domingo, 11 de dezembro de 2016

Francisco José Pessoa (Fortaleza/CE, 1949 - 2020)

1
A cobiça sendo um vício
e a renúncia salutar,
nosso menor sacrifício
é saber renunciar.
2
Aconteça o que aconteça
eu nunca vou desistir…
por trás da nuvem espessa,
tem sempre um sol a sorrir!
3
À minha mulher confesso:
- Na atual encarnação,
para apressar teu progresso
sou a tua expiação!
4
Aquele pé de carvalho
plantado em minha lembrança,
cintila gotas de orvalho
quando me vejo criança.
5
À tardinha, todo dia,
assisto o chegar do trem,
esperando por Maria
só que Maria não vem.
6
A poça d’água na rua
de repente se prateia…
espelho tosco da lua
em noite de lua cheia.
7
As estrelas não fenecem
perante à luz que encandeia,
mas docemente adormecem
se a noite é de lua cheia.
8
De forma vil, ilusória,
o falaz aos ventos, berra,
cantando sua vitória
sem ter terminado a guerra!
9
Eis o grande desafio
para quem se diz cristão:
ter que dizer, renuncio,
em favor de um outro irmão!
10
É quando a noite se enluta
envolta em intenso véu,
que a estrelinha diminuta
empresta luz para o céu.
11
 Esplendor tens, de tal monta,
quando passeias na praça,
que a lua se esconde, tonta,
atrás da nuvem que passa.
12
Esta vidinha da gente
tal a serra é mesmo assim…
ora subida ou vertente
num sobe e desce sem fim.
13
“Faça-se a luz”! e ao fazê-la
com muito amor e carinho,
Deus colocou uma estrela
a clarear meu caminho.
14
Feliz da vida se logra
o Zeca exibe o caneco,
que ele trocou pela sogra
na feira de cacareco.
15
Homem com muitos trejeitos,
mulher com muita feiúra
para mim são dois defeitos
que nem com reza tem cura!
16
Já que não posso mantê-las
ao alcance do meu braço,
eu canto minhas estrelas
em cada verso que faço.
17
Mãe é palavra seleta
por si só uma obra prima,
pois mesmo o maior poeta
procura e não acha rima!
18
Mesmo que lhe desagrade,
dentre os sabores prefira
o amargo de uma verdade
ao doce de uma mentira.
19
Meus sonhos por si navegam
levando-me ao transcendente,
por mil estradas enxergam
bem mais do que enxerga a gente.
20
Minha mãe, quanta lembrança,
quem me dera tal jaez…
eu voltar a ser criança
começar tudo outra vez.
21
Minhas lágrimas vertidas
por entre dobras de rugas,
são saudades incontidas
do meu passado... são fugas!
22
Na avenida do fracasso
onde a humanidade avança,
em cada esquina que passo
eu planto um pé de esperança.
23
Não há placa de chegada
na minha estrada da vida…
faço de cada parada
novo ponto de partida.
24
Na solidão com frequência
escutamos uma voz…
deve ser nossa consciência
querendo falar por nós!
25
 Nas veredas tortuosas
dessa vida em desalinhos,
nas retas eu colho as rosas
nas curvas tiro os espinhos.
26
Noel Rosa, quem diria,
sem cigarro e sem chapéu,
chegou só, sem parceria,
pra fazer samba no céu.
27
Noitinha volto da roça
e Rosa com seu pudor,
apaga a luz da palhoça
pra gente fazer amor.
28
Nos quatro dias de Momo
ante tanta bebedeira,
eu estarei, não sei como,
quando chegar quarta-feira!
29
Nossas faces, pergaminho,
rastro do tempo que, algoz,
não apagou o carinho
que ainda existe entre nós!
30
Nossa vida não tem prazo
e tal o dia, é assim:
um surgimento, um ocaso,
que por acaso é sem fim!
31
Nos trigais do sentimento
que contra o vento eu transponho,
cozi o pão sem fermento
no forno quente de um sonho.
32
O amor seria fecundo
como tal se espalharia,
se toda mãe que há no mundo
tivesse um nome…Maria!
33
O intenso amor que nos une
e nos completa, querida,
faz a nossa vida imune
às incertezas da vida.
34
O inverno se me avizinha
e, no espelho, a contragosto,
vejo que o tempo caminha
deixando o rastro em meu rosto.
35
O meu amor quis safar-se
de mim, então me escondi;
de rosa era seu disfarce…
fui, sorrateiro, e a colhi!
36
O nosso amor passageiro
tal orvalho evaporou…
nasceu e morreu ligeiro,
que nem saudade deixou.
37
 O pó que emana do giz
e o salário sem valor,
tornam bem mais infeliz
a vida do professor!
38
O sentimento de culpa
se esconde na consciencia
de quem fere e se desculpa
a suplicar inocência.
39
Os gritos de liberdade
abafados por censuras,
viram ecos de piedade
nos porões das ditaduras.
40
O sol, gigante centelha,
torna-se mais colossal,
quando nascendo se espelha
nas águas do pantanal.
41
Por mais que em ti não pensasse
uma lágrima escorria,
irrigando a minha face,
onde eu plantei nostalgia.
42
Por sofrer tantos açoites
nos meus momentos tristonhos,
pus redoma em minhas noites
para prender-te em meus sonhos
43
Quando o sol arquiva o dia
e o expediente se encerra,
ecoa a Ave-Maria
nos escritórios da serra!
44
Quantos banquetes regados
a vinho, trufa e salmão…
quantos irmãos relegados
sem água, sem luz, sem pão!
45
Quem diz ter brilho e alardeia
desdenhando o semelhante,
esquece que a lua cheia
tem seus dias de minguante!
46
Quem faz da vida um disfarce
e finge viver a esmo,
de tudo pode safar-se
mas não engana a si mesmo!
47
 Quem não quer vencer a estrada
como faz o peregrino,
dobra sempre a esquina errada
na contramão do destino.
48
Saudade é o tempo guardado
dentro do peito da gente...
Nó que se dá, no passado,
e se desfaz no presente.
49
Sem usar pincel ou tinta
apenas com seu clarão,
a lua cheia repinta
as veredas do sertão.
50
Soluça vazia, a rede,
o armador emudeceu,
marcas de pé, na parede,
choram tanto quanto eu!…
51
Subo às nuvens… fantasia…
e para o amor espalhar,
solto minha poesia
com rimas soltas ao ar.
52
Todo indivíduo que é tolo
mas que de sábio se arvora,
é tal um pão sem miolo…
só tem a casca por fora!
53
Vai estudante, buscar
conhecimento fecundo
pois, és a pedra angular
na construção do teu mundo!

