fez-se mais triste depois.
Sentiu-se assim mais sincero.
Sem sentido se exaspera.
Evite-se a colisão, que é o encontro de sons iguais ou semelhantes também com efeito acústico reprovável:
Pois esse se separou.Foi um dardo do destino.
Sons duros seguidos devem ser evitados:
Foi ele que quis o amor.
Quer quanto vale um tesouro.
Ninguém tem amor à dor.
No último exemplo houve também um cacófato:
morador.
É bom ler em voz alta nossas trovas, para detectar possíveis cacófatos, que é quando do encontro de sons em uma frase resultam palavras ridículas, estranhas ou simples efeito desagradável ao ouvido.
Na humorística, às vezes o cacófato é usado de propósito, para um efeito que leve à hilaridade.
Eis alguns cacófatos corriqueiros:
em festa - infesta;
mas não - asnão;
só com - soco;
se enterra - sem terra;
vez passada - vespa assada;
ela tinha - é latinha;
em versos - inversos;
uma mão - um mamão;
por causa - porca;
da nação - danação;
mas que - masque;
compus - com pus;
amor tem - a morte em;
tu me amaste - tu mamaste;
alma minha - maminha.
Quanto ao uso de nomes próprios na trova, embora comum, somos de opinião que deve ser evitado, mesmo na quadra humorística. Só se justifica em trovas de homenagem. Fazemos exceção para o nome Maria, quando designa mulher, e sem ter sentido pejorativo.
Como no exemplo:
Por duas Marias erra
meu viver de déu em déu:
- a que me perde, na terra,
- a que me salva, no céu.
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Na trova, devem ser evitados certos recursos para dar ao verso o número de sílabas, as chamadas cavilhas, que são palavras de apoio para completar a frase melódica, tais como:
meu bem, querida, meu amigo, meu rapaz, eu suponho, todos sabem, todos dizem, creia, acredito, veja bem.
Na maioria das vezes, essas expressões nada acrescentam à trova. Mas pode ocorrer também de serem bem empregadas, como no exemplo seguinte:
Quando à festa vens, querida,
em minha casa modesta,
a festa ganha mais vida
e a vida ganha mais festa!
ANTÔNIO ZOPPI
Evite-se, também, o estrangeirismo - uso de palavras e construções estranhas à nossa língua.
Cuidado com o eco - fonemas que se repetem no verso sem nenhum intento específico de valorização da trova.
Atenção especial com os erros de gramática.
Solecismo é, em sentido lato, toda e qualquer infração cometida contra a língua pátria. É muita pena quando uma bela trova apresenta lapso gramatical. O poeta deve dominar os seus meios de expressão.
Achamos de muito mau gosto fazer pilhéria sobre infortúnios ou ridicularizar pessoas em razão de credo, raça e sexo. Infelizmente, a trova humorística presta-se muito a isso. A mulher, principalmente, é bastante visada. Faz-se piada com a sogra, a velha, a empregada, a grávida, a mulata.
Zombar de alguém em nada contribui para a melhoria do mundo, que necessita de mensagens fraternas.
Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009
terça-feira, 22 de junho de 2021
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (III - Figuras na Trova)
Como elementos de valorização da trova, merecem atenção especial as figuras de estilo, recursos que dão ao verso maior colorido e fulgor.
Elas são muitas e se dividem em figuras de palavras (ou tropos), figuras de pensamento e figuras de construção.
Entre as figuras de palavras, temos
a metáfora (e suas modalidades, como personificação, símbolo, sinestesia),
a comparação e a metonímia.
Entre as figuras de pensamento, estão
a antítese ou contraste,
o paradoxo,
o eufemismo,
o trocadilho.
Entre as de construção temos
a onomatopeia,
a aliteração,
a elipse,
a reticência,
a repetição.
Muitas vezes esses termos se confundem e simplificadamente são chamados de figuras, imagens ou metáforas em sentido lato.
Na metáfora, em sentido estrito, a imagem se revela por si só, de modo implícito. Sem nenhum suporte para sua expressão, o que a torna mais viva e dinâmica que na comparação. Assim:
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a Finados.
BELMIRO BRAGA
Faz contraste com o céu
o pinheiro verdejante;
é uma taça erguida ao léu
em louvor do caminhante!
MAFALDA DE SOTTI LOPES
No ocaso, em tarde sombria,
que à saudade nos conduz,
a sombra é o pranto do dia ,
chorando a ausência de luz.
