quinta-feira, 27 de maio de 2021

Luiz Damo (RS)


A face pode não ter
a mesma força do olhar,
mas, nela podemos ler,
o que o dono quer falar.

A mentira, então solteira,
foi juntar-se ao desrespeito
e a traição, filha primeira,
fez nascer um lar desfeito.

Ampla e plena liberdade
à humanidade Deus deu,
mas a sensibilidade
nem a todos concedeu.

Ante as rochas da imprudência
todo o sonho se tritura,
só resta à sobrevivência
destroços de uma aventura.

Às aves Deus tira o medo,
de voarem nas alturas,
diz aos homens, vos concedo:
luz para as noites escuras!

A velha e frágil escada,
quase perdeu seu valor
de conduzir à sacada
alguém pelo elevador.

A verdade que hoje buscas,
num passado tão distante,
está na imagem que ofuscas
todo o dia, a cada instante!

Ávida, à vida a alma segue,
busca o porvir tão sonhado,
num presente que prossegue
carregando o seu passado.

Cada dia que somamos
à caminhada vivida,
nova flor acrescentamos
no ramalhete da vida.

Conquistas vão se somando,
pela subtração da dor,
divide, multiplicando,
teu sentimento de amor.

Dentro e fora da família,
tudo gire em torno dela,
sirva ao mundo de estampilha
sendo à paz sua chancela.

Destemido, o sol mergulha,
no horizonte debruçado,
deita à terra, tal fagulha,
sendo por ela abraçado.

De uma indigesta amizade
muitas vezes nada resta,
nem arestas de saudade
sobram pra fazer seresta.

Diz quem ama, à parte amada:
esquecer-te eu não consigo,
sem ti sou menos que nada,
mais que tudo, eu sou contigo.

É depois de um tratamento
que o doente convalesce
e ao sumir o sofrimento
a saúde lhe aparece.

Faça a verdade imperar
sobre qualquer julgamento
e assim a chance de errar
pode ser zero por cento.

Frágil corpo os pais nos deram,
vida e sinais que eram seus,
o corpo, os filhos o enterram,
mas a essência volta a Deus.

Há quem queira ser modelo
de uma vivência exemplar,
luta tanto e por não sê-lo
passa a se autocontemplar.

Jamais posso imaginar,
ou projetar meu porvir,
sem ao passado voltar
e no agora me inserir.

Longínquas tardes amenas
com o rubor da pitanga,
trazem imagens serenas
do sol dormindo na sanga.

Livro! Tua estrela brilha,
sob o cosmos da cultura,
iluminas quem palmilha
as estradas da leitura.

Mantenha a chama do embate
na luta, sem se apagar,
siga em frente no combate
com o exemplo a propagar.

Mesmo fraca, a dor na luta,
avança e nos faz sofrer,
nunca, se a nossa conduta,
for mais forte e não ceder.

Na contramão do sucesso
segue lento o pessimista,
finge que exista progresso,
pensando ser otimista.

Nada igual, nem mais fecundo,
que plantarmos bons valores
deixando assim para o mundo
um legado aos sucessores.

Nada igual, nem parecido,
com a flor desabrochando,
o campo fica florido
na primavera chegando.

Não chores se a dor te aflige
e impede de à vida alçares,
qualquer luta esforço exige
para o objetivo alcançares.

Não tem criança que esconda
a predileção em ter,
um simples carro de lomba
pra brincar e se entreter.

Nas esquinas do passado
deixo um pedaço de mim,
por alguém vai ser juntado
depois de chegar meu fim.

Nas mãos dos transportadores
quantos frutos transportados!
Transportam grandes primores,
depois dos bens transformados.

Ninguém cai do seu cavalo
quando passa a conhecê-lo,
a não ser que sem domá-lo
pensa estar sobre um camelo.

Ninguém morra brutalmente
por qualquer bala perdida,
de uma escolha inteligente
surja a proteção da vida.

No campo, traça caminhos,
quem planta e supera o pranto
ceifa a dor do próprio espinho
que tenta ofuscar o encanto.

Num contexto mais moderno
o saber rompe a fronteira.
Não tem SIM que seja eterno,
nem um NÃO pra vida inteira.