sábado, 10 de dezembro de 2016

Francisco Macedo



1
Antes do verbo era o nada,
o caos do "não-existir"...
Mas, Deus, de forma ordenada,
fez cada coisa surgir.
2
A trova nascida da alma
tem mensagem diferente,
ela incendeia e acalma
as atitudes da gente.
3
Bateu na porta da frente
e correu para a de trás.
Desta forma inteligente,
pegou dez “sócios” ou mais!
4
Buscando a felicidade
por este mundo sem fim...
Descobrir uma verdade:
Ela está dentro de mim!
5
Ciúme não é terror
e não há quem me convença
que seja prova de amor
ou que não seja doença.
6
Contemplo à noite, à janela...
e entre as estrelas e a lua,
eu sinto o perfume dela
que no meu quarto flutua.
7
Eu digo e tenho certeza:
Cigarro só traz derrota,
numa ponta a brasa,
na outra ponta um idiota.
8
Garrancho, graveto, espinho,
feito de amor, que eu suponho,
vai aquecer nosso ninho
para “chocar” nosso sonho.
9
João-de-barro, um engenheiro,
que jamais leu apostila.
Seu ninho é quase um mosteiro:
- poema feito de argila!
10
Na rapidez da informática
meu sonho dura um segundo,
numa proposta automática:
paz, ponto com, ponto mundo.
11
Neste emadrugadecer
em silêncio sepulcral,
fiz o check-in do meu ser
pro reino do amor total!
12
O meu vício é controverso,
tem dependência e vicia.
sou dependente do verso,
rima, métrica e poesia!
13
Proibido proibir,
esse beijo de nós dois.
Eu beijo e vou assistir
o que acontece depois!
14
Saudade é o fundo de um poço
onde minha alma vegeta,
mantendo vivo, no fosso,
o coração do poeta!
15
Saudade, uma imensa conta,
com juro que sempre dobra.
Se chega um dia a tal monta
vem a solidão e cobra!
16
Saudade, um grande cercado,
sem cancela e sem mourão;
onde vivo “enchiqueirado”
à sombra da solidão.
17
Só uma prisão eu respeito,
quando rendo-me à paixão...
Qualquer castigo eu aceito,
se a cela é o teu coração!
18
Toda espera é dolorida...
Nos faz sofrer ou chorar,
mas é pior, nesta vida,
não ter por quem esperar.
19
Três invenções sem futuro:
carro, mulher e baralho.
As três me deixaram "duro",
não sei quem deu mais trabalho!
20
Uma cena inusitada,
tão bonita e comovente.
Em ribalta improvisada,
com público inexistente...
21
Uma estrada, uma esperança,
uma mesma direção....
Sonho livre de criança
nas asas do coração!
22
Um passeio de canoa,
com minha mulher amada,
em Veneza, numa boa.
e eu não queria mais nada!
23
Vença o medo, a escuridão...
Desistir, nunca, jamais!
Vá, lute até a exaustão,
perseguindo os ideais.
24
Vida, a longa caminhada:
- Nascer, viver e morrer.
E ao final sua morada,
você não pode escolher.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Helvécio Barros



