sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Elisabete do Amaral Albuquerque Freire Aguiar


1
Andar por ínvios caminhos
buscando a Felicidade
é como colher espinhos
na Rosa da Eternidade.
2
Atritos, perdas, cuidados
que a vida te patenteia
são despojos naufragados
que agora jazem na areia.
3
A vida é feita de nadas,
enganando muita gente
que julgando águas paradas
vai ao sabor da corrente.
4
A vida é uma mesa posta
com diversas iguarias;
se de amargores não gosta,
ponha doçura em seus dias.
5
Batem três horas na torre,
é já tempo de dormir...
mas a noite corre, corre,
e eu fico a vê-la fugir...
6
Boa trova não troveja,
não faz barulho ou ruído:
doce música de igreja
a consolar-nos o ouvido.
7
Com canto combate o pranto
e a treva em que a Terra jaz;
em cada canto e recanto
cante-se a Visão da Paz!
8
Das mil palavras que li,
cada letra foi um beijo
que, alado, voou pra ti,
no sonho de ser arpejo.
9
Desenhar passos incertos,
ao sabor da multidão,
é navegar em desertos
em busca de água ou de pão.
10
É fácil ser um herói
com uma espada e armadura;
mas é quando a alma dói
que se revela a bravura.
11
É na noite tenebrosa,
quando os astros vestem dor,
que uma estrelinha teimosa
persiste em parecer flor.
12
Gente anônima e distante,
que comigo cruza a rua,
é também meu semelhante
na cruz que a vida insinua.
13
Há zeros a mais na conta!
Milionário,tem cuidado.
Na tua conta, desconta
o amor que tu não tens dado.
14
Mais alto que o Céu profundo,
mais vasto que o imenso mar,
é o Amor que envolve o Mundo
e o faz pra Luz caminhar.
15
Meu amor é como um hino
que eu muito bem sei cantar.
nos gorjeios do destino
o poderás escutar.
16
Muita riqueza fugaz
o homem que corre a buscar;
é mais rico se é capaz
de a ver partir sem chorar.
17
Na corda bamba da Vida,
o futuro sempre em vista,
sou criança divertida
brincando de equilibrista.
18
Não adies nunca o Amor
para outro dia ou momento;
pois o vento embala a flor
sem pedir consentimento.
19
Não deixes que um pensamento
fortuito,vil e malsão,
ensombre com seu lamento
a Luz do teu coração.
20
Não quero correr Contigo,
mas a Teu lado correr,
p’ra correr com o perigo
que corre p’ra me vencer.
21
Não te espantes da mudança,
tudo voa e vai no vento;
ou prendes bem a lembrança
ou voa com o pensamento.
22
No meu livro de memórias,
guardo, com todo o recato,
as mil saudosas histórias
que conta o nosso retrato.
  23
Ó linda Mãe-Natureza,
tão pródiga e salutar,
perdoa a cega vileza
do homem, quando te queimar!
24
"Para o alto e sempre em frente"
- mostra o guia da cidade;
sigo o rumo e, de repente...
"Bem-vindo a Felicidade!"
25
Passo a vida passo a passo,
com receio de espantar
com o ruído que faço
a Vida, em mim, a cantar.
26
Pela semente do Amor
que lançaste no meu peito,
faz que eu, vá aonde for,
saiba viver satisfeito.
27
Pinheiros, carvalhos, vinhas,
das cores mais variadas,
são coros de ladainhas
p'rás almas angustiadas.
28
Por muito que a gente mude
e busque amor a seu jeito,
um só salva e nunca ilude:
o de mãe -Amor-perfeito!
29
Porque a vida tem escolhos,
não hesites na jornada;
a rosa tem seus abrolhos
mas deixa a mão perfumada.
30
Por ser estreito o Caminho,
cada qual vai como pode;
mas não empurre o vizinho...
Se cair, ele lhe acode!