O autor de um crime confesso,
quando aos tribunais, entrar,
tem nos autos do processo
tão pouco a lhe acrescentar.

O Brasil vê com reserva
as matas diminuírem,
enquanto o mundo as observa
de longe, também sumirem.

O leitor quando mergulha
no universo da leitura,
dela faz nova fagulha
a brilhar na noite escura.

Ontem, no homem, seu bigode,
era igual a um documento,
hoje, o que assina, mal pode,
dar aos atos provimento.

Os primeiros imigrantes
venceram hostilidades,
não foram beligerantes
mas guerreiros nas vontades.

O tempo transcorre ameno,
para quem a paz imprime,
nos traços de algo sereno
vê-se o bem que o mal suprime.

Para Deus jamais afirmes
que os grandes males são teus.
Aos males nunca confirmes
que eles são frutos de Deus.

Parta e desate as amarras,
busque do sol o esplendor,
pra colher noutras searas
os frutos de um sonhador.

Passam meses, surgem anos,
mudam séculos, milênios,
o homem elabora planos
não maiores que decênios.

Pedra solta, rola imersa,
na água turbulenta e fria,
rija, impune e controversa,
companheira à travessia.

Por trás dos ventos hostis
a varrerem a esperança,
ouve-se uma voz que diz:
não temeis, virá a bonança!

Quando ao consultório fores
buscando, à dor tratamentos,
não sejam somente às dores,
mas, também aos sentimentos.

Quando na vida avistares
fartas nuvens de ciúmes,
lembra, não passam de entraves,
sob a forma de tapumes!

Quem oferece uma flor
pode ser autor confesso,
dum ato que exprima amor
ou de carinho em excesso.

Quem tomar uma atitude
em não mais se alimentar,
vê enfraquecer a saúde
e o corpo debilitar.

Ramo algum é superior
que a planta, mas pode um dia,
se romper, se o vento for,
maior que a sua energia.

Se a luta parece insana
e a batalha perniciosa,
mude tal conduta humana
numa senda prazerosa.

Se beberes, não dirijas,
nem deixes que alguém o faça.
Para que, por nada erijas,
teu sepulcro numa taça.

Se calado alguém consente
não sente a mesma emoção,
de falar tudo o que sente
guardado em seu coração.

Se ensinares à criança
ser instrumento de paz,
no céu terás uma herança
que a ninguém a perderás.

Seja a luz da vida, o fulcro
e a morte um fruto tardio,
tudo o que ocupa o sepulcro
sejam restos de um vazio.

Seja como a vela acesa
num candelabro a brilhar,
siga à vida com firmeza,
sem medo de iluminar.

Se não mudas teu passado
muda o teu jeito de ser,
nisso podes ter mudado
o mundo sem perceber.

Só quem luta sabe o quanto
o dor pesa na derrota,
seu rosto banhado em pranto
reflete o que ela denota.

Surge o sol nos horizontes,
as estrelas vão dormir
e o lençol cobrindo os montes
retira-o pra se vestir.

Todo passo na alegria
se veste de brevidade,
mas, à dor, numa agonia,
parece uma eternidade.

Vejo à noite um lampadário
sempre à mesma hora a acender,
nunca muda de cenário
para o brilho acontecer.

Velho tronco decepado
com vestígios de abandono,
na impunidade, ceifado,
pelas mãos do próprio dono.

Vida plena, alguém alcança,
se calcada na virtude,
numa constante mudança
ascendendo à plenitude.

Vida, vivida com a alma,
é arte nas mãos do escultor,
chama que arde lenta e calma,
na imagem do Criador.