1
A amizade não quer palmas
por ajudar seus irmãos.
Deus olha o fundo das almas
e nunca a palma das mãos.
2
Abro a janela bem cedo
e ouço músicas bizarras...
- São as vozes do arvoredo,
no coro de mil cigarras...
3
Ah! Quantos vão pelo mundo,
sem calor, de alma abatida,
fugindo a cada segundo
da própria sombra da vida! 
4
Amigos só de lorota,
há na terra em profusão!
- Mas os bons a gente nota
num só aperto de mão...
5
Andei as trancos na vida
como humilde peregrino:
– Cheguei ao fim da subida
sem chegar ao meu destino!
6
A própria infância também,
é do Passado uma voz:
- Saudade, às vezes, de alguém
que vive dentro de nós…
7
A trova simples, sonora,
parece flor do sertão!
A gente fácil decora,
mas quem sente é o coração.
8
Cabelos brancos ao vento.
Saudade feita de neve!
Mil fibras de sentimento
dizendo a tudo: – Até breve!…
9
Carro de bois do sertão,
acordando as madrugadas,
a ouvir-te a triste canção,
ouço o choro das estradas...
10
Carta de afeto relida,
de quem nos quis muito bem,
traz um pedaço de vida,
na saudade que contém.
11
Castro Alves o teu vulto
já pertende à Eternidade:
- A Justiça foi teu culto!
- Foi teu Credo a LIBERDADE!
12
Com seu azul tão profundo
O céu de beleza imensa,
Parece mostrar ao mundo
De Deus a eterna presença.
13
Dá a todos teu abraço,
e não viverás à toa!
– Cada amigo é um pedaço
da nossa própria pessoa!
14
Definir foi sempre em vão,
da saudade o seu por quê…
Mas, se vem do coração,
saudade, enfim, é você…
15
Do sonho sou vagabundo,
trilhando rumos diversos…
Não tendo nada no mundo,
 o mundo abraço nos versos.
16
Duas almas bem unidas
ninguém separa jamais.
Às vezes, são duas vidas,
que a vida já fez iguais!
17
Em qualquer templo que seja,
sorri a noiva em seu véu...
- De flores, cobre-se a igreja!
- De sonhos, veste-se o Céu!
18
Fui pela vida cantando
cantigas de alacridade...
- Agora, vejo, chorando,
que a própria vida é saudade!
19
Há sempre um dia cinzento
vivendo dentro de nós...
- Reticências de um lamento...
- Tristeza que não tem voz!
20
Mesmo com truques velados,
tinha a mocinha de outrora
mais tolerantes pecados
e menos pernas de fora...
21
Muita lágrima sentida,
em silêncio sei que enxugas…
São reticências da vida
pelos caminhos das rugas.
22
Não choro, na solidão,
a vida que vai passando,
choro, apenas, com razão,
o que a vida vai matando!... 
23
Não te julgues o primeiro,
nem que sejas um portento:
quanto mais alto o coqueiro,
mais fácil se verga ao vento! 
24
Na vida o nosso papel
é tal qual o pirulito:
- Quando a língua chega ao mel,
o dente trinca o palito...
25
Nesta cabana esquecida,
e sem você, quem sou eu?…
Um resto, talvez, de vida
que a própria vida esqueceu!…
26
Ninguém altera jamais,
nossos caminhos terrenos:
- Alguns têm tudo demais!
- Outros têm tudo de menos! 
27
Ninguém por certo é perfeito
numa total plenitude.
- Quem conhece o seu defeito
já tem alguma virtude.
28
O lar é viga, cimento,
a modelar gerações!
- Cartilha do sentimento,
feita de mil corações! 
29
Palhaço, visão querida,
dos meus tempos de criança...
velha saudade escondida,
no meu baú de lembrança!
30
Quando alguém foge à virtude
e pisa as rosas do Amor,
passa a ser espinho rude,
já que não soube ser flor! 
31
Quem sonha é sempre criança,
na vida não tem idade…
Vive tecendo esperança!
Vive juntando saudade!
32
Tal qual arisca serpente,
a mulata, quando passa,
mexe com tudo da gente,
belisca o sangue da raça...
33
Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
Quanto mais longe, mais cresce!
Quanto mais perto, mais dói!
34
Velho mar, soturno e rude,
entre nós – que afinidade:
gemendo a mesma inquietude,
chorando a mesma saudade...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Eulinda Barreto