31
Quando a mente se alimenta
de daninha nutrição,
corta o joio da tormenta
e semeia um novo pão.
32
Quando chega, quando parte,
do cais que esta vida é,
aceita, pois que faz parte
do bailado da maré.
33
Rumoreja o pinheiral
uma conversa secreta
entre os pios de um pardal
e a doce brisa discreta.
34
Subiu ao topo da vida
nas asas de um furacão;
descuidou-se na descida...
estatelou-se no chão.
35
Um concerto a uma só voz
reverbera em céu e terra,
contra a mágoa e dor atroz
que um peito humilhado encerra.
36
Um coração sempre aberto,
um sorriso sempre à mão,
fazem jorrar no deserto
águas de Paz e Perdão.
37
Vozes de aves nas ramadas,
em harmonia de irmãs,
são como missas cantadas
no silêncio das manhãs.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Filemon Francisco Martins


1
A distância é que nos mata
pois logo vem a saudade;
saudade – presença ingrata
da antiga felicidade.
2
A felicidade é um sonho,
- por que deixar pra depois?
O amor é sempre risonho
na vida vivida a dois.
 3 
Aquele beijo de Judas
no cenário da traição,
revela que as trevas mudas
podem trair nosso irmão.
4
Cai a chuva na vidraça
e eu fico triste, porque
não há beleza nem graça
nesta casa sem você.
5
Céu azul, todo estrelado,
sorrindo, ao clarão da lua,
e o meu peito, apaixonado,
a chorar a ausência tua.
6
Ciúme é cuidado e zelo
que temos do nosso bem,
pois não queremos perdê-lo
para os olhos de outro alguém.
7
Como é bom viver à toa
e sempre fazer o bem,
que a Natureza abençoa
quem vive em Itanhaém.
8
Criança és flor, és bonança
espargindo luz e amor,
porque trazes a esperança
de um futuro promissor.
9
Criança, teu riso é tudo,
traz um brilhante porvir,
se amparada com estudo,
o mundo volta a sorrir.
10
“Das coisas belas da vida”
que colhi, em profusão,
eis a mais nobre e querida:
em cada TROVA um irmão!
11
Da vida não quero a glória
que tanto engana e seduz.
Prefiro não ter história
a renunciar minha cruz.
12
De manhã, sinto o perfume
das flores no meu jardim,
e um beija-flor – que ciúme,
chegou bem antes de mim.
13
Do fruto vem a esperança,
depois da bonita flor.
Assim também a criança,
depois de um florido amor.
14
É Natal! Nossa Esperança
de ser bom, fazer o bem,
nasce com aquela criança
na manjedoura em Belém.
15
Eu sinto nos braços teus,
um carinho, um aconchego,
e me torno um semideus
vivendo em paz, no sossego.
16
Falando de amor, Maria,
que saudades sinto agora
daquela doce alegria
que em teus olhos vi outrora.
17
Gosto da vida pacata,
homens simples dos sertões,
pois vejo usando gravata
por aqui muitos ladrões.
18
Meu peito canta, sorrindo,
ao ver o clarão do dia,
enquanto a noite fugindo
deixa rastros de alegria.
19
Minha mãe – como eu quisera
do meu amor dar-te prova,
e o meu carinho – pudera
enviar-te numa TROVA.
20
Não julgue pela aparência,
não condene sem saber;
às vezes com paciência
algo bom temos de ver.
21
Nenhum poema é mais belo
e inspira tanta esperança
do que um sorriso singelo
no rosto de uma criança.
22
No livro da NATUREZA
as lições são sem iguais.
Tenho, por isto, certeza
que é onde se aprende mais.
23
No meu balaio carrego
sonhos de amor e venturas,
mas muitos sonhos, não nego,
se tornaram desventuras.
24
No teu sorriso, criança,
vejo o mais belo perfil,
porque tu és a esperança
do futuro do Brasil.