FERREIRA NOBRE
Disse-me a fonte na mata,
nos ternos cânticos seus:
- O Poeta é a flauta de prata,
o Poema - o sopro de Deus!
LEONARDO HENKE
Na comparação ou símile, a imagem se revela com auxílio das palavras como, tal como, tal qual, qual, parece, e, por ser explícita, perde em geral um pouco de sua força. Eis um exemplo:
Meu coração, quando o ninas
com tuas juras de amor,
parece um templo em ruínas
todo coberto de flor!
LILINHA FERNANDES
Personificação, que também é denominada prosopopéia, animismo e animizaçâo, é a figura de linguagem em que seres inanimados ou irracionais agem como se fossem seres humanos:
Ao sol, as rosas vermelhas,
sensuais, tontas de luz,
à carícia das abelhas,
vão expondo os colos nus!
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
Símbolo é quando se toma, sistematicamente, uma coisa, de valorização universal, por outra, a exemplo de cruz, que pode simbolizar o Cristianismo, a dor, a morte; ou regaço, que pode referir-se a colo materno:
A vida é apenas um traço
com jogos de sombra e luz,
que partindo de um regaço
vai terminar numa cruz.
VERA VARGAS
Sinestesia é quando se confundem os planos sensoriais, usando-se de um sentido por outro, para um determinado efeito. Como nos versos:
Vê-se o canto da araponga.
Ouve-se a luz da manhã.
Enxerga-lhe a cor da voz.
Metonímia é quando se diz uma coisa por outra, o efeito pela causa e vice-versa:
cãs, por velhice;
primaveras, por anos;
suor, por trabalho.
É bastante comum na trova e a enriquece sobremaneira:
As cãs mostravam o tempo.
Na primavera da vida.
Suores de muitos anos.
Na antítese ou contraste, juntam-se ideias opostas pelo sentido:
Trouxe-me grande valia
a verdade que aprendi:
toda pessoa vazia
é sempre cheia de si...
DELMAR BARRÃO
No paradoxo, as ideias são contraditórias, a sugerir erro, mas podendo conter uma verdade:
Meu olhar vago relata,
numa tristeza incontida,
que o grande amor que me mata
é o mesmo que me dá vida.
LEOPOLDINA DIAS SARAIVA
Quando preso num recinto,
desejo livres espaços.
Porém, mais livre me sinto
quando preso nos teus braços.
MÁRIO BARRETO FRANÇA
O eufemismo é uma maneira de suavizar uma realidade desagradável, é quando se diz uma coisa por outra menos contundente:
Foi para o mundo estelar - faleceu.
No trocadilho, há palavras de sons semelhantes e sentido aparentemente dúbio, às vezes com o intuito de fazer graça:
Foste uma flor de papel / fazendo papel de flor.
Na elipse, um ou mais termos ficam subentendidos na frase:
Rosa é flor, também mulher.
Na reticência, há uma suspensão propositada do pensamento:
Era um amor sem controle...
Repetição é quando se usa uma expressão por mais de uma vez, para o efeito de realce:
Branca a nuvem, branca a paz.
A onomatopeia e a aliteração, termos que muitas vezes se confundem, podem trazer muita originalidade à trova.
Aliteração é a repetição de fonemas iguais ou parecidos para, através do som, sugerir uma ideia:
Onda redonda assomou.
A aliteração aproxima-se muito da onomatopeia, que, em sentido estrito, é quando um único vocábulo dá a ideia acústica:
o marulho das ondas,
o farfalhar das ramagens.
Em sentido lato, a onomatopeia refere-se a todos os processos e efeitos que levem a sugerir um determinado ruído.
Bate o vento, o vento bate.
A assibilizaçâo (sons sibilantes, excesso de s e z), que normalmente se condena, pode também servir à aliteração:
Zunem com asas de brisa.
Várias imagens podem aparecer com frequência em uma mesma trova, e seus nomes também muitas vezes se confundem.
Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009
Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)
01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...

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A água que desce a colina entre pedras a rolar, mesmo pura e cristalina, não mata a sede de amar. = = = = = = = = = A brisa que afaga a t...
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A rima é essencial na trova, e consiste na conformidade de sons de duas ou mais palavras, a partir da última vogal tônica . Assim, Mar ia ...
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Confraria Luso-Brasileira de Trovadores Patrono da Confraria: Izo Goldman A Confraria Luso-Brasileira de Trovadores congrega trovadores/a...