Vi nas areias, pegadas,
de alguém que me precedeu
e as minhas, quase apagadas,
ninguém as reconheceu.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Flávio Roberto Stefani (RS)


1
Abaixo a guerra entre irmãos!
Plantemos a paz somente.
- Quem tem sementes nas mãos
não tem granadas na mente.
2
Adoro bonde gaiola
e ao teu lado – vistas turvas –
se a curva do trilho esfola,
me saram as tuas curvas…
3
Brancos, negros e amarelos,
se a causa é justa e loquaz,
juntam braços, que são elos
forjando as cores da Paz!
4
Brinquedos bons eu não tinha,
mas sabia achar maneira,
e com latas de sardinha
eu tinha uma frota inteira.
5
Brinquedos de guerra, não,
pois quem brinca de matar,
amanhã – de arma na mão -,
vai matar para brincar!
6
Chuta o balde a Dona Mima
porque o marido, Vavá,
em vez de partir pra cima,
vai pra baixo do sofá...
7
Com malícia, a lua cheia
vestiu de luz nosso leito
ao te ver desnuda, alheia,
aconchegada em meu peito.
8
Coragem! Ergue teu rosto,
desamarra esta carranca,
porque o sol, depois de posto,
nos mostra a lua mais branca.
9
Cruel e ingrato, o sobrinho
põe no freezer o seu tio,
e a surpresa é o bilhetinho:
"Não esquenta... fica frio...”
10
Destino cruel se encerra
neste turismo obsoleto:
quando o frango sobe a serra,
não desce - vira galeto!...
11
De surpresa, muitas vezes,
vinha o noivo da vizinha...
e depois de nove meses,
nasceu uma surpresinha...
12
È mais feliz a criança
que recebe amor profundo,
pondo luzes de esperança
no quarto escuro do mundo.
13
Embora rudes e escassos
os bons atos, em geral,
o Natal recria laços
num simples “Feliz Natal!”
14
Em ternura plena e extrema,
nossos sonhos se cruzaram.
E a noite se fez poema...
E os versos também se amaram!
15
Entre os licores mais puros
que a vida me fez provar,
estão os lábios escuros
que me deixaste beijar.
16
É tão nojenta a franguinha,
tão cheia de blablablá,
que se um dia for galinha,
nem raposa a comerá…
17
Eu, boêmio sem comando,
nos dias mais enfadonhos,
passo os dias chimarreando
na varanda dos meus sonhos!
18
Ganha contornos de festa,
de festa vira euforia,
quando Deus se manifesta,
abrindo os olhos do dia!
19
Garibaldi, esses vinhedos
dão vinhos com tal sabor,
que o licor dos teus segredos
está no próprio licor.
20
Gerador de paz e calma,
que dispensa cerimônia,
o livro é o jantar da alma
nas noites claras de insônia.
21
Já velhinho, o marinheiro,
que foi das ‘gatas’ xodó,
hoje só e sem dinheiro,
levanta a âncora... e só!...
22
Lembrando um fandango antigo,
muita mão... muitos abraços...
a Joana leva consigo
um belo “troféu”... nos braços…
23
Meu Senhor, quero sentir,
de uma forma singular,
a coragem de sorrir
quando o dia é de chorar.
24
Não tem cura, é de matar,
bebe tanto o Zebedeu,
que outro dia foi trocar
seu nome pra “Zebebeu”...
25
Na pescaria, de fato,
notei teu jeito chinfrim,
mas o olhar era de gato:
um no peixe e outro em mim...
26
Nascedouro de certezas
e ninho de inspiração,
a lua afasta as tristezas,
pondo paz no coração.
27
No abandono das marquises,
meninos dormem de mão,
fingindo que são felizes
nos braços da solidão.
28
Quando a euforia me invade,
nas luzes do amanhecer,
puxo a corda da saudade
para esticar meu viver.
29
Queres falar de bem perto
à mãe da sabedoria?
Procura o balcão aberto
de uma boa livraria.
30
Se a violência é demais,
num mar que não se detém,
pega o rumo de outro cais,
onde o amor ancore o bem.
31
Sendo forte, sendo inquieta,
com requintes de magia,
a trova é o cais do poeta,
onde se amarra a poesia!
32
Sendo mal utilizada,
a liberdade, no fundo,
não dá tiros, não dá nada,
mas fura os olhos do mundo!...
33
Vendo a franga em sério apuro,
grita o guri, na janela:
- Mamãe, o galo, eu lhe juro,
vem vindo a cavalo nela...

terça-feira, 25 de maio de 2021

Angélica Villela Santos (1935 - 2017)