25
Quantas noites, meu amor,
olhando, no céu, a lua,
eu me sinto um trovador
pensando na imagem tua.
26
Quem conversa sem saber,
querendo ser sabichão,
cuide, que vai receber
severa repreensão.
27
Que o teu futuro, criança,
seja de luz e esplendor,
vislumbre de confiança
no mundo do desamor.
28
Segue uma estrada florida
quem, na verdade, tiver
a glória de ter, na vida,
um coração de MULHER!
29
Sinto um perfume na rua
fazendo a gente feliz,
enquanto a noite flutua
nas flores de bogaris.
30
“Sorriria de feliz”
e o mundo teria paz,
se o coração que maldiz
soubesse perdoar mais.
31
Tenho certeza que a trova
– poema feito de amor -
é um sonho que se renova
na vida de um trovador.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Glória Tabet Marson


1
A alegria de viver
vai depender do momento...
Veranear pode ser
perfeito acontecimento.
2
A Escola se consolida     
quando o aluno, bem formado,
vai bem na escola da vida
por ter sido preparado!
3
Alegria de viver,
jamais poderá ter freios...
Sorrisos vão aquecer
todos os meus galanteios!
4
Atraídas pelas cores,
pela beleza que impera,
crianças fazem das flores
saudação à Primavera!
5
Buscando tecnologia,
o mundo, de hoje, se esquece
que a família em harmonia
tem o amor que nos aquece!
6
Céu do Brasil refletido
nas águas de um grande rio
retrata o país movido
por gente de muito brio!
7
Chegar às nuvens é sonho
de fugir da desventura,
mas jamais será tristonho
aquele que a Deus procura!
8
Cheiro de mato, gorjeio
dos pássaros... Que saudade!
Nada mudou e o passeio,
uma volta à mocidade!
9
Como faz a talhadeira
retirando toda aresta,
amolda-te por inteira:
– a vida vira uma festa!
10
Com uma enorme tristeza
que invade o meu coração,
eu contemplo a natureza,
fugindo da solidão.
11
Cor da pele? Quer saber?
não faz ninguém diferente.
Diferente é sempre ter
coração benevolente!
12
De barco, para o recanto,
fui por rio sinuoso,
e aquele pavor, no entanto,
tornou-se algo prazeroso!
13
Dia e noite navegando,
eu busco a felicidade...
céu e mar vou contemplando,
vendo você com saudade!
14
Do trem, a vista florida
logo foi me surpreendendo;
se assim olharmos a vida,
de sonhos vamos vivendo!
15
É gente que vai e vem
nesta vida de labuta;
São Paulo não se detém,
é cidade resoluta!
16
Enquanto favorecidos
levam vida sem coragem,
muitos pobres, decididos,
lutam, fraquejam, mas agem!
17
Esta família preciosa
ninguém de nós escolheu;
cordial e generosa,
foi Deus quem nos concedeu!
18
E vendo o tempo que passa,
afloram recordações:
– as retretas lá na praça,
flertes causando emoções!..
19
É verão, a natureza
se aprimora: o sol ardente,
o azul do céu... e a certeza
desse Deus onipotente!
20
Folhas e folhas rasgadas,
escritas com tanto ardor,
hoje “páginas viradas”
do que foi um grande amor!…
21
Homem de olhar penetrante,
sem que a donzela resista,
está certo que, por diante,
estará feita a conquista.
22
Na grinalda e no buquê,
flores brancas e amarelas;
se tudo tem o porquê:
isto é sonho das donzelas!
23
Não precisa ter chuteira
para mostrar futebol;
quem tem batida certeira
terá um lugar ao sol!
24
Nem sempre ter liberdade
traz total satisfação;
eu, presa a você, verdade,
mantenho acesa a paixão!
25
Num céu de rara beleza,
um arco-íris resplandece...
e, olhando, tenho a certeza:
é luz de Deus que aparece.