1
Abra a janela da vida
e mostre o alegre viver!
Que essa saudade doída
não a faça se esconder.
2
Acumular sentimento
dentro do meu coração,
não deixar no esquecimento
o carinho ao nosso irmão.
3
A jovem que se escondeu
nas manhãs da minha aurora,
de repente apareceu
bem diferente de outrora.
4
A medalha pendurada
que está encostada em meu peito,
foi um presente da amada
hoje ... um romance desfeito.
5
A minha casa tem grade
servindo de proteção;
suspeitos em liberdade,
delinquente sem prisão.
6
A ponte do ódio e do amor,
precisa ser balançada
para que o amor, triunfador,
passe livre em caminhada.
7
Busco teu querer em vão,
e vou vagando sem rumo.
Tropeço na solidão...
meu produto de consumo.
8
Cai a tarde e vem à mente,
as que eu vivi no sertão:
– Meu pai, trazendo a semente,
que lhe cabia na mão.
9
Da cadeira que balança,
e dos seus olhos tristonhos,
trago, na minha lembrança,
a vovó no fim dos sonhos.
10
Da casinha... que saudade
- perto da linha do trem -
Faz lembrar a mocidade
e as rodas em vai e vem.
11
Desfolhei as margaridas
pra saber do bem querer...
Mal querer às escondidas,
estava sempre a vencer!
12
Em cada página um poema,
em cada verso a emoção
de encontrar, sem ter dilema,
estampada a inspiração.
13
Foi do campo de batalha ...
- que tristes lembranças traz! -
Trouxe consigo a medalha
e o que queria era a paz!
14
Foi no calor da lareira...
com seu cheiro em toda casa,
me tomaste por inteira
deixando meu corpo em brasa.
15
Folhas mortas ... e eu revivo,
a cada outono que vem,
o nosso laço afetivo
e desse amor sou refém!
16
Há um renovar de energia
e um futuro de esperança,
ao sentir, na mão macia,
o carinho da criança!
17
Minha idade vem rolando
como as pedras no caminho.
Pedra a pedra vou juntando,
edificando o meu ninho.
18
Minha trova aprisionei
em moldura colorida,
o fato é que ali deixei
um pouco de minha vida.
19
Murmúrio que vem no vento,
com certeza deve ser
a voz de Deus, em lamento,
querendo nos proteger.
20
Na travessia da vida
 enfrentamos a batalha:
 - Ora se perde a investida...
 - Ora se ganha a medalha!
21
Na vida de um trovador
há sentimentos variados
e é da alegria e da dor,
que faz seus versos rimados.
22
No jardim em que plantei
para decorar minha alma,
lindas flores cultivei...
Espinhos? Tirei com calma.
23
O adeus assina a sentença...
e eu vejo, em meu padecer,
quando a tua indiferença
vira a página...sem ler!
24
O descendente italiano
sempre tem um sonho a mais:
– atravessar o oceano,
ver a terra de seus pais.
25
Para matar a saudade,
o meu diário eu abri.
Recordei, da mocidade,
momentos bons que vivi!
26
Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história...
Na página envelhecida
eu te prendi...na memória!
27
Por medo de te perder
ou por falta de coragem,
procurei sempre esconder
a minha parte selvagem.
28
Quando o feitiço acontece,
na loucura da paixão,
o nosso corpo padece
e perdemos a razão.
29
Se dói voltar ao passado,
quero sentir essa dor.
Lembranças... de um namorado:
– único e primeiro amor.
30
Sentindo o peso da idade
e, agora em compasso lento
vem, em mente, a mocidade
que se foi... tal qual o vento.
31
Sobreviver nesta vida
é travar uma batalha:
– chora-se a cada partida;
vibra-se a cada medalha!
32
Tantos anos e eu ausente...
Anos que eu sobrevivi.
Hoje vivo intensamente
compensando o que perdi.
33
Tristeza de um pescador
com a canoa no rio,
pensando no lar... e a dor
da fome e também do frio.