1
À astúcia utilizada, 
bato palmas, brindo a vinho, 
se a mentira, derrotada, 
à verdade abrir caminho! 
2
A Belinha, mãe solteira, 
disse ao padre, em confissão: 
- Nunca fui namoradeira; 
a culpa...foi do "apagão"...! 
3
Abraçadas, as crianças
que contemplam o infinito,
representam esperanças
de um futuro sem conflito!
4
Abre-se o chão e recebe
as sementes do plantio
e fertilmente concebe
frutos no colo macio.
5
A correnteza da idade
é mutável, já se disse:
revolta na mocidade,
calma na infância e velhice.
6
A formiga, em seu carreiro,
trabalho e força revela;
pelo bem do formigueiro
constantemente ela zela.
7
A inspiração, num abraço, 
arrebata os escritores, 
aos poetas dá o compasso, 
faz vencer os trovadores. 
8
A lembrança, na velhice,
sempre traz a mocidade,
que, qual sombra, com meiguice,
abraça a terceira idade...
9
A lua cheia é artista
que em sombras pinta uma tela
de beleza nunca vista
e só mostrada por ela.
10
A mocinha reclamou
mas o ceguinho, no baile,
passando a mão, explicou:
- A minha dança é em braile!!!
11
À noite, após a enxurrada
que o meu barquinho levou,
eu fico olhando, encantada,
o céu que Deus enfeitou...
12
Ante as portas, lado a lado,
a que está aberta nos tenta.
Porém, tenhamos cuidado:
nem sempre é o fácil que alenta!
13
Ao Brasil e Portugal, 
- elos que ligam carinho - 
num brinde internacional 
ergamos taças de vinho 
14
A pipa que a nossa infância
faz ao mais alto chegar,
representa a nossa ânsia
de nossa vida elevar.
15
Após noite tenebrosa,
envolta em forte neblina,
chega ao porto a nau, garbosa,
que o sol nascente ilumina!
16
A praça enfeita a cidade,
é o seu cartão de visita;
representa, na verdade,
seu coração, que palpita.
17
Apreciando a natureza,
- belo por-do-sol no mar -
um casal, vendo a beleza,
mais amor vai externar.
18
A queimada, tão nociva,
para a terra é uma agressão;
vai-se a floresta nativa,
fica só desolação…
19
A redenção dos escravos
 foi de Isabel um presente
 para pôr fim aos agravos
 sofridos por essa gente.
20
Às vezes a caridade,
que a paz e a esperança aspira,
põe no lugar da verdade
uma piedosa mentira...
21
Até ao bebermos vinho,
procuramos ser iguais,
mostrando o nosso carinho,
que não acaba jamais!
22
A vovó foi assaltada 
numa viagem de turismo 
e passou a temporada 
numa praia de nudismo!!! 
23
Batida por forte vento,
quer minha nau soçobrar;
porém, na fé tenho alento
para em meu Deus me apoiar.
24
Buscando a Felicidade
ao longo dos dias meus,
sigo a seta da Verdade,
que indica o reino de Deus!
25
Cantando na chuva, o ator,
fez sucesso no passado.
Também bom sapateador,
o Gene Kelly é lembrado.
26
Céu e mata refletindo
nas águas claras de um rio,
a nós estão exibindo
um meio-ambiente sadio!
27
Com amor sempre presente
e a força da educação,
livraremos o carente
dos grilhões da exploração!
28
Com um grito de alegria
e uma passagem na mão,
o retirante anuncia
que já chove no sertão!
29
Com tudo desmoronando 
na batalha pela vida, 
só a Fé fica amparando 
a coragem combalida. 
30
Com versos a se espalharem,
eu subo morros, ao léu,
para meus sonhos se alçarem
até as nuvens do céu!
31
Crianças são como flores
que enfeitam na Primavera.
São buquês de várias cores
que a natureza libera.
32
Dança a nuvem, descuidada, 
ignorando a sua sina. 
Porém, depois, já pesada, 
morre, em chuva repentina... 
33
Das janelas da memória 
que ainda consigo abrir, 
só do amor revejo a história 
que ficou, a me iludir... 
34
Da UBT é o fundador, 