26
Onde tudo foi escuro,
mar e lua resplandecem;
sendo assim, eu asseguro:
namorados aparecem!...
27
O “ser feliz” nesta vida
está na simplicidade,
um só carinho, querida,
traduz a felicidade!
28
Preservação se constata
no Mato Grosso do Sul,
pois voa por toda a mata
a formosa arara azul!
29
Que bom se o Sol encoberto,
por nuvens de poluição,
mostrasse ao homem, por certo,
o tamanho da agressão!
30
Que bom seria se a Terra
estivesse em boas mãos,
liberta de qualquer guerra,
seriam todos irmãos!
31
Registrar minhas andanças
me traz intensa alegria;
com essas doces lembranças,
não deixo a vida vazia.
32
Saudemos nossa amizade
com o mais alegre brinde:
que ela a ninguém desagrade,
e que jamais ela finde!
33
Sei que nada nos aparta,
nem a distância malvada,
pois ao abrir sua carta...
Vejo-me até abraçada!
34
Tempo passa, vai embora...
restam lembranças, saudade...
busque, então, em cada aurora,
a doce felicidade!
35
Um rapaz encantador
agrada qualquer donzela,
se faz as juras de amor
num jantar à luz de vela.
36
Vale a pena envelhecer,
viver o hoje e ser feliz;
o passado remover
sem deixar a cicatriz!
37
Vão meus beijos tão distante,
levando o que mais esmero:
sentimento fascinante
de um amor sempre sincero!
38
Voando a primeira vez,
por entre nuvens passei;
quem sabe um dia, talvez...
estrelas contemplarei.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Humberto Rodrigues Neto


1
A alguém, só por seu sorriso,
nunca julgue, eis meus conselhos;
muita vez, por trás de um riso,
há uma alma de joelhos!
2
Ah, que fados sorrateiros
têm nossas vidas sombrias...
os leitos sempre solteiros,
de duas camas tão vazias!
3
A noite, de ar seco, anidro,
por não ver no céu a lua,
põe-se a acender sóis de vidro
nos postes da minha rua!
4
Ano velho não demora,
põe-te ao largo e vai saindo.
Anda, ano velho! Cai fora,
pois o novo já vem vindo!
5
Anseio ver-te assim louca
presa aos meus lábios tiranos,
pois repriso na tua boca
meus beijos dos vinte anos!
6
A saudade é suavidade
e engana-se o que a maldiz,
pois só chora de saudade,
quem um dia foi feliz!
7
As contas de amor resolvo,
pois com dívidas não brinco,
teu beijo com dois devolvo
pra me dares outros cinco!
8
As flores fito uma a uma,
e mais que eu nelas repare,
em beleza não há nenhuma
que contigo se compare!
9
As mulheres são primores,
que Deus fez pensando em mim...
e ao perceber que eram flores,
plantou-as no meu jardim.
10
Às vezes fico sonhando
com coisas que não consentes:
minhas mãos metrificando
tuas formas adolescentes!
11
A um retiro me decido
levar-te pra ousarmos mais,
mas calo e não te convido,
porque não sei se tu vais!
12
A vida passa, e enquanto
passa a vida eu penso nela;
só não passa este quebranto
que eu passo na ausência dela!
13
Buscar o céu noutro espaço,
não, meu bem, não é preciso;
se eu tiver o teu abraço,
que me importa o paraíso?
14
Cascatas, selvas e fontes,
se em rimas tento escrevê-las,
vejo sóis saltando montes
e noites fervendo estrelas!
15
Como é bom, como eu desejo,
quanto a minh'alma se agita
de nos lábios ter um beijo
de mulher moça e bonita!
16
Como é doce, em terno encosto,
debruçar por entre apelos,
o entardecer do meu rosto
na noite dos teus cabelos!
17
Como sofrem meus desejos,
ao saber, meu querubim,
que os teus braços e os teus beijos
não foram feitos pra mim!