 BRINCANDO COM A SAUDADE

34
Anos atrás, as crianças
criavam as brincadeiras.
Eu trago, em minhas lembranças,
algumas mais costumeiras.
35
A tampinha da garrafa
era o jogo de botão.
Figurinha em bafa-bafa
e sempre de pé no chão.
36
Cantava escravo de Jó,
sem largar minha boneca.
Da galinha carijó,
as penas viram peteca.
37
Salva, carrinho de lata,
aviãozinho de papel,
como era quente a batata...
melhor é passar anel!
38
Cinco Marias trazia,
guardadas em embornal
e também quando chovia
o barco era de jornal.
39
Chega à noite, ao me deitar
e estando muito cansada,
estória vou escutar,
contada por uma fada.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Milton Souza



1
A gorducha Dona Benta
quando senta esparramada
deixa a cadeira onde senta
quase um mês descadeirada.
2
Amor, barriga crescida,
passa o tempo, espera tanta...
chega o milagre da vida
que faz a mãe virar santa.
3
Ao vencedor, toda a glória!
Mas festeje com cuidados:
que a euforia da vitória
nunca humilhe os derrotados.
4
A vida é feita de escolhas:
os acertos, festejamos...
O duro é virar as folhas
nas tantas vezes que erramos...
5
Brinquedos lindos aqueles...
Mas a criança, sofrida,
trocaria qualquer deles
por um prato de comida…
6
Com flores ou cicatrizes,
horas duras e horas boas,
a infância forma as raízes
da educação das pessoas.
7
Como gato na água fria
quando vê careca perto,
porco-espinho se arrepia:
pensa no escalpo, por certo.
8
Contigo sempre reparto
este amor que não termina:
é na penumbra do quarto
que o nosso amor se ilumina!
9
Craque que chuta bastante,
seu lugar no time encontra
mas um “chute” de estudante
é, quase sempre, gol contra...
10
De tanto passar calote,
o “salafra” se deu mal:
foi com muita sede ao pote
ao lograr um policial…
11
Dizer adeus foi tolice,
mas este orgulho maldito
só deixou que eu descobrisse
depois que eu já tinha dito!...
12
Enseadas sem saída,
abismos dentro das almas:
no revolto mar da vida
não existem praias calmas.
13
Eu sou frango... e só me ralo:
se escapo de ser canjinha,
quando estou virando galo
sou morto e viro galinha.
14
Foi dura a separação...
E eu sigo nessa ressaca:
no cais do meu coração
somente a saudade atraca…
15
Gatos miam no telhado,
mas ela nunca reclama:
o som abafa o “miado”
do “gato” da sua cama…
16
Grita o galo no terreiro,
demonstrando muita zanga:
"Não sobe no meu poleiro
o frango que solta a franga."
17
Leitor viciado e indefeso:
- sempre um livro em frente a face...
eu seria um grande obeso,
caso a leitura engordasse...
18
Licor de Deus, sem mistura,
sem cores artificiais,
segue a água a brotar pura
para dar vida aos mortais.
19
Mais fortes... mais apagadas...
ora sumindo ou voltando,
as lembranças são pegadas
que o destino vai deixando.
20
Meu caminho é o teu caminho!
Se a morte nos separar,
quem chegar no céu sozinho,
chora até o outro chegar.
21
Meu sofrido coração
não guarda mágoa ou rancor:
é uma usina de perdão
que opera a todo vapor.
22
Meus sonhos não são modelos;
alguns me fazem chorar...
Mas não tenho pesadelos:
pesadelo é não sonhar!...
23
Morreu de tanto fumar,
e pra limpar seu pulmão
tiveram que colocar
três chaminés no caixão!
24