pela trova batalhou; 
Luiz Otávio, vencedor, 
ao pódio a trova levou! 
35
De manhã, formando um elo, 
jangadas singram o anil, 
compondo o quadro mais belo 
dos mares do meu Brasil! 
36
Devagar, mas com prazer,
o homem, sem ficar a esmo,
usa o cinzel do Saber,
vai modelando a si mesmo.
37
Doce sorriso, olhar terno,
minha sogra, tão querida,
ocupa um lugar materno
nas trilhas de minha vida.
38
Do coreto “ela” saiu
sob apupos e sem jeito
pois a peruca caiu
e a “cantora”... era o prefeito!
39
Em festa branca e amarela,
embelezando o jardim,
margaridas, numa tela,
abrem-se todas pra mim!
40
Em frente ao computador
a namorada moderna
manda beijos ao amor
e com mensagens alterna.
41
Estas fotos que estou vendo
me remetem ao passado:
é uma viagem, percorrendo
o que me foi muito amado...
42
Eu senti, na despedida, 
( e a verdade constatei) 
o gosto de sal, querida, 
quando teus olhos beijei... 
43
Fugindo pela janela,
o “Don Juan” quis “dar no pé”.
- Um fantasma! gritou ela.
E o marido: - Agora é!
44
Fui passear na Argentina
e logo o tango aprendi.
Porém, sou má bailarina
e o meu parceiro perdi...
45
Guaratinguetá, querida,
és deste Vale a rainha!
E eu carrego em minha vida
o orgulho de seres minha!
46
Hoje é diferente o lar:
não compartilha e encolheu,...
Pois quem manda é o celular
e até o Lulu tem o seu!!!
47
Humilde e sempre sorrindo,
levando a pomba da paz,
vai Francisco, distribuindo
a esperança que nos traz!
48
Já não mais sonha o excluído 
em ser feliz na cidade, 
pois, na favela, abatido, 
vive a dura realidade! 
49
Junto à bola, uma criança,
na pobreza do sertão,
sonha e acalenta a esperança
de um dia ser campeão...
50
Lá... no fim da caminhada, 
as lembranças sobraçando, 
a saudade está postada, 
nossa chegada aguardando... 
51
Lembro que quando eu, menino,
meu carro quebrou na estrada,
voltou pra casa o cão Bino
e trouxe a ajuda almejada!
52
Meia noite...ou meio dia?
O meu relógio quebrei.
E, na minha nostalgia,
se é dia ou noite...não sei...
53
Meu coração, na gaiola
do teu amor, ficou preso;
mas, ali, ele estiola,
na tortura do desprezo...
54
Na caravana da vida,
 se sou levada ao deserto,
 procuro a trilha batida
 que Deus deixou em aberto.
55
Na história da Humanidade, 
sempre lutas, desavenças... 
Mas só a fraternidade 
porá fim às malquerenças. 
56
Nada maior eu ordeno 
para meus versos compor, 
que um espaço bem pequeno 
para pôr trovas de amor! 
57
Na manhã que vai surgindo, 
nada há que mais encante, 
que o orvalho a relva cobrindo 
como um manto cintilante! 
58
Não sou mais celibatário
e vou encontrar meu bem,
nem que seja necessário
eu correr atrás do trem!
59
Nas longas noites de estio,
eu ouço estranha canção:
São os lamentos do rio
morrendo de poluição...
60
Nas ruas, negros dançando,
 nas senzalas, emoção;
 sons de grilhões se soltando,
 anunciando a redenção!
61
No belo painel pintado 
pelo Sol, no fim do dia, 
o horizonte é transformado 
num cenário de magia! 
62
No céu azul de verão, 
se espreguiça nuvem bela: 
ora uma flor...um pavão... 
que a imaginação modela... 
63
No circo ele era o palhaço, 
mas, ao perder seu amor, 
todo aquele estardalhaço 
foi o disfarce da dor. 
64
Nos jardins, bela e vaidosa,
enfeita-se a natureza:
recende a aroma de rosa
e põe brincos-de-princesa!
65
No sonho do trovador,
há sempre um mar e uma lua,
que o inspiram a compor
a mais bela trova sua !
66
O bruxulear de uma chama
de vela, gasta e mortiça,
lembra o excluído que clama
por respeito e por justiça!