18
Confesso-te meus queixumes,
que esquecer jamais consigo:
suportar mortais ciúmes
desse alguém que está contigo!
19
Dá-me, Deus, com certa urgência,
a graça que aqui rabisco:
dez por cento da paciência
que puseste em São Francisco!
20
Dá-me um beijo bem ardente,
já que és moça e tão menina,
só pra ver se assim a gente
sente algo que combina!
21
Das mágoas que me consomem,
a que mais me faz chorar
é ter ciúme do homem
que puseste em meu lugar!
22
Desse teu beijo fagueiro,
jamais vou sentir-me farto...
dá-me mais dois, e um terceiro,
e mais três depois do quarto!
23
Deus foi artista perfeito
no marcar da noite os mastros,
mas bem que podia ter feito
dos teus dois olhos, dois astros!
24
De vez em quando o ciuminho
vem junto a mim e reclama;
sente inveja desse ursinho
com que enfeitas a tua cama!
25
Dois mimos teus inda anseio,
pois vivos n’alma os mantive:
o abraço que jamais veio
e o beijo que nunca tive!
26
Do paraíso os recamos
não estão nas Escrituras,
pois de há muito os desfrutamos
nas nossas mútuas loucuras!
27
Do teu rosto a linda imagem
é um colírio à nossa vista,
parece até personagem
dessas capas de revista!
28
Eis um rápido resumo
do que seja um cabaré:
drinques, droga, e pra consumo
mulheres sem rumo ou fé!
29
Em matéria de grandeza,
Deus não se omitiu em nada;
pegou tudo que é beleza
e deu tudo à minha amada!
30
É nos becos da tua rua
que eu quero te namorar,
pra que só o olhar da lua
se atreva a nos espiar.
31
Entre afagos e carinhos,
pressentem meus sonhos vãos
que há mil sins escondidinhos
na timidez dos teus nãos!
32
Entre nós Deus colocou
da distância os desatinos;
sem saber crucificou
na mesma cruz dois destinos!
33
É sublime ouvir o frolo
da saia erguida em viés...
desde a alvura do teu colo
ao rosado dos teus pés!
34
É tão intenso e tão terno
nosso eclodir de ternuras,
que nem sei se vai pro inferno
quem comete tais loucuras!
35
Eu não sei qual julgamento
de ti sobre mim recaia,
mas adoro ver o vento
levantando a tua saia!
36
Lisinhas, macias, mimosas,
carinhosas e branquinhas,
são fofinhas, são formosas
quais duas rosas, tuas mãozinhas!
37
Mesmo em invernos cerrados,
as nossas sensuais fraquezas
tornam dois corpos gelados
em duas fogueiras acesas!
38
Meu amor, eu não pensava,
que pra ver o paraíso,
bastava, apenas bastava
contemplar o teu sorriso!
39
Meus olhos não mais buscaram
mentirosos paraísos
desde o dia em que pousaram
no encanto dos teus sorrisos!
40
Mimos de tanta beleza,
tais como os teus, jóia minha,
não possui uma princesa,
nem os sonha uma rainha!
41
Não maldigas as diabruras
que o amor nos faz cometer,
antes fazer mil loucuras
que ser sãos e não viver!
42
No amar-te tanto é que sinto
do pecado o vil assomo,
pois ao te abraçar pressinto
mil tentações que eu não domo!
43
No céu Deus gravou a face
de faiscantes universos
pra que o poeta os cantasse
na beleza dos seus versos!
44
Noel: nem chinelos tenho
pra pores uns brinquedinhos;
então, suplicar-te eu venho:
dá-me um par de sapatinhos!
45
No olhar que a noite esquadrinha,
eu procuro a imagem tua
e te encontro sentadinha
na foice prata da lua!
46
Noutra mulher não havia
sentido o amor tão desperto,
pois antes sequer sabia
que o céu ficava tão perto!