Não se queixa o pobre Zé,
ganha a vida sem mutreta:
limpador de chaminé,
só ri vendo a coisa preta.
25
No amor, deixe o leme solto:
o vento indica aonde vais...
No amor – sempre – o mar revolto
é mais seguro que o cais…
26
Num fogo constrangedor,
ele brinca com a desgraça:
“Garçom, me passa o extintor...
e empina a nova cachaça…
27
O amante, quando flagrado
pelo marido, extasia:
fica mais arrepiado
do que gato na água fria.
28
O amor que nos impulsiona
torna fácil o impossível:
nenhuma usina funciona
quando falta combustível!
29
O farol do amor é o marco
que orienta a alma perdida:
Cristo é o cais que acolhe o barco
que vaga no mar da vida.
30
O mar da vida não muda,
pouco adianta lamentar:
quando o vento não te ajuda,
usa as mãos para remar.
31
O marujo, em alto mar,
faz motim, reclama e xinga:
“Comida pode faltar,
mas não pode faltar pinga!!!”
32
O pai é sempre o primeiro
se o filho está precisando.
Quem tem um pai verdadeiro,
tem sempre exemplos sobrando.
33
Os netinhos são fregueses
de amores ilimitados:
avós são pais duas vezes,
porém, mais açucarados...
34
O velho cais destruído
pelo mar aterrador
ficou muito parecido
com nosso sonho de amor...
35
O vovô namorador
não aguenta a menininha:
- Eu tenho sede de amor,
mas a fonte está sequinha…
36
Para quem faz o que pode,
busca o rumo, insiste e tenta,
a felicidade explode
e até corrente rebenta...
37
Passa o tempo, passa a vida,
mas fica, em qualquer idade,
uma criança escondida
dentro de cada saudade...
38
Por mais que a gente se zangue,
mande embora sem escolta,
mulher chata é bumerangue:
faz a curva e sempre volta...
39
Qual licor adocicado
que embriaga devagar,
teu beijo me tem deixado
tonto e louco por te amar.
40
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
41
Quando a nuvem da má sorte
cobre de sombras teu mar,
a esperança é o vento forte
que faz o tempo mudar.
42
Quando no embalo do amor
almas inventam desejos,
duas taças de licor
dão novo sabor aos beijos.
43
Quando nosso amor espelha
o que o desejo revela,
a lua fica vermelha
só de espiar na janela...
44
Quando o altar vira mercado
que busca lucros ou votos,
sempre há um Deus falsificado
para enganar os devotos.
45
Quando o mar da vida, escuro,
sufoca a esperança viva,
Deus é sempre o cais seguro
para quem vive à deriva.
46
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
47
Quando um filho perde a trilha
perseguindo falsos brilhos,
toda a vida da família,
geralmente, sai dos trilhos.
48
Quem faz guerra soma os custos
e um dado sempre atrapalha:
quem paga o sangue dos justos
mortos em cada batalha?
49
Sempre que trepida o amor,
brotam gemidos sem fim.
Se gemido fosse flor
motel seria jardim.
50
Se não fosse a fantasia
que o sonho pinta na mente,
muita gente morreria
sem nem saber que foi gente...
51
Se nem sei se circo existe,
se chorar é o que mais faço,
por que é que o destino insiste
em me fazer de palhaço?
52
Tem tanto fogo a menina
que seu mergulho estupendo
deixa a água da piscina
completamente fervendo.
53
Todas as fontes secaram:
deserto em volta de mim...
Meus sonhos todos murcharam,
vivo na espera do fim...

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...