67
O chão dourado do outono, 
sua beleza exibindo, 
é o leito que vela o sono 
das folhas que vão caindo... 
68
O ladrão sentiu fraqueza 
quando nos muros corria; 
escorregou e...ó surpresa! 
Caiu... na Delegacia! 
69
O modelo achou-se esperto 
e desfilou de pirata. 
Mas, logo foi descoberto, 
ao fugir de uma barata... 
70
O trem, em sua passagem, 
pela estação da cidade, 
de um amor leva a mensagem 
e faz descer a saudade... 
71
Pela luz da abolição
 por Isabel proclamada,
 das trevas da escravidão
 a Pátria foi libertada! 
72
Pelo ciúme acuada, 
sem pensar no que fazia, 
eu apaguei a pegada 
que ao teu amor conduzia. 
73
Planta nas leiras da lida
as sementes dos teus dons,
e terás, por toda a vida,
fartura de frutos bons!
74
Por entre o verde da mata,
permeia o rio azulado,
que nas cheias arrebata
árvores, casas e o gado.
75
Por este gesto tão nobre,
foi chamada Redenção,
para que o ato desdobre
lembranças da Abolição!
76
Presente é como migalha
que mal se nota cair,
pois é um fio de navalha
entre o passado e o porvir...
77
Quando a montanha escalar,
buscando sucesso e glória,
deixe a humildade levar
a bandeira da vitória!
78
Quando eu lembro e se avantaja
minha vida de criança,
só a saudade viaja
nos trens da minha lembrança...
79
Quando ilusões apagaram 
as luzes daquele encanto, 
meus olhos se transformaram 
numa vertente de pranto... 
80
Quando o outono bate às portas
de um cansado coração,
sonhos viram folhas mortas
sarabandeando no chão...
81
Reticência...nada dizes 
ao coração de quem ama; 
só pões ali cicatrizes 
que a dúvida mais inflama! 
82
Salve, Monteiro Lobato, 
pois Taubaté elevaste! 
O teu talento eu constato 
na grande obra que deixaste! 
83
São as mãos do mundo inteiro
que, numa união fraternal,
formam sustento altaneiro
para a paz universal!
84
Se a Humanidade souber 
sobre o bem que a trova faz, 
dela fará, se quiser, 
o maior elo da paz! 
85
Se todo homem semear 
somente o amor verdadeiro, 
vai, por certo, abarrotar 
de paz, um amplo celeiro! 
86
Só o poeta vai poder 
com seu dom puro e singelo, 
a realidade envolver 
no sonho mais suave e belo! 
87
Sou mochileiro constante,
sempre um amor a buscar,
mesmo sabendo que adiante
só névoas vou encontrar.
88
Tão logo a chuva chegou, 
trazendo vida ao sertão, 
o retirante vibrou, 
com a passagem na mão! 
89
Toma a trova, por inteiro,
todos nós, os trovadores.
de Luiz Otávio, o pioneiro,
somos todos seguidores.
90
Tudo acabou em quimera
na tarde chuvosa e fria
e a grande perda me espera
dentro da casa vazia...
91
Um bom livro nos envolve, 
dá prazer e distração; 
é um amigo que dissolve 
o amargor da solidão! 
92
Um passeio no canal,
numa gôndola, em Veneza,
envolve qualquer casal
em romantismo e beleza!
93
Um tropeço desastrado 
na bengala do compadre, 
jogou o noivo, assustado, 
direto em cima do padre! 
94
Vai-se o dia, vem a noite 
e a minha dor não descansa, 
pois a saudade é um açoite 
brandido pela lembrança! 
95
Velha ponte de madeira
ligando a roça à cidade,
foi a passagem primeira
do meu sonho à realidade.
96
Vendo na imagem de um santo, 
que lhe faltavam os dentes, 
diz a devota, com espanto: 
- Que dentistas mais descrentes!! 
97
Zumbindo sobre as corolas,
de delicada beleza,
os insetos são violas
na orquestra da Natureza!

Lairton Trovão de Andrade (Descontraindo em versos)

01. Destrua a melancolia, pois a vida se renova! Contra a tristeza, Maria, beba chazinho de trova! 02. O plagiário é caricato que no mundo s...