47
Os meus dois olhos castanhos
são tristes, pobres, plebeus...
não têm encantos tamanhos
como esses que têm os teus!
48
Pergunta ao mestre o aprendiz:
- Que é a luz, nos conceitos teus?
E a sorrir, Einstein lhe diz:
– A luz é a sombra de Deus!
49
Por nuances maravilhosas
meu raciocínio se espraia
no quão devem ser ditosas
as tuas colchas de cambraia!
50
Possa eu dar-te, ó sepultura,
algo que os vermes não comem:
mente limpa e alma pura,
dois tesouros num só homem!
51
Pra não viver tão sozinho,
quisera ter-te por dona,
só pra ser como o gatinho
que em teu colinho ronrona!
52
Qual cortesã libertina,
assim que surge o arrebol,
a serra despe a neblina
e exibe a nudez ao sol!
53
Quando deito me angustio
com carinho tão escasso,
e me abraço ao travesseiro
na ilusão de que te abraço!
54
Que em nós dois Cupido mire
suas flechas num voo breve;
que de ti ninguém me tire,
que de mim ninguém te leve!
55
Quem foge à paixão tirana
temendo remorsos ter,
ou tem uma mente insana,
ou nunca amou pra valer!
56
Quero afastar os revezes
das mágoas que me consomem:
ser teu menino cem vezes
e mil vezes ser teu homem!
57
Quero, em anseio incontido,
do céu levar-te aos confins,
e escutar junto do ouvido
teus nãos simulando sins!
58
Que vivam na dor, conjuntos,
dois corações machucados,
pois é melhor sofrer juntos
do que chorar separados!
59
Remexo da mente o cofre,
mas não descubro o que é isto:
na face de alguém que sofre
eu vejo o rosto do Cristo!
60
Saudade é glória ou castigo
quando alguém, num tom pungente,
noss'alma leva consigo
e deixa a sua com a gente!
61
Saudade, pensando bem,
é quando a mente se queixa
que tenta esquecer alguém,
mas o coração não deixa...
62
Se consulto o coração
pra ver aquela que o dome,
ele pulsa de emoção
e diz baixinho o teu nome!
63
Se há algo que nos deslumbra
e ao proibido nos inclina,
é aquele beijo em penumbra
no cerrar de uma cortina!
64
Sempre alheia ao meu apelo,
és a encarnação de Fedra,
pois em teu peito de gelo
bate um coração de pedra!
65
Se puxo as mãozinhas tuas,
tento mais perto senti-las
pra ver dividida em duas,
minha face em tuas pupilas!
66
Se teu bem partiu, foi embora,
não penses nunca mais nele;
enxuga os olhos, não chora,
e me põe no lugar dele!
67
Sobre meu chão colocaste
um mar de espinhos e abrolhos
desde o dia em que lançaste
sobre mim teus lindos olhos!
68
Somos seres incompletos
vivendo eterno amargor...
Você tão pobre de afetos
e eu tão carente de amor!
69
Valei-me, ó Deus, me conforta...
piedade, Senhor, piedade!
me afasta, da esposa morta,
o martírio da saudade!
70
Vão tão bem os teus pezinhos
calçadinhos nas chinelas,
que os meus olhos, coitadinhos,
vão doidinhos atrás delas!
71
Vê como a sorte judia
do nosso amor (coitadinho!):
a tua cama tão vazia,
e eu na minha tão sozinho!
72
Vem, neste inverno polar,
aquecer-me em teus mormaços...
Vem, meu quindim, me aninhar
no verão dos teus abraços!
73
Vem, ó “Príncipe Encantado”
dar nela o beijo da vida,
depois deixa a meu cuidado
a tua “Bela Adormecida”!
74
Ver amor igual ao nosso,
nunca sonhes nem esperes:
quero ter-te, mas não posso,
podes ter-me, mas não queres!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...